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Alberto Fontana jogou em alto nível até os 41 anos e ganhou o apelido de ‘vovô voador’

Mesmo para aqueles que são goleiros, jogar profissionalmente após o aniversário de 40 anos não é feito trivial, principalmente no futebol contemporâneo. Alberto Fontana sabe disso. Tanto é que o arqueiro nunca se incomodou com o apelido de “nonno volante”. O vovô voador estreou na Serie A em setembro de 1990 e se despediu em novembro de 2008, somando mais de 550 partidas entre as duas primeiras divisões italianas. Como um bom vinho sangiovese, originário de sua cidade, Fontana seguiu o dito “quanto mais velho, melhor”.

Bem antes de se tornar um “vovô voador”, Alberto começou a carreira de goleiro nas divisões de base do Cesena, na Emília-Romanha. Passou por todas as categorias e, quando fez 19 anos, foi emprestado para a Vis Pesaro, que jogava na Serie C2. Jimmy, seu apelido por causa do cantor Jimmy Fontana, não conseguiu ganhar a posição, mas pode comemorar o acesso dos vissini à terceira divisão.

Fontana retornou ao Cesena com apenas dois jogos realizados pelo time marquesão e passou mais um ano no banco nos bianconeri, já que Sebastiano Rossi detinha a posição de forma esplendorosa. Do lado de fora, sem entrar em campo, Jimmy viu a equipe dirigida por Alberto Bigon fazer uma excelente campanha e terminar na nona posição da Serie A 1987-88.

No final da década de 1980, a carreira do jogador pareceu tomar o rumo desejado. Conseguiu fazer uma temporada sendo o titular, emprestado para a Spal, que estava na terceira divisão. Em crise financeira, a equipe de Ferrara não fez uma boa campanha e acabou sendo rebaixada para a Serie C2 pela primeira vez em sua história. Fontana voltou para a Romanha e Rossi ainda era o principal nome para a posição, deixando um ponto de interrogação na carreira do jovem goleiro.

Após passagens sólidas por Cesena, Bari e Atalanta, Fontana amargou rebaixamento no Napoli (Allsport)

No entanto, ao final de mais uma temporada como reserva, o Milan resolveu contratar o que viria a ser um dos goleiros mais vitoriosos de sua história, deixando os cavalos marinhos com uma baliza sem dono. Marcello Lippi resolveu confiar no inexperiente Jimmy, que não deu brecha para Francesco Antonioli e Marco Ballotta.

Foram três temporadas como principal arqueiro da equipe de sua cidade natal. Anos em que Fontana teve como companheiros jogadores como os brasileiros Silas e Amarildo, o bósnio-iugoslavo Davor Jozic e os atacantes italianos Franco Lerda e Dario Hübner. O rebaixamento ocorreu em 1990-91, mas Jimmy permaneceu e disputou duas edições da segundona sem dar margem a questionamentos. Ganhando fama e mais experiente, resolveu se transferir para o Bari, que tinha um grande projeto após receber um faraônico estádio para a Copa de 1990.

Os galletti tinham um time bastante forte para a disputa da segundona. Além do tarimbado Fontana, contaria com os defensores Lorenzo Amoruso e Amedeo Mangone, os meias Onofrio Barone e Carmine Gautieri, o ponta Angelo Alessio e os atacantes Sandro Tovalieri, Igor Protti e João Paulo. O acesso foi conquistado com tranquilidade.

Nesse meio tempo, Jimmy se consolidou como um goleiro confiável, sendo titular em toda a sua passagem de quatro anos pelo sul da Itália. Nesse período no Bari, Fontana colecionou duas promoções para a Serie A e realizou também duas temporadas na elite. Em 1997, após uma nova campanha na divisão de acesso e a segunda promoção, o goleiro optou por buscar um novo desafio na Serie A: se transferiu para a Atalanta, que acabara de vender Filippo Inzaghi e Domenico Morfeo por um total de 28 bilhões de liras.

O time bergamasco precisava de figuras para dar experiência ao time, conhecido por apostar em jovens e vender seus astros. Nessa ocasião, não deu certo e os orobici foram rebaixados na última rodada. Fontana ficou na Atalanta até a Dea ser promovida novamente, em 2000. Na janela de inverno, após perder espaço para o iniciante Ivan Pelizzoli, criado em Zingonia, o jogador resolveu deixar a Lombardia e apostou todas suas fichas em salvar o Napoli, que viva um caos completo.

Fontana ficou mais conhecido mundialmente ao ser reserva na Inter (AFP/Getty)

Amauri e Edmundo também foram jogar a metade final do campeonato na Campânia. Fontana tomou a posição de Francesco Mancini e até defendeu um pênalti de Zinédine Zidane no clássico contra a Juventus, mas seus esforços não adiantaram – nem para salvar o Napoli da derrota por 3 a 0 nem salvá-lo do rebaixamento. O arqueiro até poderia escolher ficar, já que um contrato de três anos lhe fora oferecido, mas recusou e optou por ser o reserva imediato de Francesco Toldo, na Inter.

Os dois chegaram na mesma janela de verão, em 2001; o paduano veio da Fiorentina e o romanholo do Napoli, um por 52 bilhões de liras, o outro por “apenas” seis. Obviamente, a disputa de posição não estava nos seus planos: Fontana, então com 34 anos, sabia que o seu papel era o de oferecer ao clube uma opção segura nos momentos de necessidade e passar, aos mais jovens, ensinamentos de suas 15 primaveras no futebol profissional. Em uma entrevista em 2001, o humilde goleiro deixou isso bem claro. “Já joguei muitas partidas na Serie A. Minha estreia na Liga dos Campeões foi muito mais emocionante, uma experiência única. O número 1 é o Toldo e não me faz mal ser o reserva dele, que é o melhor de todos”.

Em quatro temporadas, Fontana defendeu a baliza nerazzurri 24 vezes, uma dezena no campeonato nacional e o resto em rodadas iniciais de variadas copas. Seu maior momento foi justamente quando Toldo teve uma queda de rendimento e Roberto Mancini, o novo treinador na ocasião, por escolha técnica, resolveu escalar Fontana no Derby della Madonnina: Jimmy teve boa atuação e o clássico com o Milan terminou zerado. Toldo recuperou a posição logo após e, com a chegada de Julio Cesar na Pinetina, o cargo de terceiro goleiro foi automaticamente dado a Alberto. Ele preferiu recusar.

O ditado já diz que “a maturidade está na mente, e não na idade” – e para os arqueiros, este é um provérbio especialmente verdadeiro. O Chievo, vezeiro em contratar jogar experientes, confia nesse ditado e acertou com Jimmy Fontana, que tinha 38 anos, para substituir o aposentado Luca Marchegiani. Titular absoluto, Alberto liderou uma das defesas mais sólidas do campeonato e colaborou com a campanha do sétimo lugar. Depois da eclosão do Calciopoli e das respectivas punições ao escândalo, o time veronês ganhou três posições e uma classificação para a Liga das Campeões. A diretoria resolveu renovar o elenco por completo – o que não deu certo, visto que o Ceo foi eliminado na fase preliminar da UCL e ainda amargou o rebaixamento para a Serie B. Nessa reformulação, Fontana e Amauri foram para o Palermo.

Tudo indicava que Alberto seria o reserva de Federico Agliardi, mas o destino ainda lhe reservava bons momentos, agora guardando a baliza rosácea. O bresciano se machucou no início da temporada e acabou dando espaço para que Fontana entrasse em campo – e conquistasse a posição de vez. Jimmy foi titular por mais dois bons anos, período em que ajudou os sicilianos a conquistarem a quinta posição na Serie A, em 2006-07, e em que disputou duas Copas Uefa.

No Palermo, Jimmy foi titular antes de se aposentar (AFP/Getty)

Com a troca de diretor esportivo e a venda de Andrea Barzagli, Leandro Rinaudo, Cristian Zaccardo e Amauri, o Palermo renovou seu elenco completamente para a temporada 2008-09. Fontana não tinha valor de mercado, então foi mantido no time – mas como reserva de Marco Amelia. Mesmo com 41 anos, o jogador não gostou de ser colocado no banco, já que era um ídolo na Sicília e em 2007, depois de Gianluigi Buffon e Christian Abbiati, foi o goleiro com mais defesas na Serie A. Além disso, não concordava com o argumento de que Amelia era o segundo melhor goleiro na Itália – o reserva imediato de Gigi na seleção não tinha cancha.

Depois de reclamações públicas, o jogador deixou de ser convocado para as partidas do time, sendo, na prática, excluído do elenco, ainda que sob contrato. Jimmy não aceitou e, alegando sofrer assédio moral, recorreu ao sindicato de jogadores, que arbitraria a situação. No final de dezembro, o presidente do Palermo comunicou que o jogador não estava mais nos planos do time e que poderia procurar outros clubes. Foram apenas cinco partidas em seu último ano como profissional, mas Fontana pode ao menos alcançar uma marca imponente: com 41 anos e 297 dias, é o terceiro jogador mais velho a disputar uma partida na primeira divisão. Só perde para dois goleiros que colocou no banco no início da carreira: Antonioli e Ballotta.

Jimmy ainda recebeu uma proposta de atuar novamente pelo Bari, mas recusou e resolveu pendurar as luvas. Hoje é dono de um bed & breakfast em Cervia, na Riviera Adriática, perto de sua cidade natal. Segundo o próprio, “quem nasceu à beira do mar tem mais dificuldade de ir embora do que voltar” – ainda mais para um filho de salva-vidas. Sua nova ocupação é viver a vida como um verdadeiro romanholo: trabalha de manhã, de tarde se encontra com os amigos, toma um drink à beira da praia. Ocasionalmente joga seu frescobol e, se tiver uma partida de futebol, atua apenas por diversão e só joga na linha, tal qual um “vovô garoto”.

Alberto Fontana
Nascimento: 23 de janeiro de 1967, em Cesena, Itália
Posição: goleiro
Clubes: Vis Pesaro (1986-87), Cesena (1987-88 e 1989-93), Spal (1988-89), Bari (1993-97), Atalanta (1997-2001), Napoli (2001), Inter (2001-05), Chievo (2005-06) e Palermo (2006-09)
Títulos: Serie C2 (1987) e Coppa Italia (2005)

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