Quando se fala do Parma que marcou época na década de 1990, os primeiros nomes que vem à mente das pessoas são os de Taffarel, Gianluigi Buffon, Fabio Cannavaro, Lilian Thuram, Tomas Brolin, Juan Sebastián Verón, Gianfranco Zola, Faustino Asprilla, Hernán Crespo e Enrico Chiesa. Porém, para que tantos craques pudessem jogar, havia uma espinha dorsal de coadjuvantes de qualidade, como o zagueiro Luigi Apolloni. Em 13 temporadas pelos crociati, o defensor conquistou todos os títulos da era de ouro parmense e se tornou um dos grandes jogadores da história do clube.
Apolloni nasceu nos arredores de Roma, na pequena cidade de Frascati, e foi na capital que começou a jogar futebol, através da Lodigiani. O clube é reconhecido pela força nas divisões de base: além de Apolloni, passaram pelos juvenis da equipe romana jogadores como Francesco Totti, David Di Michele, Luca Toni, Emiliano Moretti, Antonio Candreva e Alessandro Florenzi. O zagueiro, porém, nunca chegou a atuar profissionalmente pelos alvirrubros e, aos 17 anos, acertou com a Pistoiese, da Toscana.
Os arancioni haviam disputado a Serie A em 1980-81, mas estavam em queda livre. Quando Apolloni foi contratado, o time acabara de ser rebaixado para a terceira divisão. A fase negativa da “holandesinha” – a Pistoiese é conhecida assim porque sua cor social é o laranja –, por um lado, acabou impulsionando a estreia do jovem zagueiro. Luigi amargou um rebaixamento em seu ano de debute e ainda disputou a Serie C2 antes de passar à Reggiana.
Apolloni cavou seu espaço rapidamente. No único ano em que defendeu os granata de Reggio Emilia, o zagueiro fez 32 das 34 partidas na Serie C1: sua equipe ficou com o terceiro lugar em seu grupo na competição e não garantiu o acesso para a segundona. No entanto, o jogador chamou a atenção do Parma, que militava na Serie B, e foi negociado pela Reggiana.
Em 1987, era dado o pontapé inicial para o momento mais importante da história do Parma. Naquele ano, a Parmalat começou a patrocinar a equipe e o aporte de capital possibilitou que o presidente Ernesto Ceresini contratasse alguns jovens promissores, que se juntariam a Alessandro Melli, formado na base dos ducali. Além de Apolloni, foram adquiridos Lorenzo Minotti, Marco Osio e Amedeo Carboni– entre os citados, só o último não ficou muito tempo no Ennio Tardini.
Nos dois primeiros anos em Parma, Apolloni teve de se contentar com campanhas de meio de tabela na Serie B. Em 1989, porém, os gialloblù contrataram o técnico Nevio Scala, que fez o time dar um salto de qualidade e, pela primeira vez, garantir o acesso para a primeira divisão. A equipe montada pelo comandante vêneto tinha dois pilares: Apolloni e Minotti no centro da defesa.
Com a estreia do Parma na Serie A, a Parmalat deixou a condição de patrocinadora e assumiu o posto de proprietária do clube. Podendo investir alto e reformular o elenco, a diretoria resolveu dar confiança à base firmada, o que se mostrou uma decisão correta. No entanto, Apolloni e Minotti ganharam a companhia de um jogador consagrado: o belga Georges Grün, que compôs com os italianos o trio de defesa do 3-5-2 de Scala.
O impacto do Parma na elite foi imediato. No ano de estreia, foi quinto colocado da Serie A e garantiu vaga na Copa Uefa; no segundo, venceu a Coppa Italia. Dias depois de completar 25 anos, Apolloni comemorava o primeiro título da carreira e o fato de ser titular absoluto da sensação do futebol italiano. Em setembro de 1992, veio também a primeira convocação para a Itália, então dirigida por Arrigo Sacchi: o treinador dirigia o Parma quando Gigi defendia a rival Reggiana e já conhecia bem o seu futebol. Naquela ocasião porém, o zagueiro não foi utilizado nem no amistoso contra a Holanda nem no duelo com Malta, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994.
Gigi Apolloni foi presença constante nas participações seguidas do Parma nas copas europeias na primeira da década de 1990. Em 1992-93, fez grande partida na decisão da Recopa Uefa, contra o Antwerp, e levantou sua primeira taça continental – no ano seguinte, os crociati foram vice-campeões, perdendo para o Arsenal na final. Na temporada em que quase celebrou o bicampeonato da Recopa, o defensor marcou seu primeiro gol com a camisa gialloblù, na primeira vitória do Parma como hóspede do Torino. Ele ainda repetiu a dose diante da Atalanta, sete rodadas depois: após marcar um golaço contra seu patrimônio, ele se redimiu a virou o jogo.
Com estilo firme e tido como referência em Parma, Apolloni voltou a ganhar espaço na Squadra Azzurra às vésperas do Mundial de 1994: estreou num amistoso preparatório, contra a Finlândia, e menos de um mês depois, fez seu segundo jogo diante da Noruega, em plena Copa. Gigi participou de três partidas em solo norte-americano, incluindo a decisão perdida contra o Brasil. Na final de Pasadena, o defensor entrou em campo após a lesão de Roberto Mussi e atuou na lateral-direita – função que exercia às vezes.
Apolloni manteve a regularidade num Parma cada vez mais ambicioso, que em 1995 conseguiu ser campeão da Copa Uefa, terceiro colocado da Serie A e vice da Coppa Italia. Em alta, o defensor também integrou o elenco da Itália que disputou a Euro 1996 e logo em seguida, num amistoso contra Bósnia e Herzegovina, fez sua última partida pela Nazionale. No total, foi relacionado para 31 duelos e entrou em campo em 15.
O ano de 1996 ficou marcado negativamente para o zagueiro. Após a má campanha italiana na Eurocopa e a aposentadoria, Apolloni sofreu uma lesão que o deixou de molho por praticamente toda a temporada. Ao retornar, o zagueiro jamais conseguiu reconquistar seu espaço, já que Cannavaro despontava pelos ducali. Em 1998-99, uma lesão fez com que Gigi atuasse apenas 26 minutos na temporada, nas duas últimas rodadas da Serie A. Mesmo assim, o defensor ainda teve status de capitão e fez parte do elenco campeão da Coppa Italia e da Copa Uefa.
Sem jogar pelo Parma, em outubro de 1999, Apolloni acabaria deixando o clube após 304 partidas: até hoje, Gigi está entre os cinco jogadores com mais aparições pelos crociati, sendo o terceiro que mais atuou com a camisa gialloblù pela Serie A (204 vezes). O zagueiro acabou acertando com o Verona, então presidido por Giambattista Pastorello, ex-diretor do próprio Parma – àquela época, o Hellas recebia muitos atletas emprestados pelos emilianos.
No Verona, Apolloni voltou a atuar com regularidade e teve exibições razoáveis na primeira temporada, na qual os butei ficaram com a nona posição. A segunda e última campanha no Vêneto, porém, foi trágica. Em seu último ano como profissional, conseguiu um recorde negativo. Foi expulso cinco vezes na Serie A – quatro delas ocorreram na reta final do campeonato de 2000-01, e em jogos consecutivos. Gigi levou o vermelho contra a Juve (25ª rodada), retornou para enfrentar a Reggina (27ª) e novamente foi expulso. O mesmo ocorreu diante de Bologna (32ª) e Perugia (34ª). Se despediu da carreira com um vermelho e, do banco de reservas, viu sua equipe evitar o rebaixamento, no spareggio com a Reggina.
Depois de pendurar as chuteiras, aos 34 anos, Apolloni se preparou para ser treinador. Não decolou na nova profissão: após salvar o Modena do rebaixamento na Serie B, em 2009 e 2010, teve passagens insatisfatórias por Grosseto, Gubbio e Reggiana. Acabou parando na Eslovênia e classificou o Gorica (então equipe-satélite do Parma) para a Liga Europa. O início negativo em 2014-15, porém, fez com que ele fosse demitido.
Em junho de 2015, Apolloni ia recomeçar de baixo: assinou com o Lentigione, da Serie D, mas duas semanas depois deixou o cargo sem nem mesmo ter comandado a equipe em partidas oficiais. O motivo era nobre: ele recebera uma missão importante. Gigi foi o escolhido para ser o treinador do Parma no início de seu processo de reconstrução, após ter falência decretada e ter de recomeçar da quarta divisão. A seu lado na empreitada estavam Nevio Scala, como presidente, e Lorenzo Minotti, como diretor.
Apolloni não falhou e na primeira tentativa, levou o clube à Serie C1, mas acabou demitido no início da temporada seguinte, juntamente a Minotti, após uma sequência de maus resultados. Gigi passou quase dois anos longe do futebol, até receber missão similar à que teve com os ducali. Em maio de 2018, assinou com o Modena, também rebaixado ao quarto nível do futebol da Bota, por problemas financeiros.
Gigi comandou os canarini durante o primeiro turno e os deixou na primeira posição do Grupo D, que reúne times da região da Emília-Romanha, mas acabou demitido no início de 2019. A diretoria não estava satisfeita com as atuações do time, que estava ameaçado pela Pergolettese: a adversária, aliás, se tornou a nova líder da chave e, mais tarde, subiu através dos playoffs. Em seguida, Apolloni passou por times ainda mais modestos, sem colecionar trabalhos expressivos.
Luigi Apolloni
Nascimento: 2 de maio de 1967, em Frascati, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Lodigiani (1983-84), Pistoiese (1984-86), Reggiana (1986-87), Parma (1987-1999), Verona (1999-2001)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1992 e 1999), Supercopa Italiana (1999), Recopa Uefa (1993), Supercopa Uefa (1993) e Copa Uefa (1995 e 1999)
Clubes como treinador: Modena (2009-10 e 2018-19), Grosseto (2010), Gubbio (2012), Reggiana (2012-13), Gorica (2013-14), Lentigione (2015), Parma (2015-16), Felino (2022) e Salsomaggiore (2024)
Seleção italiana: 15 jogos