O Olímpico Grande Torino tinha tudo para ser o local da redenção da Itália após as pífias exibições diante de Espanha e Israel. O adversário seria a eliminada Macedônia e diversos nomes da seleção, antigos e atuais contratados do Torino, se encontrariam com o estádio e teriam um motivo a mais para ganhar o apoio da torcida. Talvez a lesão que tirou Belotti da partida fosse um prenúncio de que a noite em Turim não seria festiva.
O técnico Gian Piero Ventura, querido em Turim, deixou o gramado vaiado após o apito final. De forma absolutamente merecida, já que a Itália produziu muito pouco e ainda foi capaz de sofrer o empate no segundo tempo. A Nazionale ainda não tem vaga garantida nem mesmo na repescagem: terá se a Bósnia não vencer a Bélgica, amanhã, ou se somar pelo menos um ponto contra a Albânia, na segunda. O grande problema é que o empate prejudica o chaveamento azzurro, tanto na repescagem quanto na Copa do Mundo, caso se classifique. No primeiro cenário, poderá ficar no segundo pote e enfrentar um adversário complicado, como Portugal ou Croácia, enquanto no segundo praticamente extinguiu as chances de ser cabeça de chave na Rússia.
A tensão pré-sorteio pairava no ar em Turim, a ponto de praticamente paralisar os italianos. A bem da verdade, a partida não teve muito além da boa jogada de Insigne, que acabou no gol de Chiellini, e o empate articulado entre Pandev, Nestorovski e Trajkovski, trio de macedônios que atuam no futebol italiano. O primeiro tempo teve pouca movimentação e o segundo ainda menos: a Itália não exigiu o goleiro Dimitrievski.
A falta de ideias e a apatia é que assustam e fazem a maior parte da culpa recair sobre Ventura. O treinador testou o esquema 3-4-3, em substituição ao polêmico 4-2-4 e ao 3-5-2 de partidas anteriores, e também não teve êxito na proposta – aliás, nenhuma alternativa engendrada por ele tem apresentado resultados. Muitas lesões assolaram a convocação do comissário técnico e lhe obrigaram a realizar mais uma troca de posicionamento tático, mas isto não pode servir de álibi para a má atuação. Os jogadores que foram a campo não mostraram vontade de ganhar a vaga no grupo azzurro e competir com peças que estão no estaleiro, como De Sciglio, Conti, De Rossi, Pellegrini, Marchisio, Verratti e Belotti.
Hoje, parece que Ventura não tem mais a confiança dos jogadores. O pacto parece ter sido quebrado justamente quando o treinador apostou no 4-2-4 contra a Espanha e foi totalmente dominado pelos comandados de Julen Lopetegui. Isso se verifica nos senadores do time, como Buffon e Bonucci, e também em outros jogadores importantes para a seleção, como Insigne. A insegurança também se verifica em quem não estava presente no elenco na época da goleada – casos de Verdi, Gagliardini e Cristante, apagadíssimos nesta sexta.
Buffon foi claro ao falar como a derrota para os espanhóis foi prejudicial para o psicológico azzurro. “Ainda sofremos os efeitos causados por aquele jogo. Tivemos um ótimo primeiro ano e vínhamos em uma curva ascendente. A derrota para a Espanha nos atingiu psicologicamente e nos fez repensar algumas certezas. Imaginávamos até então que estávamos em um nível superior ao que realmente nos encontrávamos. Os jogadores mais experientes, como eu, devem encontrar forças para serem decisivos e tranquilizar os mais jovens. Assim, eles poderão jogar melhor”, disse.
Talvez seja neste ponto que a trajetória futebolística de Ventura jogue em seu desfavor. O treinador da seleção italiana nunca passou por clubes gigantescos – seu melhor trabalho foi no Torino, vale lembrar –, não teve experiência na nata do esporte ou conquistou títulos importantes. Perder, para ele, é algo que faz parte de sua carreira. Ele não tem a vivência de alguém que, por ter vencido tanto, se incomoda com as quedas. E também não tem sabido assumir esta condição, como muitos de seus antecessores à frente da seleção italiana, mesmo sem terem um vasto currículo, souberam.
Não ser um vencedor nato não é demérito algum e Ventura certamente tem seu valor como técnico, embora hoje seja o homem menos amado de toda a Velha Bota. Seu grande defeito é a falta de mentalidade vencedora, que o impede de transmitir o espírito necessário para os jogadores que representam uma das camisas mais tradicionais do futebol mundial, com quatro estrelas no peito. O genovês depende que os senadores do elenco – estes sim, vitoriosos – assumam uma bronca que toda a Itália já percebeu que ele não é capaz de aguentar.
Itália 1-1 Macedônia
Itália (3-4-3): Buffon; Barzagli (Rugani), Bonucci, Chiellini; Zappacosta, Gagliardini (Cristante), Parolo, Darmian; Verdi (Bernardeschi), Immobile, Insigne. Técnico: Gian Piero Ventura.
Macedônia (5-3-2): Dimitrievski; Radeski, Ristovski, Musliu, Velkovski (Zajkov), Alioski; Hasani (Trajkovski), Spirovski, Bardhi; Pandev (Trickovski), Nestorovski. Técnico: Igor Angelovski.
Gols: Chiellini; Trajkovski.
Local: Olímpico Grande Torino, em Turim (Itália).
Árbitro: Tiago Martins (Portugal).
O projeto do Ventura é para 2022, a força do C.T. vem do fato de saber trabalhar com jovens e por isso foi contratado, tudo bem que a Itália não vem jogando bem, mas ficar em segundo em um grupo que tem a Espanha não é surpresa, haja visto o declínio do futebol italiano na última década. G.Donnarumma, Conti, Romagnoli, Rugani, Cristante, Gagliardini, Locatelli, Belotti e tantos outros são o futuro, embora a NaZionali provavelmente não vença a copa mas a década seguinte promete bons resultados.