Poucos ídolos do Napoli foram tão importantes para o clube dentro e fora de campo quanto Antonio Juliano. Oriundo da periferia de Nápoles, o ex-meio-campista dedicou quase toda sua carreira de jogador ao clube campano e, no ofício de dirigente, foi o responsável pelas contratações do defensor holandês Ruud Krol e do lendário Diego Maradona, ícones na história dos partenopei.
Juliano cresceu em San Giovanni a Teduccio, subúrbio oriental de Nápoles, e logo cedo demonstrou intimidade com a bola. Não à toa chegou ao Napoli com apenas 14 anos, em 1954. Dois anos mais tarde mudou junto com sua família para Poggioreale, a cinco quilômetros de sua antiga residência. Fez sua estreia pela equipe principal azzurra no dia 31 de maio de 1962, em uma partida contra o Mantova, válida pela semifinal da Coppa Italia.
O debute na Serie A aconteceria quase um ano depois, em 17 de fevereiro de 1963. No San Paolo, os partenopei foram atropelados pela Inter: 5 a 1. Mas nada que pudesse abalar o determinado “Totonno”, que começaria sua caminhada rumo à idolatria. Uma trajetória pavimentada por absoluto controle do meio-campo, numa época em que não era tão comum que um jogador fosse o responsável por ditar quase sozinho o ritmo do jogo.
Após vencer seu primeiro troféu – a Coppa Itália de 1961-62 –, Juliano se firmou no meio-campo do time napolitano nas temporadas seguintes. Em 1966, aos 23 anos, o jogador pegou a braçadeira de capitão e recebeu sua primeira convocação para a seleção italiana. As boas atuações do meio-campista partenopeo convenceram o técnico da Azzurra à época, Edmondo Fabbri, e ele carimbou passagem para a Copa do Mundo da Inglaterra. No Mundial, utilizou a camisa 10, não saiu do banco e viu a Nazionale dar adeus à competição na fase de grupos.
Ainda em 1966, Juliano levantou a taça da Coppa dos Alpes, torneio organizado pelas Federações Italiana e Suíça, que acabou extinto em 1987. Em 1968, já consolidado tanto no Napoli quanto na seleção italiana, alcançou seu maior título: fez parte do elenco que ajudou a Itália a ganhar sua única Eurocopa. O meia também foi chamado por Ferruccio Valcareggi para integrar o elenco da Azzurra que disputaria a Copa do México, em 1970, mas jogou apenas os 16 minutos finais da decisão contra o Brasil – na qual a Itália seria derrotada por 4 a 1.
Juliano chegou a ser convocado para a sua terceira Copa do Mundo, em 1974, na Alemanha Ocidental. Tal qual no Mundial da Inglaterra, contudo, não atuou um minuto sequer. Sua última partida pela Squadra Azzurra ocorreu em Roterdã, quando os italianos perderam por 3 a 1 da Holanda, em duelo válido pelas eliminatórias da Eurocopa de 1976.
Durante 16 anos de serviços prestados ao Napoli, Juliano ficou perto de levar o scudetto para a Campânia: bateu na trave duas vezes, em 1968 e 1975, anos em que o título ficou com o Milan de Nereo Rocco e um timaço da Juventus, respectivamente. Por outro lado, foi figura essencial nos dois primeiros títulos de Coppa Italia do clube, 1962 e 1976.
Esta última conquista veio em grande estilo: goleada por 4 a 0 sobre o rival Hellas Verona, em Roma. O triunfo fez o maior jornalista esportivo da Itália, Gianni Brera, elogiar o time cuja liderança era de Tottono: “o jogo do Napoli é baseado na direção de Juliano, para a qual os seguidores devotos carregam a bola com absoluta diligência. O ‘Capitano Azzurro’ oferece, ainda que com ritmo baixo, atuações estupendas”.
O capitão partenopeu deixou o Napoli no verão europeu de 1978. Disputou 505 partidas pela agremiação, tornando-se, à época, o jogador que mais vezes vestiu o manto azzurro. Juliano foi ultrapassado apenas no fim da década de 1980 pelo defensor Giuseppe Bruscolotti, com seis jogos a mais, e, muitos anos depois, pelo eslovaco Marek Hamsík (520).
O Bologna foi o segundo e último time na carreira de Juliano – e ele só foi para lá por causa do pedido de Bruno Pesaola, que o treinara na Campânia. Já com 36 anos, não teve o mesmo desempenho dos tempos de Napoli. Mesmo assim, disputou 19 jogos e marcou dois gols. O último deles foi anotado no empate em 1 a 1 contra o Torino, na penúltima rodada do campeonato de 1978-79, e foi vital para livrar os rossoblù do descenso à segunda divisão.
Totonno virou dirigente esportivo do Napoli depois que se aposentou dos gramados. No início da década de 1980, a Federação Italiana de Futebol reabriu as fronteiras após quase dez anos de embargo e permitiu que os clubes voltassem a contratar jogadores estrangeiros. Juliano foi à caça no mercado. O primeiro que contratou foi o holandês Ruud Krol, um dos melhores defensores de todos os tempos. O cartola viajou ao Canadá, porque à época Krol estava defendendo o Vancouver Whitecaps, da NASL, e disse que não voltaria para Nápoles sem ele.
A outra grande cartada de Juliano como dirigente foi a contratação de Maradona, um dos principais responsáveis pelo sucesso do time no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990. O ex-meio-campista, aliás, ainda teve de convencer o então presidente, Corrado Ferlaino, da importância de contratar o argentino. Juliano, no entanto, não era mais membro da diretoria nos títulos da Serie A conquistados em 1987 e 1990: ele abandonou o cargo em 1985, dando lugar a Italo Allodi.
Além de dirigente, o Capitano Azzurro deu seus pitacos como comentarista do programa “Number Two”, do canal Canale 34 Telenapoli. Em novembro de 2012, ganhou destaque na mídia ao admitir durante a conferência “O futebol entre regras, lealdade esportiva e interesses (criminosos?)” que arquitetou o empate em 1 a 1 entre Napoli e Milan, na última rodada da Serie A 1977-78, com o capitão rossonero Gianni Rivera.
O resultado fez os partenopei pegarem a última vaga via campeonato para a Copa Uefa – atual Liga Europa. Os rossoneri já estavam classificados. “Eu encontrei Rivera e [Enrico] Albertosi no vestiário, antes do jogo, e decidimos por um empate. Falei com os meus companheiros, explicando o que foi acordado com os adversários: terminou 1-1″, disse Juliano. Rivera, por sua vez, se defendeu e disse não se lembrar deste episódio.
Com ou sem polêmicas, Juliano manteve seu status inabalável: o de um dos maiores ídolos de todos os tempos para a torcida do Napoli. Afinal, nenhum outro jogador nascido na cidade defendeu as cores do time por um período tão longo e com tanta devoção. Totonno faleceu em dezembro de 2023, pouco antes de completar 81 anos.
Atualizado em 13 de dezembro de 2023.
Antonio Juliano
Nascimento: 26 de dezembro de 1942, em Nápoles, Itália
Morte: 13 de dezembro de 2023, em Nápoles, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Napoli (1962-78) e Bologna (1978-79)
Títulos: Coppa Italia (1962 e 1976), Coppa dos Alpes (1966), Coppa da Liga Ítalo-inglesa (1976) e Eurocopa (1968)
Seleção italiana: 18 jogos