Nascido em Albano Laziale, nos arredores da capital italiana, em 30 de agosto de 1983, Simone Pepe cresceu num dos períodos mais gloriosos do futebol de seu país. Criado nas categorias de base da Roma, seu início no esporte não prenunciou a trajetória de sucesso da sua carreira. Mesmo que o ponta não tivesse o brilhantismo técnico de outros talentos da época, conseguiu algum destaque pela determinação e pela energia gasta em campo. Qualidades que lhe permitiram dar grandes passos no cenário local, apesar de suas limitações.
Seu início profissional foi um constante exercício de adaptação. Após passar por Campoleone, Albalonga e Pavona nas divisões de base, foi descoberto pela Roma quando tinha quase 17 anos. Na Cidade Eterna, concluiu sua formação e passou a ser presença constante nas seleções juvenis da Itália, sendo um prolífico ponta-direita nas categorias sub-17, sub-19 e sub-20. Isso, contudo, não foi suficiente para que estreasse pelos giallorossi.
Depois de ter ficado no banco em quase uma dezena de jogos pela Roma, Pepe foi emprestado ao Lecco, em janeiro de 2002, para atuar na modesta Serie C1, onde teve algumas poucas oportunidades. O ponta retornou à capital sem grande destaque, mas com mais rodagem. Na época seguinte, 2002-03, foi cedido ao Teramo, também da terceirona, onde realmente começou a mostrar seu valor. Fundamental com seus 11 gols em 31 jogos naquela temporada, ajudou o time a chegar aos playoffs de acesso para a segunda divisão, chamando atenção no cenário italiano pela primeira vez – e ganhando espaço na seleção sub-20, pela qual ganhou o Torneio das Quatro Nações. O desempenho levou o Palermo a adquirir metade de seus direitos, abrindo as portas para um novo capítulo em sua trajetória.
Sua primeira temporada no Palermo, em 2003-04, coincidiu com o retorno do clube à Serie A. Pepe atuou em 19 partidas e marcou um gol na campanha do título da segundona, mas não conseguiu espaço em um elenco que tinha outros nomes, como os recém-chegados Andrea Gasbarroni, Franco Brienza e Luca Toni. Quando, na janela seguinte, os rosanero buscaram Mariano González e contaram com o retorno de Mario Santana, que estava emprestado ao Chievo, os planos mudaram.
Um novo empréstimo ao Piacenza, na Serie B, revelou um lado mais decisivo de Pepe: com 13 gols em 32 jogos, ele se tornou uma peça central no ataque do time emiliano, comandado por Giuseppe Iachini. Entretanto, não conseguiu fazer os lupi, que haviam caído para a segundona em 2003, retornarem à elite – ficaram na nona posição. O ponta retornou ao Palermo em alta, mas a realidade foi mais dura: no retorno à Sicília, ele seguiu escanteado por González e Santana, teve poucas chances na máxima categoria do futebol italiano e atuou em apenas seis partidas antes de ser negociado com a Udinese, em janeiro de 2006.
Foi em Údine que Pepe, enfim, mostraria o seu melhor futebol no mais elevado nível da pirâmide italiana. Porém, não de cara. Em 2005-06, somou apenas nove aparições pelos friulanos. Muito pouco para um titular da seleção sub-21 que disputou o Europeu da categoria naquele mesmo ano. Assim, na temporada seguinte, voltou a ser emprestado, na busca por consistência: o ponta tornou a uma das ilhas do Belpaese, mas trocou a Sicília pela Sardenha, onde vestiria a camisa do Cagliari.
Pelos rossoblù, Pepe formaria um tridente de alto nível com os prolíficos David Suazo e Mauro Esposito – respectivamente, um ícone do futebol de Honduras e um atleta que vivia a melhor fase de sua carreira, com convocações para a seleção italiana. Simone ganhou o posto de Antonio Langella, outro selecionável azzurro, e atuou principalmente na ponta-esquerda, com liberdade para carregar a bola para dentro e finalizar a gol.
O caos nos bastidores, geralmente ocasionado pelo temperamento vulcânico do presidente Massimo Cellino atrapalhou. Sempre insatisfeito, o cartola demitiu Marco Giampaolo em dezembro, contratou Franco Colomba e, ao fim de fevereiro, chamou o outro de volta. Apesar deste cenário, foi pelo Cagliari que Pepe marcou seus primeiros gol na Serie A: foram três, sendo o que inaugurou a contagem e o último deles acionaram a lei do ex e foram fundamentais para bater o Palermo. O ponta somou 39 aparições na temporada, além de três assistências, e ajudou a o time da Sardenha a evitar o rebaixamento por apenas um pontinho.
De volta ao Friuli, após provar o seu valor na Serie A, o jogador nascido no Lácio, mas com raízes campanas, finalmente começou a se firmar como titular da Udinese. Sob o comando de Pasquale Marino, Pepe evoluiu taticamente e passou a alternar mais frequentemente entre os dois lados do campo, apesar da maior utilização na direita. Assim, se tornou fiel escudeiro de Antonio Di Natale dono do flanco esquerdo, e de Fabio Quagliarella, o centroavante.
Entre 2007 e 2010, Pepe viveu sua melhor fase na Udinese. Nos dois primeiros anos, a equipe de Marino foi sétima colocada da Serie A e chegou às quartas de final da taça nacional – em 2008-09, também ficou entre as oito melhores da Copa Uefa, caindo frente ao Werder Bremen. A consistência do ponta resultou em convocações para a Itália, que vivia o início da segunda gestão de Marcello Lippi. Figurinha carimbada nas listas do técnico, Simone foi incluído na lista para a Copa das Confederações, realizada na África do Sul.
Apesar do desempenho decepcionante da Nazionale no torneio, que representou um prelúdio do que viria um ano depois, na própria África do Sul, Pepe, capaz de atuar em qualquer lugar do ataque, sempre mostrou muita dedicação e passou a ser considerado bastante importante para o lendário treinador italiano. Essa capacidade chamou a atenção de Lippi, que o manteve como parte do elenco da Itália para a Copa do Mundo de 2010.
Entretanto, o jogador não estava na lista azzurra somente por apreço do técnico. Afinal, na Udinese, o desempenho de Simone havia crescido, não obstante o rendimento global de sua equipe ter despencado: apesar da campanha de semifinalista da Coppa Italia, os bianconeri amargaram uma modesta 15ª posição da Serie A. Num ano de dificuldades, que ocasionaram a demissão de Marino, posteriormente chamado para reassumir o lugar de Gianni De Biasi, Di Natale ganhou os louros pelos 29 gols e a artilharia do campeonato. Mas não é possível varrer para debaixo do tapete os esforços dos coadjuvantes. Pepe, por exemplo, colocou sete bolas nas redes, superou Alexis Sánchez e foi o segundo principal goleador dos friulanos.
Com tais números, Pepe chegou à Copa do Mundo com moral – e, assim, atuou em todas as partidas da fase de grupos. Contra a Eslováquia, na última delas, esteve envolvido no gol de Quagliarella, que reacendeu as esperanças italianas de avançar na competição. Porém, no minuto final, Simone desperdiçou uma chance crucial de empatar o jogo, o que poderia ter garantido a classificação da Itália às oitavas de final. A derrota por 3 a 2 eliminou os então campeões do mundo de forma precoce, marcando um dos capítulos mais difíceis da história da seleção. Para o ponta, no entanto, a experiência de vestir a camisa azzurra em um Mundial representou um dos pontos altos de sua trajetória.
Após a Copa, Simone deu o maior salto de sua carreira ao ser contratado pela Juventus, deixando a Udinese após 128 jogos e 18 gols. A chegada aos bianconeri marcou o início de um período transformador, tanto para Pepe quanto para a agremiação, que ressurgiu como potência do futebol italiano, depois de anos de consequências do Calciopoli. E o ponta teria seu lugar nesse renascimento.
Em sua primeira temporada, o ponta entrou em 42 das 50 partidas realizadas pela Juventus, sendo titular em 32 delas e anotando seis gols. A trajetória de 2010-11, porém, ainda não foi a responsável pela redenção da Velha Senhora. Naquela época, os bianconeri vinham de uma de suas piores campanhas na Serie A e, sob as ordens de Luigi Delneri, aprofundaram a crise: repetiram o sétimo lugar – que, dessa vez, não dava vaga em torneio continental –, além de terem caído nas quartas da Coppa Italia e na fase de grupos da Liga Europa, numa chave que tinha Manchester City, Salzburg e Lech Poznan.
A reviravolta se deu em 2011-12, quando Delneri deu lugar a Antonio Conte. Assim, Pepe deixou de jogar quase que exclusivamente como ala direito em um esquema 4-4-2 para virar uma espécie de curinga do novo treinador, que o experimentou nessa mesma função por ambos os lados, num 3-5-2, como ponta pelos dois flancos, num 4-3-3, e até mesmo como meia de chegada e atacante, também em 3-5-2. Se fosse necessário atuar como goleiro, Simone o faria.
Pepe mesclava muita resistência física com uma responsabilidade tática impecável. Devido a essas características, foi crucial na campanha invicta que deu à Juventus seu primeiro scudetto em nove anos, na temporada 2011-12 – concluída ainda com o vice da Coppa Italia, por conta da única derrota daquela época, para o Napoli. Simone marcou gols importantes na trajetória do título, como contra os próprios azzurri, o forte Palermo e a Lazio (duas vezes).
Entretanto, acabavam ali os seus anos de maior utilização em Turim – e, consequentemente, na seleção. Na temporada seguinte, ajudou o clube a conquistar o bicampeonato, embora tenha sido mais pela sua experiência no vestiário. Começando a sofrer com problemas físicos, o ponta ficou escanteado na Juventus por lesões nas coxas e nas panturrilhas: esteve afastado por 241 dias e defendey os bianconeri em apenas uma ocasião em 2012-13.
As lesões continuaram a ser um obstáculo significativo nas campanhas seguintes. Entre 2013 e 2015, Pepe ficou frequentemente afastado dos gramados por problemas musculares e passou longos períodos em recuperação. Apesar disso, manteve sua influência nos bastidores, sendo uma figura respeitada por sua paixão e rodagem. Ao final da temporada 2014-15, após conquistar seu quarto scudetto consecutivo, desta vez atuando em 15 partidas e marcando um gol, o jogador deixou a Juventus em fim de contrato, encerrando uma passagem simbólica para ambos os lados, mas frustrante pela maneira como terminou. Simone colecionou 95 aparições e 13 tentos pela Velha Senhora.
Depois de Turim, Pepe teve passagens mais discretas por clubes menores. No Chievo, em 2015-16, atuou em 23 partidas, sendo somente seis como titular, e contribuiu com sua experiência para uma campanha sólida na Serie A. Pelos clivensi, acabou sendo protagonista de um momento histórico do campeonato: ao decretar o empate por 3 a 3 com a Roma, numa cobrança de falta, teve o primeiro tento validado pela tecnologia da linha do gol no certame.
Em 2016, Pepe rumou ao Pescara, que voltava à elite após uma ausência de quatro temporadas. Pelos golfinhos, encerrou sua carreira profissional em 2017, pouco antes de completar 33 anos, e de forma melancólica. O ponta atuou somente 12 vezes (três como titular) e o time dos Abruzos foi rebaixado com a lanterna, acumulando marcas negativas: teve a pior pontuação da história num campeonato de 20 participantes – somou 18 pontos e viria a ser superada pela Salernitana, que fez 17 em 2023-24 – e ainda amargou o maior número de derrotas (26), o menor número de vitórias (três) e a defesa mais vazada (81 gols) do certame.
Simone Pepe, contudo, se aposentou de cabeça erguida. Pode não ter sido um craque no sentido clássico da palavra, mas poucos jogadores personificaram tão bem os valores do futebol italiano: trabalho árduo, dedicação absoluta e uma paixão inabalável pelo esporte. “Se não fosse a bola, eu teria sido frentista. Quando eu era criança, os via sempre com carteira recheada e pensei em seguir este ofício”, afirmou ao jornal Il Centro, em 2017.
Em suas 253 partidas na primeira divisão, as lesões e a quantidade de empréstimos – argumentos normalmente usados para diminuir uma trajetória – apenas reforçam a grandeza de “Er Chiacchiera”. Ou, em bom português, “o conversinha”, por causa de seu espírito expansivo. Seu esforço e dedicação para compensar momentos de baixa foram fundamentais, inicialmente por Teramo e Piacenza, e depois para contribuir para um bom momento da Udinese e a reconstrução da Juventus, maior campeã da Itália.
Simone Pepe
Nascimento: 30 de agosto de 1983 em Albano Laziale, Itália
Posição: ponta-direita
Clubes: Roma (2000-02), Lecco (2002), Teramo (2002-03), Palermo (2003-04 e 2005-06), Piacenza (2004-05), Udinese (2006 e 2007-10), Cagliari (2006-07), Juventus (2010-15), Chievo (2015-16) e Pescara (2016-17)
Títulos: Serie B (2004), Serie A (2012, 2013, 2014 e 2015), Supercopa Italiana (2012 e 2013) e Coppa Italia (2015)
Seleção italiana: 23 jogos