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Roberto Anzolin superou físico frágil e foi o goleiro da Juventus na década de 1960

“Entre as traves, era ágil como um gato. Praticamente imbatível, voava entre os postes como um felino. Nas bolas rasteiras, era impecável. Nas bolas altas e nas divididas aéreas, nem tanto”. Foi assim que Cestmír Vycpálek descreveu as qualidades de Roberto Anzolin, goleiro que treinou no Palermo. Baixo e de porte físico franzino, o arqueiro era conhecido como La Zanzara – Mosquito, em português –, mas isso não impediu o seu sucesso. Anzolin superou as desconfianças e se destacou como titular da Juventus.

O ex-jogador nasceu em 1938, na cidade de Valdagno, no Vêneto. Filho da arte, Roberto cresceu no meio futebolístico: seu pai, Bruno Anzolin, foi meio-campista do Vicenza nos anos 1930, tempos em que o clube estava na Serie B. Incentivado a seguir a carreira do progenitor, o garoto inovou: apesar de ter 1,77m de altura, decidiu ser goleiro.

Anzolin fez as categorias de base no Marzotto Valdagno, de sua cidade, e estreou profissionalmente no próprio clube em 1956, quando tinha 18 anos. Roberto ficou no clube por três temporadas, nas quais quase sempre foi titular nas campanhas dos vênetos na Serie B. O melhor desempenho ocorreu em 1957-58, quando os biancoazzurri ficaram com a quarta colocação na categoria e chegaram até as quartas de final da Coppa Italia.

Com físico franzino, o “mosquito” Anzolin fechou o gol da Velha Senhora (Arquivo/Juventus)

O desafio seguinte de Anzolin ocorreu no Palermo. O clube siciliano venceu a concorrência do Milan ao oferecer 40 milhões de velhas liras ao Valdagno e três ao goleiro – no total, cinco a mais do que os rossoneri propuseram. Roberto pode, então, estrear na Serie A e o fez com maestria. Os rosanero foram rebaixados, mas por apenas um pontinho, e tiveram a quinta melhor defesa da competição. La Zanzara se destacou, foi convocado para a seleção de juvenis e recebeu sondagens de Inter, Roma e Sampdoria. Contudo, antes mesmo de o campeonato acabar, acertou com a Juventus.

Anzolin continuou no Palermo na Serie B e colaborou para o retorno imediato das águias para a elite, sendo vital para que seu time tivesse a terceira melhor defesa da categoria e fosse a terceira colocada. Assim como na campanha na divisão principal, o goleiro foi o jogador que mais vezes entrou em campo e totalizou 71 partidas defendendo a meta siciliana.

No verão de 1961, chegou a hora de concretizar a transferência para a Juventus, então campeã da Serie A. A Velha Senhora desembolsou 100 milhões de liras e cedeu ao Palermo o goleiro Carlo Mattrel e o meia sueco Rune Börjesson, por empréstimo, além do zagueiro Tarcisio Burgnich, em definitivo. A negociação acabou sendo bastante frutífera para o time de Turim, que teve um titular pelo resto da década. Em nove anos de casa, Anzolin só cedeu seu lugar cativo no onze inicial em 1969-70, para Roberto Tancredi.

Os anos 1960 não foram muito bons para os bianconeri, que viram Inter e Milan dominarem o cenário nacional e terem sucesso nas competições europeias e intercontinentais. Ainda assim, Anzolin pode comemorar títulos em suas 305 partidas pela Juventus. O goleiro ficou no quase ao amargar o vice da Copa das Feiras, frente ao Ferencváros, e ter caído nas semifinais da Copa dos Campeões, ante o Benfica, mas levantou a Copa dos Alpes, a Coppa Italia e a Serie A.

Sem luvas e com aliança, Anzolin não poupava esforços com a camisa da Juventus (Getty)

Na trajetória para a obtenção do último dos troféus, Roberto foi vital, já que atuou em todos os jogos. A operária equipe de Heriberto Herrera ficou um ponto à frente da Inter e quebrou um jejum de seis anos sem scudetti. Para isso, contou com uma defesa inspirada, que sofreu apenas 19 gols e foi a segunda menos vazada da competição. Àquela época, Anzolin já era considerado como um dos melhores goleiros da Itália, graças à sua consistência e à agilidade que lhe conferiu o apelido de mosquito.

Quando foi campeão nacional, La Zanzara já representara a seleção italiana. Anzolin foi convocado pela primeira vez para integrar a delegação da Nazionale na Copa do Mundo de 1966 e estreou num amistoso preparatório para o torneio – nele, a equipe treinada por Edmondo Fabbri fez 5 a 0 sobre o México. O goleiro entrou no segundo tempo e teve a sua única aparição pela Squadra Azzurra. Depois, o vêneto embarcou para a Inglaterra e, junto a Pierluigi Pizzaballa, foi um dos reservas de Enrico Albertosi na vexatória campanha italiana. Com a ascensão de Dino Zoff, nos anos seguintes, não voltou a ser convocado.

Em 1970, quando já tinha 32 anos, Anzolin deixou a Juventus: seu destino foi a tradicional Atalanta, que lutava para deixar a segunda divisão. Experiente, Roberto foi titular na campanha de resgate dos nerazzurri e ajudou a Dea a ser vice-campeã da Serie B. Na ocasião, o goleiro atingiu a marca de 792 minutos sem ser vazado.

A temporada 1970-71 foi a única de Roberto em Bérgamo. Na sequência, o goleiro voltou para região em que nasceu e foi jogar no Vicenza, então na Serie A, como segundo goleiro. Depois do biênio como reserva dos lanerossi, o jogador fez carreira na terceirona, atuando respectivamente por Monza, Riccione e Casale. Pelo Monza, conseguiu dois títulos da Coppa Italia de Semiprofissionais, em 1974 e 1975.

Durante cerca de uma década, Anzolin representou segurança na meta juventina (Arquivo/Juventus)

Anzolin decidiu se aposentar aos 40 anos, depois de atuar pelos casalesi. Porém, quando Roberto tinha 46, houve uma reviravolta: seu cunhado era presidente do Valdagno e precisava de um goleiro, já que o titular estava doente. Assim, quase cinquentão, o jogador voltava aos gramados para disputar a quinta divisão e, por muito pouco, não conquistou mais uma promoção na carreira: os biancoazzurri perderam o jogo de desempate para o Giorgione. Depois disso, finalmente, Anzolin parou: foram 616 jogos nos seus quase 30 anos de carreira.

O ex-goleiro tentou fazer carreira também como treinador. Antes mesmo de ter retornado aos gramados, Anzolin levou a Pro Gorizia à quarta divisão, em 1982, e passou também por Benacense Riva e Belluno. Por sete anos, Roberto treinou o time de base do Chiampo, time de sua região e, em 1997 assumiu o time principal do Valdagno, na Serie C2 – contudo, amargou a última colocação e o rebaixamento ao quinto nível nacional. A partir de 1998, ele passou a colaborar com a escolinha de futebol dos biancoazzurri.

Anzolin estava com a saúde frágil desde que sofreu um princípio de ataque cardíaco durante férias que passava com a família nas montanhas, em 1997. O caso só não foi mais sério por conta da rápida ação dos médicos no local. Duas décadas depois, contudo, Roberto se despediria: faleceu aos 79 anos, deixando sua esposa, Gabriella, e dois filhos.

Roberto Anzolin
Nascimento: 18 de abril de 1938, em Valdagno, Itália
Morte: 6 de outubro de 2017, em Valdagno, Itália
Posição: goleiro
Clubes como jogador: Marzotto Valdagno (1956-59 e 1984-85), Palermo (1959-61), Juventus (1961-70), Atalanta (1970-71), Vicenza (1971-73), Monza (1973-75), Riccione (1975-76) e Casale (1976-78)
Títulos como jogador: Copa dos Alpes (1963), Coppa Italia (1965), Serie A (1967) e Coppa Italia de Semiprofissionais (1974 e 1975)
Clubes como treinador: Benacense Riva (1980-81), Pro Gorizia (1981-82), Belluno (1982-83) e Valdagno (1996-97)
Títulos como treinador: Campeonato Interregionale (1982)
Seleção italiana: 1 jogo

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