É difícil de acreditar, mas um dos primeiros grandes goleiros da história da Juventus e da seleção italiana tinha apenas quatro centímetros a mais do que o gênio Lionel Messi. Embora sua estatura jogasse contra, Gianpiero Combi superou a condição para ser absoluto no primeiro esquadrão montado pela Velha Senhora e capitão do título mundial da Itália, em 1934.
Natural de Turim, Combi tentou dar seus primeiros passos no futebol com a camisa do Torino, mas não foi selecionado nas peneiras grenás por causa da sua altura, tida como insuficiente para a posição de goleiro, e por sua estrutura física pouco impositiva. Os avaliadores da Juventus, contudo, entenderam que ele tinha agilidade e resolveram lhe dar uma chance.
Gianpiero passou alguns anos nos times da base dos bianconeri e treinava com a terceira equipe da Juve. Sua primeira oportunidade entre os profissionais surgiu graças a uma lesão do titular Emilio Barucco, em março de 1922. No entanto, a Juventus encarava a Pro Vercelli, formação mais forte da época, e perdeu por 7 a 1.
A pior estreia possível fez com que Combi treinasse ainda mais. O goleiro passou a pedir para que, depois do fim das atividades regulares, os companheiros de time participassem de uma sessão extra de finalizações junto com ele: Gianpiero pedia para que eles chutassem forte, para que ele pudesse defender as bombas. A labuta funcionou, pois com o tempo o piemontês assumiu a titularidade e começou a ser chamado de “Gato Mágico”, por conta de seu estilo elástico.
Naquele período, a Juve ainda era um time médio da Itália – tinha apenas um scudetto, conquistado em 1905. Combi viu tudo mudar depois que Edoardo Agnelli adquiriu a agremiação, em 1923, e a profissionalizou ao longo da década. Gianpiero acompanhou a evolução dos bianconeri e, em 1924, conseguiu sua primeira convocação para a seleção italiana. A estreia, contra a Hungria, teve novamente o resultado de derrota por 7 a 1. Mas, como ocorreu em nível de clubes, a trajetória do goleiro na Nazionale também ganhou outro rumo.
Combi foi chamado para a Olimpíada de Paris, também em 1924, mas não entrou em campo: naqueles anos, o goleiro juventino dividia a meta com Giovanni De Prà, grande arqueiro da geração de ouro do Genoa. Nos Jogos de Amsterdã, em 1928, Gianpiero foi o titular e contribuiu para o bronze da seleção, que caiu nas semifinais para o Uruguai e bateu o Egito na disputa pelo terceiro lugar.
Além de já ser figura constante nas listas da seleção, Combi também havia conquistado seu primeiro título italiano – o segundo da Juventus – em 1925-26. A equipe, treinada por Jeno Károly, quebrou paradigmas para a época e sofreu pouquíssimos gols: Gianpiero concedeu apenas 18 na temporada e chegou a passar nove rodadas sem ser vazado. No total, foram 934 minutos sem ser vencido, um recorde que perdurou por 90 anos. Em 2016, Gianluigi Buffon o superou e se tornou o goleiro que mais tempo ficou sem sofrer gols na Serie A, com 974 minutos consecutivos.
Nos anos 1930, Gianpiero Combi viu sua carreira atingir o auge, em paralelo com a ascensão da Juventus. A Velha Senhora dominou o cenário italiano na metade inicial da década e foi pentacampeã nacional, no período conhecido como Quinquennio d’Oro. Sóbrio, consistente e eficaz, sem extravagâncias, Combi participou dos quatro primeiros títulos da sequência, que foi uma das maiores da história até a Juventus acumular oito scudetti entre 2012 e 2019.
Entre os pontos fortes daquela Juventus estava a forte defesa, que além de Combi tinha Virginio Rosetta e Umberto Caligaris – trio que se repetia na seleção. Gianpiero também chegou a ser o dono da faixa de capitão azzurra, mas ia para a Copa do Mundo de 1934 na condição de reserva, por conta de sua idade. Contudo, uma lesão tirou o interista Carlo Ceresoli da competição e lhe devolveu a vaga entre os 11. Combi também recuperou a braçadeira e foi titular em todos os jogos, sendo decisivo na semifinal, contra a Áustria.
Na final, tanto Itália quanto Checoslováquia tinham goleiros como capitães – Combi de um lado e Frantisek Plánicka do outro. O italiano falhou no primeiro gol da checoslovaco, mas a vitória azzurra veio de virada, com um 2 a 1 arrancado na prorrogação. Dessa forma, Gianpiero foi o primeiro goleiro a levantar uma taça de Copa do Mundo como capitão; feito só repetido por Dino Zoff, Iker Casillas e Hugo Lloris. Combi, contudo, foi o único deles a se aposentar logo depois de atingir o topo: a decisão do Mundial foi a última partida de sua carreira.
Gianpiero Combi disputou 13 temporadas pela Juventus, totalizando 367 partidas pelo único clube que defendeu em sua carreira. Entre os goleiros, só Dino Zoff, Stefano Tacconi e Gianluigi Buffon atuaram mais vezes pela Velha Senhora. O “Gato Mágico” é o 24º atleta na lista de aparições pelos bianconeri e foi o primeiro arqueiro a ser tetracampeão nacional de forma consecutiva. Pela seleção, o piemontês acumulou 47 partidas e 65 gols sofridos.
Por todos esses números e feitos, Combi é considerado como um dos maiores goleiros do período entreguerras, ao lado do espanhol Ricardo Zamora e do já citado Plánicka. Em 1979, o italiano foi eleito pela revista Guerin Sportivo um dos dez maiores goleiros do futebol, numa lista baseada na média de gols sofridos pela seleção.
Depois de se aposentar, Combi atuou não oficialmente como olheiro e conselheiro da Juventus e da seleção italiana. O ex-jogador também foi diretor dos departamentos de natação e hóquei no gelo do clube bianconero, na década de 1940, e gerente de uma empresa do ramo industrial.
Combi veio a falecer em 1956, aos 53 anos, em Imperia, perto da fronteira entre Itália e França – ele sofreu uma parada cardíaca enquanto dirigia seu carro. Logo depois do trágico incidente, a Juventus deu o nome do goleiro a seu centro de treinamentos, que foi utilizado pela equipe profissional até 1990. Em 2011, na inauguração do seu novo estádio, a agremiação voltou a reverenciá-lo com uma estrela na calçada da fama que relembra os 50 maiores jogadores do clube.
Giampiero Combi
Nascimento: 20 de novembro de 1902, em Turim, Itália
Morte: 12 de agosto de 1956, em Imperia, Itália
Posição: goleiro
Clubes como jogador: Juventus (1921-1934)
Títulos conquistados: Campeonato Italiano (1926, 1931, 1932, 1933 e 1934), Bronze Olímpico (1928), Copa Internacional (1930 e 1935) e Copa do Mundo (1934)
Seleção italiana: 47 jogos
Existe alguma foto desse goleiro erguendo (recebendo) a taça da Copa do Mundo de 1934?