Seleção italiana

9, 10 e 11: acumulando marcas históricas, Itália voa e irá à Euro com perspectiva otimista

Compromisso após compromisso, a Itália vem mostrando clara evolução em seu futebol e é natural que uma pergunta comece a se repetir: até onde a seleção treinada por Roberto Mancini pode chegar? O Grupo J das Eliminatórias para a Euro 2020 não é o melhor termômetro para indicar qual é o teto dos azzurri, mas ajuda a perceber mudanças que ocorreram na trajetória italiana nos últimos anos. Alterações que justificam o otimismo dos seus torcedores. Afinal, em outubro de 2013, a Nazionale empatava em 2 a 2 com a Armênia e perdia a chance de ser cabeça de chave na Copa do Mundo. Nesta segunda, aplicou um estrondoso 9 a 1 sobre os próprios armenos e concluiu uma etapa qualificatória de forma consistente.

A goleada sobre a Armênia quebrou diversos paradigmas. A Itália costuma ser econômica mesmo diante de adversários tecnicamente inferiores e não marcava tantos gols numa partida desde o triunfo por 9 a 0 sobre os Estados Unidos na Olimpíada de 1948. Na verdade, foi um dos cinco resultados mais elásticos dos azzurri em toda a história e apenas a quarta vez que a seleção marcou pelo menos nove vezes num jogo oficial.

Vale lembrar que a goleada foi construída num cenário absoluto de fome de gols e de sanha pela diversão por parte dos jogadores, ainda que o embate contra os armenos não valesse nada. A Itália já estava classificada havia duas rodadas, já garantira o posto de cabeça de chave e vinha de uma grande exibição contra a Bósnia. Em tempos pretéritos, isso significaria um duelo marcado por uma infinidade de testes e de descaso por parte dos azzurri.

A seleção de Mancini não é assim e fechou uma fase qualificatória (contando Euro e Copa do Mundo) com 100% de aproveitamento pela primeira vez desde a constituição da Nazionale. Foram 10 vitórias em 10 jogos e 12 pontos de vantagem sobre a Finlândia – segunda colocada –, com direito a estabelecimento de um novo recorde. Pela primeira vez, um treinador venceu 11 embates seguidos no comando da Squadra Azzurra. Bicampeão mundial em 1934 e 1938, o lendário Vittorio Pozzo ficou para trás.

Dois anos atrás, o cenário era radicalmente oposto – em novembro de 2017, Gian Piero Ventura conseguia deixar a seleção fora do Mundial. Mancio assumiu apenas em maio de 2018 e, com 18 meses de trabalho, fez a Itália virar a chave. A sequência não é apenas fruto de um grupo enfraquecido, mas de grande feeling com o elenco e de méritos na transformação de conceitos em prática. Some-se a isso a margem de crescimento de estrelas da nova geração, como Barella, Zaniolo e Chiesa, que é muito grande. E que até jogadores que não têm atuado bem em seus clubes, como Florenzi e Insigne, se encontram quando vestem o azul de Savoia.

Por isso, é inevitável se questionar: até onde essa Itália pode chegar? Em cerca de seis meses, a Nazionale abrirá a Eurocopa no Olímpico e quer saber em qual “prateleira” estará e em quais condições irá competir. Até lá, a preparação deve incluir confrontos com seleções tradicionais do futebol do continente.

Autor de trabalho convincente, Mancini está reconstruindo a seleção italiana (AFP/Getty)

O show em Palermo

Na despedida das Eliminatórias da Euro, a Itália voltava a disputar uma partida no Renzo Barbera após quase três anos longe da Sicília. La Favorita já trazia boas recordações aos azzurri, que haviam vencido 12 dos 14 jogos anteriores no estádio, mas sua história com a seleção ganhou o mais saboroso dos capítulos. O 9 a 1 contra a Armênia foi a maior goleada da Nazionale desde 1948 e também marcou a única ocasião em que os azuis anotaram gols com sete jogadores diferentes.

Contudo, a partida não começou com ares de facilidade para a Itália. Aos 5 minutos, Babayan caiu pela esquerda e chutou forte, exigindo rápida reação de Sirigu. Tão veloz quanto a resposta do time da casa. Aos 8, Chiesa levantou na área e Immobile cabeceou para as redes, aproveitando a saída em falso de Ayrapetyan. Logo no subsequente giro do ponteiro do relógio, Ciruzzo participou de contra-ataque azzurro e deixou Zaniolo na cara do gol para ampliar.

Jorginho dominava o meio-campo e carimbava quase todas as bolas, enquanto Zaniolo, Chiesa e Immobile tricotavam com grande habilidade na frente. O caminho para a goleada parecia aberto, mas Bonucci quase atrapalhou aos 22 minutos, quando errou um recuo para Sirigu – Karapetian aproveitou e tentou encobrir o goleiro do Torino, mas acertou o travessão. O defensor da Juventus se redimiu sete minutos depois, quando encontrou Barella com um belíssimo passe em profundidade. O interista só tocou no contrapé de Ayrapetyan, com habilidade, e ampliou para a Itália.

O imenso volume de jogo azzurro resultou no quarto gol ainda antes do intervalo. Zaniolo devolveu a gentileza a Immobile, que driblou o arqueiro antes de completar para as redes, aos 33 minutos. A etapa inicial poderia ter acabado com seis gols a favor da Itália, mas Ciruzzo e Chiesa pararam na trave esquerda da Armênia.

Após o intervalo, Mancini promoveu a estreia de Orsolini, que substituiu Barella e foi atuar como ponta – Zaniolo foi recuado para a linha de meias. Mesmo mais distante do gol, o jovem da Roma conseguiu anotar sua doppietta com uma bela finalização a partir da meia-lua, aos 64.

Pontas eletrificados: Chiesa fez grande partida e balançou as redes, assim como o estreante Orsolini (Getty)

A partir dos 72, La Favorita assistiu a uma sequência de bolas nas redes. Naquele minuto, a Itália teve um corner a seu favor e Ayrapetyan falhou novamente, soltando a cabeçada de Izzo nos pés de Romagnoli. Aos 75, Orsolini sofreu pênalti e Jorginho o converteu; aos 78 o próprio ponta do Bologna anotou em sua estreia, completando de cabeça um cruzamento à meia altura de Chiesa; e, já no minuto 79, Babayan descontou para a Armênia com um tirambaço de longa distância. O único que ficou triste na partida foi o goleiro Meret, que entrara pouco antes e estreou levando gol.

Para finalizar, faltava o de Chiesa. O camisa 14 foi o melhor em campo, disparado, e levava azar até o momento, apesar de duas assistências. Fede havia acertado a trave mais uma vez – no segundo tempo, com arremate primoroso, com força e curva – e tivera outras oportunidades de marcar. O nono gol italiano, com sua assinatura, foi bem diferente dos que está acostumado a fazer. Orsolini retribuiu o passe anterior e colocou a bola na cabeça do genovês, que estava sozinho na pequena área e só desviou para o barbante.

Depois do décimo gol da peleja, a Itália finalmente reduziu o ritmo. Foram 85 minutos com o pé no acelerador, sem tomar conhecimento de uma Armênia que havia complicado a sua vida nos três confrontos mais recentes entre as seleções. Agora Mancini irá pensar na preparação para a Euro e trabalhar a mentalidade do jovem grupo. O elenco deve ter a cabeça no lugar se quiser ir longe na competição continental.

Itália 9-1 Armênia

Itália: Sirigu (Meret); Di Lorenzo, Romagnoli, Bonucci (Izzo), Biraghi; Barella (Orsolini), Jorginho, Tonali; Chiesa, Immobile, Zaniolo. Técnico: Roberto Mancini.

Armênia: Ayrapetyan; Hambardzumyan, Haroyan, Calisir, Ishkhanyan (Sarkisov), Hovhannisyan; Babayan, Grigoryan (Simonyan), Edigaryan (Avetisyan), Barseghyan; Karapetian. Técnico: Abraham Khashmanyan.

Local: Renzo Barbera, em Palermo, Itália.
Árbitro: Tiago Martins (Portugal).
Gols: Immobile, Zaniolo, Barella, Immobile, Zaniolo, Romagnoli, Jorginho, Orsolini e Chiesa; Babayan.

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