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A Serie B 2020-21 premiou a regularidade de Empoli e Salernitana

Concluída na segunda-feira (10), a temporada regular da Serie B ofereceu resultados relativamente esperados na parte de cima da tabela. Afinal, Empoli e Salernitana, que conseguiram a promoção direta, foram mesmo as equipes mais regulares de 2020-21. Aliás, somente os azzurri e os grenás conseguiram liderar o certame de forma isolada por mais de uma rodada. Além da dupla, só o Cittadella, na segunda jornada, também encabeçou a classificação alguma vez.

A reta final do campeonato não teve muitas mudanças na tabela em relação ao nosso último panorama da categoria, publicado em março, mas rendeu bastante emoção através das lutas que ainda estavam em aberto no torneio. Em uma briga apertada na ponta da tabela, o Empoli só confirmou o terceiro título na segundona italiana com duas rodadas de antecedência, enquanto a Salernitana fez a sua parte no último jogo e conquistou o terceiro acesso à elite, retornando à Serie A depois de 22 anos. Na parte de baixo, Pescara, Reggiana e Cosenza não melhoraram as suas situações e acompanharam a queda da Virtus Entella à Serie C.

Artilheiro da Salernitana, Tutino comemora gol decisivo para o acesso, ante o Pescara (IPA)

Os promovidos de forma direta

Soberano em toda a competição, o Empoli ocupou as primeiras posições da Serie B durante toda a temporada. Depois de dividir a liderança em parte do primeiro turno, a equipe toscana emendou uma sequência de 28 jogos de invencibilidade entre novembro e abril, ficando em uma situação confortável em relação ao acesso – ainda que, por méritos dos rivais, tenha demorado a confirmar o título. Derrotado apenas três vezes, sendo duas apenas nas últimas quatro rodadas, o Empoli foi o segundo time com mais empates (16) e, empatado com a Salernitana, o que mais venceu (19 triunfos).

O time da Toscana se destacou por seu grupo forte, que teve com destaques os meias Nedim Bajrami, Leo Stulac e Samuele Ricci, além dos atacantes Leonardo Mancuso (20 gols) e Andrea La Mantia (11) – sem falar no brasileiro Ryder Matos, que foi boa opção de banco e anotou sete vezes na campanha. Porém, o grande trunfo dos toscanos foi o trabalho do jovem técnico Alessio Dionisi.

Vivendo apenas a sua segunda temporada na Serie B, depois de passagem pelo Venezia em 2019-20, o ex-zagueiro, que fez carreira entre clubes da terceira e quarta divisões, conquistou o seu primeiro título como treinador. Sem dúvidas, mais do que consolidou o seu crescimento na função. Construiu, utilizando o 4-3-1-2 e o 4-3-3, uma equipe equilibrada e semelhante a de outros acessos. Esta foi, inclusive, a terceira promoção dos azzurri em sete anos.

A Salernitana, por sua vez, viveu realidade distinta. Refundada em 2011, desde 2016 acumulava temporadas frustrantes na Serie B, ainda que fosse alvo de investimentos importantes – que tinham lhe tirado do abismo e devolvido à segunda categoria do futebol italiano. Depois das decepções nos últimos anos, quando nem mesmo conseguiu entrar no playoff, a equipe campana conquistou o acesso para a Serie A graças a uma ótima campanha ao longo do ano. Teve um começo forte, quando chegou a liderar por algumas rodadas, e após alguns meses de instabilidade voltou a crescer na reta decisiva, confirmando o acesso direto com o vice-campeonato.

Comandada por Fabrizio Castori, já protagonista e campeão da Serie B com o Carpi, a Salernitana teve o pior ataque entre os oito primeiros colocados: apenas 46 gols marcados, compensados pelos 34 tentos sofridos pela segunda defesa menos vazada da competição. Adepto orgulhoso do catenaccio, o técnico recuperou uma história importante do clube campano, famoso nos anos 1940 pelo trabalho de Gipo Viani, um dos precursores da tradicional filosofia de jogo italiana.

A Salernitana é controlada por Claudio Lotito, presidente da Lazio, e teve um elenco formado por muitos jogadores cedidos pelos celestes – dez no total, incluindo o ítalo-brasileiro André Anderson. Entre os destaques, a equipe teve o goleiro esloveno Vid Belec, ex-Inter, o lateral-direito Tiago Casasola, o zagueiro Norbert Gyömbér (ex-Roma), e os atacantes Gennaro Tutino (13 gols) e Milan Djuric. De toda forma, para realmente disputar a Serie A pela primeira vez desde 1999, a agremiação granata terá que mudar de dono. Afinal, o regulamento da categoria não permite que uma mesma pessoa seja proprietária de mais de um time.

O Monza, de Balotelli, e o Lecce, treinado por Corini, disputarão os playoffs de acesso à elite (Sportimage)

Seis times ainda buscam uma vaga através da repescagem

Para conseguir a classificação direta, a Salernitana contou com uma acentuada queda de rendimento do Lecce. Dono do melhor ataque da Serie B, o time apuliano caiu em depressão na parte final da temporada regular e somou quatro derrotas nas últimas seis rodadas. A sequência foi fatal e contrastou com a ascensão da equipe de Salerno, que roubou-lhe a segunda posição e o acesso direto.

Durante o momento negativo, Eugenio Corini, treinador da equipe da Apúlia, apelou até mesmo para um documentário do Coldplay. A ideia era inspirar o seu time com o crescimento da banda inglesa, atualmente uma das referências na música pop. Contrariamente, o seu time não mostrou reação, se emaranhou em teias de aranha invisíveis e arrumou muitos problemas: chega na repescagem em descrédito, mesmo contando com muitos jogadores de passagens relevantes pela Serie A, como Massimo Coda (artilheiro da segundona, com 22 gols).

Acima do Lecce, quarto colocado, ficou o Monza, na terceira posição. O time de Silvio Berlusconi é treinado por Cristian e Borcchi e conta com promessas, como o brasileiro Carlos Augusto e os italianos Davide Frattesi e Lorenzo Pirola. Com essas credenciais, superou os problemas da primeira parte da temporada, turbinou os seus motores após o encerramento da janela de verão e também no mercado de inverno – contratando nomes como Mario Balotelli, Kevin-Prince Boateng e Davide Diaw – e acelerou forte na reta final do torneio, depois de turbulências entre março e abril.

As quatro vitórias seguidas nas últimas cinco rodadas até fizeram a torcida lombarda sonhar com o acesso direto, mas o time acabou derrotado pelo Brescia na 38ª jornada e se contentou com a repescagem. De toda forma, carrega a vantagem no playoff por ter sido o melhor na fase de classificação entre os qualificados à esta etapa. Aos trancos e barrancos, com o elenco mais valioso da Serie B, é o favorito à promoção.

Na quinta posição, ficou o irregular Venezia – honrando o seu desempenho desde que retornou à Serie B, em 2017. O time arancioneroverde contrastou períodos de seca com sequências de vitórias e chega ao playoff como uma grande incógnita. Depois de recuperar Pippo Inzaghi e revelar Dionisi, o nome da vez no banco de reservas da equipe foi Paolo Zanetti, outro jovem treinador – e que teve trabalho destacado nesta temporada com bons talentos ofensivos, como os atacantes Francesco Forte e Sebastiano Esposito, além do meia Youssef Maleh. Apesar disso, o desempenho inconsistente afastou os lagunari da briga pelo acesso direto: nas últimas rodadas, jogaram para confirmar a vaga na repescagem.

O verdadeiro drama da reta final ficou reservado para os outros três classificados à repescagem, Cittadella, Brescia e Chievo. Enquanto o primeiro, treinado por Roberto Venturato, segue superando as expectativas e os baixos investimentos com a quinta presença consecutiva no playoff, Brescia e Chievo tiveram que suar para fazer prevalecer a qualidade de seus elencos.

Antes da arrancada nas últimas quatro rodadas, os lombardos ocuparam a zona de classificação apenas no início da temporada. Campanha, aliás, bastante atribulada: o presidente Massimo Cellino, máquina de triturar treinadores, dispensou quatro antes de se resignar com o catalão Pep Clotet, ex-Birmingham. Já os clivensi, comandados por Alfredo Aglietti, deixaram a briga pelo acesso direto em março, mas as duas vitórias nas últimas partidas lhe asseguraram um posto na fase de mata-mata da categoria. Brescianos e veroneses confiam na força de seus planteis, recheados de jogadores de Serie A, para retornarem à elite.

Os playoffs são divididos em três fases. No turno preliminar, em jogos únicos, se enfrentam Venezia (5º colocado) e Chievo (8º), de um lado; Cittadella (6º) e Brescia (7º), do outro. Semifinais e finais acontecem em partidas de ida e volta: o ganhador do duelo vêneto encara o Lecce, enquanto o Monza pega o Citta ou os andorinhas, seus rivais locais. Só o último vencedor garante a vaga remanescente.

Mesmo com um elenco repleto de boas opções, a Spal ficou pelo caminho (LaPresse)

A zona intermediária contou com decepções

Sem dúvidas, o torcedor mais frustrado da segundona foi o da Spal. A equipe conseguiu manter boa parte do elenco que esteve na Serie A, tinha a maior folha salarial da categoria e contava com um retorno imediato à elite, porém nem mesmo conseguiu entrar na luta pela última vaga. Terminou a competição empatada com Brescia e Chievo, mas ficou fora da repescagem por causa dos critérios de desempate.

Sob o comando de Pasquale Marino, o time se manteve entre os oito primeiros colocados por quase todo o campeonato, mas perdeu a vaga justamente na 37ª rodada, já sob as ordens de Massimo Rastelli. Apesar da queda de desempenho no returno, a derrota no confronto direto para o Brescia é que realmente foi decisiva para a conclusão da campanha na nona posição.

O sentimento do spallino foi semelhante ao do adepto do Frosinone, que também tem um dos elencos mais caros da Serie B. Depois de perder a final da repescagem na temporada passada, teve um desempenho ainda pior em 2020-21 e chegou à reta final do campeonato sem objetivos. Os canarini chegaram a ter uma boa sequência na primeira parte do campeonato, porém sucumbiram ao desempenho negativo entre dezembro e abril, com apenas duas vitórias em 21 jogos. Alessandro Nesta foi demitido e os bons resultados nas últimas quatro rodadas, já com Fabio Grosso no lugar do colega, não recuperaram o ano.

Clubes tradicionais, Reggina e Vicenza tiveram boas colocações na volta à Serie B. Depois de uma primeira parte difícil no campeonato, conseguiram se recuperar no returno e ficaram no meio da tabela. Enquanto os calabreses chegaram a sonhar até com vaga no playoff, os biancorossi conquistaram uma salvezza tranquila, tal qual Cremonese e Pisa. Os lombardos, porém, somaram mais um resultado inferior às expectativas de sua torcida, que sabe que a Cremo pode estar na parte de cima da tabela.

Por sua vez, o Pordenone sofreu para concluir a temporada. Depois de bater na trave e quase obter o acesso no seu primeiro ano na Serie B, o time friulano iniciou esta época com o objetivo de pelo menos repetir o resultado. Só que o desempenho nem chegou perto do apresentado em 2019-20 e os ramarri estacionaram no meio da tabela.

Para piorar, a grande queda de rendimento após e a venda do artilheiro Davide Diaw, no mercado de inverno, custou o trabalho longevo de Attilio Tesser, substituído interinamente por Maurizio Domizzi, e lançou o clube na luta contra o rebaixamento. Entre as rodadas 21 e 36, entre fevereiro e maio, a equipe do nordeste da Itália foi derrotada 10 vezes. Contudo, a vitória na última jornada, no confronto direto com o Cosenza salvou os neroverdi do playout: a equipe encerrou o torneio na 15ª posição, com 45 pontos, 10 a mais que os calabreses.

Logo atrás, com 44, em 16º lugar, o Ascoli também comemorou o resultado, já que a vantagem de nove pontos foi maior do que a necessária (quatro) para cancelar a repescagem que definiria o último descenso à Serie C. O time marquesão, inclusive, teve grande campanha de recuperação: somou cinco vitórias nos últimos sete jogos e deixou a zona de rebaixamento após 19 rodadas consecutivas de agonia.

Reggiana e Pescara acabaram caindo: os biancazzurri tinham forte elenco e até jogador de passagem pela seleção italiana, como Valdifiori (LaPresse)

Segundona teve rebaixamentos categóricos

Depois de 15 anos longe da Serie B e três refundações, o Cosenza conseguiu feito impressionante ao retornar à segunda divisão em 2018. Nas temporadas seguintes, o clube calabrês foi além e conseguiu a salvezza mesmo com um modesto investimento e o elenco mais barato do campeonato. Neste ano, contudo, não foi capaz de escapar da queda. Enquanto o Ascoli arrancou para evitar a Serie C, o Cosenza sucumbiu: acumulou seis derrotas nas últimas sete rodadas e trocou de lugar com os marquesãos.

A Reggiana, que comemorou bastante a volta à segunda categoria depois de 21 anos, não conseguiu muita competitividade ao longo da temporada. Apesar de esboçar uma reação no início do returno, logo viu o bom desempenho se transformar em ilusão: a equipe conquistou somente uma vitória nas últimas 14 rodadas, entrando na zona de rebaixamento na 32ª jornada para não sair mais. Os emilianos também sofreram a pior derrota do campeonato – levaram 7 a 1 do Lecce, na 8ª rodada.

Se a queda da Reggiana se desenhou como esperada ao longo de 2020-21, a da Virtus Entella era prevista desde o início. A equipe da Ligúria somou apenas quatro vitórias no campeonato, terminou a temporada com 19 jogos sem vencer e segurou a lanterna por 22 rodadas. Por outro lado, não se imaginava que o penúltimo colocado fosse o tradicional Pescara.

Depois de uma década nas duas primeiras divisões, com direito a duas presenças na elite – embora breves, por apenas uma temporada – o time dos Abruzos voltará a disputar a Serie C depois de 15 anos. A campanha do ano anterior serviu de alerta, mas o sinal não foi observado nesta época e a equipe, que teve Massimo Oddo, Roberto Breda e Gianluca Grassadonia no comando, foi sufocada na zona de rebaixamento: das 38 rodadas disputadas, o clube biancazzurro esteve fora do Z3 apenas três vezes. Um absurdo para um elenco que tinha nomes como Vincenzo Fiorillo, Raoul Bellanova, Frederik Sorensen, Salvatore Bocchetti, Massimo Volta, Ledian Memushaj, Mirko Valdifiori, Daniele Dessena, Nicola Rigoni, Christian Capone e Cristian Galano.

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