Desde a demissão de Massimiliano Allegri, em janeiro de 2014, o Milan sofreu para encontrar um treinador confiável. A desorganização na diretoria certamente não ajudou, impactando negativamente no trabalho de Clarence Seedorf, Filippo Inzaghi, Sinisa Mihajlovic, Cristian Brocchi (interino), Vincenzo Montella, Gennaro Gattuso e Marco Giampaolo. Até que o improvável Stefano Pioli colocou a casa em ordem. Dois anos depois de lidar com a rejeição de quase toda a torcida rossonera, o treinador foi premiado com uma renovação contratual.
Nesta sexta-feira, 26 de novembro, o Milan oficializou o que a imprensa italiana especulava há semanas. Pioli estendeu vínculo com o Diavolo até junho de 2023, com opção de prorrogação por mais um ano. De acordo com a Sky Sport Italia, o salário do treinador subiu para 3 milhões de euros anuais – valor ainda inferior aos recebidos pelos três técnicos mais bem pagos da Serie A: José Mourinho (7 milhões de euros), Allegri (7 mi) e Simone Inzaghi (4 mi).
“Agradeço ao clube por me dar a possibilidade de treinar um time competitivo, mas também rico de valores importantes, que não devem nunca faltar e que tornam o Milan único”, disse Pioli, em nota publicada no site oficial da agremiação. O Milan publicou, também, um vídeo no YouTube para anunciar a renovação do comandante. No conteúdo, o CEO do clube, Ivan Gazidis, fez questão de exaltar o lado humano de Stefano.
“Há uma coisa importante para todos nós, que é a pessoa. A pessoa que é Stefano [Pioli] e como ele representa o clube. Isso também é importante. Sei que Paolo [Maldini, diretor do Milan] sente o mesmo. Stefano é incrível neste respeito e é importante para valorizar os jovens. Stefano é perfeito, não apenas para o projeto futebolístico, mas como pessoa para o clube”, frisou.
Pioli caiu tanto nas graças do milanista que a torcida até criou para ele uma adaptação da música “Freed from desire”, da cantora italiana Gala Rizzatto. Os rossoneri alteraram o refrão do cântico para “Pioli is on fire” (veja abaixo). E não é para menos que o ex-zagueiro tenha ganhado tamanho respaldo em Milão.
Stefano fez o Milan voltar a brigar pelo título da Serie A – o que não ocorria desde a temporada 2011-12 –, levou o Diavolo à Liga dos Campeões após sete anos, potencializou o futebol de jogadores jovens, mantém bom relacionamento com Zlatan Ibrahimovic e até fez a cúpula rossonera abdicar do “projeto Rangnick”.
Em síntese, Pioli virou a chave no Milan. Com ele à frente do barco milanês, a “banter era” ficou para trás e hoje a maioria dos torcedores do clube segue confiante mesmo diante das adversidades. Por exemplo, desde o pós-lockdown na Itália, a equipe de Milão sofre com vários desfalques, sobretudo ocasionados por lesões. Mas, mesmo tendo que se virar em meio a epidemias de contusões, o técnico consegue manter o time coeso e perigoso. Na temporada 2020-21, diversos recordes foram quebrados, com a equipe jogando no limite em situações adversas.
A trajetória de Pioli é, também, curiosa. Ganhou certo destaque no Brasil por, quando treinava a Inter, não fornecer muitas chances ao atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol. Além disso, ele era o treinador da Fiorentina quando o zagueiro Davide Astori morreu em decorrência de problemas cardíacos, em 2018. Por isso, Stefano fez uma tatuagem em homenagem ao defensor e criou um vínculo muito forte com a torcida violeta.
Agora, Pioli se torna o primeiro treinador desde Carlo Ancelotti a conseguir duas renovações de contrato à frente do Milan. Isso mostra o valor do trabalho desenvolvido pelo comandante desde 2019, quando pegara o clube em um momento muito delicado. Atualmente, nem o fato de Stefano já haver declarado torcida à rival Inter é capaz de interromper a lua de mel entre o técnico e os torcedores. Ele ainda não sentiu o gostinho de vencer um título como treinador. No banco rossonero, tomando seu clássico cafezinho antes dos jogos, o emiliano tem grandes chances de ganhar um troféu e tirar o Diavolo da fila desde 2016. Afinal, Pioli is on fire.