Serie A

Balanço do primeiro turno da Serie A 2021-22, parte 1: as crises de Genoa e Cagliari

Com o fim do primeiro turno da Serie A 2021-22 e a pausa do campeonato para as festas de fim de ano, é hora de avaliar o desempenho dos participantes na metade inicial da competição, que será reiniciada no dia 6 de janeiro. Durante a folga dos times, nós não paramos: trazemos uma análise do que as 20 equipes produziram e uma projeção do que vem por aí.

Nosso tradicional balanço está dividido em duas partes, como de costume. Começamos com a metade de baixo da tabela, repleta de clubes tradicionais. Enquanto Genoa e Cagliari lutam contra o rebaixamento, Venezia, Verona e Torino têm motivos para celebrar. Acompanhe nossas avaliações abaixo.

Publicado também na Trivela.

Salernitana

Ribéry, da Salernitana (Getty)

20ª posição. 18 jogos, 8 pontos. 2 vitórias, 2 empates, 14 derrotas. 11 gols marcados, 42 sofridos.
Time-base: Belec; Kechrida, Gyömbér, Strandberg (Gagliolo), Ranieri; Zortea (M. Coulibaly), L. Coulibaly, Di Tacchio (Kastanos), Ribéry (Obi); Bonazzoli (Gondo), Simy (Djuric).
Treinadores: Fabrizio Castori (até a 8ª rodada) e Stefano Colantuono (desde então)
Destaque: Franck Ribéry, meia-atacante
Artilheiro: Federico Bonazzoli, com 3 gols
Garçom: Franck Ribéry, com 2 assistências
Decepção: Simy, atacante
Expectativa: Não ser rebaixada

Nem mesmo nas franjas mais fanáticas da torcida grená poderíamos encontrar um torcedor que acreditaria que a Salernitana faria um campeonato diferente do que realiza até agora. Apesar de Ribéry, a equipe da Campânia tem o pior elenco da Serie A e as questões societárias que levaram à demora na montagem do time foram fundamentais para que a Bersagliera terminasse o primeiro turno com a pior defesa, o pior ataque e a lanterna do campeonato. Para deixar a zona de descenso, precisa somar mais pontos do que o total obtido até agora.

Dentro de campo, os problemas são suficientemente robustos. Porém, como se não bastasse, uma nuvem de incertezas paira sobre a agremiação, que pode até ser excluída da Serie A com o torneio em andamento. Um truste passou a administrar a Salernitana no lugar de Claudio Lotito, que também é dono da Lazio, para evitar conflito de interesses entre as duas participantes do campeonato, mas até agora não conseguiu um comprador para o clube. O prazo está se esgotando e, caso um novo sócio não assuma a equipe, a Federação Italiana de Futebol (FIGC) pode até retirar os campanos da competição.

Diante desse cenário, é difícil acreditar que Colantuono consiga ter condições de mudar o rumo da Salernitana mesmo que ela não seja excluída da Serie A. O treinador não tem uma agremiação sólida na qual se amparar, sequer tem a certeza de que poderá contar com reforços e certamente não está podendo fazer projeções além do curtíssimo prazo. Com o que tem em mãos, o comandante nem mesmo poderá sanar uma pequena parte dos problemas atuais – como, por exemplo, a baixa produção de Simy, que brilhara pelo Crotone. Como o nigeriano vai poder marcar mais gols se a bola chega quadrada e o único companheiro de grande qualidade técnica é um jogador de 38 anos?

Cagliari

João Pedro, do Cagliari (Getty)

19ª posição. 19 jogos, 10 pontos. 1 vitórias, 7 empates, 11 derrotas. 17 gols marcados, 40 sofridos.
Time-base: Cragno; Cáceres (Zappa), Ceppitelli (Godín), Carboni; Bellanova (Grassi), Nández, Marin, Deiola (Strootman), Lykogiannis (Dalbert); João Pedro, Keita (Pavoletti).
Treinadores: Leonardo Semplici (até a 3ª rodada) e Walter Mazzarri (desde então)
Destaque: João Pedro, atacante
Artilheiro: João Pedro, com 9 gols
Garçons: João Pedro e Razvan Marin, com 3 assistências
Decepção: Diego Godín, zagueiro
Expectativa: Não ser rebaixado

Afirmamos no Guia da Serie A, publicado no início da temporada, que o presidente Tommaso Giulini havia acertado ao dar continuidade à gestão do técnico Semplici. Pois bem, bastaram três rodadas para o manda chuva jogar fora a água do banho com o bebê junto. O cartola desperdiçou o trabalho feito na pré-temporada ao demitir o treinador e, embora tenha contratado um substituto de ideia de jogo similar, não trocou seis por meia dúzia. Afinal, Mazzarri se caracteriza por ser inflexível em suas convicções e por não ter receio de criar atritos para impor suas vontades. Deu no que deu.

Em seu trabalho, Mazzarri soma uma vitória em 16 partidas, mas segue irredutível: pensa estar no caminho certo. Em resumo, acredita piamente que escalar Dalbert como volante pela esquerda, como tem feito habitualmente, seja uma solução factível. Ou que valha manter o limitado Deiola como titular. “Permanece quem apoia minhas ideias completamente”, declarou o técnico ao fim do primeiro turno. Os veteranos Godín e Cáceres, já barrados, não continuarão na Sardenha.

Para se salvar, o Cagliari precisará de uma revolução no mercado – que deve acontecer, para que Mazzarri tenha seus desejos atendidos – e outra dentro de campo. Até agora, João Pedro tem carregado o time nas costas, com alguma ajuda de Cragno, Marin, Nández e Keita. Se outros jogadores não tomarem as rédeas, os rossoblù não conseguirão evitar o rebaixamento.

Genoa

Destro, do Genoa (Getty)

18ª posição. 19 jogos, 11 pontos. 1 vitória, 8 empates, 10 derrotas. 19 gols marcados, 37 sofridos.
Time-base: Sirigu; Biraschi (Ghiglione), Vanheusden (Masiello, Maksimovic), Vásquez; Cambiaso, Sturaro (Hernani), Badelj, Rovella, Criscito (Fares); Destro (Pandev), Ekuban (Kallon).
Treinadores: Davide Ballardini (até a 12ª rodada) e Andriy Shevchenko (desde então)
Destaque: Mattia Destro, atacante
Artilheiro: Mattia Destro, com 7 gols
Garçom: Andrea Cambiaso, com 4 assistências
Decepção: Felipe Caicedo, atacante
Expectativa: Não ser rebaixado

No primeiro turno, o Genoa se ressentiu de sua estratégia de mercado e da perda de muitas peças que ajudaram o time a fazer uma boa campanha em 2020-21. A situação ficou ainda mais confusa devido às negociações para a já consumada venda do clube, embora todas as decisões que impactaram na atual temporada tenham sido tomadas pelo ex-presidente Enrico Preziosi. Ele ficou no cargo até poucos dias depois da troca de Ballardini por Shevchenko – uma substituição que, evidentemente, foi acordada com o fundo 777 Partners, atual proprietário da agremiação.

Sob as ordens de Ballardini, apesar de nem sempre conquistar os melhores resultados, o Genoa lutou bastante. Mesmo com muitas lesões no já limitado elenco, o Vecchio Balordo venceu um confronto direto com o Cagliari, em plena Sardenha, e buscou empates contra Bologna, Verona, Sassuolo, Spezia e Empoli – perdia todas essas partidas. Seis dos sete gols do artilheiro Destro foram anotados durante a gestão do romanholo. Com Sheva, os grifoni ainda não venceram: somaram apenas dois empates e dois tentos em sete rodadas. Muito pouco.

Pressionado, o comandante ucraniano terá um pequeno período de treinos para trabalhar com o elenco durante o recesso, mas certamente precisará de reforços para mudar o patamar de um time que, desde sua chegada, ficou satisfeito em ter, como melhor resultado, um empate sem gols contra a poderosa e ofensiva Atalanta. Tal postura não será suficiente para evitar o retorno à Serie B após mais de uma década na elite.

Spezia

Maggiore, do Spezia (Getty)

17ª posição. 19 jogos, 16 pontos. 4 vitórias, 4 empates, 11 derrotas. 19 gols marcados, 39 sofridos.
Time-base: Provedel (Zoet); Amian (Ferrer), Hristov (Erlic), Nikolaou, Bastoni (Reca); Kovalenko, Maggiore; Gyasi, Verde (Salcedo), Antiste (Strelec); Nzola (Manaj).
Treinador: Thiago Motta
Destaque: Giulio Maggiore, meio-campista
Artilheiros: Daniele Verde e Emmanuel Gyasi, com 3 gols
Garçons: Giulio Maggiore e Viktor Kovalenko, com 2 assistências
Decepção: Mehdi Bourabia, meio-campista
Expectativa: Não ser rebaixado

Entre a temporada anterior e a atual, o Spezia perdeu cerca de duas dezenas de jogadores e o (excelente) técnico Vincenzo Italiano. Com um elenco jovem e repleto de peças que ainda precisam provar sua qualidade, assim como o comandante Thiago Motta, se imaginava que o time bianconero duelaria com a Salernitana na parte mais profunda da tabela. No entanto, os spezzini não perderam nenhuma partida contra rivais posicionados da 16ª colocação para baixo e somaram pontos importantes, que lhe fizeram terminar o primeiro turno fora da zona de rebaixamento.

No momento, os pontos conquistados nos confrontos diretos – além de outros surpreendentes, como os obtidos nas vitórias sobre Torino e Napoli – são o diferencial da campanha do time da Ligúria. Enquanto o Spezia tem quatro vitórias na Serie A, Genoa e Cagliari só triunfaram uma vez. Isso se deve, em parte, ao futebol corajoso proposto por Motta, cuja permanência está em xeque por conta de uma relação pouco amistosa com o elenco. Porém, ir além do que o ítalo-brasileiro entregou até o momento não parece plausível.

É verdade que o Spezia tem atuado de forma muito menos brilhante do que em 2020-21 – dos remanescentes, só Provedel, Erlic, Bastoni, Maggiore e Gyasi mostraram lampejos do bom futebol daquela campanha. No entanto, o torcedor e a diretoria precisam entender que aquela conjunção astral não se repetirá e que uma nova permanência terá ares de milagre. Um feito heroico que, por enquanto, vai sendo obtido por um time imaturo e que está atuando em seu limite.

Venezia

Aramu, do Venezia (Getty)

16ª posição. 19 jogos, 17 pontos. 4 vitórias, 5 empates, 10 derrotas. 18 gols marcados, 34 sofridos.
Time-base: Romero (Mäenpää); Mazzocchi (Ebuehi), Caldara, Ceccaroni, Haps (Molinaro); Crnigoj (Vacca), Ampadu (Tessmann), Busio; Johnsen, Henry (Okereke), Aramu (Kiyine).
Treinador: Paolo Zanetti
Destaque: Mattia Aramu, meia-atacante
Artilheiro: Mattia Aramu, com 5 gols
Garçom: Mattia Aramu, com 3 assistências
Decepção: Arnór Sigurdsson, meio-campista
Expectativa: Não ser rebaixado

O Venezia colhe os frutos da continuidade do bom trabalho do técnico Zanetti e da prospecção feita pelo departamento comandado pelo diretor esportivo Mattia Collauto. Os reforços dos arancioneroverdi – jovens, em sua maioria – se adaptaram bem ao 4-3-3 físico do treinador, que privilegia a organização no sistema defensivo e a intensidade dos meias para agredir em contragolpes.

Ainda que Aramu, Johnsen, Henry e Okereke tenham feito um bom primeiro turno, dentro de suas características, o Venezia ainda carece de mais volume de jogo e peso ofensivo – e é nesse aspecto que a diretoria deve trabalhar no mercado de inverno, ainda que haja a expectativa de que Sigurdsson se livre dos problemas físicos que o acometeram nos últimos meses. Até agora, o time do Vêneto é o que menos finalizou no campeonato e tem o terceiro ataque menos positivo.

A compensação para esse cenário vem do ótimo coletivo montado por Zanetti. Tudo começa com as defesas do goleiro Romero e a sólida dupla de zaga formada por Caldara e Ceccaroni, que têm sido fundamentais para o equilíbrio dos lagunari. No entanto, o fiel da balança é um garoto de apenas 19 anos, que desarma adversários e cria oportunidades com a mesma destreza. O norte-americano Busio é um dos melhores volantes do campeonato e simboliza o constante trabalho dos leões alados: é o jogador que mais se movimenta no time, que tem uma média de 110,2 km percorridos por jogo e é o terceiro do certame neste quesito.

Sampdoria

Candreva, da Sampdoria (Getty)

15ª posição. 19 jogos, 17 pontos. 5 vitórias, 5 empates, 9 derrotas. 27 gols marcados, 35 sofridos.
Time-base: Audero; Bereszynski, Yoshida, Colley, Augello; Candreva, Thorsby, Adrien Silva (Ekdal), Askildsen (Damsgaard, Verre); Quagliarella (Gabbiadini), Caputo.
Treinador: Roberto D’Aversa
Destaque: Antonio Candreva, meio-campista
Artilheiro: Antonio Candreva, com 6 gols
Garçom: Antonio Candreva, com 5 assistências
Decepção: Valerio Verre, meio-campista
Expectativa: Meio da tabela

Nós avisamos. A Sampdoria trilha o caminho que projetamos no início da temporada, quando a diretoria optou por encerrar o vínculo com Claudio Ranieri e confiar a equipe a D’Aversa. Menos sólida do que em 2020-21, a formação blucerchiata está a distância razoável da zona de rebaixamento, mas a léguas do pelotão que briga por vagas europeias. E depende muito da qualidade individual de seus jogadores.

Beirando os 39 anos, Quagliarella, autor de apenas um gol até agora, não entrega tanto quanto entregava há algumas temporadas – o que é natural. Damsgaard, por sua vez, perdeu grande parte do primeiro turno por complicações de uma inflamação no joelho. Dessa forma, todo o poder de decisão da Sampdoria recaiu sobre um trio: o recém-contratado Caputo, o veterano Candreva e o até então pouco confiável Gabbiadini, em busca de volta por cima. Todos eles deram sua contribuição, sendo que o ex-ponta de Lazio e Inter vive um dos melhores momentos de sua carreira e assumiu o posto de protagonista da equipe.

No mais, a Sampdoria precisou lidar com a prisão do ex-presidente Massimo Ferrero dias antes do Derby della Lanterna – vencido confortavelmente sobre o Genoa – e, no segundo turno, viverá os primeiros capítulos das tratativas que levarão uma nova propriedade ao comando. Ainda que isso deixe os torcedores apreensivos, dificilmente as negociações terão alguma repercussão negativa em campo. Os anos da gestão Ferrero foram suficientemente agitados e não houve qualquer impacto sobre o elenco, repleto de peças que já representam os dorianos há algum tempo.

Udinese

Beto, da Udinese (Getty)

14ª posição. 18 jogos, 20 pontos. 4 vitórias, 8 empates, 6 derrotas. 26 gols marcados, 28 sofridos.
Time-base: Silvestri; Rodrigo Becão, Nuytinck, Samir; Molina (Stryger Larsen), Walace, Makengo (Arslan), Udogie; Pereyra (Pussetto), Deulofeu; Beto.
Treinadores: Luca Gotti (até a 16ª rodada) e Gabriele Cioffi (desde então)
Destaque: Beto, atacante
Artilheiros: Beto, com 7 gols
Garçom: Três jogadores, com 2 assistências
Decepção: Sebastian De Maio, zagueiro
Expectativa: Meio da tabela

Já faz algum tempo que a família Pozzo abriu mão de conseguir grandes resultados com a Udinese na Serie A. Mais uma vez, a equipe chegou ao campeonato destinada a ficar no limbo do meio da tabela, sem muito alarde, e, quem sabe, valorizar atletas para lucrar nas próximas janelas. É exatamente isto que vem acontecendo.

Após negociar Musso e De Paul, a equipe friulana se regozija com a continuidade do trio de zaga formado por Rodrigo Becão, Nuytinck e Samir, a evolução constante de Molina e, principalmente, o impacto causado pelo português Beto. O atacante se adaptou rapidamente à Serie A e mostrou um repertório invejável: força física, velocidade, eficiência no jogo aéreo e bom aproveitamento nas finalizações. Quase 20% das suas tentativas terminaram no barbante – desempenho comparável ao dos maiores artilheiros da competição e idêntico ao de Zlatan Ibrahimovic, por exemplo.

Dentro desse cenário, a demissão do técnico Gotti teve um quê de absurdo, apesar da sequência de apenas uma vitória em 13 jornadas. Quando o comandante caiu, na 16ª rodada, a Udinese tinha média de 1 ponto somado por jogo – levemente inferior à obtida na última temporada (1,05/partida), quando se salvou com tranquilidade. Os bianconeri tinham a 10ª melhor defesa da competição até aquele momento e, agora, têm a nona, com média de 1,11 ponto por compromisso. Cioffi, que era auxiliar do seu antecessor (e, como ele, foi efetivado após bons resultados como interino), não fará uma revolução nos bastidores e sequer deve entregar um trabalho com amplas distinções em termos de futebol e resultados apresentados. Até porque isso nem parece ser realmente factível para os friulanos.

Sassuolo

Frattesi, Scamacca, Berardi e Traorè, do Sassuolo (Getty)

13ª posição. 19 jogos, 24 pontos. 6 vitórias, 6 empates, 7 derrotas. 30 gols marcados, 31 sofridos.
Time-base: Consigli; Toljan (Müldür), Chiriches, Ferrari, Rogério (Kyriakopoulos); Frattesi, Lopez; Berardi, Raspadori (Djuricic), Traorè (Boga); Scamacca (Defrel).
Treinador: Alessio Dionisi
Destaque: Domenico Berardi, atacante
Artilheiro: Domenico Berardi, com 8 gols
Garçom: Domenico Berardi, com 5 assistências
Decepção: Abdou Harroui, meio-campista
Expectativa: Meio da tabela

Em 2021-22, o Sassuolo voltou ao patamar do biênio inicial de Roberto De Zerbi no comando do time. O que, inclusive, era esperado: ao perder o valorizado treinador para o Shakhtar Donetsk e dar uma oportunidade ao emergente Dionisi, a diretoria neroverde contava com oscilações eventuais e sabia que o técnico precisaria de tempo para se adaptar à nova realidade. Um passo para trás para, quem sabe, dar dois adiante.

O Sassuolo segue no que chamamos, em nosso guia do início da temporada, de “ilha de segurança” – um cenário em que a sua permanência na elite não é ameaçada e garantir vagas em torneios continentais não é imperativo. Desse jeito, Dionisi continua a trabalhar no 4-2-3-1 e no 4-3-3, como o antecessor, mas com menos posse de bola. Em sua gestão, vai potencializando Frattesi e Scamacca, que substituíram Locatelli e Caputo e, devido ao sucesso que vêm tendo, serão as próximas grandes vendas do clube emiliano – considerando como certa a transferência de Boga à Atalanta. Raspadori, por sua vez, tem aprendido a jogar em uma função um pouco mais recuada e também tem se saído bem.

Ao lado de todas as revelações, Berardi continua sendo a grande certeza do time. Capitão e líder do elenco, o ponta ainda é a principal referência dos neroverdi – algo ratificado por atuações de gala como a da vitória sobre a Juventus, em pleno Allianz Stadium, ou no triunfo ante o Milan, em San Siro. Mas a irregularidade é uma das marcas dessa jovem equipe, que também consegue tropeçar em Genoa, Cagliari e Spezia. Tudo bem. Afinal, o Sassuolo parece existe com a função de entreter os amantes do futebol.

Verona

Simeone, do Verona (Getty)

12ª posição. 19 jogos, 24 pontos. 6 vitórias, 6 empates, 7 derrotas. 34 gols marcados, 32 sofridos.
Time-base: Montipò; Dawidowicz, Günter, Ceccherini (Casale); Faraoni, Ilic, Tameze (Miguel Veloso), Lazovic; Barák, Caprari; Simeone.
Treinadores: Eusebio Di Francesco (até a 3ª rodada) e Igor Tudor (desde então)
Destaque: Giovanni Simeone, atacante
Artilheiro: Giovanni Simeone, com 12 gols
Garçom: Gianluca Caprari, com 5 assistências
Decepção: Mert Çetin, zagueiro
Expectativa: Meio da tabela

Com a saída de Juric para o Torino e a contratação de Di Francesco, o torcedor do Verona começou a temporada com o fôlego suspenso. A diretoria gialloblù, porém, sequer deixou o novo técnico trabalhar: após as três derrotas nas primeiras três rodadas, em jogos em que o time até apresentou um bom futebol, achou melhor demiti-lo. Para DiFra, a decisão certamente foi muito severa; para o Hellas, contudo, funcionou. Croata, como o comandante do biênio de sucesso dos mastini na elite, Tudor estreou com vitória e grande atuação sobre a Roma, transformou os butei numa máquina ofensiva e ainda obteve outros triunfos impactantes, como os obtidos sobre Lazio e Juventus.

Estes dois últimos sucessos tiveram a assinatura de Cholito Simeone como ponto em comum. O atacante argentino encontrou a fase mais prolífica de sua carreira e tem, de longe, o melhor aproveitamento de finalizações de toda a Serie A: 37,5% de suas tentativas estufaram as redes adversárias. Abastecido por outros jogadores prolíficos, agudos e que gostam de trabalhar de pé em pé, como Barák, Caprari e até mesmo os alas Faraoni e Lazovic, o camisa 99 passou a ter ocasiões mais claras de marcar do que em suas experiências anteriores. No Cagliari, por exemplo, tinha de batalhar muito mais com os zagueiros para poder finalizar. O resultado da combinação com os colegas é cristalino.

Ex-técnico da Udinese e ex-auxiliar de Andrea Pirlo na Juventus, Tudor mostrou coragem ao modificar o ethos – ou seja, o conjunto de características fundamentais – do elenco veronês. Com Juric, o Hellas era um time que, por méritos do treinador, se defendia bem, ainda que com jogadores medíocres. Em contrapartida, propunha com parcimônia e se contentava em marcar poucos gols: fez 47 e 46 em 2019-20 e 2020-21, respectivamente, enquanto a equipe atual já anotou 34 nesta temporada. Vale destacar que a espinha dorsal da esquadra se manteve praticamente inalterada, o que torna o Verona um belíssimo caso de estudo para os pesquisadores do esporte.

Torino

Bremer, do Torino (Getty)

11ª posição. 19 jogos, 25 pontos. 7 vitórias, 4 empates, 8 derrotas. 23 gols marcados, 19 sofridos.
Time-base: Milinkovic-Savic; Djidji (Zima), Bremer, Rodríguez (Buongiorno); Singo (Vojvoda), Lukic, Pobega, Aina; Praet (Linetty), Brekalo (Pjaca); Sanabria (Belotti).
Treinador: Ivan Juric
Destaque: Bremer, zagueiro
Artilheiro: Tommaso Pobega, com 4 gols
Garçom: Cristian Ansaldi, com 3 assistências
Decepção: Andrea Belotti, atacante
Expectativa: Meio da tabela

Tão falado na análise sobre o Verona, Juric é uma pessoa que nasceu para tomar decisões aparentemente questionáveis, mas que terminam com resultados positivos e obrigam os seus críticos a darem as mãos à palmatória. O croata já tinha feito o Hellas ter uma defesa sólida com peças discutíveis e, no Torino, decidiu barrar vários jogadores renomados do onze inicial para trabalhar do jeito que achava melhor, sem observar a grife do atleta. Com isso, o Toro concluiu o primeiro turno com a quarta retaguarda menos vazada da Serie A e 14 pontos distante da zona de rebaixamento, que viu muito de perto durante duas temporadas inteiras.

Zaza, Verdi, Rincón, Ansaldi, Izzo e Baselli foram relegados ao banco por Juric e o campo vem lhe dando razão, tal qual quanto à sua escolha pelo goleiro Milinkovic-Savic, que sempre esteve à sombra do irmão mais famoso, que joga na Lazio. O treinador também se viu obrigado a lançar Sanabria entre os titulares, já que Belotti sofreu trauma na fíbula no início da temporada e, quando esteve em campo, jamais conseguiu boa forma física – inclusive, isso lhe ocasionou uma lesão muscular que o afastará até o fim de fevereiro. Sem o seu centroavante, o Torino precisou aprender a atuar de forma mais coletiva. E conseguiu.

No Piemonte, Juric vem repetindo alguns movimentos táticos que o consagraram no Vêneto: escala um lateral como zagueiro pela esquerda (Rodríguez faz o que fazia Dimarco) e coloca um meio-campista mais físico em suporte ao atacante isolado (Linetty executa função anteriormente desenvolvida por Verre e Pessina). Porém, dentro de todo um sistema em que a coletividade deveria ser a maior protagonista, um atleta consegue destaque incomparável. Com enorme personalidade, Bremer virou capitão do time e impressiona ainda pelo vigor, pelo tempo de bola, pela qualidade em iniciar as jogadas, pelos golzinhos que faz e, claro, pelo senso tático apuradíssimo. Está consolidado como um dos melhores zagueiros da Serie A e pronto para o grande salto.

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