Jogadores

Quando alcançou o auge, o argelino Djamel Mesbah sofreu com lesões e entrou em declínio

Todo atleta profissional treina duro para atingir o pico de seu desempenho esportivo. Quando alcança o auge, ele precisa manter o nível para não deixar o ritmo diminuir. Não são todos, porém, que conseguem permanecer no topo. Djamel Mesbah é um exemplo cabal. Após se destacar no Lecce, o argelino chegou ao Milan com a expectativa de ser a solução para a lateral esquerda, uma posição que, na época, tinha jogadores questionados pela torcida. Em Milão, contudo, o defensor começou a sofrer com lesões que atrapalharam o desenvolvimento de sua carreira.

Mesbah nasceu em Zighoud Youcef, uma cidade localizada na província de Constantina, na Argélia. Ele seguiu os passos de muitos garotos argelinos e rumou à França para ter mais chances no futebol. Na transição da infância para a adolescência, o garotinho de 11 anos começou a jogar pelo Annecy-le-Vieux, equipe amadora francesa. Em 2001, o jovem foi avistado por olheiros do clube suíço Servette. Ele arrumou as malas, partiu para a Suíça e terminou sua formação nas categorias de base do time de Genebra.

Mesbah estreou profissionalmente durante a temporada 2003-04, aos 18 anos: entrou em campo 11 vezes e, atuando como meia aberto pela esquerda num 4-4-2, contribuiu com cinco participações para gols (três tentos e duas assistências). Cabe frisar que, nessa época, Djamel atuava mais como meia. O Servette, no entanto, enfrentava grave crise financeira na época – em fevereiro de 2005, declarou falência – e o argelino acabou negociado com o Basel.

No Lecce, Mesbah aprimorou atributos defensivos e viveu a melhor fase da carreira (Getty)

No primeiro ano pelo time da Basileia, Djamel foi reserva – 11 jogos, um gol e uma assistência – e viu sua nova equipe vencer o Campeonato Suíço. Era seu primeiro título como profissional. Mas o argelino não conseguiu muito espaço pelos rotblau e, em janeiro de 2006, acertou com os franceses do Lorient por empréstimo. De volta à França, ele teve o azar de se lesionar gravemente e sequer entrar em campo na segunda divisão nacional.

O defensor retornou à Suíça no verão europeu de 2006 e foi negociado com o Aarau, onde engrenou, foi titular e presença constante na equipe durante dois anos. Após boas atuações na temporada 2007-08, Mesbah firmou vínculo com o Luzern, que, dois meses depois de contratá-lo, o repassou por empréstimo ao Avellino. Ali, em setembro de 2008, começava a longa jornada de Djamel pela Bota.

O seu primeiro ano na Itália não lhe traz boas recordações. Afinal, os biancoverdi fizeram uma péssima campanha na Serie B e foram sentenciados ao descenso, terminando o campeonato na penúltima colocação. Mesclando aparições como meia e lateral-esquerdo, Mesbah disputou 27 jogos e marcou dois gols, garantindo um contrato com o Lecce. No time giallorosso, evoluiu na carreira e chegou à seleção argelina.

Quando se imaginava que Mesbah pudesse dar um salto com a camisa do Milan, ele não rendeu (Getty)

Ele estreou pelo selecionado africano aos 25 anos, em maio de 2010, contra a Irlanda, num amistoso disputado em Dublin. O debute não foi dos melhores, visto que os argelinos perderam por 3 a 0, mas serviu para Djamel convencer o técnico Rabah Saâdane a levá-lo para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. A seleção não passou da fase de grupos, e, dos três jogos realizados no Grupo C, Mesbah atuou em um – o empate sem gols com a Inglaterra. Depois do Mundial, o defensor se tornou peça constante no time nacional da Argélia.

As atuações do jogador na lateral esquerda do Lecce foram essenciais para sua ida à seleção argelina, evidentemente. Em sua primeira temporada pelo clube do Salento, foi utilizado em quatro posições (lateral-esquerdo, meia aberto, extremo direito e extremo esquerdo) e ajudou o time comandado por Luigi De Canio a ganhar a Serie B. Aliás, o técnico foi o responsável por transformá-lo em lateral-esquerdo. “De Canio era muito exigente comigo, sobretudo a nível defensivo, porque eu nasci como meia aberto e ele me deu conselhos para aprender a defender e interpretar a função de lateral”, contou, anos depois, ao site leccezionale.it.

Dos 42 jogos na segundona 2009-10, Mesbah disputou 36, com três tentos anotados e oito assistências em sua conta. Já no segundo ano com os lobos, ele continuou dando as ordens no flanco esquerdo do campo, seja como lateral ou meia, e contribuiu para a permanência dos salentini na elite, com 34 partidas, dois gols e três passes decisivos.

Visado no futebol italiano, o camisa 11 giallorosso atraiu o interesse de algumas equipe e, em janeiro de 2012, deixou o Lecce após 85 jogos, seis gols e 13 assistências. “O Lecce me lançou ao grande futebol e foram dois anos e meio decisivos para a minha carreira. Não só a nível profissional, mas também humano: meu filho nasceu em Tricase”, relembrou. Naquele momento, o argelino deixou a Apúlia para enfrentar, em Milão, o maior desafio de sua carreira.

Uma passagem fraca pelo Parma colocou o argelino em xeque (Getty)

Segundo argelino na história do Milan, depois do “flop” Samir Beloufa, o lateral-esquerdo fechou com o clube e encontrou a concorrência de Gianluca Zambrotta e Luca Antonini, dois jogadores que não contavam com a plena confiança da torcida – ainda que tenham feito parte do elenco campeão italiano. O nigeriano Taye Taiwo também estava no plantel, mas deixou o Diavolo, por empréstimo, seis dias depois da contratação de Djamel. Então, Mesbah chegava a uma equipe que carecia de um nome que se consolidasse na posição. Contudo, ele não conseguiu corresponder às expectativas.

O camisa 15 milanista sofreu com lesões e quase não foi a campo, realizando apenas 14 jogos e marcando um gol – contra a Juventus, em Turim, pela Coppa Italia. Uma coisa boa que ocorreu em 2012 para Mesbah foi sua estreia em noites de Liga dos Campeões: entrou nos minutos finais do confronto contra o Arsenal, em Londres, pela volta das oitavas de final, e atuou por 15 minutos diante do Barcelona, em San Siro, pela ida das quartas. As contusões, entretanto, se repetiram na temporada seguinte, de modo que, no primeiro turno, o atleta só fez duas partidas pelo Diavolo.

Assim, em janeiro de 2013, a diretoria rossonera optou por vender o argelino ao Parma, em transação que levou o defensor Cristian Zaccardo, campeão do mundo em 2006, a Milão. Na Emília-Romanha, figurou entre os reservas durante um ano e não demorou a trocar de time novamente: em janeiro de 2014, arrumou as malas e partiu para a Toscana, onde representaria o Livorno, por empréstimo. Na equipe amaranto, Mesbah “chegou jogando”, sendo titular até o fim da temporada. Mas, de qualquer forma, os labronici não escaparam do rebaixamento à Serie B.

Mesbah recebeu nova chance na Sampdoria, mas também não deslanchou (Getty)

Ainda em 2014, Mesbah foi convocado para a Copa do Mundo realizada no Brasil. A Argélia passou em segundo no Grupo H e parou nas oitavas de final, após derrota na prorrogação para a futura campeã, Alemanha. No Mundial, Djamel revezou com Faouzi Ghoulam, de modo que ambos fizeram dois jogos completos – naqueles em que os argelinos não perderam, o atleta do Livorno estava em campo. No mesmo ano, o extremo marcou seu único gol pela seleção, contra Malaui, nos acréscimos do segundo tempo, em duelo válido pelas Eliminatórias da Copa Africana de Nações.

Após deixar o Livorno, Mesbah acertou com a Sampdoria, onde permaneceu por dois anos e não deixou saudades – não por acaso, entrou em campo somente 24 vezes durante o tempo em Gênova. O fato de ele ter sido pego por policiais dirigindo bêbado um Porsche Cayenne também contribuiu para seu fracasso com a camisa blucerchiata, já que ele foi suspenso pela diretoria. Em agosto de 2016, já sem muito clima, o lateral-esquerdo e o clube chegaram a um acordo para a rescisão do contrato.

O último time de Mesbah na Itália foi o Crotone, recém-promovido à elite em 2016-17. Mas ele sofreu com lesões e, assim, conseguiu ajudar pouco na fraca campanha dos rossoblù, que escaparam da volta para o calvário da Serie B com uma sequência inacreditável de resultados na parte final da temporada. Em 2017, o atleta foi convocado pela derradeira vez à seleção argelina: em sete anos de serviços ao time nacional, foram 35 jogos e um gol.

Antes de pendurar as chuteiras, Mesbah voltou ao futebol suíço, onde defendeu Lausanne (2017) e Étoile Carouge (2019-20). Em janeiro de 2019, ele começou a treinar a equipe sub-19 do Evian, ofercendo um prenúncio do que lhe ocorreria quando se aposentasse de vez dos gramados. Não deu outra. Após realizar estágios com Christian Gourcuff (Nantes), Rudi Garcia (Lyon), Sinisa Mihajlovic (Bologna), Stefano Pioli (Milan) e Thomas Tuchel (Paris Saint-Germain), além de ter sido assistente do Fujairah, o ex-lateral foi anunciado, em 2021, como auxiliar da seleção argelina de jogadores locais – time composto exclusivamente por atletas que atuam no Campeonato Argelino. Djamel ocupou o cargo até 2023.

Djamel Eddine Mesbah
Nascimento: 9 de outubro de 1984, em Zighoud Youcef, Argélia
Posição: lateral-esquerdo
Clubes: Servette (2003-04), Basel (2004-06), Lorient (2006), Aarau (2006-08), Luzern (2008), Avellino (2008-09), Lecce (2009-12), Milan (2012-13), Parma (2013-14), Livorno (2014), Sampdoria (2014-16), Crotone (2016-17), Lausanne (2017) e Étoile Carouge (2019-20)
Títulos: Campeonato Suíço (2005) e Serie B (2010)
Seleção argelina: 35 gols e 1 gol

Compartilhe!

Deixe um comentário