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Iván Kaviedes iniciou a sua trajetória insípida na Europa com a camisa do Perugia

O intercâmbio entre jogadores de futebol do Equador e clubes italianos não é lá dos mais intensos: o número de atletas oriundos da república tropical que entraram em campo nas principais divisões da Velha Bota não chega a encher duas mãos. O motivo para essa rara troca cultural até poderia ter origem na aversão aos equatorianos que emergiu no Belpaese após a criminosa arbitragem de Byron Moreno no duelo com a Coreia do Sul, pela Copa do Mundo de 2002, mas vem de antes: vem da desconfiança provocada pelo atacante Iván Kaviedes, que fracassou de forma retumbante com a camisa do Perugia.

Kaviedes estreou profissionalmente no fim da década de 1990 e logo gerou grandes expectativas. Se imaginava que o jovem atacante herdasse do meia Álex Aguinaga, próximo ao fim de sua carreira, o posto de grande ídolo do futebol equatoriano. El Flaco teve uma incrível primeira temporada como titular do Emelec, na qual marcou 43 gols em 39 jogos pela Série A do Equador. Era uma história de sonho: o menino que foi criado pelos tios porque perdera os pais com apenas seis anos, num acidente automobilístico, encontrava a felicidade no esporte.

Os números absurdos pela liga equatoriana abriram as portas da seleção para Iván antes mesmo que ele completasse 19 anos – estreou numa derrota por 5 a 1 contra o Brasil, em Washington. Também lhe lançaram imediatamente ao futebol europeu. Em janeiro de 1999, o Perugia do presidente Luciano Gaucci levou a joia para o Campeonato Italiano, o mais badalado do mundo àquela altura. Era mais uma contratação barulhenta feita pelo vaidoso cartola, que gostava de chamar a atenção com reforços – fizera o mesmo alguns meses antes ao levar o japonês Hidetoshi Nakata para a Úmbria.

Quando El Flaco chegou ao clube umbro, a camisa 9 já era de Sandro Tovalieri e, por isso, ele decidiu escolheu a 33: afinal, três vezes três dá nove e, quem sabe, isso lhe ajudasse a multiplicar os gols pelo Perugia. Kaviedes também pediu um favor, prontamente atendido: no uniforme, não usaria o seu nome, mas o apelido Nine. Sim, em referência ao número que identifica os centroavantes.

Kaviedes se tornou titular do time biancorosso logo de cara, atuando como homem mais avançado do 4-4-1-1 do técnico Ilario Castagner. A sua estreia aconteceu no dia 17 de janeiro de 1999, em San Siro, numa derrota por 2 a 1 contra o Milan, pela Serie A. Nas duas rodadas seguintes, o equatoriano brilhou: encobriu Michelangelo Rampulla no 2 a 1 sofrido ante a Juventus e, do meio da rua, acertou um balaço no ângulo de Fabrizio Ferron na vitória por 2 a 0 sobre a Sampdoria.

Castagner se demitiu na jornada seguinte, após uma derrota para a Lazio. O veterano Vujadin Boskov o substituiu e, na sua estreia, viu El Nine ser oportunista: como autêntico centroavante, aproveitou sobra na área da Inter e abriu o placar, encaminhando vitória por 2 a 1 sobre a equipe nerazzurra. Curiosamente, todos os tentos anotados por Kaviedes aconteceram entre os 19 e os 20 minutos do primeiro tempo.

Apesar do início alvissareiro, El Flaco viu a sua fonte de gols secar rapidamente. O equatoriano passou a conviver com discussões com companheiros de clube e polêmicas íntimas, chamando mais atenção por esses acontecimentos do que pelo que produzia em campo.

Um início fulminante e só: Kaviedes não desencantou pelo Perugia, na Serie A (imago)

Em seu país, algumas mulheres clamavam que estavam grávidas do artilheiro. Em junho de 1999, quando viajou para defender o Equador num amistoso, ele chegou a ser conduzido coercitivamente em Guayaquil para realizar um exame de DNA. Nenhuma das paternidades foi confirmada, mas o estilo latin lover e a vida promíscua fizeram com que Iván ganhasse o apelido de Inseminator, numa brincadeira com o filme “O Exterminador do Futuro” – cujo título original, em inglês, é Terminator.

Esses quiprocós extracampo marcaram o fim da curtíssima passagem de Kaviedes pelo Perugia. Os grifoni se salvaram do rebaixamento na bacia das almas, mesmo perdendo para o Milan, porque a Salernitana não venceu o Piacenza na última rodada. O intempestivo Gaucci não estava satisfeito nem com o rendimento da equipe nem com o de El Flaco. Porém, o equatoriano ainda era visto com bons olhos pelo mercado devido desempenho mostrado em seu país e, em tenra idade, ainda tinha margem de evolução. Dessa forma, após a participação de Iván na Copa América de 1999, o presidente vendeu o atacante ao Celta de Vigo por 5 milhões de euros, recuperando o investimento realizado.

O negócio se mostrou acertado para Gaucci. Afinal, Kaviedes não rendeu o esperado nas suas experiências posteriores no futebol europeu e viveu mudando de clube como trocava de amante. Na Europa, fez pouquíssimos jogos por Celta de Vigo, Porto e Crystal Palace, tendo uma participação aceitável pelo Valladolid: atuou em 24 partidas, marcou seis gols (incluindo contra Deportivo La Coruña, Barcelona e Real Madrid) e ajudou os blanquivioletas a permanecerem em La Liga.

No restante de sua carreira, El Nine viveu de lampejos no futebol latino-americano e na seleção do Equador. Kaviedes jogou pelo Puebla, do México, e pelo Argentinos Juniors, além de oito clubes de seu país, obtendo maior destaque por Barcelona e El Nacional.

Durante parte considerável desse momento de sua trajetória, pouco entrou em campo devido aos mais variados motivos: detenções, punições por indisciplina, ações judiciais movidas contra seus empregadores, ganchos promovidos pela Federação Equatoriana de Futebol e passagens por clínicas de reabilitação para dependentes químicos. Por La Tri, disputou as Copas de 2002 e 2006. No segundo dos torneios, ficou marcado por ter vestido uma máscara do Homem-Aranha depois de fazer um gol contra a Costa Rica. Era uma homenagem a Otilino Tenorio, seu ex-colega de ataque na seleção e no Emelec, falecido num acidente de carro.

Por alguns, Kaviedes continuará lembrado por esse bonito gesto. Por muitos, a recordação que permanece é a do jogador talentoso, mas que perdeu o foco por questões pessoais e extracampo, talvez relacionadas à sua difícil infância. El Nine teve centenas de amores em dezenas de portos, mas não certamente não deixou saudades nos torcedores do Perugia.

Jaime Iván Kaviedes Llorentty
Nascimento: 24 de outubro de 1977, em Santo Domingo, Equador
Posição: atacante
Clubes: Emelec (1995-99), Perugia (1999), Celta de Vigo (1999-2000 e 2002-03), Puebla (2000 e 2003), Valladolid (2000-01), Porto (2001-02), Barcelona de Guayaquil (2002, 2004, 2005 e 2006), Deportivo Quito (2003 e 2012), Crystal Palace (2004-05), Argentinos Juniors (2005-06), El Nacional (2007 e 2011), LDU (2008), Macará (2010), Aucas (2012), Liga de Loja (2014) e Liga de Portoviejo (2014)
Títulos: Supertaça de Portugal (2001) e Segunda Categoria (2012)
Seleção equatoriana: 55 jogos e 15 gols

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