Francesco Magnanelli poderia ser mais um daqueles casos que chamam a atenção por seu talento, dedicação e liderança dentro e fora dos gramados. Mas não foi “só” isso. O volante temperou a sua história no futebol com sua fidelidade: além de ter conseguido integrar uma seleta lista de jogadores que atuaram por mais de 10 anos em uma única equipe, ele atuou em quatro divisões diferentes pelo Sassuolo e até disputou competição europeia pelos emilianos. Além disso, Magnanelli é recordista em partidas com a camisa neroverde.
Mas, antes de chegar à Emília-Romanha para representar o Sassuolo, o volante rodou por alguns clubes. Magnanelli nasceu em Umbertide, na província de Perugia, e foi na própria Úmbria que deu os seus primeiros passos no esporte: aos 16 anos apareceu para o futebol atuando pelo Gubbio, da região, no começo da década de 2000. Depois de atuar em algumas partidas da Serie C2 e ser sondado por times maiores, em 2002 se transferiu para o Chievo, que disputava a primeira categoria.
Magnanelli, contudo, não teve chances de mostrar a sua qualidade pelo Chievo. Aos 18 anos, teve sua atuação restrita ao time juvenil dos clivensi e não conseguiu estrear na elite. Com isso, na temporada seguinte rumou para a Fiorentina, que estava na Serie B. Contudo, na Viola também não teve grandes chances e em 2004 foi vendido para a Sangiovannese, clube da Toscana que militava na terceirona. Com espaço reduzido também pela Sangio, terminou vendido ao Sassuolo, que na época jogava a quarta divisão.
O Sassuolo, porém, não tinha nenhum interesse de permanecer no quarto nível do futebol italiano. Pelo contrário, e estava montando um projeto para sair de lá e chegar até a elite. O clube passou a ter a ambição de mudar de patamar a partir de 2002, quando foi comprado por Giorgio Squinzi, presidente da Mapei, indústria especializada em produzir insumos para a construção civil. O investimento do magnata não apenas resultaria em frutos como teria em Magnanelli – sem trocadilhos – o seu pilar.
Na época, o Sassuolo investiu em jovens jogadores que poderiam passar muito tempo no clube ou, no mínimo, resultarem em vendas que encheriam os seus cofres. A primeira geração de atletas que os neroverdi foram buscar era composta por Magnanelli, de 21 anos, pelo atacante Gaetano Masucci, que fora adquirido com 19, e pelo goleiro Alberto Pomini, que tinha 22 ao aportar na equipe. Juntos, eles ajudaram o time a subir para a terceira divisão, em 2006.
Com Magnanelli sendo o cão de guarda no meio-campo, o Sassuolo quase conseguiu um duplo acesso imediato: em 2007, foi vice-líder de sua chave na terceirona e só não estreou na Serie B porque perdeu nas semifinais dos playoffs. Isso foi corrigido no ano seguinte, e com o título da categoria, sob as ordens de um iniciante Massimiliano Allegri.
Pouco a pouco, o Sassuolo agregava bons treinadores – além de Allegri, Andrea Mandorlini e Stefano Pioli passaram por lá – e peças interessantes ao plantel. Magnanelli, que já assumira a faixa de capitão, ajudou o time a bater na trave pelo inédito acesso à elite em 2010 e 2012, quando os neroverdi ficaram entre os quatro melhores e perderam a vaga nos playoffs. Em 2013, durante o trabalho de Eusebio Di Francesco e com os gols do promissor Domenico Berardi, a equipe emiliana conquistou o título e, finalmente, a tão esperada promoção. Com quase 29 anos, o volante poderia estrear na Serie A.
Nos primeiros anos do Sassuolo na elite, Magnanelli foi o ponto de equilíbrio do time. Com sua personalidade e liderança, que ainda cresciam, fazia sua voz ecoar entre os companheiros e era preponderante para superar os momentos mais complicados – sobretudo na temporada de estreia, que foi a mais difícil dos neroverdi na Serie A. A salvação foi conquistada apenas na penúltima rodada, com vitória por 4 a 2 sobre o Genoa. O batismo de fogo foi superado.
Em 2014-15, Francesco anotou o primeiro de seus três gols na elite, e garantiu a vitória do Sassuolo sobre a Udinese. No ano seguinte, foi titular absoluto na melhor campanha da história do clube: com um incrível sexto lugar, o time emiliano se classificou para a Liga Europa. Magnanelli também estreou na competição continental, mas passou boa parte da temporada 2016-17 no estaleiro, em virtude do rompimento dos ligamentos do joelho esquerdo. O volante retornou na penúltima rodada da Serie A e precisou de somente sete minutos para balançar as redes do Cagliari num triunfo por 6 a 2 – foi justamente o seu derradeiro tento no campeonato.
Magnanelli foi titular do Sassuolo até a temporada 2018-19, quando, beirando os 35 anos, passou a dar espaço para jogadores mais jovens e com melhor qualidade no passe – ou seja, peças que contribuíam de forma mais eficiente para o projeto técnico que os neroverdi vêm trabalhando. Líder silencioso, jamais pediu para ser negociado ou coisa que o valha. Preferiu continuar sendo uma boa influência nos bastidores.
No total, Magnanelli ficou 17 temporadas no Sassuolo. Viu passar pelo clube alguns jogadores da fase mais modesta, como o já citado Masucci, e também nomes como Andy Selva, Daniele Martinetti, Diego Falcinelli, Simone Missiroli e Leonardo Pavoletti. Depois, dividiu vestiários com Simone Zaza, Francesco Acerbi, Lorenzo Pellegrini, Matteo Politano, Nicola Sansone, Andrea Consigli, Paolo Cannavaro, Federico Peluso, Davide Biondini, Alfred Duncan, Filip Djuricic, Francesco Caputo, Grégoire Defrel, Stefano Sensi, Maxime Lopez, Rogério, Marlon, Hamed Traorè, Giacomo Raspadori, Davide Frattesi, Gianluca Scamacca. E, claro, Berardi.
Em 2022, Magnanelli anunciou sua aposentadoria. Aos 37 anos, ele entrou para a história ao ser o jogador que mais vezes atuou com a camisa do Sassuolo: 520 partidas, quase 200 acima de Berardi, segundo na lista. Em sua homenagem, o time neroverde anunciou a aposentadoria da camisa número 4, que ele usou desde sua chegada à Emília-Romanha, em 2005, e preparou um dia inteiro de festejos no estádio Enzo Ricci.
Pouquíssimos jogadores podem se gabar de ter vestido tantas vezes, e por tantos anos, a camisa de um mesmo clube – principalmente tendo sido uma peça fundamental para fazê-lo subir vários degraus na pirâmide do futebol italiano. Magnanelli acumulou números e feitos de causar inveja em qualquer atleta, ainda mais se considerarmos que a rotatividade tem sido a regra na carreira dos profissionais.
O futebol não é uma via de mão única e Magnanelli reconhece a importância do Sassuolo em sua vida. Não foi apenas ele que ajudou o clube, mas a agremiação também lhe formou como atleta e pessoa. Em entrevista coletiva, fornecida antes do último jogo de sua carreira profissional, ele relatou que teve a sorte de conhecer pessoas maravilhosas e que entrou no time como uma criança e saiu dele como pai. O ciclo, agora, se fecha.
Francesco Magnanelli
Nascimento: 12 de novembro de 1984, em Umbertide, Itália
Posição: volante
Clubes: Gubbio (2000-02), Chievo (2002-03), Fiorentina (2003-04), Sangiovannese (2004-05) e Sassuolo (2005-22)
Títulos: Serie C1 (2008), Supercopa da Serie C (2008) e Serie B (2013)