Nos anos 1980 e 1990, a Itália era o eldorado do futebol mundial e atraía os jogadores mais talentosos que estavam em circulação. Não é de se estranhar, então, que um dos grandes defensores de todos os tempos da Argentina tenha iniciado a sua extensa trajetória europeia no Belpaese. Durante cinco anos, o craque Roberto Ayala desfilou a sua classe pelos gramados da Velha Bota.
Ayala nasceu na parte nordeste da Argentina, na cidade de Paraná, às margens do rio homônimo. Apesar da proximidade geográfica a Santa Fé, o defensor não atravessou o túnel que une as duas cidades para começar sua carreira no Colón, e nem mesmo navegou pelo rio rumo à metrópole mais próxima (Rosário), para acertar com Rosário Central ou Newell’s Old Boys. El Ratón foi até a foz do Paraná, desceu um pouco mais até Buenos Aires e deu seus primeiros passos no pequeno e tradicional Ferro Carril Oeste.
O zagueiro chegou ao Ferro pouco depois do fim do período de ouro do clube, ocorrido nos anos 1980. Ayala fez seu primeiro jogo como profissional pelos verdolagas em fevereiro de 1992, e após dois anos ajudando o time a ter campanhas dignas na primeira divisão, acertou com o gigante River Plate. Ayala brilhou na conquista do Apertura, em 1994: chegou a ser capitão da equipe na primeira conquista invicta da história dos millionarios e no mesmo ano recebeu a primeira convocação para a seleção argentina.
A passagem de Ayala pelo River durou pouco. Em 1995, pouco depois de completar 22 anos, El Ratón acertou com o Parma, que depositou cerca de 5 bilhões de velhas liras para garantir o futebol classudo e seguro do zagueiro, que desde cedo mostrava personalidade, liderança e apuração no posicionamento. A contratação parecia promissora, mas como os crociati não tinham mais espaço para estrangeiros em seu elenco, Ayala foi emprestado ao Napoli.
Ayala chegou ao Napoli para o lugar de Fabio Cannavaro, vendido ao Parma por causa dos problemas financeiros do time azzurro. No primeiro ano na Campânia, o argentino formou uma defesa forte, ao lado do brasileiro André Cruz e dos italianos Francesco Baldini e Massimo Tarantino. O ataque napolitano não funcionava (chegou a passar em branco em 16 dos 34 jogos da Serie A), mas a zaga, que terminou como a oitava menos vazada do campeonato, garantiu pontos importantes para que a equipe terminasse a temporada sem sustos. Com isso, o jogador argentino foi contratado em definitivo pelos napolitanos.
Durante as férias de verão, Ayala embarcou para os Estados Unidos, onde defendeu a Argentina nos Jogos Olímpicos de Atlanta. A seleção titubeou na fase de grupos, se recuperou com ótimas partidas no mata-mata, mas acabou amargando a prata após levar uma virada nos acréscimos da final contra a Nigéria. De volta a Nápoles, mais uma decepção para El Ratón: em 1996-97, o Napoli chegou a ocupar a vice-liderança da Serie A na pausa para as festas de fim de ano, mas teve queda vertiginosa no segundo turno e terminou o campeonato apenas alguns pontos acima da zona do rebaixamento. Os partenopei também ficaram com o vice na Coppa Italia, perdida para o Vicenza.
A solidez que Ayala conferia à defesa de um time tão debilitado chamava a atenção: mesmo sem ser muito alto, era eficaz na bola aérea, sem deixar a desejar na velocidade, no jogo pelo chão e na qualidade de passe. Um zagueiro completo. No entanto, o sistema defensivo, que foi o grande destaque do primeiro biênio do argentino no San Paolo, simplesmente degringolou em 1997-98, quando a situação financeira do clube piorou muito. O Napoli vendeu grande parte dos seus principais nomes (André Cruz, Mauro Milanese, Francesco Colonnese, Fabio Pecchia, Alain Boghossian e Nicola Caccia) e não teve condições de repor à altura.
O desmanche alçou Ayala, de 24 anos, a capitão do Napoli, tornando-o apenas o segundo estrangeiro do clube a ocupar o posto, após Diego Maradona. O argentino, porém, não conseguiu segurar o rojão sozinho e viu os azzurri se desmilinguirem na elite. Os partenopei acabaram a temporada com a lanterna da Serie A e uma das piores pontuações da história – apenas 14 pontos, graças a apenas duas vitórias e oito empates em 34 rodadas. A defesa foi a pior da temporada, com 76 gols sofridos, que produziram uma média de 2,23 por jogo.
O rebaixamento do Napoli não impediu que Daniel Passarella convocasse Ayala para a Copa do Mundo de 1998 – ratificando a confiança no defensor, que levou também para a Olimpíada e a Copa América. Titular nos cinco jogos da albiceleste na França, o zagueiro acabou se valorizando ainda mais e, por 18 bilhões de liras, reforçou o Milan, que vinha de duas temporadas muito fracas e precisava se reinventar no ano de seu centenário.
Ayala começou a temporada como titular, mas perdeu a posição durante experiências táticas feitas pelo técnico Alberto Zaccheroni, que decidiu efetivar um 3-4-3 com Luigi Sala, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini. O argentino acabou realizando apenas 11 partidas pela Serie A naquela temporada (seis como titular), mas se sagrou campeão italiano.
No segundo ano em Milão, o defensor argentino também começou como titular e até teve uma sequência maior no onze inicial. Ayala disputou quase todos os jogos entre setembro e novembro, mas o Diavolo só venceu em quatro vezes com ele em campo. Neste intervalo, o Milan foi eliminado na fase de grupos da Liga dos Campeões e ficou em último numa chave com Chelsea, Hertha Berlim e Galatasaray. O argentino também foi expulso no clássico contra a Inter, mas viu George Weah salvar sua pele e virar a partida nos acréscimos. Ao fim da temporada, os milanistas ficaram com o terceiro lugar no Campeonato Italiano e Ayala foi vendido para o Valencia.
Na Espanha, o argentino viveu a melhor fase de sua carreira. Sob o comando de Héctor Cúper e depois de Rafa Benítez, conquistou La Liga em duas oportunidades, foi vice na Champions League e ganhou uma Copa Uefa. Nos tempos de Valencia, Ayala continuou sendo titular absoluto da Argentina e, com ela, conquistou o ouro olímpico em 2004, dando a volta por cima após a queda em Atlanta.
O zagueiro, que chegou a ostentar a braçadeira albiceleste em diversas ocasiões, também foi convocado para mais dois Mundiais. Em 2002, não jogou, após machucar-se no aquecimento da partida de estreia, contra a Nigéria, mas em 2006 foi titular e até marcou um gol nas quartas de final contra a Alemanha – ocasião em que os hermanos foram eliminados nos pênaltis. Quis o destino que a despedida de Ayala da seleção tivesse contornos trágicos. Ele foi o capitão do time na final da Copa América de 2007 contra o Brasil e acabou marcando um gol contra no jogo que o escrete canarinho venceu por 3 a 0. Com 115 jogos pela Argentina, é o quarto na lista dos que mais vezes defenderam a celeste e branca.
Após deixar a seleção argentina, Ayala também se despediu do Valencia. Em 2007, assinou com o Villarreal, mas antes mesmo de jogar pelos amarillos foi contratado pelo Zaragoza – que desembolsou 6 milhões de euros para contar com o zagueiro de 34 anos. No primeiro ano pelos maños, o argentino não conseguiu evitar o rebaixamento, mas ajudou a devolver a equipe de imediato à elite. Seis meses após o retorno à primeira divisão, Ayala rescindiu o contrato com os aragoneses e voltou para a Argentina, onde defenderia o Racing. Em dezembro de 2010, depois de jogar pouco por La Academia, resolveu se aposentar.
Agora como ex-jogador, Ayala continuou em Avellaneda. O craque virou diretor do Racing e ocupou caro na administração do clube por dois anos. Depois disso, El Ratón foi convidado para ser chefe do departamento esportivo do Valencia na América do Sul e ajudou os ches durante mais três temporadas. Hoje, está afastado do futebol.
Roberto Fabián Ayala
Nascimento: 14 de abril de 1973, em Paraná, Argentina
Posição: zagueiro
Clubes: Ferro Carril Oeste (1991-94), River Plate (1994-95), Napoli (1995-98), Milan (1998-2000), Valencia (2000-07), Villarreal (2007), Zaragoza (2007-10) e Racing (2010)
Títulos: Torneio Apertura (1994), Serie A (1999), La Liga (2002 e 2004), Copa Uefa (2004), Jogos Pan-Americanos (1995), Prata Olímpica (1996) e Ouro Olímpico (2004)
Seleção argentina: 115 jogos e 7 gols