Brasileiros no calcio

Frágil? Menosprezado pelo Milan, Jair da Costa brilhou na Inter

O ponta-direita Jair da Costa começou a jogar na Portuguesa, mas alcançou o sucesso na Itália, onde defendeu Inter e Roma. Rápido, de drible fácil e muito técnico, o brasileiro foi uma das principais armas da Grande Inter dos anos 60, do presidente Angelo Moratti e do técnico Helenio Herrera. Jogando pelos nerazzurri, o camisa sete fez 260 partidas, marcou 69 gols e conquistou oito títulos. Na seleção, Jair teve pouco espaço, já que concorreu com jogadores do calibre de Garrincha e Jairzinho.

Nascido em Osasco em uma família pobre, Jair buscou o futebol logo cedo e, aos 20 anos, já era profissional na Portuguesa. Dois anos na Lusa foram suficientes para Aymoré Moreira convocá-lo para o grupo que jogaria o Mundial de 1962. No último amistoso antes da Copa, contra o País de Gales, o ponta-direita fez sua única partida com a camisa amarelinha. No Chile, Jair não saiu do banco de reservas.

Durante o Mundial, Aymoré Moreira promovia treinos para os reservas às quartas-feiras. Um dos espectadores era Helenio Herrera, técnico da seleção espanhola e da Inter. Na volta à Milão, o comandante pediu ao presidente Angelo Moratti a contratação do brasileiro. O Milan também estava de olho no jogador, mas não o quis pelo seu físico, considerado frágil. Desta maneira, os nerazzurri levaram Jair, que não conhecia a Inter e muito menos sabia falar uma palavra sequer em italiano.

Jair foi multicampeão em Milão e marcou o gol do segundo título europeu dos nerazzurri (Arquivo/Inter)

A aposta foi válida. Foram dois meses até se adaptar ao frio milanês e quando finalmente estreou, mostrou estar em casa. Contra o Genoa, Jair só precisou de dois minutos para marcar seu primeiro gol vestindo nerazzurro. Com a chegada do brasileiro, que se tornou titular, a Inter, que havia largado muito mal na Serie A, ultrapassou Milan e Juventus para chegar ao primeiro scudetto da era Angelo Moratti, em 1963.

Mas, a Grande Inter comandada por Herrera, e de Giacinto Facchetti, Armando Picchi, Mario Corso, Luis Suárez, Sandro Mazzola e Jair da Costa tinha muito mais para mostrar. Na temporada seguinte, a Europa se pintou de nerazzurro. Na campanha campeã, Jair teve papel de destaque, marcou quatro gols e viu Mazzola ser o grande protagonista da conquista contra o Real de Puskás e Di Stéfano. Ao final do ano, a equipe ainda ganhou a Copa Intercontinental frente ao Independiente.

A temporada de 1964-65 deu quase tudo à Inter de Jair. O scudetto teve ótima participação do camisa sete, que marcou sete gols ao longo da campanha. Na Europa, os nerazzurri caminhavam para o bi.

As características físicas de Jair da Costa lhe permitiram deslanchar no futebol italiano (Arquivo/Inter)

Até a final, o brasileiro havia marcado dois tentos e, na decisão disputada no Giuseppe Meazza, contra o Benfica de Eusébio, ele assumiu o protagonismo. Sob chuva torrencial, Jair marcou o único gol do jogo. Com ajuda da má condição do gramado, o seu chute surpreendeu Alberto da Costa Pereira, o goleiro encarnado, que deixou a pelota passar por entre suas pernas. No final do ano, novamente título intercontinental contra o Independiente. Faltou apenas a Coppa Italia, perdida na final contra a Juventus, que venceu por apenas 1 a 0.

Antes de deixar a Inter, Jair ganhou mais um scudetto, em 1965-66, e quase conquistou mais outro, ano ano seguinte. A temporada 1966-67 marcou o fim da Grande Inter: o time perdeu a final da Copa dos Campeões para o Celtic e, três dias depois, perdeu para o Mantova e viu a Juventus ultrapassá-la na última rodada, ficando com o título. O time ainda perdeu para o Padova, da Serie B, na semifinal da Coppa Italia. Fora do time titular, preterido por Angelo Domenghini, ele acabou sendo negociado com a Roma, em 1967.

A Roma de Jair ficou apenas na décima posição time capitolino e o brasileiro, apenas um ano depois, retornou para os braços da torcida nerazzurra, que já era presidida desde maio de 1968 por Ivanoe Fraizzoli, novo dono do clube. Ainda muito amado na Inter, jogou mais quatros anos em Milão e acompanhou o surgimento de ídolos como Gabriele Oriali e Roberto Boninsegna.

O obstinado Jair brilhou em Milão e teve duas passagens pela Inter (Getty)

Além disso, o ponta conquistou mais uma Serie A, na temporada de 1970-71, e um vice-campeonato da Copa dos Campeões na temporada seguinte. Jair marcou gols importantes e ajudou a Inter a chegar à final, perdida para o Ajax de Johan Cruijff. Após dez anos de Itália, Jair retornou ao Brasil para jogar no Santos de Pelé, pelo qual conquistou um Campeonato Paulista. Antes de perdurar as chuteiras, o ídolo interista jogou por dois anos no Canadá, defendendo as cores do Windsor Star.

Mesmo com o final da carreira, Jair da Costa permanece ligado à Inter. Hoje, o histórico camisa 7 nerazzurro vive em Osasco. Em sua cidade natal, ele mantém uma quadra de futsal pintada de azul e preto e com as paredes preenchidas por imagens da sua passagem por Milão.

Em 2008, ele esteve no Giuseppe Meazza para as comemorações do centenário da equipe e foi ovacionado quando o narrador Roberto Scarpini anunciou seu nome. Dois anos depois, Massimo Moratti ofereceu passagens para Jair acompanhar a final da Liga dos Campeões, porém o brasileiro preferiu assistir ao título nerazzurro de casa e só depois ir à Itália acompanhar a festa da conquista.

Jair da Costa
Nascimento: 9 de julho de 1940, em Osasco (SP)
Posição: ponta-direita
Clubes: Portuguesa (1960-62), Inter (1962-67 e 1968-1972), Roma (1967-68), Santos (1972-74) e Windsor Star (1974-76)
Titútlos: Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), Copa dos Campeões (1964 e 1965), Mundial de Clubes (1964 e 1965), Campeonato Paulista (1973) e Copa do Mundo (1962)
Seleção brasileira: 1 partida

Compartilhe!

1 Comentário

Deixe um comentário