Cartolas

Dino Viola, sinônimo de uma Roma vencedora

Presidente. A figura do máximo dirigente de um clube é tratada de forma folclórica no futebol da Itália, já que durante décadas os cartolas não eram investidores distantes, que apenas tomavam decisões nos bastidores. Na Bota, os empresários eram torcedores fervorosos e que viviam o dia a dia das equipes, cortando da própria carne e investindo dinheiro próprio para levar o seu time do coração a conquistas. Assim era Dino Viola, conhecido pela torcida da Roma como “O Presidente” no período de 12 anos que comandou a agremiação giallorossa.

Grande parte dos ídolos máximos da Roma nasceram na Cidade Eterna, mas isto não ocorreu com Viola. Irmão de Ettore Viola, capitão do exército italiano na I Guerra Mundial, Adino (conhecido depois como Dino) veio ao mundo em Terrarossa, na Toscana, em 1915, e foi morar na capital aos sete anos, em 1922, para realizar seus estudos. Acabou se formando em engenharia e abriu uma indústria de peças para armamentos.

A partir dessa mudança, Dino Viola começou a se apaixonar por La Maggica e trilhava o caminho como mecenas do futebol italiano, tal qual o romanista Franco Sensi, os interistas Angelo e Massimo Moratti, o juventino Gianni Agnelli e o milanista Silvio Berlusconi. Ainda adolescente, ele chegou a jogar algumas vezes no Campo Testaccio, primeiro estádio da Roma, mas não vingou como atleta.

A paixão de Dino Viola pela Roma o levou a fazer coisas que só mesmo torcedores apaixonados fariam. Ele levou a esposa Flora, com quem dividiu uma vida inteira, para assistir ao penúltimo jogo da Roma na Serie A 1941-42. A partida aconteceria em Livorno e poderia valer o primeiro scudetto dos romanos. O casal saiu de Pontedera, onde morava, e pedalou 72 quilômetros (36 em cada trecho) para ver o time do técnico Álfred Schaffer, que venceu por 2 a 0. O título só seria garantido na semana seguinte, mas os Viola voltaram felizes (e cansados) para casa.

A partir da década de 1960, Dino Viola deixou de ser um mero torcedor. Em 1963 ele entrou no quadro de sócios da Roma e, seis anos depois, passou a fazer parte do conselho de diretores do clube. Não demorou muito para que ele chegasse à presidência: em 1979, depois que um grupo de diretores se demitiu, Viola foi instituído com os poderes de presidente da agremiação.

Bruno Conti foi um dos ídolos da Roma durante a gestão de Viola (Arquivo/AS Roma)

Seu primeiro ato, no dia seguinte, antes mesmo de ter seu novo cargo ratificado por assembleia, foi telefonar para Nils Liedholm e apalavrar com o treinador seu retorno à Cidade Eterna. O sueco conquistara o scudetto com o Milan, já tinha feito um trabalho elogiado na Roma anos antes e seria a primeira tacada para fazer a Loba voltar a ganhar a Serie A após quase 40 anos. Curiosamente, quase toda a gestão de Dino Viola na Roma foi conduzida por treinadores do país escandinavo: Liedholm, de 1979 a 1984 e de 1987 a 1989, e Sven-Göran Eriksson, de 1984 a 1987.

O ano de estreia de Viola como presidente foi coroado com um título, a Coppa Italia. O time romano em 1979-80 já tinha a espinha dorsal que venceria o scudetto em 1983, com o goleiro Franco Tancredi, o líbero Agostino Di Bartolomei, o centroavante Roberto Pruzzo e o ala Bruno Conti ( formado na Roma e que voltava de empréstimo ao Genoa), além de Carlo Ancelotti, contratado junto ao Parma por Viola.

Naquele ano o presidente também se livraria de uma “laranja podre”. O diretor esportivo Luciano Moggi foi demitido depois que Costantino Rozzi, presidente do Ascoli, levantou a suspeita de que ele teria envolvimento em manipulação de arbitragens – décadas depois, Moggi foi um dos pivôs do Calciopoli, que rebaixou a Juventus. Ironicamente, Viola acabou suspenso pela Uefa por motivos semelhantes. Em 1984 ele tentou subornar o árbitro Michel Vautrot na semifinal da Copa dos Campeões, contra o Dundee United, e foi punido. Em 1986, pegou gancho de quatro anos, mas recorreu e foi absolvido.

Ao longo dos quase 12 anos de presidência, Dino Viola investiu pesado e fez algumas contratações importantíssimas para a história da Roma. Além do já citado Ancelotti, o cartola contratou Paulo Roberto Falcão, Sebastiano Nela, Ubaldo Righetti, Herbert Prohaska, Aldo Maldera, Pietro Vierchowod, Toninho Cerezo, Francesco Graziani, Zbigniew Boniek, Rudi Völler, Fulvio Collovati, Ruggiero Rizzitelli, Thomas Berthold, Aldair e Andrea Carnevale.

As categorias de base também funcionaram a todo o vapor durante o período d’O Presidente, mantendo a geração de que craque a Roma faz em casa. Nesse período, o clube formou Giuseppe Giannini e contratou jovens que ainda estavam na fase de maturação, como Righetti, oriundo do Latina, e um tal de Francesco Totti, que chegou da Lodigiani em 1989, quando ainda tinha 13 anos. Outros ótimos jogadores, como Angelo Peruzzi e Angelo Di Livio, também foram formados em Trigoria, mas fizeram carreira em outros clubes.

Um dos últimos atos da gestão de Viola foi a contratação de um garotinho de 13 anos chamado Francesco Totti (Arquivo/AS Roma)

Esses craques ajudaram a Roma a viver o período de ouro em sua história, anos nos quais brigava frequentemente por títulos de relevo nacional e internacional. Em 1983, a equipe conquistou o seu segundo scudetto, 41 anos após o primeiro, o que ajudou a afastar o apelido pejorativo de “Rometta”– “Rominha”, em tradução literal.

Ao todo, a Roma conquistou seis títulos sob a batuta de Dino: cinco Copas da Itália e uma Serie A. Os giallorossi ainda ficaram com o vice nacional duas vezes e também foram vice-campeões da Copa dos Campeões, em 1984, e da Copa Uefa, em 1991. O presidente, morto em janeiro de 1991, não viu os romanos serem vice na Copa Uefa nem levantarem a taça da Coppa Italia daquele ano, título que acabou sendo uma homenagem póstuma. Afinal, os anos Viola na presidência da Roma foram constantes: do início ao fim, os torcedores giallorossi viram a equipe lutando por conquistas em solo nacional e também em nível europeu.

Todo o prestígio acumulado por Dino como presidente da Roma “scudettata” lhe renderam uma breve experiência política. Ele foi eleito senador da República Italiana pela Democracia Cristã e exerceu mandato de 1983 a 1987. Apesar da vida nos bastidores do poder, não deixou de se dedicar ao clube.

Em 19 janeiro de 1991, com 75 anos, o presidente Dino Viola faleceu em decorrência de um tumor no intestino. Em nenhum momento ele deixou o cargo no clube, que foi ocupado pela esposa, Flora, após a sua morte e até o final da temporada 1990-91. Em 1995, uma praça em Trigoria, localidade em que está situado o centro de treinamentos da Roma, recebeu o nome d’O Presidente, em cerimônia que contou com Franco Sensi, seu sucessor.

Flora faleceu aos 86 anos, em 2009, e foi repousar com Dino no cemitério Campo di Verano. Juntos de novo, os dois reatariam um amor tão grande quanto tiveram pela Roma.

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