Terça, 19 de março de 2024: o dia em que a Fiorentina voltou a chorar de forma imprevista. Poucas horas antes de completar 58 anos, faleceu Joe Barone, diretor-geral da Viola, em virtude do agravamento de seu estado de saúde devido a um infarto sofrido antes da partida contra a Atalanta, no domingo. Um dirigente que, apesar do curto tempo de trabalho no futebol, angariou respaldo no meio por conta de sua simpatia no trato com colegas, superiores e subordinados. E cuja morte acaba coincidindo com outra tragédia que abalou a agremiação gigliata.
Poucas horas após o almoço, no começo da tarde italiana, a delegação da Fiorentina iniciava a preleção para o jogo contra a Atalanta no hotel em que estava hospedada, na cidade de Cavenago di Brianza, entre Monza e Bérgamo, nos arredores de Milão. Na conversa entre a comissão técnica e o elenco, Barone passou mal e o meia Antonín Barák notou que o dirigente estava sofrendo um infarto.
Após o primeiro atendimento ter sido realizado ainda no hotel, foi verificada a necessidade de transferência a um hospital – o San Raffaele, em Milão. A Fiorentina, evidentemente, solicitou à Liga Serie A o adiamento da partida com a Atalanta e foi atendida em seu pleito.
Barone, que completaria 58 anos na quarta, 20 de março, foi internado em estado grave e chegou a ser submetido a uma cirurgia cardíaca. Foram dias de apreensão, com a presença de diretores da Fiorentina, do técnico Vincenzo Italiano, de jogadores do elenco e de familiares do cartola na unidade médica. Entretanto, as terapias mais avançadas não foram suficientes para salvar a sua vida.
O falecimento de Barone evoca o acontecido com Davide Astori, ex-capitão da Fiorentina, em 2018. Também em março, no dia 4, o zagueiro foi encontrado sem vida em seu quarto de hotel, antes do jogo contra a Udinese. Vítima de parada cardíaca devido a um problema congênito que não foi detectado em exames de rotina, o jogador teve a camisa 13 aposentada pela agremiação e, na semana anterior à morte do diretor, foi homenageado pela torcida violeta no estádio Artemio Franchi, durante a partida com a Roma.
O fato de um roteiro tão similar e com desfecho idêntico ter baqueado novamente o “mundo Fiorentina” mostra como a vida pode ser cruel às vezes. E ainda mais inclemente se observarmos outras coincidências. Cristiano Biraghi, Nikola Milenkovic, Luca Ranieri e Riccardo Sottil eram colegas de vestiário de Astori no momento de sua morte prematura e voltam a ser abalados por um falecimento motivado por questões cardíacas. O primeiro dos citados, inclusive, no momento em que utiliza a braçadeira de capitão que o saudoso camisa 13 vestia.
Quem era Barone e como foi o seu trabalho
Nascido Giuseppe Barone, em Pozzallo, comuna localizada no extremo sul da ilha da Sicília, em 1966, o dirigente se mudou para os Estados Unidos com a família aos 8 anos. Cresceu no Brooklyn e lá ganhou o apelido de Joe, com o qual seria conhecido por toda a sua vida. Também se naturalizou norte-americano.
O início da vida laboral de Barone foi no setor bancário. Foi no próprio ramo financeiro que, com o passar dos anos, conheceu o também ítalo-americano Rocco Commisso. Self-made man, o calabrês ganhou importância no Royal Bank of Canada e passou a investir no campo das telecomunicações, no qual fundou a Mediacom, empresa de TV por assinatura. Seu braço direito? Joe.
Commisso confiou a Barone diversas funções de gestão na Mediacom e, em 2017, a dupla deu seus primeiros passos no esporte. Naquele ano, Rocco comprou o New York Cosmos e atribuiu a Joe o cargo de vice-presidente.
Depois, quando Commisso efetivou a compra da Fiorentina, Barone deixou todas as outras funções e compromissos para se tornar diretor-geral da agremiação violeta. Joe, a propósito, foi o anunciador de que uma revolução ocorreria no clube, quando foi avistado nas tribunas do Franchi em 26 de maio de 2019, no empate por 0 a 0 com o Genoa, que sacramentou a permanência dos toscanos na Serie A. A presença do siciliano era um indício de que as tratativas teriam desfecho iminente, como de fato ocorreu: o negócio com a família Della Valle, que detinha a propriedade gigliata, foi fechado no dia 6 de junho.
Quando Commisso chegou à Fiorentina, a agremiação vivia crise de resultados e também não demonstrava ter grandes ambições – a família Della Valle não desejava mais investir e procurava compradores havia alguns anos. Com os ítalo-americanos, a situação mudou, e Barone foi o operador dessa revolução. Enquanto Rocco continuou nos Estados Unidos, mais perto de sua fonte de renda principal, Joe se mudou para Florença e passou a viver o ambiente violeta de perto.
Como ficou evidente no dia do infarto que lhe tirou a vida, Barone acompanhava o elenco principal da Fiorentina nos jogos em casa e longe de seus domínios – além de cuidar das outras equipes da agremiação, tanto nas categorias de base quanto no profissional. O diretor-geral também se ocupou de negociar a tramitação do novo estádio dos toscanos, que ainda está na fase de projeto, e de levar a cabo a construção do Viola Park, o centro de treinamentos para todas as formações violetas, inaugurado em 2023. O CT ainda conta com espaços para atividades e campos para as partidas oficiais do time feminino e dos juvenis, em ambas as modalidades.
Ao lado do diretor esportivo Daniele Pradè, Barone participava ativamente das decisões de mercado da Fiorentina. Fez contratações prestigiosas, como a do craque Franck Ribéry, e também a de Nico González – que, por 27 de milhões de euros, foi a mais cara da história violeta. Tais chegadas simbolizavam as novas ambições dos gigliati. E que resultaram, sob a batuta de Italiano, em um vice da Coppa Italia e da Conference League, em 2023, e outras duas campanhas de se semifinais do torneio eliminatório nacional.
Muito querido no futebol, Barone recebeu homenagens de todas as partes. Enviaram suas condolências Gianni Infantino, presidente da Fifa, Gabriele Gravina, máximo dirigente da Federação Italiana de Futebol – FIGC, todos os clubes da Serie A e até mesmo quem poderia ter alguma rusga com o cartola, como Vincenzo Montella, primeiro treinador demitido pela gestão Commisso, ainda em 2019. Joe deixou a esposa Camilla, quatro filhos – um dos quais, também chamado Giuseppe, tenta ser jogador profissional – e um neto.