Hoje ele é um dos tantos pupilos de Sven-Göran Eriksson que seguem a carreira de treinador e se consolida no Porto, com a recente conquista da Primeira Liga. Muito antes disso, porém, Sérgio Conceição teve uma vitoriosa carreira como jogador. Um garoto simples de Coimbra, que perdeu os pais ainda jovem e cresceu no clube da cidade, o ponta-direita deixou sua marca no futebol local, atuando no Porto e na seleção, e também passou com destaque por Itália, Bélgica e Grécia.
Criado pela Académica, Sérgio Conceição se transferiu para o Porto com 17 anos, onde ficou no setor juvenil por mais dois antes de estrear profissionalmente no empréstimo ao Penafiel, da segunda divisão, em 1993. Experiência repetida por mais duas temporadas por Leça e Felgueiras: neste último clube, obteve bastante sucesso sob o comando do ainda jovem treinador Jorge Jesus, que levou o modesto time felgueirense para a primeirona.
De volta ao Porto a pedido de António Oliveira, o talentoso e voluntarioso ponta se consolidou no time titular, contribuindo em dois dos cinco títulos da Primeira Liga conquistados entre 1995 e 1999. No verão de 1998, após ser eleito melhor jogador do Campeonato Português, foi contratado pela Lazio e começou a fazer parte do ambicioso projeto do presidente Sergio Cragnotti, juntamente ao compatriota Fernando Couto. Conceição rapidamente conquistou um lugar no time de Eriksson, tomando conta do lado direito laziale.
Seu impacto foi imediato. Sérgio Conceição se apresentou à torcida celeste com um gol nos acréscimos para assegurar o título da Supercopa Italiana contra a Juventus, e continuou marcando outros gols importantes na primeira temporada: foram cinco, três deles contra a Inter. O português foi um dos destaques da equipe que bateu na trave pelo scudetto, ficando apenas um ponto atrás do Milan, mas que conquistou outro título bastante relevante: a extinta Recopa Europeia, uma das duas únicas internacionais da história da Lazio.
A segunda, por sinal, veio meses depois contra o Manchester United: a equipe celeste faturou a Supercopa Europeia, em partida de que Conceição acabou não participando. Sentar no banco não era habitual para o português, que no restante do ano foi o jogador da Lazio que mais partidas jogou no campeonato (30). Aquela Serie A, aliás, teve um gosto especial para os aquilotti, que protagonizaram uma arrancada final para conquistar o scudetto após estar nove pontos atrás da Juventus. Os laziali ainda fizeram a dobradinha com a conquista da Coppa Italia, que teve a contribuição de Sérgio Conceição na final contra a Inter – foi dele a assistência para Diego Simeone marcar o gol do título.
No verão de 2000, Sérgio Conceição ainda foi protagonista pela seleção portuguesa na Eurocopa realizada na Holanda, competição em que marcou uma tripletta para eliminar a Alemanha ainda na fase de grupos da competição. Titular do time dirigido por Humberto Coelho em toda a campanha, o ponta atuou ao lado de Luís Figo, Rui Costa, Nuno Gomes e outras figuras. Portugal, no entanto, acabou eliminado nas semifinais para a futura campeã França, que ganhou com o gol de ouro de Zinédine Zidane no final do segundo tempo da prorrogação.
O meio-campista teve sua desilusão aumentada pouco depois do torneio continental, ao ser forçado a se transferir para o Parma junto com Matías Almeyda – os dois foram inseridos como contrapartidas no negócio que culminou na ida de Hernán Crespo à Lazio. O português deu sua contribuição para a temporada regular do clube, quarto colocado no campeonato e vice-campeão da copa, mas acabou perdendo espaço com a saída de Alberto Malesani e a chegada de Renzo Ulivieri, que substituiu Arrigo Sacchi no segundo turno.
No verão seguinte, voltou a virar moeda de troca, dessa vez pelo goleiro francês Sébastien Frey, da Inter. Em Milão, passou a sofrer com problemas físicos, mas nos seus melhores momentos formou boa parceria no flanco direito com Javier Zanetti. No primeiro ano, acabou vendo o scudetto escapar na última rodada justamente por causa de uma derrota para a Lazio. O tempo em campo diminuiu no campeonato na temporada seguinte, mas Conceição foi titular absoluto na campanha interista na Liga dos Campeões, na qual a equipe acabou eliminada nas semifinais pelo Milan.
Insatisfeito com a vida em Milão, rescindiu contrato com os nerazzurri no verão de 2003 para retornar à Cidade Eterna e fechar novamente com a Lazio. Mas sua vida não melhorou muito sob o comando de Roberto Mancini, seu ex-companheiro de equipe, que o preteriu por Stefano Fiore. Sem muito espaço, o ponta acabou rescindindo o contrato novamente, depois de apenas 14 jogos, e acertou outro retorno: dessa vez para defender o Porto, em janeiro de 2004.
Sem poder jogar na Liga dos Campeões por já ter entrado em campo pela Lazio, Conceição não pode colaborar na conquista histórica da competição pelo time de José Mourinho – certamente, um dos maiores arrependimentos de sua carreira. Por outro lado, o ponta participou de 11 partidas do Campeonato Português como um complemento para o grupo, que também conquistou o título nacional. Descontente, mudou de clube novamente e dessa vez optou pelo Standard Liège.
Na Bélgica, Sérgio Conceição assumiu um protagonismo que ainda não tinha mostrado na carreira, marcando 21 gols em três temporadas e ganhando o prêmio de melhor jogador do campeonato em 2004-05. Ao mesmo tempo, deixou definitivamente de ser levado em consideração para a seleção portuguesa, agora comandada por Luiz Felipe Scolari.
Um problema disciplinar em março de 2007 acabou lhe afastando dos gramados e também do futebol europeu. Após agredir um árbitro e receber suspensão de quatro meses e meio, o meia se mudou para o Kuwait, onde jogou pelo Qadsia. A passagem no Oriente Médio durou apenas um semestre, e logo em janeiro o ponta retornou para a Europa, dessa vez para jogar na Grécia, pelo PAOK.
Com a camisa 7 do ídolo Theodoros Zagorakis, então presidente do clube, se tornou referência e capitão da equipe, mas consecutivos problemas físicos em 2009 acabaram encurtando sua carreira, encerrada aos 35 anos. Depois de se aposentar, Sérgio Conceição assumiu o cargo de diretor técnico do clube de Tessalônica.
Com a crise política no clube, que culminou com a saída de Zagorakis e também de outro ídolo, Zisis Vryzas, o tuga se demitiu um ano depois para se tornar assistente técnico do Standard Liège. Experiência que também durou apenas um ano, mas que abriu portas para sua carreira de treinador, iniciada em janeiro de 2012 pelo Olhanense. Conceição conseguiu salvar o clube do rebaixamento na primeira temporada, e na segunda acabou pedindo demissão, num momento em que o time era o oitavo colocado da Primeira Liga.
Em abril, protagonizou outro retorno, esse bastante especial, já que assumiu o comando técnico da Académica, clube da sua cidade, no qual cresceu futebolisticamente. O ex-meia novamente conseguiu a permanência na elite e na temporada seguinte fez uma campanha sólida, deixando a equipe no meio da tabela e chamando a atenção do Braga, que o contratou no verão de 2014. No Minho, conseguiu um suficiente quarto lugar na liga, mas atritos com a direção levaram à sua demissão.
Conceição não ficou muito tempo sem clube, e em setembro assumiu o Vitória de Guimarães, tendo mais uma campanha segura e com posição confortável. Apesar disso, não seguiu no clube e ficou todo o segundo semestre de 2016 parado, até ser chamado pelo desesperado Nantes, penúltimo colocado na Ligue 1. Com um trabalho espetacular, conquistou 35 pontos em 18 rodadas, desempenho inferior apenas ao do campeão Monaco, e deixou o clube francês na oitava posição.
Especulado em clubes italianos, renovou contrato e tinha confiança para dar continuidade ao projeto nos canários, mas uma oferta do Porto o fez mudar de clube novamente em junho de 2017. Decisão que se mostrou acertada: seu trabalho se consolidou pelos Dragões.
Os portistas concluíram a temporada 2017-18 com o título nacional e sete pontos de vantagem sobre o Benfica. Fruto de 28 vitórias e apenas duas derrotas em 34 rodadas, além do melhor ataque (82 gols marcados) e da melhor defesa (18 gols sofridos) do torneio. Novamente assediado por outros clubes, Conceição recentemente renovou seu contrato, que agora tem uma cláusula rescisória de 15 milhões de euros.
Sérgio Paulo Marceneiro da Conceição
Nascimento: 15 de novembro de 1974, em Coimbra, Portugal
Posição: meio-campista
Clubes: Penafiel (1993-94), Leça (1994-95), Felgueiras (1995-96), Porto (1996-1998 e 2004), Lazio (1998-00 e 2003-04), Parma (2000-01), Inter (2001-03), Standard Liège (2004-07), Qadsia (2007-08) e PAOK (2008-10)
Títulos: Campeonato Português (1997, 1998, 2004), Copa de Portugal (1998), Supercopa de Portugal (1996); Recopa Europeia (1999), Supercopa Europeia (1999), Serie A (2000), Coppa Italia (2000, 2004), Supercopa Italiana (2000)
Clubes como treinador: Olhanense (2012-13), Acadêmica (2013-14), Braga (2014-15), Vitória de Guimarães (2015-16), Nantes (2016-17), Porto (2017-atualmente)
Títulos como treinador: Campeonato Português (2018)
Seleção portuguesa: 56 partidas e 12 gols