Júnior, lateral-esquerdo da Seleção, com passagem pela Itália. Acha que estamos falando do lendário Leo Júnior, ex-Flamengo, Torino e Pescara? Se, à descrição acima, acrescentarmos “pentacampeão mundial”, revelamos que nos referimos a outra pessoa, que nem Júnior tem em seu nome de batismo. O atleta em questão é Jenílson Ângelo de Souza: bruxinho do técnico Luiz Felipe Scolari, o baiano fez parte do grupo brasileiro da Copa de 2002 e se tornou um dos dois únicos jogadores que ganharam a competição enquanto defendiam o Parma.
O jovem Jenílson passou a sua infância em Santo Antônio de Jesus, o maior centro comercial do Recôncavo Baiano. Depois de se mudar para Salvador, deu seus primeiros passos pelo Vitória, clube pelo qual foi eleito revelação do estadual, em 1994, e campeão no ano seguinte. O sucesso obtido nos dois anos em que vestiu a camisa do Leão da Barra fez com que Júnior acertasse com o Palmeiras, clube mais rico do Brasil naquele momento, por causa da parceria com a Parmalat.
Não demorou para que Júnior preenchesse a lacuna deixada pela venda de Roberto Carlos para a Inter. O baiano, que se destacava pela velocidade, pelos dribles curtos e pela força no apoio ao ataque, se encaixou perfeitamente na máquina ofensiva montada por Vanderlei Luxemburgo e foi campeão paulista em 1996. Já com Felipão, a partir de 1997, Júnior (também conhecido como “Nagata”) continuou sendo titular absoluto do alviverde e levantou a Copa do Brasil, a Copa Mercosul e a Libertadores da América.
A posição de destaque num dos melhores times sul-americanos levou Júnior à Seleção. No entanto, o baiano recebia poucas chances de jogo, já que a concorrência no setor era muito grande. Nagata só começou a ser chamado com maior frequência a partir de meados de 2001, quando Felipão foi contratado para treinar o Brasil e quis contar com seu pupilo. Nesse meio tempo, em julho de 2000, a ligação umbilical entre o Palmeiras e a Parmalat levou Júnior ao futebol italiano.
O brasileiro não começou sua trajetória no Parma como titular absoluto da ala esquerda crociata. No primeiro ano, Júnior teve de dividir espaço com Antonio Benarrivo, ídolo do clube, e com o utilitário Gianluca Falsini, mas fez 19 jogos (mais que os concorrentes) e marcou três gols. Sua melhor partida aconteceu diante da Inter, na qual anotou duas vezes na vitória por 3 a 1 – o segundo tento foi um tirambaço no ângulo, da entrada da área. Com seu estilo ofensivo, Júnior ajudou o time a se classificar para a Liga dos Campeões numa temporada com percalços, em que o Parma teve três treinadores.
Na segunda temporada na Emília-Romanha, Júnior vivenciou novamente várias trocas de técnico, o que afetou o desempenho da equipe, 10ª colocada no Italiano. O Parma começou com Renzo Ulivieri e depois contratou Daniel Passarella, mas passou a maior parte da campanha sob as ordens do interino Pietro Carmignani.
No 3-5-2 escolhido para o desenrolar do ano, Nagata pode explorar sua velocidade e qualidade no apoio. Dessa forma, foi fundamental para a conquista do último título parmense: mesmo errando completamente o chute, marcou o gol da vitória por 1 a 0 na partida de volta da final da Coppa Italia contra a Juventus. O título (o último de expressão conquistado pelos gialloblù) valeu vaga na Copa Uefa e mitigou a instabilidade que a equipe demonstrou na Serie A.
Logo depois da conquista, Júnior embarcou para a Ásia e fez parte do grupo de Felipão na Copa do Mundo de 2002. Na competição, o baiano fez apenas um jogo e, nele, marcou um dos gols da vitória por 5 a 2 sobre a Costa Rica, na fase de grupos. Ao alcançar o pentacampeonato pelo Brasil, o lateral canhoto se igualou ao ex-companheiro Lilian Thuram: só os dois venceram o Mundial enquanto atuavam pelo Parma.
Júnior e sua tradicional camisa 16 continuaram intocáveis no Parma da temporada 2002-03. Titular com Cesare Prandelli, o baiano colaborou com mais uma campanha que deu aos emilianos uma vaga na Copa Uefa. Em 2003-04, o lateral também começou jogando, mas o processo de bancarrota da Parmalat fez com que os jogadores mais valorizados e de maiores salários acabassem tendo de ser negociados. Com isso, em janeiro de 2004, Júnior foi emprestado para o Siena e encerrou sua aventura no clube. Em três anos e meio, Nagata disputou quase 100 partidas pelos ducali.
Na Toscana, a realidade era muito diferente da que Júnior viveu em seus primeiros anos de Parma. O Siena disputava a Serie A pela primeira vez em sua história e buscava apenas escapar do rebaixamento, apostando em medalhões como Enrico Chiesa e Tore André Flo. Outras duas peças importantes do time bianconero eram dois ex-companheiros do lateral-esquerdo no Palmeiras: Roque Júnior e Rodrigo Taddei. A mistura deu certo e o Siena escapou do descenso na penúltima rodada, após uma vitória fora de casa sobre o Modena.
Ao fim da passagem pelo Siena, Júnior foi devolvido ao Parma, mas acabou rescindindo o contrato. O lateral-esquerdo, então com 31 anos, retornou ao Brasil e fechou gratuitamente com o São Paulo, clube em que acumulou tantos títulos quanto com o Palmeiras: no tricolor paulista, venceu novamente uma Libertadores, foi campeão mundial interclubes e tri do Brasileirão. O baiano ficou quatro anos no Morumbi e foi utilizado com mais frequência entre 2004 e 2006.
Já na fase final da carreira, Júnior atuou bem pelo Atlético-MG, onde costumou ter mais liberdade para atacar. Depois de duas temporadas no Galo, o canhoto teve curta passagem pelo Goiás e decidiu se aposentar, aos 37 anos. O lépido lateral-esquerdo chegou a abrir um restaurante em Belo Horizonte após parar de jogar e hoje vive em sua cidade natal.
Jenílson Ângelo de Souza, o Júnior
Nascimento: 20 de junho de 1973, em Santo Antônio de Jesus (BA)
Posição: lateral-esquerdo
Clubes: Vitória (1994-95), Palmeiras (1996-2000), Parma (2000-03), Siena (2004), São Paulo (2004-08), Atlético-MG (2009-10) e Goiás (2010)
Títulos: Campeonato Baiano (1995), Campeonato Paulista (1996 e 2005), Copa do Brasil (1998), Copa Mercosul (1998), Copa Libertadores (1999 e 2005), Torneio Rio-São Paulo (2000), Coppa Italia (2002), Copa do Mundo (2002), Mundial de Clubes da Fifa (2005), Campeonato Brasileiro (2006, 2007 e 2008) e Campeonato Mineiro (2010)
Seleção brasileira: 22 jogos e 1 gol