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O lendário sul-africano Philemon Masinga foi ídolo do Bari e algoz da Inter

No início de janeiro de 2019, morria, em Joanesburgo, um dos maiores jogadores sul-africanos da história. Aos 49 anos, o ex-atacante Philemon Masinga perdeu a luta contra o câncer após cerca de dois meses desde o descobrimento da doença. Campeão da Copa Africana de Nações em 1996, Phil era dotado de muita força física e faro de gol contra equipes grandes. Isso se demonstrou principalmente no futebol italiano, onde mais brilhou: foi assim que ele se tornou carrasco da Inter, enquanto defendia o Bari.

No início de sua vida, Phil Masinga vivenciou algo raro na África do Sul do apartheid. Sua mãe, Selina, era dona de um posto de gasolina e a sua família pertencia à classe média burguesa de Klerksdorp, a pouco menos de 200 km de Joanesburgo. Foi numa das capitais do país que o jovem Masinga ingressou no futebol: começou no Kaizer Chiefs, equipe de Soweto, distrito da metrópole. Moldou-se lá e, em 1990, foi integrado ao elenco profissional do Jomo Cosmos. Não demorou muito para que o jovem atleta, à época com 21 anos, se transferisse para o Mamelodi Sundowns.

Em julho de 1992, o atacante recebeu sua primeira convocação para a seleção sul-africana. Os Bafana Bafana enfrentariam Camarões. Seria o primeiro jogo da África do Sul após o fim do apartheid e a readmissão do país ao futebol internacional. Ele jogou aquela partida, porém, semanas depois, entraria para a história como o primeiro sul-africano a ser expulso em uma partida oficial.

Depois de quase três anos no Sundowns, Masinga despertou o interesse do Leeds United, arrumou as malas e partiu em direção à Inglaterra. O então empresário do atacante, Marcelo Houseman, fez um acordo com o dirigente Howard Wilkinson, do Leeds, para que o também sul-africano Lucas Radebe assinasse com o clube. Assim, Radebe deixou o Kaizer Chiefs – time formador de Masinga – e se juntou ao seu compatriota em uma das grandes agremiações inglesas da década de 1990.

Se o zagueiro Radebe nunca mais trocou de clube e ficou 11 anos nos Whites, até se aposentar, Masinga permaneceu apenas duas temporadas no Leeds. Entrou em campo 31 vezes (a maioria delas a partir do banco de reservas) e marcou somente cinco gols. Seu maior momento pelo Leeds ocorreu em janeiro de 1995: anotou uma tripletta contra o Walsall, em casa, ajudando sua equipe a vencer o jogo, válido pela FA Cup, por 5 a 2.

Phil ficou quatro anos no Bari e se tornou peça importante do time (LaPresse)

A aventura na Inglaterra chegou ao fim em 1996, já que o atacante aceitou se transferir ao St. Gallen, da Suíça. No entanto, o jogador não se adaptou ao futebol helvético, entrou em campo somente dez vezes e não balançou as redes. Depois de uma temporada fraca pelo clube mais velho do país alpino, Phil viajou até a Itália no inverno de 1997 e formalizou a assinatura de seu contrato com a Salernitana. Um pouco antes disso, Masinga fez parte do grupo que ganhou a Copa Africana de Nações. A seleção sul-africana derrotou a Tunísia por 2 a 0 na decisão.

É bem verdade que os números de Masinga pela equipe granata foram, aparentemente, pouco expressivos: 16 jogos e quatro tentos. No entanto, o camisa 27 foi essencial para a permanência do time na Serie B. Isso porque o último dos gols que ele marcou rendeu à Salernitana a escapatória da terceirona: na antepenúltima rodada, aos 88 minutos, decretou a vitória contra o Castel di Sangro. Com o clube de Salerno salvo do rebaixamento, Phil foi adquirido pelo Bari, promovido à elite. Seria seu primeiro desafio na Serie A.

No clube apuliano, a carreira de Phil finalmente deslanchou – pouco depois de ele completar 28 anos. Em sua primeira temporada pelos biancorossi, o africano superou os nórdicos Marcus Allbäck e Thomas Doll, que tinham mais cartaz, e foi titular absoluto do time de Eugenio Fascetti. Com o auxílio de outro jogador do norte – o meia sueco Klas Ingesson, capitão da equipe – Masinga marcou nove gols, incluindo os das vitórias sobre a Internazionale, no San Siro (1 a o) e no San Nicola (2 a 1).

Neste segundo jogo, válido pela penúltima rodada, a Inter vencia até os 86, quando Nicola Ventola empatou. Três minutos depois, Phil virou o placar e decretou oficialmente: os nerazzurri não poderiam mais alcançar a Juventus e ficariam apenas com o vice-campeonato. A Inter foi o time que mais sofreu nas mãos (ou nos pés) do matador. Ao todo, Masinga estufou as redes da Beneamata quatro vezes, ajudando o Bari a conquistar uma incrível sequência de três vitórias seguidas sobre a gigante de Milão.

Se as coisas estavam caminhando bem no novo clube, na seleção da África do Sul ficaria ainda melhor. É que, em 1997, o atacante marcou o gol decisivo contra a República do Congo, que colocou seu país pela primeira vez numa Copa do Mundo, a de 1998. No mesmo ano em que teve a experiência de disputar o Mundial e enfrentar a França de Zinédine Zidane e a Dinamarca de Michael Laudrup, Phil quase soltou o grito de campeão pela segunda vez defendendo as cores da África do Sul. Os Bafana Bafana perderam do Egito, por 2 a 0, na final da Copa Africana de Nações.

Tanto Masinga quanto Ingesson, ícones do Bari em 1997-98, foram vítimas precoces do câncer (Ansa)

A temporada 1998-99 foi a melhor de Masinga em solo italiano. Habituado ao país, o sul-africano marcou 11 vezes na Serie A. Por causa de sua potência física, Phil conseguia render em alto nível durante os 90 minutos e costumava marcar gols “tardios”: boa parte de seus tentos ocorria na reta final dos jogos e acabava decidindo os resultados. Foi assim nos empates contra Parma (76′), Roma (77′) e na vitória sobre a Inter (73′ e 88′). Os galletti de Fascetti novamente surpreendiam e encerravam o campeonato na 10ª posição.

No decorrer da temporada 1999-2000, Masinga sofreu uma grave lesão, que o fez perder vários jogos. Por isso, anotou apenas um gol naquela época. Além disso, a ascensão de um jovem e explosivo Antonio Cassano lhe tirou espaço no time titular. Fantantonio, inclusive, já havia sido “elogiado” pelo sul-africano numa entrevista ao jornalista italiano Filippo Ricci, em 1998.

A visível queda de rendimento e o estouro de Cassano fizeram com que Masinga começasse apenas 17 partidas como titular em seu biênio final na Apúlia. O rebaixamento do Bari para a segunda divisão, em 2001, acompanhado de um grande rombo nas contas do clube, acabou encerrando o ciclo de Masinga no “calcanhar” da Bota.

Assim, o atacante deixou a Itália e negociou o retorno para a Inglaterra, mas teve o visto de trabalho negado e não reforçou o Coventry City. Dessa forma, topou o desafio de atuar nos Emirados Árabes Unidos. Marcou muitos gols na liga local, mas optou por não alongar sua estadia em Abu Dhabi. Encerrou seu vínculo com a agremiação e pendurou as chuteiras em 2002, aos 33 anos.

Aposentado, Phil decidiu estudar para voltar ao futebol em outra função: treinador. Em 2006, conseguiu emprego no PJ Stars, um clube sul-africano que militava na terceira divisão, mas sua passagem pelo time não passou daquele ano. O PJ Stars nem existe mais – foi extinto. A carreira como técnico não teve êxito, mas o legado que Masinga deixou fica para a eternidade: até hoje, é um dos cinco únicos jogadores que participaram de uma Copa do Mundo enquanto atletas do Bari, e também é o quinto maior goleador da seleção da África do Sul.

Philemon Raul Masinga
Nascimento: 28 de junho de 1969, em Klerksdorp, África do Sul
Falecimento: 13 de janeiro de 2019, em Joanesburgo, África do Sul
Posição: atacante
Clubes como jogador: Jomo Cosmos (1990-91), Mamelodi Sundowns (1991-94), Leeds United (1994-96), St. Gallen (1996-97), Salernitana (1997), Bari (1997-2001) e Al-Wahda (2001-02)
Clubes como treinador: PJ Stars (2006)
Títulos: Premier Soccer League (1993), Copa Africana de Nações (1996) e Supercopa dos Emirados Árabes Unidos (2001)
Seleção sul-africana: 58 jogos e 18 gols

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