Depois de algumas semanas de apreensão, o torcedor violeta começa a criar boas expectativas para a temporada 2019-20. A Fiorentina, agora sob a gestão do magnata ítalo-americano Rocco Commisso, agitou a janela de transferências com a contratação de Franck Ribéry. O astro francês, de 36 anos, é a cereja do bolo de um mercado que demorou a engrenar, mas agora chama muita atenção.
Apesar da fraca temporada passada no Bayern de Munique, Ribéry chega para ser a principal estrela da Viola. No 4-3-3 de Vincenzo Montella, será o homem responsável por fazer a ponta esquerda, como em seus anos na Baviera. Ora puxando para dentro buscando a finalização, ora partindo em direção à linha de fundo para servir seus novos companheiros. O atleta assinou contrato de dois anos, com salário de 4 milhões de euros por campanha.
“Eu estou feliz, eu estou com a minha família”, comemorou Ribéry, ao site do jornalista Gianluca Di Marzio, já arranhando o italiano. “Eu falei há uma semana com a Fiorentina, também com [Luca] Toni, e ele me disse que a Fiorentina é um grande clube e que a cidade é bonita. Estou feliz porque eu gosto, até mesmo da língua. Não é perfeita [a forma como me expresso], mas tudo bem assim”, acrescentou.
O aval da família e as dicas de Toni – seu ex-colega de Bayern – influenciaram na ida de Ribéry a Florença. À Fiorentina, a nova “Lei Beckham” foi uma aliada. Com esse decreto-lei, os clubes passam a pagar muito menos impostos em contratações de jogadores que moraram ao menos dois anos em outro país e aceitaram permanecer dois anos seguidos na Itália. Entretanto, o ponta certamente não aceitaria a negociação caso não confiasse no projeto de Commisso.
Dono do New York Cosmos e da Mediacom, empresa do ramo de telecomunicações, o magnata “tirou” a Viola das mãos da família Della Valle, que estava com o filme queimado após 17 anos à frente da agremiação. Segundo a imprensa italiana, os valores da compra giram em torno de 160 a 170 milhões de euros. Os irmãos Andrea e Diego sabiam do poderio de Commisso quando aceitaram vender, depois de três anos de insistência, a Fiorentina ao ítalo-americano.
“Entre as várias ofertas recebidas, nós privilegiamos não a economicamente mais vantajosa para nós, mas a que acreditamos dar as maiores garantias de um sólido e apaixonado futuro para o clube Viola, considerando o conhecimento e e competência que Rocco Commisso já tem no mundo do futebol”, declararam os irmãos, em 6 de junho passado, dia oficial da passagem de bastão.
No entanto, os primeiros dois meses de Commisso como presidente da Fiorentina não foram tão animadores para a torcida. Primeiro, o atacante Luis Muriel deixou o time e acertou com a Atalanta. Depois, foi a vez do meio-campista Jordan Veretout deixar a equipe florentina e rumar à Roma. Esses dois jogadores foram destaques da Viola na deprimente temporada passada, na qual o clube chegou a flertar com o rebaixamento no segundo turno da Serie A.
Soma-se a isso as saídas de Alban Lafont, Vitor Hugo, Edimilson Fernandes, Gerson, Marko Pjaca, Kevin Mirallas. Muitos atletas dessa barca não corresponderam às expectativas na Fiorentina, mas as poucas contratações realizadas pela nova diretoria deixavam o torcedor apreensivo. Os rumores de que o capitão e xodó dos gigliati, Federico Chiesa, poderia ser mais um a partir também não ajudavam.
As duas derrotas no torneio de pré-temporada International Champions Cup – para Arsenal (3 a 0) e Benfica (2 a 1) –, com um time totalmente desfigurado, ligaram o sinal vermelho para a cúpula encabeçada por Commisso. O magnata, todavia, entrou em ação e efetuou compras interessantes para o plantel de Montella.
Entre as contratações mais interessantes estão o goleiro Bartlomiej Dragowski (reaproveitado após empréstimo ao Empoli), o lateral-direito Pol Lirola (Sassuolo), os meio-campistas Milan Badelj (Lazio) e Erick Pulgar (Bologna), e o meia-atacante Kevin-Prince Boateng (que esteve no Barcelona, emprestado pelo Sassuolo) – além, claro, de Ribéry. Em tese, todos esses reforços chegam à Fiorentina para ser titulares.
Apesar do rebaixamento do Empoli, Dragowski foi um dos destaques na equipe toscana no segundo turno da última Serie A. Não é por acaso que ganhou notas altíssimas do SofaScore, site de estatísticas de futebol, pelas atuações contra Atalanta (nota 10), Fiorentina (nota 9,8) e Inter (nota 8,9). A defesa também ganha o incremento de Lirola, lateral-direito que chamou atenção quando apoiava o ataque do Sassuolo na temporada passada. Marcou dois tentos e serviu seis passes para gol na Serie A.
A presença de Lirola no time titular fará o sérvio Nikola Milenkovic atuar na zaga, sua posição de origem, ao lado do argentino Germán Pezzella. Na temporada passada, Milenkovic foi improvisado várias vezes como lateral-direito, e mostrou qualidades interessantes também nesta função. O bom lateral-esquerdo Cristiano Biraghi fecha a linha de defesa, mas ainda pode sair, com destino à Inter – numa troca por Dalbert, que atua na mesma faixa do campo.
A meiuca da Fiorentina para esta temporada tem muito mais qualidade em relação ao ano anterior. Embora tenha perdido o dinâmico Veretout, a volta de Badelj e a excelente contratação de Pulgar compensam a saída do francês. Ao que tudo indica, Badelj será o regista, atuando no vértice baixo do tripé no meio. Pulgar e Marco Benassi, por sua vez, tendem a ser os dois meio-campistas que irão de uma área à outra.
Por fim, o ataque conta com as certezas de Chiesa pela direita e de Ribéry do outro lado. Com eles em campo, a tendência é vermos uma Fiorentina vertical, que busca passes para frente a fim de explorar a corrida dos dois. A última vaga do ataque será disputada entre o experiente Boateng, que ninguém sabe como foi parar no Barcelona no primeiro semestre deste ano, e o jovem Giovanni Simeone. Ambos têm características distintas: o ganês é mais um falso 9, enquanto Gio é um centroavante de área. Alternativas interessantes para Montella.
Em suma, o torcedor da Fiorentina, que antes estava aflito, agora vislumbra uma temporada com perspectivas até de vaga na Liga Europa. Evidentemente, é preciso manter os pés no chão. Afinal, a concorrência é árdua: Atalanta, Lazio, Roma, Sampdoria, Torino e até mesmo o Milan. E, antes de tudo, este time precisa sair do papel e funcionar na prática. De todo modo, as contratações recentes, sobretudo a de Ribéry, mostram como Commisso está comprometido em fazer a Viola competir por objetivos importantes.