Passam os anos e o sonho de muitos garotos no Brasil continua sendo o de ser jogador de futebol e um dia defender uma grande equipe no cenário nacional e mundial. Talvez isso tenha diminuído ultimamente, mas não faltam relatos de atletas que lutaram desde pequenos para alcançar essa meta. Rodrigo Nascimento França talvez seja um nome desconhecido por você, mas dos campos de várzea na Bahia surgiram o atual zagueiro da Udinese e o seu apelido: Rodrigo Becão. O defensor conversou com exclusividade com a Calciopédia.
Becão é cria da base do Bahia, deixou o clube na temporada passada e desde então segue em constante evolução no futebol europeu. Após boas atuações no CSKA Moscou, o baiano de 23 anos aceitou proposta da Udinese e disputa sua primeira temporada na Itália. A fase da equipe não é boa, mas o brasileiro sonha com a possibilidade de gravar seu nome na história do clube e ingressar no panteão que tem Zico, Edinho, Amoroso, Allan, Danilo e outros.
Como o futebol surgiu na sua vida, Becão?
O futebol surgiu na minha vida quando eu era criança e ia para os campos de várzea [na Bahia] ver meu pai jogar. Aquilo me motivou e comecei a despertar o interesse de jogar futebol também. Daí para frente foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida.
Qual a história por trás do seu apelido “Becão”?
O apelido Becão vem da base do Bahia. Um ex-treinador, Paulo Sales, me apelidou desta forma porque no Brasil os zagueiros são conhecidos como beque central. Eu, por ser o mais alto de time, acabei sendo chamado de Becão.
Você utiliza a camisa 50. Existe algum motivo pela escolha do número?
Passei a utilizar a camisa 50 aqui na Europa. O único motivo de eu manter na Udinese é que consegui fazer uma boa temporada com essa numeração no ano passado [pelo CSKA]. Agora estou apenas dando continuidade.
Na temporada passada, você viveu momentos bem diferentes na Champions League. O CSKA Moscou bateu o Real Madrid duas vezes, mas acabou eliminado na fase de grupos. Como foi esse misto de alegria, por vencer o Real Madrid duas vezes, e de tristeza, por acabar eliminado?
Foi uma sensação incrível poder jogar a Champions League. Foi como um sonho de criança sendo realizado. Nunca esperava poder jogar esse torneio que sempre acompanhei. Ainda tive a oportunidade de jogar contra o Real Madrid e vencemos duas vezes. Foi realmente incrível. Infelizmente não conseguimos a classificação, mas fica de bagagem e de lição. Apesar de tudo, acredito que fizemos um bom trabalho. Espero poder voltar a jogar a Champions de novo algum dia.
O que te atraiu no projeto da Udinese? Você chegou a pesquisar a história do clube antes de assinar contrato?
Dei uma pesquisada sim, mas já conhecia por acompanhar o futebol italiano. O que me atraiu foi a oportunidade de jogar em um grande clube da Itália e disputar essa liga. Não tem nem o que falar sobre sua história. Grandes clubes e grandes jogadores.
Para mim, que sou zagueiro, jogar na Itália é muito bom para meu crescimento. Todo mundo sabe que o futebol por aqui é muito tático. Um zagueiro aprende muito mais [na Itália] do que em qualquer outro país. Espero aproveitar o máximo minha passagem, quero fazer história nesse clube.
Como está sua adaptação na Itália, à língua italiana e à cidade de Udine? Já procurou conhecer um pouco a cultura friulana e visitou lugares por aí?
Minha adaptação aqui está sendo muito boa e rápida. Diferentemente do idioma russo, o italiano é muito mais fácil. Algumas palavras chegam a ser utilizadas também no idioma português e isso facilita. Údine é uma cidade linda, porém, pequena. Mas qualquer um que vem aqui se encanta com os restaurantes, bares e o seu famoso centro histórico. Vale a pena!
O Samir é um dos líderes da Udinese e recentemente foi convocado para a seleção brasileira. A história dele em Údine te inspira?
O Samir é um cara fantástico como profissional e mais ainda como pessoa. Só quem conhece ele sabe do que estou falando. Ele construiu a história dele aqui na Udinese com os próprios méritos, com isso veio a convocação também. É merecedor de tudo isso e, sem dúvidas, procuro trabalhar por esse mesmo caminho para alcançar meu objetivos.
Assim como o Samir, você também espera ser observado pelo técnico Tite? É um sonho defender o Brasil para você?
Com certeza. Estou em uma ótima liga, de muita visibilidade no cenário do futebol. Então acredito que o caminho é trabalhar bastante, que uma hora a oportunidade vai surgir. Tenho esse sonho. Nasci no país do futebol, então é meio que o objetivo de toda criança jogar uma Copa do Mundo pela seleção brasileira. Mas no momento eu só penso no meu trabalho na Udinese. Queremos chegar longe nessa temporada.
Você, Samir, Lyanco, Léo Duarte, Lucas Veríssimo, Ibãnez e Luiz Felipe são alguns exemplos de jogadores para o futuro. Alguns já são realidade na Seleção. Como você avalia a nova geração de zagueiros brasileiros?
Historicamente, a seleção brasileira sempre produziu grandes zagueiros. Juan, Lúcio, Júnior Baiano e Thiago Silva. Essa geração tem tudo para ser um sucesso também.
Logo no seu segundo jogo pela Udinese, você anotou o gol da vitória sobre o Milan. O que passou na sua cabeça naquele momento? Imaginava já chegar como titular?
No momento eu só pude sentir felicidade por poder ajudar efetivamente a minha equipe em uma partida contra um grande clube. Como zagueiro, sempre espero impedir que um gol aconteça, mas tenho também como característica brigar por cima no cabeceio e um bom tempo de bola. Já fiz alguns gols assim na minha carreira, inclusive no CSKA. Marcar um gol é sempre muito bom. Espero poder ajudar sempre tanto na defesa como no ataque.
Historicamente, Údine é um lar para brasileiros. Zico é idolatrado até hoje, zagueiros como Edinho e Danilo tiveram boas passagens. Esse legado de brasileiros serve de motivação para você?
Com certeza. Só de saber que atletas como Zico, Amoroso e outros grandes jogadores do futebol brasileiro vestiram essa camisa, viveram nesta cidade, utilizaram a estrutura do clube, que uso hoje, e que jogaram no mesmo estádio que jogo é algo muito gratificante. Isso só me motiva ainda mais para, quem sabe um dia, ser ídolo como esses caras foram.
Quais são suas metas para a temporada?
Só espero conquistar meu espaço aqui dentro da Udinese e jogar bem. Ajudar meu time tanto no ataque como na defesa. Meu objetivo é trazer grandes conquistas para o torcedor da Udinese e para a diretoria, que confiou no meu trabalho e me trouxe aqui para realizar mais um sonho.