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Giovanni Viola foi considerado como um dos melhores goleiros italianos no pós-guerra

Turim é uma das cidades mais antigas da Itália e foi a primeira capital do reino italiano, desde os movimentos iniciais da unificação do país, de 1861 a 1865. Centro industrial do norte do país e sede do governo do Piemonte, a metrópole sempre atraiu novos moradores, muitos dos quais optam por viver nela para sempre. Tal qual Giovanni Viola, goleiro titular da Juventus na maior parte da década de 1950.

Viola nasceu em 1926, em San Benigno Canavese, cidadezinha do entorno de Turim. Ele cresceu num momento histórico tenso na Europa, que vivia o período entreguerras, e na Itália, que estava sob a égide do fascismo. Quando garoto, viu de perto a II Guerra Mundial e só depois do fim do conflito é que ele pode realizar o sonho de defender a Juventus.

Apesar de ter somente 1,79m, Viola ingressou nas categorias de base do clube como goleiro. Sua estreia ocorreu em 1946, com um clean sheet na vitória por 2 a 0 sobre a Atalanta. Porém, a Juventus acreditava que ele precisava de mais experiência e, como Lucidio Sentimenti era o titular absoluto, resolveu emprestar o garoto por três anos seguidos – sempre para times diferentes.

Em meados dos anos 1950, Viola posa ao lado de Umberto Agnelli, dono da Juventus (LaPresse)

O giro de Viola pela Itália começou na Carrarese, onde jogou 33 partidas pela Serie B. Após contribuir para a permanência dos marmiferi na categoria, o goleiro passou o ano seguinte novamente na segunda divisão, mas dessa vez no plantel do Como. Giovanni fez a mesma quantidade de partidas pelos lariani, mas colaborou para uma campanha ainda melhor: a equipe lombarda foi terceira colocada no seu grupo e ficou a apenas quatro pontos do acesso. Para finalizar seu ciclo de empréstimos, o goleiro passou a um time da primeira divisão: a Lucchese. Em crescimento, Viola foi um dos destaques do time treinado por Gipo Viani, que terminou a Serie A na oitava colocação – a sua segunda melhor dos rossoneri na história.

Em 1949, aos 23 anos, finalmente recebeu a árdua missão de substituir Sentimenti, camisa 1 da Juventus por oito anos. Ao contrário da maior parte dos arqueiros da época, Viola tinha um estilo sóbrio, discreto e até almofadinha, com cabelos sempre bem penteados e besuntados de pomada. O garoto caiu nas graças do técnico Jesse Carver e foi um dos pilares de um time forte, que ainda tinha Pietro Rava, Giacomo Mari, Carlo Parola, Rinaldo Martino, Karl Aage Praest, John Hansen e Giampiero Boniperti. Giovanni ajudou a Velha Senhora a ter a defesa menos vazada do campeonato, com 43 gols sofridos – sete deles num único jogo, contra o Milan –, e foi preponderante para conquista de um scudetto que não vinha desde 1935, nos tempos do Quinquennio d’Oro.

Devido à boa primeira temporada como titular, Viola recebeu chances na seleção B da Itália, destinada à maturação de jogadores mais jovens. Com o passar dos anos e sua consolidação na Juventus, a tomada do posto de camisa 1 da Nazionale foi natural. Antes disso, porém, a Juve participou da Copa Rio – antecessora do Mundial Interclubes – e foi vice-campeã na edição de 1951, perdendo a decisão para o Palmeiras. Na turnê, o pacífico Giovanni ganhou destaque internacional, mas também acabou passando uma noite na cadeia juntamente com o atacante Ermes Muccinelli, após se engalfinhar com um policial.

O entrevero no Brasil não afetou a continuidade de Viola na Juventus. O goleiro – considerado muito consistente, ágil e atlético – foi campeão italiano novamente, em 1952, e vice nos dois anos sucessivos. Seu bom momento lhe rendeu, também, a convocação para a Copa do Mundo de 1954, mesmo que a concorrência fosse grande. O juventino deixou Ottavio Bugatti, do Napoli, fora da competição e disputou a titularidade com Giorgio Ghezzi (Inter) e Leonardo Costagliola (Fiorentina).

Viola foi um dos destaques de uma equipe que tinha Boniperti como o seu maior craque (Arquivo/Juventus FC)

A Itália caiu no Grupo 4, com Inglaterra, Suíça e Bélgica. No formato da época, a vitória ainda valia 2 pontos e uma seleção enfrentava apenas duas das adversárias da chave. O técnico da Squadra Azzurra, Lajos Czeizler, escolheu Ghezzi como seu titular na competição e viu os italianos perderem para os suíços, anfitriões, e ganharem dos belgas – ficando empatados em todos os critérios de desempate com a Suíça. Na partida extra contra os helvéticos, que valeria a vaga nas quartas de final, o treinador húngaro decidiu dar uma chance a Viola, que estrearia pela Nazionale. O debute não foi dos melhores: derrota por 4 a 1 e eliminação.

Após a Copa do Mundo, Viola se tornou o titular da Itália e ocupou a posição por dois anos, período em que teve atuações monumentais em amistosos contra Argentina, França e Brasil. A última de suas 11 aparições pela Nazionale foi justamente numa derrota por 2 a 0 contra o escrete canarinho, em pleno Maracanã, em 1956.

Na Juventus, o arqueiro não viveu grandes momentos entre 1954 e 1957, período em que a equipe bianconera não passou do meio da tabela e correu até um moderado risco de rebaixamento. Caminhando para o final de sua carreira, Viola acabou perdendo sua posição no onze inicial em 1957-58, por uma decisão da diretoria.

Para renovar o elenco, o presidente Umberto Agnelli inovou e escolheu o iugoslavo Ljubisa Brocic como novo treinador e o comandante promoveu o garoto Carlo Mattrel ao posto de número 1. Mesmo assim, Giovanni entrou em campo no fim da temporada e conseguiu dar sua contribuição para mais um título: justamente o décimo scudetto juventino, que deu à gigante o direito de colocar a primeira estrela em seu uniforme.

Goleiro arrojado, Giovanni Viola marcou seu nome na história da equipe bianconera (LaPresse)

Sem espaço em Turim, o veterano decidiu se transferir para o Brescia, então na segunda divisão. Viola fez somente 27 partidas e, após deixar o time biancoazzurro no meio da tabela da Serie B, decidiu se aposentar, aos 33 anos. Nas palavras do lendário Dino Zoff, Viola foi um dos melhores goleiros do futebol italiano no pós-guerra. Com 242 partidas pela Juve na Serie A, Giovanni só teve número menor de presenças pela Velha Senhora na competição do que quatro arqueiros: o próprio Zoff, Gianluigi Buffon, Stefano Tacconi e Gianpiero Combi.

Depois de pendurar as luvas, o piemontês se aventurou como treinador e teve a primeira oportunidade no minúsculo Pinerolo, time da região de Turim que disputava a Serie D. Viola adquiriu experiência na equipe Primavera da Juventus e, após treinar os garotos do sub-19, passou por clubes semiprofissionais de norte a sul da Itália, como Barletta, Vigevano e Aosta: neste último, conseguiu o título do seu grupo regional na quinta divisão.

No início da década de 1970, após não deslanchar como treinador, Viola resolveu se aposentar e viver o resto da sua vida em Turim, cidade que tanto amava. E lá permaneceu até julho de 2008, quando faleceu aos 82 anos.

Giovanni Viola
Nascimento: 20 de junho de 1926, em San Benigno Canavese, Itália
Morte: 7 de julho de 2008, em Turim, Itália
Clubes como jogador: Juventus (1945-46 e 1949-58), Carrarese (1946-47), Como (1947-48), Lucchese (1948-49) e Brescia (1958-59)
Títulos como jogador: Serie A (1950, 1952 e 1958)
Clubes como treinador: Pinerolo (1965-66), Juventus (Primavera; 1966-68), Aosta (1968-69), Barletta (1969-70) e Vigevano (1970-71)
Títulos como treinador: Promozione Piemonte-Vale de Aosta (1969)
Seleção italiana: 11 jogos

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