Após oito anos turbulentos, chegou ao fim a gestão James Pallotta na Roma. O empresário ítalo-americano passou o bastão do clube para o Friedkin Group, do compatriota bilionário Dan Friedkin, nessa quinta-feira, 6 de julho. Segundo comunicado no site da agremiação, o valor da negociação gira em torno de aproximadamente 591 milhões de euros, e a transação deverá ser finalizada até o fim de agosto.
Ao que tudo indica, o presidente será o “jovem” Ryan Friedkin, de 30 anos, um dos quatro filhos de Dan. “No último mês, Dan e Ryan Friedkin demonstraram seu total compromisso em finalizar este acordo e levar o clube adiante de forma positiva”, afirmou Pallotta, ao site da Roma. “Tenho certeza de que eles serão grandes futuros proprietários para a AS Roma”, completou.
A gestão de Pallotta na Roma foi marcada por mais baixos do que altos. Quando assumiu o cargo de presidente do clube, em agosto de 2012, criou-se uma grande expectativa da torcida para os próximos anos. O próprio Pallotta alimentou o sonho dos torcedores. “A Roma é uma princesa, nós queremos transformá-la em uma rainha. Queremos vencer rapidamente o scudetto”, bradou.
No entanto, nada disso ocorreu. Não é à toa que o jornal Il Fatto Quotidiano descreve Pallotta como “o homem da grande ilusão giallorossa”, enquanto o Corriere dello Sport avalia a saída do empresário como Natal para a Roma. Nas mãos do ítalo-americano, o clube giallorosso passou longe de ser uma rainha.
É verdade que Jim Pallotta viu a Roma do treinador Rudi Garcia ser vice-campeã da Serie A duas vezes consecutivas (2013-14 e 2014-15). Também viveu uma noite mágica no Olímpico, em 2018, ao vencer o Barcelona por 3 a 0 – depois de perder o jogo de ida por 4 a 1 no Camp Nou – e avançar à semifinal da Liga dos Campeões. Mas foi só.
O primeiro episódio negativo foi a derrota para a arquirrival Lazio na final da Coppa Italia de 2013. O gol solitário de Senad Lulic condenou os romanistas ao purgatório. Nos anos seguintes vieram as humilhantes goleadas para Bayern de Munique (7 a 1, em 2014), Barcelona (6 a 1, em 2015) e, surpreendentemente, Fiorentina (7 a 1, em 2019).
As vendas de jogadores importantes e/ou promissores fez a administração de Pallotta perder credibilidade. Para citar alguns: Miralem Pjanic, Medhi Benatia, Alisson, Leandro Paredes, Mohamed Salah, Emerson Palmieri, Kostas Manolas, Erik Lamela, Alessio Romagnoli, Antonio Rüdiger, Marquinhos, Luca Pellegrini, Kevin Strootman, Radja Nainggolan…
Aliás, Strootman e Nainggolan, jogadores que tinham muita identificação com a torcida, deixaram a Loba contra a sua vontade. Tudo isso no intuito de gerar lucro – a famosa plusvalenza, no jargão utilizado pelos italianos para se referir aos ganhos das agremiações com vendas. O projeto do famoso diretor esportivo Monchi naufragou na Cidade Eterna justamente por isso: se desfez de um elenco semifinalista da Liga dos Campões e trouxe jogadores que não deram certo, o que culminou na sua saída do clube e na demissão de Eusebio Di Francesco.
Ainda rolou os entreveros com Francesco Totti e Daniele De Rossi, duas bandeiras romanistas que deveriam ter recebido mais considerações por parte do empresário. Pallotta, inclusive, sequer apareceu na despedida do volante giallorosso; preferiu permanecer nos Estados Unidos. Cabe salientar que as viagens do ítalo-americano à Cidade Eterna eram limitadas – cerca de uma por trimestre – e ele não parla italiano.
Outro ponto que levou à derrocada da gestão de Pallotta foi a estagnação do futuro estádio próprio da Roma. Em 2011, o ítalo-americano e o empresário Luca Parnasi assinaram um contrato, em Miami, para a construção de uma nova arena para a equipe giallorossa. A expectativa inicial era de que o estádio ficasse pronto em 2021. Oito anos depois, porém, o projeto ainda não saiu do papel – a pandemia do novo coronavírus adiou ainda mais a construção da nova casa romanista.
Em síntese, o torcedor romanista comemora a saída de Jim Pallotta após anos de raiva e, agora, aspira por dias melhores sob uma nova gestão. Dan Friedkin tem potencial para elevar o potencial da Roma. De acordo com a revista Forbes, ele é o 590º homem mais rico do mundo, e sua fortuna está avaliada em 4,2 bilhões de dólares. Seu filho Ryan deverá ser o mandachuva no clube, a exemplo do atual presidente da Inter, Steven Zhang, filho do empresário Jindong Zhang, presidente da Suning.
Os novos proprietários da Roma sonham alto. Segundo a Gazzetta dello Sport, eles querem Fabio Paratici, dirigente e homem forte nas contratações da Juventus, para fazer parte da nova diretoria – Daniele Pradè, cartola da Fiorentina, e Nicolás Burdisso, ex-zagueiro e hoje diretor esportivo do Boca Juniors, também são hipóteses. Especulações que só serão confirmadas ou descartadas ao fim de agosto. Enquanto isso, os romanistas torcem para a família Friedkin fazer a Roma ser competitiva novamente e brigar por títulos.