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Serie B: previsível em ser imprevisível

Carpi, de Mbakogu, e Frosinone, de Curiale, dominam Serie B (Getty Images/Sky Italia)

Na Serie A, Juventus e Roma dominam, genoveses incomodam napolitanos, romanos, milaneses e florentinos e outros se infiltram na parte alta da tabela – como Sassuolo, Udinese, Verona e Palermo. Já na Serie B o roteiro é bem definido: quem prometia decepciona, de quem não se esperava muito surpreende, quem começa bem eventualmente cai e quem começa mal eventualmente sobe. A segunda divisão italiana é sempre assim: previsível em ser imprevisível.

Ou alguém desconfiava que os dois primeiros colocados após mais de um terço de campeonato seriam Carpi e Frosinone? Ou que os bem montados  Catania e Bari flertariam com a zona de rebaixamento e estariam na mediocridade da metade de baixo da tabela? Ou que Latina e Crotone, que estiveram nos play-offs para o acesso em 2013-14, seriam os últimos colocados? Ou ainda que Trapani e Perugia cairiam de rendimento e que Livorno e Bologna se recuperariam em pouco tempo?

Esse é o contexto da Serie B em plena 16ª rodada. O modestíssimo time de Carpi, do norte da Emília-Romanha, que estreou na forma moderna da Serie B apenas na última temporada, soma 30 pontos em 16 partidas, com 8 vitórias, 6 empates, 2 derrotas e o melhor ataque (30 gols). O também modesto Frosinone, do interior do Lácio, estreante na Serie B em 2006-07 e recém promovido da antiga Lega Pro Prima Divisione, após bater o Lecce no play-off, tem campanha quase igual. Os gialloblù estão logo atrás, com um empate a menos e uma derrota a menos, além da segunda defesa menos vazada (13 gols, um a menos que o Modena, com uma partida a menos).

O que eles têm em comum? A fórmula de sempre: combinação de juventude, experiência e jogadores no auge da forma física. No Carpi, o goleiro Gabriel, aquele mesmo do Milan, os zagueiros Romagnoli, titular no Pescara 2012-13 e Foggia 2010-11 de Zeman, e Suagher, da Atalanta, os meio-campistas Lollo e Bianco, descartados por Fiorentina e Juventus, ao lado do veterano Porcari, ex-Novara, o ponta Concas, desconhecido nascido em Gênova, e o destaque Mbakogu, jogador mais gols e assistências somados no campeonato, ex-Palermo e Padova.

No Frosinone, os destaque são Ciofani, ex-Pescara e Parma, e Dionisi, ex-Livorno, artilheiros do time que tem um sistema defensivo sólido, com o experiente lateral-direito Zanon, ex-Pescara, o também desconhecido zagueiro Blanchard, ex-Siena, o lateral-esquerdo Crivello, ex-Juventus, o volante austríaco Gucher e os meias Gori, da base, e Musacci, do Parma, além do goleiro Pigliacelli, crescido na base de Lazio e Roma e ex-Parma.

Um parêntese para a história curiosa de dois jogadores e destaques do time: o atacante Curiale, ex-Grosseto, com 8 gols no campeonato, da base do Palermo e com passagens por pequenos clubes alemães, nasceu em Colônia e é filho de imigrantes alemães na Sicília. Já o goleiro Zappino, ou Massimo Zenildo Zappino, é pernambucano de Pesqueira e aos 9 anos foi adotado por médicos sicilianos de Siracusa. Da base do Catania, defendeu o time do Lácio entre 2004 e 2007 e voltou em 2012. Em 9 partidas, sofreu 4 gols e em 6 não foi vazado.

E se Carpi e Frosinone são líderes do campeonato desde a 9ª rodada, tem algo muito errado nisso. Os modestos times, com elenco, orçamento, estrutura e cancha de Serie C, têm pouco mais de 60% de aproveitamento e 8 vitórias em 16 jogos. Desempenho surpreendente para o nível deles, mas ruim se levar em conta que são os primeiros na tabela. Mas e por que isso? Sem dúvidas, o baixo nível técnico e financeiro das equipes nesta Serie B, e também o rendimento ruim dos favoritos.

Os melhores, até agora, são Bologna e Livorno, respectivamente terceiro e quarto colocados, e recém-rebaixados da elite. Irregulares, com derrotas durante boas sequências, em breve deverão assumir os primeiros postos e muito provavelmente estarão de volta pra Serie A, mas não deixam de decepcionar.

Entre os destaques do time emiliano estão os veteranos Cacia, Matuzalém, Maietta, Morleo, Ceccarelli e Coppola, velhos conhecidos de times da primeira divisão. Mas também há jovens mostrando algo nas bandas do Dall’Ara: Laribi, emprestado pelo Sassuolo, é o vice-artilheiro, Daniel Bessa, destaque da Inter Primavera de Stramaccioni, depois de muitas lesões tem conquistado espaço com Diego López, mas numa função diferente de quando surgiu (trequartista): é o regista do 4-3-1-2 rossoblù.

No Livorno, agora comandado por Carmine Gautieri, os destaques ofensivos são jogadores que só costumam ir bem na Serie B: Vantaggiato, Cutolo e Siligardi. Na defesa, que tem vacilado nos últimos jogos, os de sempre: o goleiro Mazzoni, os zagueiros Ceccherini, Bernardini, Emerson e os laterais Gemiti e Lambrughi. No meio-campo, há os jovens Moscati e Djokovic, além de Biagianti. O futebol é burocrático e não tão atrativo quanto o de Nicola doi anos atrás.

E Trapani e Perugia? Apesar do orçamento não tão alto, eram as grandes esperanças de incomodarem os rebaixados da Serie A e outros que tinham ido bem no ano passado. E no início do campeonato deram a entender que seriam mesmo os infiltrados. Bom começo, times equilibrados e os primeiros postos na tabela. Mas o que era bom durou pouco e a irregularidade começou a tomar contar de ambos, que hoje ocupam sétima e nona posição, respectivamente.

O guerreiro time da Sicília segue tendo como destaques o artilheiro Mancosu e o bom Boscaglia no comando. No entanto, o treinador tem tido dificuldade para administrar o jogo e reencontrar o equilíbrio: tem a defesa mais vazada, com 33 gols sofridos, contra 27 marcados. Já o simpático Perugia, que vinha contando com boa presença no Renato Curi, conta bons nomes, como Taddei (AQUELE), Verre, também ex-Roma, destaque do Palermo em 2013-14 e presente na seleção sub-21, jovens como Crescenzi, Fazzi, Falcinelli (artilheiro do time), Parigini e Perea, e veteranos como Del Prete, Comotto (lembra?) e Giacomazzi.

Por falar em decepção, nenhum time tem decepcionado tanto quanto Catania e Bari. Os times mais “equipados” e de recurso financeiro da Serie B não têm convencido na segunda divisão. Os sicilianos, depois do turbulento ano passado, tiveram início horrível e chegaram a ocupar o último lugar da tabela. Maurizio Pellegrino, então treinador, voltou a ser responsável pelo setor juvenil, enquanto Sannino, ex-Siena, Palermo e Chievo, foi contratado. Nas últimas rodadas, tem ensaiado uma reação, mas claramente está bem longe de onde deveria estar, atualmente na 13ª colocação.

Já os bareses, depois dos baixos e altos extremos de 2013-14, da quase falência à quase subida para a Serie A, tiveram um incremento com a chegada de Gianluca Paparesta e se reforçaram bem, visando claramente o retorno imediato para a elite italiana, com contratações indicadas por seu então treinador, Devis Mangia, ex-Palermo, Itália sub-21 e Spezia. Vários jovens com potencial e outros jogadores de bom nível para a segundona chegaram para formar um grupo coeso e equilibrado. Os resultados, porém, não foram imediatos. E a iniciante diretoria tomou uma decisão precipitada, demitindo Mangia. Para seu lugar, Davide Nicola, ex-Livorno, foi contratado. Até aqui, dois jogos, uma vitória e uma derrota, e a pressão de recuperar rápido e encostar nos primeiros postos, bem longe da 16ª posição.

Seleção da Serie B até a 16ª rodada

Zappino (Frosinone); Zanon (Frosinone), Rodrigo Ely (Avellino), Blanchard (Frosinone), Gagliolo (Carpi); R. Olivera (Brescia), Gabriel Appelt (Pescara), Matuzalém (Bologna); Mbakogu (Carpi), Granoche (Modena), Dionisi (Frosinone). T: Roberto Stellone (Frosinone)

Menções honrosas: A. Gomis (Avellino), Sabelli (Bari), Bani (Pro Vercelli), Oikonomou (Bologna), Juande (Spezia), N. Rigoni (Cittadella), Viviani (Latina), Laribi (Bologna), Siligardi (Livorno), Castaldo (Avellino), Mancosu (Trapani), Gatto (Lanciano)

Perfil tático da Serie B
4-4-2 (7) – Frosinone, Trapani, Modena, Catania, Entella, Varese, Cittadella
4-3-3 (6) – Livorno, Lanciano, Pro Vercelli, Vicenza, Pescara, Crotone
3-5-2 (5) – Spezia, Avellino, Perugia, Ternana, Latina
4-1-4-1 (1) Carpi
4-3-1-2 (1) – Bologna
4-3-2-1 (1) – Brescia
3-4-1-2 (1) – Bari
Classificação da Serie B aqui; principais estatísticas aqui
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