Copa do Mundo

Rossi seguirá os passos de Cassano? Itália é convocada com surpresas

Rossi fora, Cassano dentro. Atacantes tem histórico de exclusão, mas dessa vez Fantantonio jogará uma Copa (AP)

Depois de um amistoso decepcionante contra a Irlanda e grave lesão de Montolivo, enfim Cesare Prandelli definiu os 23 convocados da Itália para a Copa do Mundo. O principal destaque da lista não foi um jogador que estava dentro, mas fora dela: Pepito Rossi, o melhor atacante italiano em atividade, ficou fora do grupo que virá ao Brasil.

A ausência do atacante viola, contudo, não é nenhuma surpresa por causa da má condição física após retornar de mais uma lesão nos ligamentos do joelho. Insigne ocupa sua vaga, mesmo que ocupem diferentes funções.

A ausência de Rossi pesa muito, mas sua forma física não garantia
segurança para a Copa, ainda mais no desgastante clima úmido do Brasil. No amistoso contra a Irlanda, ficou nítido que o atacante não estava 100% e, por Prandelli ter citado diversas vezes a parte física como questão preponderante, ficou de fora. Foi a terceira vez seguida que o jogador da Fiorentina acaba ficando de fora de um torneio de alto nível com a Itália. Por motivos diferentes, quem viveu sensação parecida em anos anteriores foi Cassano, que acabou convocado para seu primeiro Mundial, aos 31 anos.

Rossi estreou pela seleção em 2008, e em 2009 fez parte do grupo que deu vexame na Copa das Confederações. Em 2010, foi pré-convocado por Marcello Lippi para a Copa do Mundo, mas acabou cortado, uma vez que o técnico preferia um grupo experiente – nesta semana, ele confessou ter se arrependido; irá Prandelli arrepender-se, também?

Em 2012, Pepito não jogou a Euro porque rompeu os ligamentos cruzados do joelho (e lesionou o local outra vez, em um treinamento) e, agora, por mais que tenha se empenhado e tenha conseguido voltar aos gramados após grave lesão sofrida em janeiro, não recuperou a forma física por completo, embora tenha realizado todos os testes na seleção sem restrições, até a hora de entrar em campo em uma situação de jogo. Dificilmente seria o atacante que marcou 14 gols em 18 partidas entre setembro e janeiro, mas uma aposta não seria exagero e poderia ter sido levada em conta, uma vez que Rossi vinha sendo o mais técnico e melhor atacante italiano quando estava em forma. Até porque, em outra ocasião, Prandelli apostou em Cassano, que passou por situação similar.

Cassano sabe o que é ser deixado de fora de última hora. O atacante jogou as Euros 2004 e 2008, mas ficou de fora das Copas subsequentes, 2006 e 2010, excluído em ambas as ocasiões por Lippi. Com Prandelli, ganhou espaço, mas depois quase ficou fora da Euro 2012. Não por lesão, mas pela descoberta de um problema cardíaco, em janeiro de 2012, que o afastou dos gramados até o início de abril. O treinador da Nazionale, porém, garantiu a sua participação no Europeu.

Dois anos depois, Fantantonio perdeu espaço na seleção, mas como Roberto Baggio, que em 1997-98 decidiu jogar por uma equipe de meio de tabela (no caso de Baggio, o Bologna, e no de Cassano, o vizinho Parma) para ter minutos de jogo e tentar jogar a Copa. Conseguiu. Aos 31 anos, ganhou sua primeira chance para brilhar em uma Copa do Mundo. Rossi, de 27 anos, terá a mesma sorte no próximo ciclo? Por enquanto, assim como acontecia a Cassano, segue como um dos grandes jogadores a nunca ter jogado um Mundial.

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Em outros setores, outras novidades: Darmian substitui Maggio, também sem condições físicas para um bom Mundial, e Parolo entra no lugar de Montolivo, com a tíbia fraturada e expectativa de recuperação de três meses.

No gol, Prandelli já tinha definido Buffon, Sirigu e Perin. Sobre o goleiro do Paris Saint-Germain, ontem veio a confirmação de que é, sim, o melhor substituto de Buffon. Em relação aos zagueiros, o treinador italiano não surpreendeu e chamou os esperados: Chiellini, Barzagli, Bonucci e Paletta. Por precaução com a forma de Barzagli e Paletta, Ranocchia também estará em terras brasileiras, caso até o dia 14, estreia da Nazionale na Copa, um dos dois beques não esteja 100%.

Nas laterais, foram convocados os milanistas De Sciglio e Abate, e a novidade Darmian. Justificando o ótimo campeonato pelo Torino, o lateral teve boa noite contra a Irlanda, principalmente ofensivamente. Pasqual era o único canhoto na lista dos 30, mas a versatilidade de De Sciglio e Darmian cativaram Prandelli. E esses têm grandes chances de serem os titulares, como laterais ou alas, a não ser que Chiellini assuma a lateral esquerda. Maggio, fora dos gramados entre março e maio por um pneumotórax, era ausência esperada.

No setor de maior discussão, houve, claro, espaço para os incontestáveis Pirlo e De Rossi, líderes do grupo e do meio-campo italiano – com um adendo sobre o romanista, que pode vir a ser zagueiro pelas dúvidas sobre Bonucci. Também foram convocados Marchisio, Thiago Motta, Aquilani e Candreva, nomes de confiança de Prandelli. Como últimas escolhas, Verratti e Parolo, de boas exibições contra a Irlanda. Ainda no meio-campo, o brasileiro Rômulo, outro sem condições físicas, sequer teve a oportunidade de estrear com a camisa azzurra. Fica para a próxima.

Sobre Verratti, além da partida acima da média no sábado, o veredito é que ele não é apenas o “vice-Pirlo”. O meia do Paris Saint-Germain tem dinâmica, agressividade e controle de bola que combinam com o regista da Juventus, também “controlador”, porém mais inclinado a passes longos e enfiadas de bola. Verratti, depois de alguma desconfiança, chega no Brasil sob muita expectativa e com boas chances de assumir o lugar de Montolivo, o “falso trequartista” de Prandelli e que fará grande falta pela liderança, versatilidade e técnica. Já Parolo acabou sendo convocado pela ausência do rossonero. Pode nem jogar e ser o
bode expiatório pela não convocação de Rossi, que tinha espaço em seu
lugar, como sexto atacante.

Balotelli, Cassano, Cerci, Immobile e Insigne formam a linha de ataque azzurra. Convenhamos, um ataque mais talentoso, promissor e empolgante que os chamados por Lippi em 2010 – Iaquinta, Di Natale, Gilardino, Quagliarella e Pazzini. Assim como o atual Rossi, Destro também não garante confiança para Prandelli, por mais que tenha uma ótima média de gols em 2013-14, e será um dos nomes para o ataque italiano apenas depois do mundial.

A convocação Cassano pode ser considerada uma surpresa? Para quem ficou fora da seleção por dois anos, sim, mas Fantantonio é a principal força criativa italiana no último quarto do campo, e isso é muito valorizado quando se tem atacantes do porte de Balotelli, Immobile e Cerci, de arranque, posicionamento e chute precisos. Insigne foi comparado a Candreva, mas é o único ponta que joga pelo lado esquerdo e, apesar da temporada irregular, tem características que podem agregar ao time italiano num segundo tempo, por exemplo.

O que se pode concluir da convocação é que Prandelli apostará na versatilidade de seus jogadores e nos vários sistemas que tem em mente e estão bem assimilados pelo grupo: 4-3-1-2, 4-3-3, 4-3-2-1, 3-5-2, 3-4-2-1 e, a novidade, 4-1-3-2. Contra a Irlanda, apesar de partidas fracas individualmente de Paletta, Bonucci, Motta e Rossi, o time apresentou boa solução para aproveitar a qualidade multifuncional do meio-campo e os avanços dos laterais, algo muito apreciado pelo treinador. Faltou maior precisão, seja no posicionamento defensivo, seja na construção e conclusão das jogadas, mas era um 11 que nunca atuará junto e sem peças fundamentais do selecionado. Algo compreensível. Mas, também, algo que não poderá acontecer durante a Copa do Mundo.

No dia 4, a Squadra Azzurra enfrenta Luxemburgo, em Perúgia, e no dia 6, desembarca no Rio de Janeiro e prossegue a preparação em Mangaratiba (RJ).

Possíveis variações táticas da Itália

4-3-1-2 | 4-3-3 | 4-3-2-1 | 3-5-2 | 3-4-2-1 | 4-1-3-2.

Confira a convocação completa
Goleiros: Buffon (Juventus), Perin (Genoa) e Sirigu (Paris Saint-Germain).

Defensores:
Abate (Milan), Barzagli (Juventus), Bonucci (Juventus), Chiellini
(Juventus), Darmian (Torino), De Sciglio (Milan) e Paletta (Parma).

Meio-campistas:
Aquilani (Fiorentina), Candreva (Lazio), De Rossi (Roma), Marchisio
(Juventus), Thiago Motta (Paris Saint-Germain), Parolo (Parma), Pirlo
(Juventus) e Verratti (Paris Saint-Germain).

Atacantes: Balotelli (Milan), Cassano (Parma), Cerci (Torino), Immobile (Torino) e Insigne (Napoli).

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