Um dos clubes mais antigos da Itália, a Lazio teve 66 treinadores em seus 116 anos de existência. Ao contrário do que aconteceu em outros times do Belpaese, poucos profissionais alcançaram sucesso dirigindo os celestes: a maior parte dos títulos conquistados pelas águias e seus grandes momentos aconteceram sob o comando de um seleto grupo de técnicos.
O primeiro a ocupar oficialmente o cargo de treinador da Lazio foi Guido Baccani. Justo o cara que mais tempo dirigiu a equipe: foram incríveis 18 anos, entre 1906 e 1924. Outro exemplo de lealdade foi Roberto “Bob” Lovati, que dedicou 55 anos às águias, entre sua carreira como goleiro e o trabalho em diversos setores do clube – incluindo os cargos de auxiliar, que desempenhou inúmeras vezes, e de treinador, que ocupou por quatro períodos, e no qual venceu a Copa dos Alpes, em 1971. Outro ex-jogador laziale que também obteve sucesso em Formello foi Roberto Mancini, que venceu uma Coppa Italia, levou a equipe à Champions League e foi semifinalista da Copa Uefa.
Alguns treinadores estrangeiros passaram com sucesso pela Lazio. O primeiro a conseguir se destacar foi o argentino Juan Carlos Lorenzo, que teve três períodos na capital, totalizando seis temporadas, e venceu uma Serie B, no final dos anos 1960. O ultraofensivo checo Zdenek Zeman também passou por lá e estabeleceu as premissas para um bom futebol, fazendo a equipe biancoceleste brigar na parte alta da tabela, na década de 1990, mas não chegou a faturar nenhuma taça. Os brasileiros também tem uma boa história no clube: além da chamada Brasilazio dos anos 1930, repleta de jogadores canarinhos de origem italiana, a Lazio foi dirigida por Amílcar, nos anos 1930, e Luís Vinício, nos anos 1970.
Critérios
Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de cada técnico na história do clube, do futebol italiano e mundial. Dentro desses parâmetros, analisamos os títulos conquistados, a identificação com a torcida e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), respaldo atingido através da passagem pela equipe, grau de inovação tática e em métodos de treinamento e, por fim, prêmios individuais.
5º – Delio Rossi
Período no clube: 2005-09
Títulos conquistados: Coppa Italia (2009)
Aqui é trabalho, meu filho. Uma espécie de Muricy Ramalho italiano (pela semelhança física e também pelo estilo turrão), Rossi tinha uma carreira modesta antes de seus quatro anos pela Lazio e manteve a mesma toada após deixar o clube romano, com exceção de um bom período no Palermo. O romanholo assinou com o time da capital principalmente por causa do sucesso com o pequeno Lecce, que chegou até mesmo a concluir a Serie A 2004-05 à frente da Lazio – em um campeonato equilibradíssimo, os dois times brigaram até o fim contra o rebaixamento. Delio Rossi começou a carreira como técnico com apenas 30 anos e chegava à Cidade Eterna aos 44, mas já com bastante experiência.
Utilizando basicamente o 4-4-2 com meio-campo em losango o técnico rapidamente levantou a autoestima laziale: na temporada de estreia conseguiu a classificação à Copa Uefa (depois cassada por envolvimento de dirigentes do clube no Calciopoli) e no ano seguinte teve resultados ainda melhores, levando os aquilotti à terceira posição e a uma vaga na Liga dos Campeões. Depois de um ano de entressafra, sua Lazio – que tinha Goran Pandev, Tommaso Rocchi, Stefano Mauri, Cristian Ledesma e Aleksandar Kolarov como pilares – levantou a Coppa Italia, em seu último jogo no comando da equipe. Rossi ainda ficou marcado por alguns episódios relacionados ao dérbi contra a Roma: em 2006, mergulhou em uma das tantas fontes de Roma para comemorar uma vitória no clássico e também dirigiu o time na primeira vez que a Lazio fez quatro gols sobre a rival na Serie A, em 2009.
4º – Fulvio Bernardini
Período no clube: 1958-60
Títulos conquistados: Coppa Italia (1958)
Bernardini tem uma história curiosa: é uma espécie de agente duplo romano. Ele foi jogador – surpreendentemente, atuou como goleiro, meio-campista e atacante – e foi formado na Lazio, mas teve sucesso mesmo na Roma, equipe que capitaneou. Como técnico, teve um dos seus primeiros trabalhos pelos giallorossi e só dirigiu os celestes na década de 1950, após ter levado a Fiorentina a seu primeiro scudetto. Na oportunidade, a Itália viu entrar em evidência o seu “WM elástico“, com fundamentos táticos similares aos do Brasil, campeão mundial em 1958.
1958 foi exatamente o ano em que Bernardini chegou à Lazio, levando seu esquema e dois jogadores da Fiorentina com ele – os atacantes Claudio Bizzarri e Maurilio Prini. Naqueles tempos os aquilotti eram uma equipe de meio de tabela, que somente às vezes conseguiam resultados mais expressivos – embora nunca houvessem levantado qualquer taça em seus 58 anos de história. Bernardini quebrou este jejum ao conquistar a Coppa Italia nos primeiros meses de trabalho, com um time modesto, mas competitivo – os destaques eram o ótimo goleiro Bob Lovati, o zagueiro Francesco Janich, o volante Carlo Tagnin e o atacante brasileiro Humberto Tozzi. Em dois anos pelo clube capitolino, Bernardini teve resultados modestos na Serie A, mas quase fez a dobradinha na copa: caiu nas semifinais em 1959-60.
3º – Dino Zoff
Período no clube: 1990-94, 1997 e 2001
Títulos conquistados: nenhum
Raramente um ex-jogador de renome se torna ídolo como técnico em um time pelo qual não atuou. Muito menos é escolhido como presidente. Zoff foi um dos que quebraram essas duas escritas e entrou para a história da Lazio ao ter três passagens pelo clube como treinador, nos anos 1990 e 2000, e também ao ocupar o cargo de máximo dirigente laziale entre 1994 e 1998. Apesar de não ter conquistado nenhum título, o ex-goleiro que brilhou com as camisas de Napoli, Juventus e seleção italiana é o profissional com mais jogos no comando dos biancocelesti, com 202 partidas.
Zoff chegou à Cidade Eterna em 1990, após vencer uma Coppa Italia e uma Copa Uefa pela Juventus e, ainda assim, não ter o contrato renovado. O friulano teve apenas desempenhos medianos nas duas primeiras temporadas na Lazio, mas depois conseguiu comandar uma equipe reforçada por Giuseppe Favalli, Roberto Cravero, Diego Fuser, Aron Winter, Paul Gascoigne e Giuseppe Signori a duas classificações seguidas à Copa Uefa – havia 14 anos que o time não participava de competições europeias. Após preparar o terreno para Zdenek Zeman, Zoff foi elevado a presidente pelo dono da Lazio, Sergio Cragnotti, e substituiu o treinador checo em 1997, desempenhando por seis meses a jornada dupla como dirigente e técnico. Após dois anos à frente da seleção da Itália, Zoff voltou ao time laziale em 2001, com a saída de Sven-Göran Eriksson para a Inglaterra, e classificou a equipe à Liga dos Campeões. Até iniciou a temporada 2001-02 como treinador da Lazio, mas foi demitido após uma sequência negativa.
2º – Sven-Göran Eriksson
Período no clube: 1997-2001
Títulos conquistados: Serie A (2000), Coppa Italia (1998 e 2000), Supercopa Italiana (1998 e 2000), Recopa Uefa (1999) e Supercopa Uefa (1999)
Para muita gente o primeiro pensamento que vem à cabeça quando se fala de Eriksson é o fracasso na seleção inglesa. No entanto, o sueco é muito mais do que isso e marcou época na Lazio: conquistou sete títulos em três temporadas e meia pelo clube e só saiu porque recebeu uma proposta irrecusável para treinar o English Team. Ninguém venceu tanto pelos celestes quanto Svennis, que não passou em branco um ano sequer pelo time romano e comandou as águias em sua era de ouro. Para se ter uma ideia da importância do sueco, quando ele chegou a Lazio tinha em sua sala de troféus apenas uma Serie A (1974) e uma Coppa Italia (1958). Poderia ser ainda melhor, mas os romanos acabaram com um vice da Copa Uefa e outro do Italiano durante sua gestão.
Eriksson construiu boa reputação no continente, após realizar ótimos trabalhos por IFK Gotemburgo e Benfica, e já tinha carreira consolidada na Itália, país em que havia treinado Roma, Fiorentina e Sampdoria e no qual ajudou a introduzir conceitos modernos do futebol, aplicados também por Nils Liedholm e Arrigo Sacchi. Com muito dinheiro à disposição na Lazio, Eriksson teve a oportunidade de comandar esquadrões formados por craques e celebrou o centenário da equipe, na virada do milênio, com o segundo scudetto biancoceleste. Além disso, Svennis é recordado por ter dirigido a Lazio nas vitórias sobre a Roma nos quatro dérbis da temporada 1997-98 (dois pela Serie A e dois pela Coppa Italia), recorde absoluto e comemorado com uma placa instalada no CT de Formello.
1º – Tommaso Maestrelli
Período no clube: 1971-75 e 1975-76
Títulos conquistados: Serie A (1974)
O maior técnico da história da Lazio teve um passado do lado giallorosso da capital: chegou a ser jogador da Roma nas décadas de 1940 e 1950. O papel de coadjuvante na rival contrasta com o local de destaque que Maestrelli alcançou no comando dos biancocelesti, aos quais dedicou a vida – e sem sentido figurado. Os bons resultados com o Foggia lhe conferiram o prêmio Seminatore d’Oro, dado ao melhor técnico italiano, e o levaram para a Lazio, em 1971. Na época, a equipe estava na segunda divisão, e Maestrelli não só conseguiu o acesso para a Serie A em sua primeira tentativa como, ali, iniciou uma trajetória absolutamente vitoriosa, que culminaria na conquista do primeiro scudetto laziale.
Carismático e muito empenhado em seu trabalho, montou uma equipe capaz de evoluir em pouco tempo e ser terceira colocada na Serie A 1972-73. A cereja do bolo veio na temporada seguinte, quando, após um início complicado, o time viria a ser campeão italiano, com um 4-3-3 ofensivo e de muita velocidade e técnica, que rendeu ao técnico toscano outro prêmio como melhor treinador do campeonato. Maestrelli ainda conseguia, com grande habilidade, controlar as rivalidades internas de um grupo que contava com jogadores de personalidades muito fortes – com Giorgio Chinaglia, o craque da equipe e talvez a pessoa mais difícil de se lidar daquele elenco, teve uma relação de pai e filho. Após o título, um câncer no fígado o afastou do futebol: sem o Maestro, o rendimento da Lazio caiu drasticamente e o time quase foi rebaixado. Mesmo doente, o técnico voltou ao comando da equipe e evitou a queda, pouco antes de falecer. Sua morte, no final de 1976, marcou o fim daquele período em que a Lazio jogava um futebol fantástico e impunha respeito em qualquer adversário. Somente duas décadas depois o time voltaria a viver grandes momentos.