Jogos históricos

Em 2004, derrota para o Dynamo Kyiv antecipou pior campanha da Roma na Champions League

Na temporada 2004-05, a Roma passou por um dos momentos mais conturbados de sua existência. De concorrente à briga pelo título italiano, a equipe capitolina se viu envolvida na luta contra o rebaixamento na Serie A e ainda fez a pior campanha de sua história na Champions League. Um dos divisores de águas para a brusca queda de desempenho dos giallorossi foi a partida de estreia na competição europeia, ante o Dynamo Kyiv, que acabou interrompida por agressão ao árbitro Anders Frisk.

Os problemas da Roma naquele ano começaram quando o técnico Fabio Capello foi para a Juventus, como substituto de Marcello Lippi. O comandante do derradeiro scudetto da Loba ainda levou para Turim, a tiracolo, o zagueiro Jonathan Zebina e o volante brasileiro Emerson – este último, tido como traidor pela torcida giallorossa. Para afastar riscos de falência da agremiação, o presidente Franco Sensi ainda precisou negociar outros atletas, como Walter Samuel, vendido ao Real Madrid, e Lima, cedido ao Lokomotiv Moscou.

Parte considerável do time campeão italiano em 2001 foi embora e os seus substitutos foram jogadores emergentes: Matteo Ferrari e Philippe Mexès para a defesa, Matteo Brighi e Simone Perrotta para o meio e, para o ataque, Mido, que havia passado por Celta e Marseille sem repetir o bom desempenho dos tempos de Ajax. Cesare Prandelli, de ótimo trabalho no Parma, seria o comandante da Roma, mas optou por se demitir antes de a temporada começar para cuidar de Manuela, sua esposa, gravemente enferma – ela faleceria dois anos depois.

A urgência fez a Roma anunciar, a apenas duas semanas do início da temporada, a contratação de Rudi Völler, ex-atacante e ídolo do clube. Responsável por levar a Alemanha à final da Copa do Mundo de 2002, o germânico havia sido demitido da seleção no verão de 2004, após fracassar na Euro, competição em que a Nationalmannschaft mostrou um futebol feio, com direito a empate com a Letônia e eliminação na fase de grupos.

Völler venceu na estreia, contra a Fiorentina, por 1 a 0 – num jogo marcado pela expulsão de Antonio Cassano por agressão a um jovem Giorgio Chiellini. O segundo compromisso da Roma naquela temporada seria pela Champions League, três dias depois, em 15 de setembro de 2004, ante o Dynamo Kyiv. Justamente a peleja que serviria como emblema para o ano giallorosso.

A partida começou logo com um susto para os romanistas. O atacante brasileiro Kléber, o Gladiador, achou o letão Maris Verpakovskis, que cabeceou com perigo e fez a bola raspar a trave de Ivan Pelizzoli. Poucos minutos depois, Francesco Totti arriscou uma falta lateral direto para o gol, mas o arqueiro Oleksandr Shovkovskyi encaixou a pelota.

Mexès agrediu Verpakovskis e ainda foi tirar satisfações do adversário (AFP/Getty)

Depois que Kléber deixou Christian Panucci na saudade e chutou pelo lado de fora da rede, o Dynamo Kyiv fez valer a sua leve superioridade e marcou o primeiro gol, aos 29 minutos. E não foi qualquer tento: Goran Gavrancic cobrou falta da intermediária e acertou um lindo chute no ângulo. Pelizzoli só observou a bola bater no travessão e morrer nas redes.

Após o gol dos ucranianos, a Roma tentou o empate, mas teve cruzamentos e chutes de média distância interceptados pela zaga adversária. O Dynamo Kyiv é que viria a ter as melhores chances, numa finalização do brasileiro Diogo Rincón cara a cara com Pelizzoli e num arremate forte de Jerko Leko, bem defendido pelo arqueiro giallorosso. Do outro lado, os romanistas tentavam cavar faltas e reclamavam demais do árbitro Frisk, que não vinha assinalando infrações. Furioso com Frisk, Mexès descontou em Verpakovskis: deu um carrinho violento no letão e foi expulso, nos acréscimos da etapa inicial.

A torcida da Roma, que também estava nervosa com o andamento do jogo, se deixou levar pela raiva. Na saída para os vestiários, Frisk foi atingido por uma moeda arremessada por um torcedor: o objeto acertou em cheio na testa do sueco e o deixou sangrando bastante. Sem condições de prosseguir, o juizão suspendeu a partida, que ainda foi alvo de procedimento disciplinar por parte da Uefa. Considerando os eventos relatados pelo árbitro na súmula, a entidade puniu a Loba com derrota por 3 a 0 para os ucranianos e mais dois compromissos com portões fechados pela competição.

Depois dos eventos no confronto com o Dynamo Kyiv, a situação, que já era complicada, degringolou. Na Serie A, Völler somou mais duas derrotas (para Messina e Bologna) e um empate (com o Lecce), e acabou se demitindo. Sob as ordens do interino Ezio Sella, a Roma levou virada de 4 a 2 do Real Madrid pela Champions League e viu as chances de classificação no torneio ficarem bastante reduzidas.

Em seguida, a diretoria giallorossa anunciou a contratação de Luigi Delneri, que vinha de bom trabalho no Chievo, onde treinara Perrotta, e de uma passagem-relâmpago pelo Porto. Pelos dragões, o italiano não conseguiu respaldo dos senadores do vestiário e foi exonerado antes mesmo de a temporada começar. Na Roma, o comandante teria a missão de revolucionar o ambiente. Não foi capaz.

A agressão a Frisk foi o fio condutor da péssima campanha da Roma na Champions League (AFP/Getty)

Delneri comandou a Roma nos seus quatro jogos seguintes pela Champions League. O primeiro deles, na Alemanha, até começou bem: Dimitar Berbatov marcou contra e a Loba saiu na frente do Bayer Leverkusen. No entanto, os aspirinas viraram e saíram de campo com uma vitória por 3 a 1. Àquela altura, o time italiano não somara nenhum ponto e todos os seus adversários do Grupo B tinham 6.

Voltando a jogar em casa, mas sem torcedores, a Roma conquistou o seu primeiro ponto na quarta rodada, e no apagar das luzes. Vincenzo Montella, nos acréscimos, garantiu o empate por 1 a 1 contra o Bayer Leverkusen – o resultado, em conjunto com a paridade entre Dynamo Kyiv e Real Madrid, manteve os giallorossi com chances de classificação para a segunda fase.

No entanto, a equipe de Delneri voltou a perder para os ucranianos, por 2 a 0, e viu esvaírem até mesmo as chances de remanejamento para a Copa Uefa. Uma derrota caseira para o Real Madrid, por 3 a 0, encerrou a melancólica participação capitolina no torneio. Com apenas 1 ponto, a Roma finalizou a pior campanha de sua história na Liga dos Campeões.

Na Serie A, Delneri e seus comandados também não apresentaram bom futebol. O técnico viria a se demitir após a 28ª rodada, após somar nove vitórias, sete empates e oito derrotas em 24 partidas do campeonato. A Roma ocupava apenas a oitava posição e, já sob o comando do ídolo Bruno Conti, terminou o certame no mesmo posto, três pontos acima da zona de rebaixamento. Sem dúvidas, foi uma temporada atípica, já que a distância entre o sétimo e o 19º (penúltimo) colocado foi de somente sete pontinhos.

Um alento para a Roma foi conseguir classificação para um torneio europeu mesmo após um ano escabroso: a equipe giallorossa foi finalista da Coppa Italia e terminou derrotada pela Inter por um placar agregado de 3 a 0, mas ficou com vaga na Copa Uefa. Os nerazzurri haviam ficado com o terceiro lugar na Serie A, que lhes dava direito a participar da Champions League, e, na época, quem herdava o posto reservado ao mata-mata era o seu vice, e não o sétimo colocado do Italiano.

Roma 0-1 Dynamo Kyiv (0-3 no tapetão)

Roma: Pelizzoli; Panucci, Ferrari, Mexès, Cufré; Mancini, Dacourt, De Rossi, Aquilani; Totti, Montella. Técnico: Rudi Völler.
Dynamo Kyiv: Shovkovskiy; Yussuf, Gavrancic, Sablic; Husiev, Ghioane, Diogo Rincón, Leko, El Kaddouri; Kléber, Verpakovskis. Técnico: Yozhef Sabo.
Gol: Gavrancic (29’)
Cartão vermelho: Mexès (45 + 3′)
Árbitro: Anders Frisk (Suécia)
Local e data: estádio Olímpico, Roma (Itália), em 15 de setembro de 2004

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