Listas Serie A

Corações ingratos: os jogadores que defenderam os rivais Juventus e Torino

Com o último dérbi do ano na Serie A, chegamos ao encerramento da série “Corações Ingratos”. Há quem despreze o clássico de Turim e trate a rivalidade entre Juventus e Torino como “menor”, porque, ao longo dos anos, um verdadeiro cânion separa as agremiações, em termos econômicos, técnicos e estratégicos. De fato, bianconeri e granata encontram-se em degraus distintos atualmente, mas alguns aspectos do antagonismo local se mantêm. Como, por exemplo, o habitual desprezo por aqueles que constroem uma bonita história em um das agremiações da cidade e depois aporta na concorrente.

Curiosamente, Juve e Toro são os rivais italianos que mais trocaram jogadores entre si: no total, 98 atletas vestiram as duas camisas mais importantes do Piemonte. Este número é inflado por dois grandes motivos. Primeiro, as trocas de peças entre os times nas primeiras décadas do século XX foram muito comuns, já que ainda não existiam tantos clubes relevantes na Itália. Ademais, quase todas essas agremiações em atividade se concentravam nas redondezas das principais zonas industriais do país: Turim, Milão e Gênova, capitais do Piemonte, da Lombardia e da Ligúria, respectivamente. Não é coincidência que cerca de 20% dos ingratos da lista viraram casaca até o fim do terceiro decênio.

A outra grande razão remete ao acontecimento mais traumático da história do Torino: a Tragédia de Superga. Após perder o time mais forte de sua existência (e um dos mais notáveis do futebol italiano), o Toro nunca mais passou perto de um período tão vitorioso e só conquistou quatro troféus relevantes – um scudetto e três Copas da Itália. Os rebaixamentos, inéditos até o fim da década de 1950, começaram a se tornar frequentes a partir dos anos 1990, após uma sequência de más administrações, que culminaram até em falência. Ao atingir um patamar de competitividade tão inferior ao da Juventus, ficou mais fácil para Velha Senhora tirar os principais talentos dos grenás, oferecendo peças em contrapartida.

Foi nessa maré recente de “ingratidão” que Juventus e Torino tiveram os dois únicos corações ingratos brasileiros. O pioneiro foi o goleiro Rubinho, que disputou a Serie B 2010-11 pela equipe granata e, em 2012, assinou com a Juventus para ocupar o posto de terceiro goleiro: mesmo tendo atuado apenas em duas partidas em quatro temporadas, o irmão mais novo de Zé Elias conquistou oito troféus com a Velha Senhora. Em 2014 foi a vez de Amauri, que fez o caminho inverso, mas não deixou saudades em nenhuma das agremiações. O Derby della Mole deste sábado também sente o efeito dessa torrente de infidelidade recente em Turim: o elenco grená tem quatro ex-alvinegros. Em momentos diferentes de suas carreiras, Emiliano Moretti, Tomás Rincón, Iago Falque e Simone Zaza passaram pelo CT de Vinovo.

A partir de agora, caros leitores, é aquele modelo que você já conhece. Nós escolhemos e perfilamos os 15 jogadores mais importantes que viraram casaca por Juve e Toro e, no final da seleção, elencamos todos os “ingratos” da cidade simbolizada pela Mole Antonelliana. A grande obra arquitetônica, aliás, dá nome ao dérbi local. A estrutura tem 167,5m de altura e foi projetada por Alessandro Antonelli para abrigar uma sinagoga, mas o propósito original nunca chegou a ser cumprido. Desde 2000, a edificação abriga o Museu Nacional do Cinema. Agora chega de papo, né?

Lucidio Sentimenti

Posição: goleiro
Trajetória nos clubes: 169 partidas pela Juventus (1942-49) e 3 pelo Torino (1959)

O quão irônico é um coração ingrato se chamar Sentimenti? O goleiro, cujo sobrenome remete às nossas emoções, é o quarto mais novo de um sexteto de irmãos futebolistas e tem algumas históricas pitorescas. Em seus tempos de Modena, foi o responsável por interromper um série de nove pênaltis defendidos pelo fratello Arnaldo, titular do Napoli. Lucidio, também conhecido como Sentimenti IV, hábil bom cobrador e, após converter a penalidade, foi perseguido pelo segundo mais velho da prole, que queria lhe dar uns tabefes. Depois disso, aos 22 anos, acertou com a Juve, e construiu bela história na equipe bianconera. Uma das provas de sua importância é que o jogador é uma das 50 estrelas que integram a calçada da fama do Allianz Stadium.

Em sete temporadas de Velha Senhora, Lucidio teve a companhia de um xerife de zaga familiar: o irmão Vittorio, outro coração ingrato. Mesmo baixinho (1,70m) e incapaz de interromper a hegemonia do Grande Torino, campeão de todos os títulos nacionais entre 1943 e 1949, Sentimenti IV se destacou pela agilidade, pela coragem e por usar bem os pés. Em 1947, por exemplo, a Itália disputou um amistoso contra a Hungria e o arqueiro foi o único do onze inicial azzurro que não era vinculado aos granata. Na Juventus, Lucidio também chegou a atuar na linha em algumas oportunidades, como ala, e também deixou alguns golzinhos. O goleiro defendeu a Itália na Copa do Mundo de 1950 e ainda passou por Lazio, Vicenza e Cenisia (quarta divisão) até que, aos 38 anos, foi chamado para quebrar um galho no Torino. Contratado em janeiro de 1959, Sentimenti foi goleiro reserva na metade final da Serie A e nada pode fazer para evitar que os grenás fossem rebaixados à segundona pela primeira vez na história.

Pasquale Bruno

Posição: lateral-direito e zagueiro
Trajetória nos clubes: 99 partidas pela Juventus (1987-90) e 106 pelo Torino (1990-93)

Uma foto, dois corações ingratos: enquanto Bruno tenta dominar a bola, é observado pelo volante Luca Fusi, ao fundo. Os dois foram importantes do Torino no início dos anos 1990, mas enquanto o meio-campista era exemplo de lealdade, o defensor se consagrou como um dos mais violentos jogadores do futebol italiano. O estilo rude fez com que o lateral-direito, que também atuava na zaga, fosse apelidado como “O’ Animale”, em referência a um sicário da Camorra. Em sua carreira, Bruno recebeu nove cartões vermelhos, 102 amarelos e acumulou mais de 50 jogos cumprindo suspensões – sem contar as inúmeras rixas com atacantes e meias adversários. Nesse aspecto, seu momento de maior “destaque” foi a reação destemperada num dérbi entre Juve e Torino. Então na equipe grená, o defensor foi expulso aos 17 minutos, quis agredir o árbitro e teve de ser contido por uma dezena de colegas. Por causa disso, pegou um gancho de oito rodadas – pena reduzida posteriormente para cinco.

Bruno começou a carreira no Lecce e estreou na Serie A em 1984, pelo Como, num jogo contra a Juventus. Foi expulso. Três anos depois, foi adquirido pela Velha Senhora graças a Rino Marchesi, que havia sido seu treinador na equipe comasca, e integrou o elenco de um time em entressafra. Mesmo assim, atuou regularmente sob o comando de Marchesi e também de Dino Zoff, ajudando a equipe a conquistar uma Coppa Italia e uma Copa Uefa. A decisão europeia, contra a Fiorentina, foi seu último jogo pelos bianconeri e O’ Animale foi para o chuveiro mais cedo. Em 1990, o brucutu entrou em acordo com o Torino e foi acolhido com ceticismo pela torcida, por causa de seu passado. A desconfiança aumentou depois que o apuliano levou um vermelho em seu segundo jogo pelo clube, mas acabou passando com o tempo. Pasquale acumulou boas atuações, sempre se destacando pela dedicação, e colaborou para que o Toro de Emiliano Mondonico fosse campeão da Copa Mitropa, da Coppa Italia e também vice da Copa Uefa. Na partida de volta das semifinais continentais, contra o Real Madrid, Bruno foi impecável e anulou Emilio Butragueño.

Emiliano Moretti

Posição: zagueiro e lateral-esquerdo
Trajetória nos clubes: 15 partidas pela Juventus (2002-03) e 181 pelo Torino (2013-hoje)

O romano Moretti foi um prodígio das seleções de base da Itália e rapidamente despontou para o futebol. Habitué nas convocações dos azzurrini, o jogador surgiu como lateral-esquerdo na Lodigiani e rapidamente foi adquirido pela Fiorentina, clube em que explodiu em 2001-02. Com a falência dos toscanos, parou na Juventus, que sempre está à espreita dos jovens mais promissores. Passou seis meses no elenco bianconero, mas a concorrência de Gianluca Zambrotta e Gianluca Pessotto era quase insuperável e o espaço, diminuto. Moretti, então, foi emprestado ao Modena e, posteriormente, negociado em definitivo com o Parma. Por sua vez, o time crociato o cedeu ao Bologna e lucrou com sua temporada de afirmação: a pedido de Claudio Ranieri, o defensor foi parar no Valencia, da Espanha.

Após quatro anos em La Liga, período em que começou a ser experimentado como zagueiro pela esquerda, Moretti acertou com o Genoa. Na equipe da Ligúria, virou xerife da defesa de uma vez por todas e viveu alguns dos melhores momentos da carreira. Aos 32 anos, finalmente chegou ao Torino e se consolidou como um dos pilares da defesa a três do time de Gian Piero Ventura, ao lado de Kamil Glik e Nikola Maksimovic. Muito sólido em jogadas aéreas e com força física privilegiada, conseguia se destacar mesmo sem ter tanta velocidade – a ponto de, em 2014, aos 33 anos, se tornar o profissional mais velho a estrear pela Nazionale. No lado grená de Turim, Emiliano colaborou para ótimas campanhas na Serie A e para devolver o Toro às competições europeias após mais de duas décadas de ausência. Prestes a completar 38 anos, joga com frequência menor, mas continua exercendo muita influência nos vestiários. Algo normal para aquele que é o atleta com mais partidas na gestão do presidente Urbano Cairo e que, além disso, usou a braçadeira de capitão em diversos momentos.

Angelo Ogbonna

Posição: zagueiro
Trajetória nos clubes: 160 partidas pelo Torino (2006-07 e 2008-13) e 55 pela Juventus (2013-15)

Ogbonna pode não ser um craque, mas sua ida para a Juventus foi uma das que mais transtornou a tifoseria grená. O jogador nasceu em Cassino, na divisa entre as regiões do Lácio e da Campânia, e rumou para o norte aos 14 anos, após ser notado por Antonio Comi, bandeira do Toro e então responsável pelas categorias de base. Filho de nigerianos, Ogbonna foi acolhido no Piemonte e ganhou a oportunidade de se inserir de fato na sociedade italiana, tão preconceituosa com imigrantes africanos e seus descendentes. Em 2007, aos 18, estreou na Serie A e, após ser emprestado ao Crotone para amadurecer, retornou a Turim para se consolidar no time principal: em 2008-09, o Torino caiu para a segundona, mas Ogbonna fez bom campeonato, jogando como zagueiro, mas também improvisado como lateral canhoto ou volante.

O jogador chegou a ser convocado pela Nigéria, mas rejeitou a chamada porque queria defender a Itália – pouco depois, entrou no radar da seleção sub-21. Em três anos de Serie B, o ítalo-nigeriano se transformou em um pilar do time e chegou a usar a braçadeira de capitão em algumas oportunidades. Também se tornou um raro caso de atleta de segundona a ser convocado pela Nazionale e, ademais, integrar um elenco vice-campeão europeu, em 2012. Após a Euro, disputou uma Serie A razoável pelo Toro e pediu para ser negociado: a Juventus estava interessada em seu futebol. O presidente Cairo tentou segurá-lo, mas Ogbonna forçou a saída e se tornou o primeiro prata da casa e capitão grená a passar diretamente à sua maior rival. Pela Velha Senhora, não encontrou tanto espaço com Antonio Conte e foi mais utilizado na rotação de elenco de Massimiliano Allegri. Depois de dois anos de clube e quatro títulos na bagagem, Ogbonna assinou com o West Ham, clube que defende até hoje, e ainda participou da Euro 2016.

Federico Balzaretti

Posição: lateral-esquerdo
Trajetória nos clubes: 102 partidas pelo Torino (2002-05) e 68 pela Juventus (2005-07)

A trajetória de Balzaretti é bastante similar à de Ogbonna, com claras diferenças identitárias. Ao passo que o zagueiro é filho de nigerianos nascido no centro-sul da Itália, o ofensivo lateral-esquerdo é um autêntico turinês, que desde muito cedo desenvolveu uma forte relação com o Torino: foi acolhido pela base dos grenás com apenas seis anos de idade. Balza se profissionalizou ao fim de 1998-99, mas não fez seu primeiro jogo oficial como atleta pelo Toro. Passou dois anos emprestado ao Varese e um ao Siena, nas divisões inferiores, até finalmente vestir a camisa do time de sua cidade em 2002, pela Serie A. Com a queda para a segundona, o canhotinho de vocação ofensiva assumiu a titularidade com apenas 21 anos. Balzaretti passou dois anos absoluto no Torino e, na última temporada, foi a peça mais utilizada pelo técnico Ezio Rossi. O Toro seria vice-campeão da categoria, mas acabou falindo e não conseguiu consumar o retorno à elite.

Por causa da bancarrota, Balzaretti e todos os outros jogadores ficaram sem contrato em 10 de agosto de 2005. Cinco dias depois, aquele garoto criado como um granata legítimo, que já havia dado juras de amor eterno ao clube, não se fez de rogado e aceitou uma oferta da Juventus. Pelos bianconeri, alternou como titular da lateral com Giorgio Chiellini no primeiro ano e, após a cassação do scudetto e o rebaixamento da Juve por envolvimento no Calciopoli, permaneceu para disputar a segundona. Na campanha do título da Serie B, Balzaretti recebeu mais oportunidades devido à utilização de Chiello como zagueiro, mas o retorno à máxima divisão significou o encerramento de seu vínculo. Descartado sem cerimônias pela Velha Senhora, o jogador passou seis meses na Fiorentina e, em janeiro de 2008, fechou com o Palermo, equipe em que viveria a melhor fase da carreira. Seu segundo jogo pelos rosanero foi justamente contra o Torino, no Piemonte. Balza foi coberto de vaias e insultos naquela ocasião e em todas as outras em que precisou encarar a curva Maratona. Em 2015, já como atleta da Roma, o lateral anunciou sua aposentadoria por conta de problemas físicos.

Gianluca Pessotto

Posição: lateral-esquerdo e direito
Trajetória nos clubes: 36 jogos pelo Torino (1994-95) e 366 pela Juventus (1995-2006)

Um dos grandes ícones da Juventus na segunda metade dos anos 1990 e na primeira dos anos 2000, Pessotto é tão identificado com o lado preto e branco de Turim que é até difícil imaginá-lo com a camisa grená do rival. Pois bem, Pessottino foi formado como lateral-direito pelo Milan e defendeu Varese, Massesse, Bologna e Verona nas divisões inferiores até estrear na elite pelo Torino, já pelo flanco oposto, aos 24 anos. Imerso em dívidas e dependente de Ruggiero Rizzitelli, Abedi Pelé e Andrea Silenzi, o Toro fez uma campanha suficiente para se manter na Serie A. No entanto, a regularidade e a correção do lateral chamaram a atenção da Juve, que surgiu com uma proposta que a diretoria granata não pode recusar. Dessa forma, o jogador que mais atuou pelo Torino em 1994-95 virou casaca.

Rapidamente, Pessotto tomou para si a lateral esquerda da Juventus e, de cara, venceu a Liga dos Campeões – inclusive, converteu uma das cobranças de pênalti que definiram o título contra o Ajax. Na segunda temporada pelos bianconeri, debutou na seleção italiana, ganhou um Mundial Interclubes e ainda faturou o seu primeiro scudetto. Centrado e com grande senso tático, Pessottino manteve o status de titular até 2002, ficando de fora do time neste período apenas por causa de lesões. Em 11 anos de Velha Senhora, o friulano conquistou 12 taças (quatro da Serie A) e teve a oportunidade de defender a Nazionale na Copa de 1998 e na Euro 2000. Pouco depois de se aposentar e virar diretor-geral da Juve, em junho de 2006, Pessotto tentou o suicídio na sede do clube, mas escapou com vida e se curou da depressão que o atingia. O tetracampeonato azzurro foi dedicado a Gianluca, que atualmente coordena as categorias de base juventinas.

Dino Baggio

Posição: meio-campista
Trajetória nos clubes: 34 partidas pelo Torino (1990-91) e 73 pela Juventus (1992-94)

Um dos mais versáteis e importantes meio-campistas italianos dos anos 1990, Dino Baggio aprendeu quase tudo o que colocou em prática como profissional nas divisões de base do Torino. Natural do Vêneto, Dino deixou a pequena Tombolo com apenas 12 anos e morou num pensionato alugado pela diretoria granata até se profissionalizar, em 1989. Baggio participou discretamente da campanha do título da Serie B e, sob as ordens de Mondonico, se tornou titular. O meia defensivo, de marcação cerrada e boa chegada ao ataque, formou um fortíssimo tridente com Rafael Martín Vázquez e Luca Fusi, colaborando com a conquista da Copa Mitropa e de uma vaga na Copa Uefa graças ao quinto lugar na Serie A. Seria sua única temporada vestindo grená.

As diretorias de Toro e Juventus entraram em acordo e Dino foi vendido à Velha Senhora por 9,8 bilhões de Velhas Liras. Se sentiu traído, pois era extremamente ligado ao clube formador e à sua torcida. A segunda traição ocorreu na sequência, já que a Juve imediatamente o girou por empréstimo à Inter, como forma de compensar os nerazzurri pela multa rescisória do técnico Giovanni Trapattoni. Dino logo retornou e fez uma parceria de sucesso com seu xará, Roberto Baggio, mesmo enfrentando alguma resistência inicial da torcida bianconera por causa de seu passado granata. O meia se firmou e foi um dos protagonistas do título da Copa Uefa, em 1993, anotando três gols nos dois jogos da final contra o Borussia Dortmund – um na ida, na Alemanha, e dois na volta, na Itália. Depois de integrar o elenco italiano no Mundial de 1994, o jogador encerrou sua passagem pela Juve e se transferiu ao Parma. Pelos ducali, se tornou carrasco dos bianconeri ao anotar duas vezes na decisão da Copa Uefa de 1995 e ainda causou polêmica em 2000, num confronto com a Velha Senhora. Depois de ser expulso, fez gestos que insinuavam que o árbitro Stefano Farina teria sido comprado pela adversária.

Néstor Combín

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 24 jogos pela Juventus (1964-65) e 82 pelo Torino (1966-69)

Nos anos 1960 não era muito comum ver jogadores trocando o futebol da França pelo da Itália. Nascido na Argentina, mas com nacionalidade francesa, o velocista Combín (ao centro da foto, entre Omar Sívori e Luis del Sol), foi um dos poucos que fez este trajeto. Após ser um dos grandes destaques do Lyon, La Foudre (“O Raio”, em português) atravessou os Alpes e chegou a uma Juventus que se reformulava, após o desmantelamento do Trio Mágico, com a saída de John Charles e a aposentadoria de Giampiero Boniperti. Combín foi o principal parceiro de Sívori no ataque do time de Heriberto Herrera, campeão da Coppa Italia, mas se despediu da Velha Senhora depois de apenas uma temporada. HH2 não ficou convencido pelas atuações do vice-artilheiro bianconero, com nove gols.

O Raio teve um ano ruim pelo Varese e pela seleção francesa, que foi eliminada muito cedo na Copa de 1966, mas a maré virou depois do Mundial. Combín voltou ao Piemonte para atuar pelo Torino e se tornar ídolo: o franco-argentino passaria a ser conhecido como “Il Selvaggio” (“O Selvagem”), por causa de seu espírito incansável de luta em campo. Em três anos, o atacante disputou 106 partidas e marcou 31 gols; 13 dos quais na temporada 1967-68, quando foi vice-artilheiro da Serie A e campeão da Coppa Italia. A marca individual foi alcançada graças a duas triplettas intercaladas por uma tragédia: depois do 4 a 2 sobre a Sampdoria, seu grande parceiro Luigi Meroni foi comemorar a vitória na zona central da cidade, mas acabou atropelado e morreu. O jogo marcado para a rodada seguinte à morte do jogador de 24 anos era justamente o dérbi contra a Juve. Combín homenageou o amigo e, numa atuação de gala, marcou três gols na vitória do Toro por 4 a 0 e entrou para a história do clássico. La Foudre ainda passou pelo Milan e faturou um Mundial de Clubes antes de retornar ao futebol francês e se aposentar.

Guglielmo Gabetto

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 191 jogos pela Juventus (1934-41) e 225 pelo Torino (1941-49)

Poucos foram tão turineses quanto Gabetto. O atacante nasceu e morreu na cidade e, em toda sua carreira, defendeu apenas as duas equipes da capital do Piemonte. Aliás, não eram quaisquer times: Gabe, como era conhecido pelos torcedores, fez parte da fase final do Quinquennio d’Oro da Juventus e foi um dos principais nomes do Grande Torino, pentacampeão italiano na década de 1940. Conhecido como Barone, pela elegância e os cabelos cheios de brilhantina, Gabetto estreou na Juve em 1934, participou discretamente do último scudetto do quinquênio e se afirmou como titular bianconero nos anos seguintes. A longa passagem pela Velha Senhora não incomodou a torcida granata, já que o centroavante era um dos quatro únicos nascidos em Turim que participaram da formação do maior time da história do Torino.

Gabe foi um dos mais prolíficos atacantes das décadas de 1930 e 1940. O centroavante marcou mais de 10 vezes em quase todos os Campeonatos Italianos que disputou entre 1935 e 1949 – somente em duas ocasiões passou perto, com nove e oito tentos. Até hoje é dono de marcas expressivas: é um dos 10 principais artilheiros da Juve na Serie A (85 gols na competição; 102 no total) e o quarto maior do Torino em termos gerais, com 127 bolas nas redes. Gabetto também é o segundo principal marcador do Derby della Mole, com 12 gols (sete pela Juventus e cinco pelo Torino), e é um dos três únicos que venceram o Campeonato Italiano pelas duas grandes equipes de Turim – os outros são Alfredo Bodoira e Eugenio Staccione. Infelizmente, acabou desaparecendo junto com todo o esquadrão grená no Desastre de Superga, no fatídico 4 de maio de 1949. Faleceu aos 33 anos.

Silvio Piola

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 23 jogos pelo Torino (1944) e 57 pela Juventus (1945-47)

Piola é simplesmente o maior artilheiro do Campeonato Italiano, com 274 gols anotados desde que o modelo de pontos corridos foi adotado na Serie A. Embora tenha defendido os clubes de Turim por um curto período de sua longa carreira, o matador entrou para a história do Derby della Mole. Afinal, o lombardo é um dos três corações ingratos que deixaram sua marca no clássico tanto pelos grenás quanto pelos alvinegros (os outros são os já citados Gabetto e Vittorio Sentimenti), graças aos três com a camisa do Torino e a mais com o manto da Juventus. Curiosamente, Piola já tinha quase 30 anos e era um jogador consagrado quando foi jogar na capital do Piemonte. Embora não tivesse celebrado nenhum título nacional por Pro Vercelli ou Lazio, havia sido duas vezes artilheiro da Serie A pelos celestes e tinha uma Copa do Mundo, a de 1938, no currículo.

Sua chegada ao Toro teve motivos extracampo. A partir de meados de 1943 durante a II Guerra Mundial, ficou impossível praticar futebol no sul da Itália ou mesmo ao centro, em Roma, o que levou a Serie A a ser suspensa. Piola partiu para o norte para buscar a família e levá-la à capital, mas acabou ficando isolado na região por eventos bélicos: Benito Mussolini foi derrubado, preso e resgatado pelos nazistas, mas um armistício com os Aliados já havia sido assinado pelo novo governo. O Belpaese estava dividido entre o sul, libertado pelos norte-americanos e rompido com o fascismo, e o norte, onde o Duce, convertido definitivamente em fantoche de Adolf Hitler, mantinha sua república graças ao suporte do exército alemão.

A partir de janeiro de 1944, acabou acontecendo o Campeonato da Alta Itália (não reconhecido pela FIGC), do qual Piola participou, pelo Torino, graças a uma permissão especial. Marcou 27 gols em 23 jogos, mas não foi campeão. Com o final do conflito, o goleador decidiu permanecer no Piemonte e pediu à Lazio para ser negociado. Silvio acertou com a Juve, mas não ganhou títulos no biênio bianconero. Chegou perto em 1945-46, quando o Italiano foi, de forma excepcional, disputado em grupos. A Velha Senhora estava à frente do Grande Torino até a última rodada da fase final, mas vacilou contra o Napoli e permitiu que os granata se sagrassem novamente vencedores.

Felice Borel

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 308 jogos pela Juventus (1932-41 e 1942-46) e 26 pelo Torino (1941-42)

Os filhos de Ernesto Borel, ex-jogador da Juventus, são corações ingratos. Os atacantes Aldo Giuseppe e Felice já começaram suas vidas no futebol do lado contrário do pai: fizeram carreira na base do Torino. O primogênito, menos talentoso, estreou profissionalmente pelos grenás e rodou o país até chegar na Juve. O mais novo, não: aos 18 anos foi tirado da rival pela Velha Senhora para causar impacto imediato. Atacante magro, ágil e elegante, Borel foi apelidado como Farfallino (“borboletinha”) e foi um dos grandes craques dos bianconeri durante o Quinquennio d’Oro. Logo em suas duas primeiras temporadas, Borel impressionou ao se sagrar artilheiro da Serie A, com 29 e 31 gols, respectivamente. Em forma estrepitosa, Farfallino marcou em seis dérbis de Turim consecutivos, entre 1932 e 1935, conquistou três scudetti pela Juventus e integrou o elenco italiano que conquistou o primeiro mundial, em 1934 – devido à concorrência de Giuseppe Meazza e Angelo Schiavio, o jovem só atuou em uma partida.

Felice parecia destinado a se tornar um dos maiores atacantes italianos da história, mas decaiu muito cedo: com apenas 21 anos, uma grave lesão no joelho condicionou o restante de sua carreira. Seus números de aparições e gols caíram drasticamente, mas ainda assim Borel é o sexto principal goleador juventino, com 161 tentos. Borel se transferiu para o Torino em 1941 e passou apenas um ano no clube, mas ficou próximo do presidente Ferruccio Novo e ajudou a influenciar a formação do Grande Torino. Com suas ideias sobre o esporte, convenceu o cartola a descartar técnicos que adotassem o esquema tático conhecido como metodo e contratar os que optassem pelo sistema – saiba mais aqui. Farfallino retornou à Juventus para ocupar as funções de técnico e jogador e teve o seu canto do cisne pela gigante bianconera, atuando em nível razoável até se despedir de Turim, em 1946.

Aldo Serena

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 35 jogos pelo Torino (1984-85) e 70 pela Juventus (1985-87)

O grandalhão Serena teve mais destaque pela Inter, mas não teve atuações desprezíveis no Piemonte. Seu currículo, aliás, é invejável: apenas ele e Bobo Vieri aturam pelos dois times de Milão e pelos dois times de Turim, mas apenas Aldo entrou em campo nos dois clássicos citadinos. O Testina d’Oro é um coração ingrato de respeito, que também está na história por ser ter sido o único atleta capaz de vencer a Serie A com a camisa dos três maiores clubes do Belpaese.

Em 1984-85, o técnico Luigi Radice deixou a Inter e retornou ao Torino, acompanhado a tiracolo pelo atacante que havia treinado na Beneamata. Serena foi um dos principais reforços grenás, ao lado do brasileiro Júnior, e mostrou serviço na surpreendente campanha do vice-campeonato nacional: o Testina d’Oro foi o artilheiro da equipe, com nove gols. Entre eles, destacaram-se a doppietta contra o Napoli de Diego Maradona e o tento que, aos 89 minutos, garantiu a vitória de virada por 2 a 1 no Derby della Mole. Na janela de verão, a Juventus, recém-campeã europeia, ofereceu à Inter 2,8 bilhões de velhas liras mais o passe de Marco Tardelli para contratar o seu carrasco. À época, Aldo se tornou o quarto na história a defender Inter, Milan e Juve – hoje, a honraria é de 11 jogadores. Na Velha Senhora, Serena conquistou um Mundial Interclubes e um scudetto, além de ter sido vice-artilheiro da equipe em 1985-86 e seu máximo goleador, em 1986-87.

Christian Vieri

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 9 jogos pelo Torino (1991-92) e 37 pela Juventus (1996-97)

Seguindo os passos do pai, Roberto Vieri, Bobo integrou o nomadismo a seu estilo de vida. Nascido em Bolonha, na juventude morou na Itália, nos Estados Unidos e na Austrália, onde começou a jogar futebol. Contando com os clubes em que atuou nas categorias de base, o bomber vestiu 16 diferentes camisas – e a primeira como profissional foi a do Torino. Vieri foi contratado pelo Toro aos 17 anos e foi bicampeão Primavera pela equipe grená, além de ter participado de uma grande temporada pelo plantel principal: em 1991-92, a equipe piemontesa foi terceira colocada na Serie A e vice da Copa Uefa.

Vieri deixou o Toro para ter mais espaço e atuou por três clubes da Serie B (Pisa, Ravenna e Venezia) até chegar à elite e se destacar pela Atalanta. Em 1996, a Juventus adquiriu o bomber, então com 23 anos, mas teve de esperar um pouco para que ele desse o retorno esperado. A partir do fim do ano, Bobo começou a ter desempenho de alto nível e ganhou as primeiras oportunidades na seleção – logo em sua estreia, marcou o milésimo gol da história da Nazionale. Vieri ficou apenas um ano na equipe bianconera, mas se destacou bastante: marcou 14 gols em 37 aparições e conquistou uma Supercopa Uefa, um Mundial Interclubes e uma Serie A. Embora a diretoria quisesse mantê-lo no elenco, o Atlético de Madrid ofereceu cerca de 34 bilhões de liras para contar com Bobo e o levou para La Liga.

Fabio Quagliarella

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 109 jogos pelo Torino (1999-2002, 2004-05 e 2014-16) e 102 pela Juventus (2010-14)

Embora tenha nascido na região de Nápoles, Quagliarella começou a sua trajetória futebolística no Piemonte. Fabio entrou na base do Torino com apenas 10 anos e estreou pelo clube aos 17, na Serie A. Para amadurecer, foi emprestado à Florentia Viola e ao Chieti, nas divisões inferiores, e foi aproveitado pelos grenás para a disputa da segundona, em 2004-05. Atacante versátil, de muita movimentação e finalização acima da média, Quagliagol contribuiu para o acesso do Torino, que não pode assumir sua vaga na elite porque faliu. Sem contrato, aceitou uma proposta do Ascoli, que disputaria a Serie A, e começou uma peregrinação pelo Belpaese. Com muito sucesso, passou por Sampdoria, Udinese e Napoli, ganhando chances na seleção, que representou na Euro 2008, na Copa das Confederações de 2009 e no Mundial de 2010. Ao retornar da África do Sul, acertou com a Juventus.

A transferência deixou a torcida napolitana furiosa e também gerou insatisfação na comunidade granata. Nos quatro anos em que defendeu a Velha Senhora, Quagliarella foi tricampeão italiano e sempre foi muito útil aos bianconeri, o que irritava os rivais de Turim. Mesmo saindo do banco na maioria das vezes, o campano chegou a ser artilheiro do time em 2010-11 e o segundo melhor marcador em 2012-13. Em 2014, o presidente Urbano Cairo decidiu repatriar o atacante de 31 anos, mas enfrentou resistência das organizadas. Dentro de campo, Fabio rendeu em bom nível e foi autor de um gol histórico: virou o dérbi contra a Juve, em abril de 2015, e fez os grenás comemorarem um triunfo sobre a arquirrival pela primeira vez em 20 anos. Este tento e os outros 16 que guardou na temporada não foram suficientes para selar a paz entre o atacante e a torcida. Depois que Quagliarella declarou que torceria pela Juventus na final da Champions League contra o Barcelona, a má vontade da tifoseria se reacendeu. O relacionamento degringolou de vez quando o camisa 27 não comemorou um gol marcado contra o Napoli, em janeiro de 2016. Poucos dias depois, o veterano acertou com a Samp, seu atual clube.

Ciro Immobile

Posição: atacante
Trajetória nos clubes: 5 jogos pela Juventus (2008-10) e 48 pelo Torino (2013-14 e 2016)

Assim como Quagliarella, Immobile é oriundo das redondezas de Nápoles. Ao contrário do veterano, porém, Ciro ficou na Campânia durante a sua formação nas categorias de base e só aos 17 anos trocou o Sorrento pela Juventus. Ciruzzo foi tido como uma dos principais produtos da Primavera bianconera neste século e foi duas vezes campeão da prestigiosa Copa Viareggio – em 2010, foi o artilheiro (10 gols) e o melhor jogador do torneio. O goleador estreou profissionalmente na própria Velha Senhora, mas foi emprestado para ganhar cancha. Após desapontar no Siena e no Grosseto, Immobile explodiu no Pescara de Zdenek Zeman, marcando 28 gols e contribuindo para o título da Serie B e o consequente acesso dos golfinhos à elite.

Ciro voltou à Juventus, que cedeu metade dos seus direitos ao Genoa. Na Ligúria teve as primeiras chances reais na máxima divisão, mas não conseguiu um desempenho nem mesmo próximo ao que apresentou no Abruzzo. Em 2013, o Torino fez uma aposta e comprou a metade do passe de Immobile que pertencia aos genoveses. Tiro certeiro: o entrosamento com Alessio Cerci ajudou o versátil atacante a marcar 22 gols na Serie A e a devolver o Torino às competições europeias após uma ausência de mais de duas décadas. Já membro da Nazionale, Ciruzzo foi o artilheiro do campeonato e se tornou o primeiro jogador do Toro a atingir o feito desde Francesco Graziani, em 1977. Comprado inteiramente pelos grenás por 8 milhões de euros, Immobile foi revendido por 19,4 mi ao Borussia Dortmund. O italiano fracassou na Bundesliga e também não atuou bem no Sevilla, a ponto de retornar ao Torino, por empréstimo, em janeiro de 2016. Em dupla com Andrea Belotti, recuperou o bom futebol, mas não pode continuar no Piemonte: esperta, a Lazio adquiriu o bomber, que já é o sexto principal goleador de sua história.

Os outros jogadores que defenderam Juventus e Torino

Christian Abbiati, Karl Aegli, Amauri, Nicola Amoruso, Lelio Antoniotti, Augusto Arioni, Kwadwo Asamoah, Giovanni Barale, Mario Bo, Alfredo Bodoira, Ernesto Boglietti, Romolo Boglietti, Friedrich Bollinger, Ivano Bonetti, Aldo Giuseppe Borel, Bremer, Matteo Brighi, Luigi Brunella, Fabrizio Cammarata, Domenico Capello, Riccardo Carapellese, Nicola Caricola, Luca Castiglia, Filippo Cavalli, Raúl Conti, Eugenio Corini, Alessandro Dal Canto, Luigi Danova, Bruno Dante, Guido Debernardi, Teobaldo Depetrini, Jack Diment, Iago Falque, Enrico Fantini, Rino Ferrario, Luigi Ferrero, Mario Fiamberti, Alberto Maria Fontana, Daniele Fortunato, Stefano Francescon, Oscar Frey, Luca Fusi, Andrea Gasbarroni, Andrea Gentile, Giovanni Giacone, Biagio Goggio, Francesco Imberti, Alfred Jacquet, Robert Jarni, Hans Kämpfer, Matts Kunding, Simone Loria, Alexander Manninger, Aidan McQueen, Cristian Molinaro, Marco Motta, Cesare Nay, Antonio Nocerino, Marco Pacione, Cristian Pasquato, Fabio Pecchia, Umberto Pennano, Marko Pjaca, Johannes Pløger, Eduardo Ricagni, Tomás Rincón, Giuseppe Romano, Rubinho, Enrico Santià, Vittorio Sentimenti, Luigi SimoniStefano Sorrentino, James Squair, Eugenio Staccione, Walter Streule, Valerio Terzi, Stevan Tommei, Vincenzo Traspedini, Attilio Valobra, Francesco Varalda, Giovanni Vecchina, Simone Zaza, Ilyos Zeytulayev e Enea Zuffi.

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