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B de Brescia: lombardos sobem para a Serie A, mas disputa por vagas continua na segundona

Na Serie A os cenários estão mais ou menos desenhados: a Juventus é a campeã, o Napoli está garantido na Liga dos Campeões, o Chievo já foi rebaixado e o Frosinone está muito próximo do retorno imediato à segunda divisão. Se na elite restam apenas as definições das últimas vagas europeias e do terceiro clube a ser relegado, na Serie B a conversa, como sempre, é muito mais complexa. Desde o último balanço, a tabela mudou bastante e, faltando duas rodadas, a única certeza no momento é o retorno do Brescia à elite depois de oito anos.

Como tem sido a tônica nos últimos anos, a imprevisibilidade foi a marca do campeonato e a equipe da Lombardia acabou premiada por sua regularidade. Inicialmente treinados por David Suazo, ex-atacante de Cagliari e Inter, logo no início da temporada os andorinhas passaram ao comando de Eugenio Corini, ídolo do Chievo, com quem realmente entraram nos eixos. Dono do melhor ataque, o Brescia naturalmente tem o artilheiro da competição: Alfredo Donnarumma, com 25 gols, também já tinha anotado muitos tentos no acesso do Empoli um ano atrás.

O setor mais rico do time é o meio-campo, onde está a joia Sandro Tonali, que faz sua primeira temporada como titular na Serie B e é cobiçado pelos grandes clubes da elite. Ao seu lado estão os também jovens Dimitri Bisoli, Emanuele Ndoj e Nikolas Spalek, além do veterano Daniele Dessena, que adicionou experiência para o elenco desde sua chegada na janela de inverno. Inclusive, foi do ex-volante de Cagliari, Sampdoria e Parma o gol que garantiu o acesso, conquistado nessa quarta com uma vitória magra sobre o Ascoli.

Para não corroborar com sua sina de ioiô do futebol italiano, o Brescia – clube que mais vezes jogou a segundona, com 61 participações – conta nos bastidores com Massimo Cellino, ex-proprietário e presidente de Cagliari e Leeds United. Na Sardenha, o empresário alcançou grandes resultados, mas também provocou outros problemas e polêmicas – na Inglaterra, não deixou saudades. Cellino tem liderado o aporte de investimentos para os rondinelle e já construiu um novo centro de treinamento e promoveu a reforma do estádio Mario Rigamonti. Com o acesso já garantido, basta um empate na próxima rodada para que os lombardos conquistem seu quarto título da Serie B.

No coletivo do Lecce, o atacante La Mantia se sobressai (LaPresse)

Surpresa desde o início do campeonato, quando encerrou o primeiro turno já na quarta colocação, o próximo a se garantir será o Lecce. A equipe da Apúlia, inclusive, chegou a adiar a promoção do Brescia no último final de semana, quando ganhou no lotado e fervoroso estádio Via del Mare. Longe da Serie A desde 2012 e rebaixado à Lega Pro por envolvimento no escândalo Calcioscommesse, o clube ficou seis anos na terceira divisão e faz uma campanha inesperada justamente por ter ascendido à B em 2018.

Apesar disso, não faltaram investimentos para o time treinado por Fabio Liverani, memorável regista da década passada, que defendeu as cores de Lazio, Fiorentina e Palermo. Apesar de não ter nenhum grande destaque extraordinário como o Brescia, possui um elenco equilibrado e um ataque produtivo, liderado pelo centroavante Andrea La Mantia e o meia-atacante Marco Mancosu. Seu acesso só não foi confirmado ainda por causa da derrota para o lanterna Padova, que respira por aparelhos e tenta pelo menos chegar na zona de play-out. O Lecce folgará na próxima rodada, mas pode se garantir na elite mesmo sem jogar.

Isso por causa do dramático Palermo. O clube da Sicília passou por uma mudança frustrada de gestão com a saída do folclórico Maurizio Zamparini, que vendeu todas as ações para um grupo de investimentos britânico durante ameaças de falência do clube. Os ingleses não cumpriram seus acordos e agora os rosanero voltaram para as mãos de Zamparini, ainda que de forma indireta, através de Daniela De Angeli e Rino Foschi, respectivamente ex-administradora e ex-diretor esportivo do clube durante a gestão do exótico dirigente.

Dessa forma, além de não ter resolvido os problemas, o clube piorou sua situação e a falência voltou a ser assunto. As acusações vão desde irregularidades da gestão de Zamparini até os atrasos salariais, que naturalmente causaram a queda de rendimento da equipe, campeã de inverno. Hoje terceiro colocado, o Palermo recentemente trocou de treinador: Roberto Stellone deu lugar a Delio Rossi, que iniciou sua terceira passagem pela Sicília com dois empates por 2 a 2. Basta repetir o resultado contra o Ascoli, no sábado, para confirmar o acesso direto do Lecce.

Já confirmados no play-off, os rosanero precisam vencer as últimas duas partidas e torcer por um tropeço do Lecce na rodada final para retornarem à elite sem que tenham de disputar a fase de mata-mata. Mas a verdade é que o futuro do clube é um mistério no momento e, ao invés de ser promovido, o Palermo corre o risco de ser rebaixado por conta de seus problemas financeiros. Também já garantido no mata-mata final, o Benevento só espera o final da temporada regular e da definição do seu adversário, já que as últimas quatro vagas serão decididas apenas na última rodada.

Delio Rossi voltou para o Palermo, que passa por inúmeros problemas extracampo (Getty)

Seis times disputam os quatro lugares restantes. O melhor colocado é o Pescara, que caiu de rendimento no segundo turno e não vence há um mês, mas ainda tem quatro pontos de vantagem para o primeiro fora da zona do play-off. Com dois pontos a menos, o Verona vive situação pior e não vence desde março: a sequência negativa de sete partidas causou a demissão de Fabio Grosso e a chegada de Alfredo Aglietti como “bombeiro”. Quase colados uns aos outros, Spezia e Cremonese têm 48, enquanto Cittadella e Perugia, com 47, tentam retornar para a zona.

Com a salvezza garantida e sem grandes chances de subir, Ascoli e Cosenza estão confortáveis no meio da tabela. No caso dos calabreses, há de se ressaltar a digníssima campanha, recheada de percalços. O time treinado por Piero Braglia retornava à Serie B depois de 15 anos, tinha o elenco mais modesto da competição e começou o ano perdendo por WO, por causa das péssimas condições do gramado do estádio San Vito, que impediam a prática esportiva. Desde então, os lupi vêm surpreendendo com o jovem Jaime Báez, da Fiorentina, e a dupla napolitana Luca Palmiero e Gennaro Tutino.

Vindo de duas vitórias seguidas e uma grande arrancada desde a virada do ano, o Crotone começou o ano de forma trágica e chegou a ser lanterna do campeonato, o que levou a diretoria a trocar de técnico três vezes. Depois da volta de Giovanni Stroppa, que iniciou a campanha, o time está praticamente salvo, com cinco pontos de vantagem para a zona do play-out. A arrancada tem a marca do grandalhão Simy: desde março foram sete gols marcados pelo nigeriano, incluindo o da vitória contra o Benevento, que finalmente trouxe paz em uma temporada decepcionante para uma equipe que começou sonhando com o retorno imediato para a elite.

Quem também decepciona é a Salernitana, que contou com boas contratações em busca da terceira participação na elite. Muitos dos reforços do clube presidido por Claudio Lotito, inclusive, vieram da Lazio, que também é comandada pelo cartola. A equipe, que jamais engrenou e viu o treinador Stefano Colantuono entregar o cargo em dezembro, segue no mesmo cenário de cinco meses atrás: dois pontos acima da zona do play-out. O trabalho de Angelo Gregucci, ex-assistente de Roberto Mancini é ainda pior do que o do seu antecessor e são sete as derrotas de março até aqui.

Ídolo em Crotone, Simy marcou vários gols decisivos na reta final da segundona (Il Crotonese)

O maior perigo para o clube da Campânia no momento é o Livorno, que vem de uma vitória heroica sobre o Verona, com gol decisivo do brasileiro Murilo Mendes, que encerrou uma sequência de seis partidas de seca. A equipe do litoral da Toscana briga contra o rebaixamento desde o início do campeonato e chegou a figurar na última posição – em dezembro iniciou uma breve recuperação, mas logo voltou à má fase. Para evitar o play-out, precisará fazer a sua parte contra os lanternas Carpi e Padova, além de secar a Salernitana.

Com um ponto a menos está o Venezia, outra decepção da temporada, uma vez que brigou pelo acesso à Serie A em 2017-18. O time começou o ano com Stefano Vecchi, ex-treinador da equipe Primavera da Inter, mas em outubro Walter Zenga tomou seu lugar. Demitido em março, o ex-goleiro interista foi substituído pelo veterano Serse Cosmi, que dificilmente conseguirá evitar o play-out. O descenso seria um tremendo retrocesso no projeto do magnata ítalo-americano Joe Tacopina, proprietário dos lagunari.

A situação do Venezia ainda pode piorar, uma vez que o Foggia venceu na última rodada e chegou nos mesmos 34 pontos dos arancioneroverdi. Os rossoneri da Apúlia, inclusive, têm uma campanha melhor que a dos dois times acima na classificação, mas por causa de problemas administrativos começou o campeonato com oito pontos a menos, sendo que dois foram posteriormente revogados – conquistou, portanto, 40 em campo. Com velhos conhecidos da Serie A, como Leandro Greco, Oliver Kragl e Pietro Iemmello, não dá para descartar uma recuperação dos satanelli no final – ainda que seus adversários nos próximos jogos sejam Perugia e Verona.

Carpi e Padova, empatados com 29 pontos, terão de reverter uma grande desvantagem. Ambos terão confrontos diretos nas últimas rodadas, sendo que os emilianos enfrentarão Livorno e Venezia, justamente os que estão na zona do play-out, enquanto os paduanos, além do Livorno, terão o Benevento. Na lanterna do campeonato, os patavini terão que obrigatoriamente somar os seis pontos, sendo que – pelos critérios de desempate – o Carpi precisará reverter os 4 a 1 sofridos para os toscanos. Improvável.

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