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O dia em que Sarri foi rechaçado no Milan por discordância política com Berlusconi

Apesar da temporada oscilante do Chelsea, o italiano Maurizio Sarri conseguiu seu primeiro título de expressão como treinador nesta quarta-feira, 29 de maio. Em uma final londrina, os Blues atropelaram o Arsenal por 4 a 1, em Baku, capital do Azerbaijão, e faturaram a taça da Liga Europa de forma invicta. A premiação, porém, não deve salvar o emprego do técnico. Assim, Juventus e Milan crescem os olhos no toscano.

Vecchia Signora e Diavolo optaram por romper o vínculo com Massimiliano Allegri e Gennaro Gattuso, respectivamente, ao fim desta temporada. Sarri, cujo excelente trabalho no Napoli o levou à Premier League, surge como grande nome para ambos os clubes. Acontece que ele já esteve muito próximo de ser o comandante de um desses times.

No fim de abril de 2015, quando Sarri ganhava visibilidade treinando o Empoli, o então vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, o convidou para jantar. Os rossoneri atravessavam uma temporada horrível, e o trabalho de Filippo Inzaghi não convencera. A cúpula milanista estava à procura de um novo técnico, um homem que conseguisse extrair o melhor dos jogadores, visto que o presidente à época, Silvio Berlusconi, havia fechado a torneira do dinheiro.

Arrigo Sacchi entra em contato com Galliani e sugere o nome de Sarri. O icônico treinador do Milan via no toscano traços semelhantes aos seus. Ele também indicara o técnico do Empoli a Berlusconi. Segundo a Gazzetta dello Sport, Sacchi disse explicitamente ao ex-primeiro-ministro: “Se você levá-lo ao Milan, demonstrará mais uma vez que está dez anos à frente de todos”. A frase faz alusão à aposta que Berlusconi fizera no próprio Sacchi, em 1987.

Galliani, então, se anima no jantar e começa a falar sobre o contrato com Sarri. O comandante assina um pré-acordo com o dirigente. Tudo andando a mil maravilhas. Até que Maurizio deixa claro uma questão ao careca: “Doutor, você precisa saber que eu sou de esquerda”. Galliani capta a mensagem e, depois de uma pausa, encara Sarri nos olhos e solta: “Muito bem, de agora em diante esse será o nosso segredo”.

Galliani sabia que as ideias políticas de Sarri eram opostas às de Berlusconi, um conservador liberal. Não à toa, o “Cavaliere” galgou posições na política liderando dois partidos de centro-direita, Forza Italia e Il Popolo della Libertà. Portanto, o cartola entendia que precisava encontrar um jeito de fazer Sarri e Berlusconi se entenderem – em prol do bem do Milan.

No entanto, tudo veio abaixo quando Sarri revelara seu posicionamento político em duas entrevistas, uma para Il Fatto Quotidiano e outra para La Repubblica – esta última dias depois do encontro com Galliani. Berlusconi lera a entrevista do técnico ao jornal La Repubblica, e a possibilidade de o toscano comandar os rossoneri morrera antes de Galliani tentar convencê-lo.

“Nasci em Nápoles, mas sou de Figline Valdarno, a dois passos de Rignano. [O político de centro-esquerda Matteo] Renzi me parece alguém que faz as mesmas coisas que Berlusconi, ou quase. Meu avô era um partidário e meu pai, um trabalhador: como posso votar no Renzi?”, disse Maurizio, ao FQ, em dezembro de 2014. Nessa mesma entrevista, o treinador confessou ser amante de livros: “Eu gosto de ir a bibliotecas, cheirar papel, olhar para as capas. Posso ficar sem música, mas não suportaria ficar sem livros”.

O cartola milanista liga para Sarri e, segundo relato da Gazzetta, lamenta: “Eu sinto muito, você era o homem certo”. Alguns dias depois desse telefonema, o presidente do Napoli, Aurelio De Laurentiis, entra em contato com o treinador para levá-lo a Nápoles. Metódico e perfeccionista, Sarri elevou o nível do time napolitano, tirou o máximo dos jogadores e fez a equipe brigar com a Juventus pelo título da Serie A.

O Milan, por sua vez, moeu mais e mais treinadores: depois de Pippo Inzaghi, passaram pelo banco milanista Sinisa Mihajlovic, Cristian Brocchi (interinamente), Vincenzo Montella e Gattuso. Berlusconi também deu adeus ao clube, que continuou atravessando momentos de turbulência. Agora, com a nova filosofia de buscar jovens jogadores, ideia imposta pelo atual diretor geral do Diavolo, Ivan Gazidis, Sarri surge novamente na pauta rossonera.

Desta vez não há Berlusconi para vetar sua chegada, mas, depois de tornar o Napoli competitivo e levar o Chelsea ao título da Liga Europa, é pouco provável que Sarri aceite pegar mais um projeto incerto. Por isso, a “velha conhecida” Juventus, que domina a Itália há oito anos, passa a ser a grande favorita a contratá-lo.

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