Serie A

Maldini se destaca como cartola do Milan e destoa de ‘papel figurativo’ dado a ex-craques

Lenda nos tempos de jogador, Paolo Maldini se tornou uma das maiores bandeiras da história do Milan. Sua solidez defensiva e liderança impecável dentro das quatro linhas ajudaram os rossoneri a chegarem ao topo do mundo. Agora com a função de dirigente, o ex-camisa 3 milanista tenta recolocar o clube na prateleira de cima da Europa, depois de anos de irregularidade. E, no mercado de transferências de setembro e outubro de 2020, Maldini virou o epicentro da diretoria do Milan, destoando de “papéis figurativos” exercidos por ex-craques em grandes clubes italianos.

Nos últimos anos, Juventus, Inter e Roma reforçaram suas diretorias com ídolos recém-aposentados. O checo Pavel Nedved encarou a missão de ser vice-presidente da Vecchia Signora. Eterno capitão interista, o argentino Javier Zanetti também entrou para a cúpula da Beneamata como vice-presidente. Maior bandeira da Roma, Francesco Totti foi outro que se aventurou como cartola, mas pediu para sair após um ano na diretoria giallorossa, alegando desavenças com o ex-presidente romanista James Pallotta.

Evidentemente, Nedved e Zanetti possuem sua relevância na direção de Juventus e Inter, respectivamente. Afinal, ambos concedem entrevistas sobre assuntos administrativos, assistem a jogos direto dos estádios, são figuras importantes para expandir as marcas dos clubes e certamente têm voz ativa. Entretanto, Juve e Inter dispõem de profissionais mais gabaritados e conhecidos do público italiano no quadro de membros da diretoria.

Talvez o nome mais popular entre os torcedores juventinos seja o de Fabio Paratici, efetivado no cargo de diretor de futebol em 2018, após oito anos na função de diretor esportivo da agremiação. Ele, inclusive, foi um dos responsáveis pela contratação de Cristiano Ronaldo. Se Paratici conseguiu ser promovido na Juventus, muito se deve à saída de Giuseppe Marotta, ex-diretor executivo bianconero. Beppe, depois de ajudar a montar o time que dominou a Itália nos anos 2010, firmou vínculo com a Inter em dezembro de 2018 para ser o diretor executivo responsável pela parte esportiva da equipe.

Por isso, Maldini destoa de seus colegas em relação a protagonismo na cúpula de um time em que fora ídolo. O ex-defensor voltou ao time rossonero em agosto de 2018, com a função de diretor de desenvolvimento e estratégia esportiva. O retorno ao Diavolo demorou muito tempo – ele pendurou as chuteiras em 2009 – porque Paolo não sentia confiança nas pessoas que estavam na direção do clube, sobretudo os investidores chineses. Mas, depois que o fundo Elliott Management Corporation assumiu o controle da agremiação devido à falta de pagamento dos asiáticos, Maldini finalmente voltou à sua casa.

Durante um ano, ele permaneceu trabalhando junto ao brasileiro Leonardo, que gastou rios de dinheiros em contratações na temporada 2018-19 e acabou demitido após a equipe não se classificar à Liga dos Campeões. Assim, Maldini foi “efetivado” ao cargo de diretor técnico em junho de 2019. O começo na função não foi dos melhores: o técnico escolhido para suceder Gennaro Gattuso, Marco Giampaolo, teve um início de temporada desastroso e acabou exonerado após sete jogos.

Além de ficar de olho no mercado, Maldini tem contato direto com o elenco rossonero (LaPresse)

Com isso, Maldini, Zvonimir Boban (então coordenador e supervisor das atividades esportiva), Frederic Massara (diretor esportivo) e Ivan Gazidis (diretor-geral) apostaram em Stefano Pioli para assumir o leme do navio rubro-negro. A decisão não caiu bem entre os torcedores, mas o comandante se saiu melhor do que a encomenda. Não por acaso, os rossoneri fecharam as portas para Ralf Rangnick, homem por trás do crescimento das equipes da Red Bull nos últimos anos, a fim de prosseguir com o atual treinador.

Aliás, a decisão de descartar Rangnick e continuar com Pioli é bem importante para entendermos a história de Maldini como dirigente do Milan. Isso porque, segundo a imprensa italiana e alemã, caso Rangnick fosse contratado, ele exerceria o cargo de treinador e cartola. Nesse cenário, Maldini e Massara provavelmente não permaneceriam no clube, a exemplo de Boban, demitido em março passado. Mas Paolo seguiu em Milanello e provou ser um grande dirigente.

Primeiro, exerceu a opção de compra do zagueiro Simon Kjaer, antes emprestado pelo Sevilla, e renovou o contrato de Zlatan Ibrahimovic, uma das principais referências do time. Depois, quando a janela de transferências abriu, fez uma limpa no elenco, vendendo jogadores que não estavam sendo aproveitados no plantel, e realizou boas aquisições – jovens em sua maioria – sem gastar muito.

Também efetuou a compra em definitivo do croata Ante Rebic, pilar do time milanista, e superou a Inter para fechar com o promissor meio-campista Sandro Tonali, cria do Brescia. Cabe frisar, ainda, que Maldini teve papel preponderante na contratação de Theo Hernández junto ao Real Madrid, em julho de 2019. Hoje, o francês é um dos melhores laterais-esquerdos em atividade no futebol italiano.

Chegadas

  • Pierre Kalulu (lateral-direito, ex-Lyon)
  • Emil Roback (atacante, ex-Hammarby)
  • Brahim Díaz (meia, emprestado pelo Real Madrid)
  • Sandro Tonali (meio-campista, emprestado pelo Brescia)
  • Ciprian Tatarusanu (goleiro, ex-Lyon)
  • Jens Petter Hauge (atacante, ex-Bodo/Glimt)
  • Diogo Dalot (lateral-direito, emprestado pelo Manchester United)

Saídas

  • Asmir Begovic (goleiro, fim de empréstimo; retornou ao Bournemouth)
  • Giacomo Bonaventura (meia, fim de contrato; assinou com a Fiorentina)
  • Lucas Biglia (volante, fim de contrato; assinou com o Fatih Karagümrük)
  • Ricardo Rodríguez (lateral-esquerdo, vendido ao Torino)
  • Marco Brescianini (meia, emprestado ao Virtus Entella)
  • Alessandro Plizzari (goleiro, emprestado à Reggina)
  • Gabriele Bellodi (zagueiro, emprestado à Alessandria)
  • Pepe Reina (goleiro, saiu de graça para a Lazio)
  • Frank Tsadjout (atacante, emprestado ao Cittadella)
  • Tommaso Pobega (meia, emprestado ao Spezia)
  • Lucas Paquetá (meia, vendido ao Lyon)
  • Diego Laxalt (lateral-esquerdo, emprestado ao Celtic)
  • Alen Halilovic (meia, rescindiu contrato)

Em suma, Maldini está demonstrando excelente performance como dirigente do Milan. É evidente que alguns imprevistos podem ocorrer durante a temporada, mas é louvável ver uma lenda do tamanho de Paolo se destacando também com terno, gravata e sapato social – conjunto bem diferente daquele em que ele entrava em campo. Depois de conviver tanto tempo com o interminável Adriano Galliani, braço direito de Silvio Berlusconi em seus 31 anos de Milan, certamente o ex-defensor absorveu muito das estratégias de seu antigo chefe.

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