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O pequenino Rui Barros foi querido pela torcida da Juve em entressafra do clube

Houve um tempo em que poucos jogadores portugueses atuavam fora de seu país de origem e tentar a sorte no futebol italiano era fato raríssimo. No final da década de 1980, por exemplo, o baixinho Rui Barros se tornou o segundo lusitano a disputar a Serie A. Pela Juventus, o meia-atacante de apenas 1,59m conquistou a Coppa Italia, a Copa Uefa e também o respeito dos torcedores da equipe bianconera.

Como quase todo jovem que surge no interior de Portugal, Rui começou no clube da sua terra. O baixinho iniciou a sua formação como jogador no Aliados de Lordelo e passou por Rebordosa e Paços de Ferreira até ser comprado pelo Porto, ainda nas categorias de base. Apesar do sonho de atuar profissionalmente ganhar um novo estágio ao assinar por um dos maiores times lusos, Barros não teve uma trajetória simples.

No início, as dificuldades pelo tamanho se impuseram. Entre empréstimos para clubes do segundo escalão português, passaram-se três anos até se afirmar nos profissionais do Porto. Depois de atuar por Sporting da Covilhã e Varzim, Rui Barros voltou à equipe recém-campeã europeia e foi impulsionado pelo treinador Tomislav Ivic ao posto de substituto de Paulo Futre, negociado com o Atlético de Madrid.

Sob a batuta do técnico croata, o meia-atacante se tornou elemento fundamental na conquista da dobradinha nacional em 1987-88, temporada em que os dragões também faturaram o Mundial Interclubes e a Supercopa Uefa – com gol do baixinho nesta última ocasião. Eleito jogador português do ano, Rui Barros entrou na mira dos grandes da Europa.

A Juventus do presidente Giampiero Boniperti foi a primeira a se mexer e, por 7,5 bilhões de velhas liras, contratou o baixinho que impressionava pela sua velocidade e pela técnica com o emblema dos dragões. Aos 23 anos, Rui se tornava o segundo jogador lusitano a representar um clube da Serie A. O pioneiro havia sido o atacante Jorge Humberto, que na década de 1960 defendera Inter e Vicenza.

Barros chegou para preencher uma das três vagas de estrangeiros permitidas por time na Serie A: o ucraniano Oleksandr Zavarov e o dinamarquês Michael Laudrup completavam a seleta lista gringa da Juve. Naquele momento, a Velha Senhora passava por um redesenho do elenco por conta do fim de um ciclo, marcado pelas aposentadorias de Michel Platini e Gaetano Scirea, respectivamente em 1987 e 1988, e pela saída do técnico Giovanni Trapattoni, em 1986.

Pequeno gigante, Rui Barros brilhou pela Juventus em jogos expressivos (imago)

O português estreou pela fase de grupos da Coppa Italia, num empate sem gols com o Cosenza, e marcou o seu primeiro pela equipe de Turim num triunfo por 4 a 2 sobre o Taranto, na mesma competição. Pouco depois, Rui Barros apareceu com destaque na Copa Uefa: anotou uma doppietta e contribuiu para a vitória por 5 a 0 sobre os romenos do Otelul Galati, que haviam vencido na partida de ida da etapa inaugural do torneio. Em ambos os mata-matas, a Juve não prosperou: na disputa continental, inclusive, caiu nas quartas para o poderoso Napoli de Diego Maradona, que viria a se sagrar campeão daquela edição.

Naquela temporada, a Juventus era treinada por Dino Zoff e o meia-atacante português, juntamente a Zavarov, tinha a missão de abastecer o centroavante Alessandro Altobelli. No seu primeiro ano jogando no estrangeiro, Rui não sentiu a pressão e manteve o brilhantismo da época do Porto: marcou logo 12 gols na Serie A. E, dentre estes, um dos mais marcantes foi o golaço no empate diante da Inter por 1 a 1, quando deu um leve toque de cobertura em Walter Zenga para anotar o tento solitário da Juve naquela noite de campeonato.

O estilo de Rui era notável. Apesar da baixa estatura, tinha rapidez e técnica para achar espaços incomuns na defesa adversária. Gostava de jogar na ponta direita e também como segundo atacante, funções em que brilhou durante toda a sua carreira. O pequenino que adorava encobrir os goleiros adversários foi um bálsamo num ano irregular da Juve, que ficou na quarta posição da Serie A e se classificou novamente para a Copa Uefa. Seus rivais voavam alto: a Inter faturou o scudetto e o Milan foi campeão europeu mais uma vez.

A temporada seguinte não foi tão prolífica como a de 1988-89, na qual foi o goleador da Juventus no Italiano, mas foi brilhante e repleta de tentos cruciais. O primeiro deles foi o que deu a magra vitória contra o Paris Saint-Germain pela segunda fase da Copa Uefa, a atual Liga Europa. Depois, anotou também contra o Milan, pela Serie A, mas não evitou a derrota juventina por 3 a 2. O melhor estava guardado para o returno: com doppietta, Rui Barros garantiu triunfo sobre os rossoneri por 3 a 0.

Il Piccolo Gigante (“o pequeno gigante”) ou o Formiga Atômica, como era conhecido, ainda teve tempo de marcar o seu gol mais importante pela Juventus até o fim de 1989-90. Na partida de ida das semifinais da Copa Uefa, contra o Köln, Rui Barros deu início à festa ao aproveitar um recuo errado de Armin Görtz: o português deixou a defesa comendo poeira e abriu o placar para a Velha Senhora. Com o 3 a 2 em Turim e o 0 a 0 na Alemanha, o time de Thomas Hässler ficou para trás.

Na final italiana contra a Fiorentina, uma vitória por 3 a 1 no primeiro jogo e um empate sem gols m Florença deu à equipe do Piemonte o seu segundo título da competição. Além da taça europeia, Rui também ganhou a copa nacional na mesma temporada, batendo o Milan na decisão.

Em Turim, Rui Barros foi protagonista na campanha do título da Juventus na Copa Uefa, em 1990 (Getty)

Rui Barros ia bem pela Juventus. Além de ter um ótimo rendimento pelo clube, era querido pela torcida bianconera. Entretanto, após o Mundial de 1990, houve nova reformulação na Velha Senhora. Luca Cordero di Montezemolo assumiu como vice-presidente e Luigi Maifredi substituiu Zoff no comando técnico. Para completar, a diretoria buscou Hässler, vitorioso na Copa com a Alemanha Ocidental, e Roberto Baggio. Ambos desempenhavam a função do pequenino tuga e representavam um salto de qualidade para um time que queria retomar o caminho de conquistas de maior prestígio. Assim, após 95 jogos e 19 gols marcados pela Juve, o Formiga Atômica acertou com o Monaco.

Depois de protagonizar espetáculos em solo italiano, Rui chegou ao clube monegasco como pedido especial do técnico Arsène Wenger. No principado, conquistou a Copa da França e marcou nas quartas e nas semifinais da Recopa Uefa, em 1991-92. Ao lado de George Weah, ajudou o Monaco a alcançar, pela primeira vez, a final da competição, perdida para o Werder Bremen. Depois de três temporadas com Les Rouge et Blanc, ainda militou um ano no Olympique de Marseille, mas as lesões o impediram de despontar ainda mais na França.

Após seis anos no estrangeiro, Rui decidiu regressar a seu país natal para jogar no Porto. Por lá, viveu tempos de glórias ao conquistar o pentacampeonato nacional pelos dragões até se aposentar, em 2000. O Formiga Atômica teve sucesso em quase todos os lugares pelos quais passou, mas não na seleção portuguesa. Barros fez 36 partidas e anotou quatro gols pela equipe lusitana, mas não chegou a disputar nenhuma grande competição pelas Quinas. Eram tempos menos brilhantes para Portugal, que só se classificou para a Euro 1996 desde que o baixinho ganhou as primeiras chances no time nacional. No entanto, o técnico António Oliveira optou por deixar o portista de fora do grupo.

Depois da gloriosa carreira como jogador, Rui também se aventurou nos bancos de reservas. Desde 2005 atuou como auxiliar técnico e observador do Porto, tendo dois períodos como treinador interino do time principal. Em 2018, assumiu o cargo de comandante da equipe secundária portista.

A carreira de Rui Barros se desenvolveu no mais alto nível. Ele era pequenino, mas foi gigante pelos clubes que defendeu e conseguiu um lugar no grupo dos melhores jogadores portugueses de sua geração. Na Juve, o baixinho se destacou em um período de entressafra e coroou a sua passagem com dois títulos que não eram esperados pela torcida bianconera. Não à toa, é benquisto até hoje em Turim.

Rui Gil Soares de Barros
Nascimento: 24 de novembro de 1965, em Paredes, Portugal
Posição: meia-atacante
Clubes: Sporting da Covilhã (1984-85), Varzim (1985-87), Porto (1987-88 e 1994-2000), Juventus (1988-90), Monaco (1990-93) e Marseille (1993-94)
Títulos como jogador: Campeonato Português (1988, 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999), Supercopa Uefa (1987), Copa Intercontinental (1987), Taça de Portugal (1988, 1998 e 2000), Coppa Italia (1990), Copa Uefa (1990), Copa da França (1991) e Supertaça de Portugal (1993, 1994, 1996, 1998 e 1999)
Clubes como treinador: Porto (2006 e 2016) e Porto B (2018-21)
Títulos como treinador: Supertaça de Portugal (2006-07)
Seleção portuguesa: 36 jogos e 4 gols

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