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Melhor jogador da Euro 2004, Theodoros Zagorakis foi parar no Bologna após o torneio

“Zagorakis é o nosso Baggio grego, o Baggio do Egeu. E nós o pegamos”. Estas foram as palavras proferidas por Giuseppe Gazzoni Frascara, histórico presidente do Bologna, que celebrava a contratação de Theodoros Zagorakis, meio-campista grego, recém-campeão da Euro 2004 e eleito o melhor jogador do torneio. Era uma aquisição de impacto, tal qual a de Roberto Baggio, que o próprio cartola fizera sete temporadas antes. Mas as frases eram fruto de empolgação ou mostravam apenas a convicção no futebol do atleta de 32 anos, que até então era pouco conhecido do grande público e nunca antes fora tão cobiçado em um mercado de transferências?

A jornada de Theo

Theodoros Zagorakis nasceu em Kavala, pequena cidade da Macedônia Oriental e Trácia, região periférica da Grécia. O local é uma importante zona portuária devido à sua proximidade geográfica com Turquia e Bulgária. O jovem Theo passou sua infância em um local que historicamente havia sido assolado por conflitos bélicos, como a Guerra dos Bálcãs e a Segunda Guerra Mundial.

Sua primeira experiência aconteceu no time local, que leva o mesmo nome da cidade. Nele, estreou profissionalmente em 1988, aos 17 anos de idade, pela terceira divisão local. Foram mais de 100 partidas nas quatro temporadas em que lá esteve, com direito a uma promoção à segundona. Tendo se destacado durante o período, Theo entrou no radar de outras equipes e foi para o PAOK, clube pelo qual nutria uma paixão desde criança e que representava o máximo escalão do futebol nacional. Uma bela evolução para quem estava habituado a atuar nos gramados das categorias inferiores.

Apesar de a passagem de Theo pelo PAOK ter sido um sucesso, na temporada 1994-95 ele viu o clube sofrer uma suspensão que o deixou de fora das competições europeias. Quando teve a chance de jogar a Copa Uefa, em 1996-97, destacou-se e ajudou seu time a derrotar o Arsenal, na primeira fase da competição; a equipe grega seria eliminada pelo Atlético de Madrid, na etapa seguinte.

Consolidado como um dos principais nomes do futebol grego em sua geração, Zagorakis atraiu o desejo de times de outros países, como a Inglaterra, especialmente após suas exibições contra o Arsenal. Acabou fechando com o Leicester e rapidamente caiu nas graças da torcida. Em duas temporadas na Inglaterra, participou de duas decisões da Copa da Liga Inglesa. Na primeira ocasião, os Foxes perderam para o Tottenham (1 a 0), mas não deixaram a glória escapar na segunda oportunidade, quando triunfaram diante do Tranmere Rovers (2 a 1). Desejando ter mais minutos em campo, Theo deixou a Inglaterra no verão de 2000 para voltar ao seu país natal, mas desta vez para atuar pelo AEK, da capital Atenas. Ao todo, disputou 50 partidas na Premier League, anotando três gols e fornecendo uma assistência.

Desfrutando por estar novamente em um papel mais preponderante dentro de campo, teve seu nome ligado a uma denúncia de doping quando uma quantidade anormal de testosterona foi encontrada em seu corpo, mas acabou sendo absolvido pela justiça grega. Mantendo um bom desempenho, conquistou o segundo troféu de sua carreira em 2001-02, quando o AEK venceu o Olympiacos por 2 a 1 na final da Copa da Grécia. Já no campeonato nacional, o vice alcançado garantiu aos aurinegros uma vaga para a Liga dos Campeões, algo que se repetiria um ano mais tarde. A temporada também marcou a primeira visita de Theo ao San Siro, pela Copa Uefa, em uma derrota por 3 a 1 para a Inter, que confirmou a classificação após empatar em Atenas, por 2 a 2.

Meio-campista dinâmico, Zagorakis chegou ao Bologna já na reta final de sua carreira (PA Images/Getty)

Apoteose europeia

Vivendo grande fase, Theo, que era o capitão da seleção grega, se preparava para a Euro 2004, sua grande oportunidade defendendo seu país. Era a terceira competição internacional disputada pela Grécia, que anteriormente participara da Euro 1980 e da Copa do Mundo de 1994. Sem a badalação dos principais times, a equipe helênica se saiu bem, e com vida, de uma difícil fase de grupos, tendo batido o anfitrião Portugal (2 a 1), empatado com a Espanha (1 a 1) e perdido para a Rússia (2 a 1). Pela primeira vez em sua história, os azuis e brancos, que eram dados como carta fora do baralho em uma chave tão pesada, asseguravam uma vaga no mata-mata de um torneio oficial ao ficar com a segunda colocação, atrás dos lusitanos.

Pelas quartas de final, encararam a França, então atual campeã da competição. O único gol da peleja nasceu dos pés de Theo, que passou por Bixente Lizarazu na ponta direita e cruzou com perfeição para o atacante Angelos Charisteas cabecear para o fundo das redes. No dia seguinte, um jornal português estampou em sua capa “Z como Zagorakis, não como [Zinédine] Zidane”. A vitória pelo placar mínimo foi a tônica dos gregos tanto na semifinal, contra a República Checa, quanto na decisão, novamente enfrentando Portugal, naquela que é considerada a maior zebra da história das Eurocopas. Foi o triunfo de uma equipe que tinha um forte jogo coletivo e uma defesa extremamente sólida.

Logo após erguer a taça, Theo conversou com a imprensa. “Minha mente estava completamente em branco. A única coisa que eu queria fazer era levantar o troféu. Na verdade, não tenho palavras para descrever como me sinto agora. Acabamos de provar mais uma vez que a alma grega é, e sempre será, nossa força”. Ele foi eleito o melhor jogador da final e também da Euro. Em um torneio que reuniu figuras do porte de Zidane, Luís Figo, Francesco Totti, Clarence Seedorf, Zlatan Ibrahimovic e outros mais, se alguém falasse que o craque eleito seria um atleta da Grécia, e indo além, em virtude do título de sua seleção, esta pessoa poderia ser considerada louca.

Theo exerceu um papel fundamental ao fazer de tudo um pouco: impedia ataques adversários, ocupava espaços para proteger o setor defensivo, descolava precisos lançamentos e se apresentava ao ataque em condições de arrematar ou passar. Ele foi o jogador com o maior número de botes realizados ao longo da competição. Aos 32 anos, o camisa 7 da Grécia, vivendo seu auge, terminou em quinto na corrida pela Bola de Ouro, que teve Thierry Henry (quarto), Ronaldinho (terceiro), Deco (segundo) e Andriy Shevchenko (primeiro) à sua frente. Na votação da FIFA, vencida por Ronaldinho, ficou no 17º lugar.

Capítulo rossoblù

Foi um verão dos sonhos para a Grécia e para Theo, que passou a ser fortemente especulado em equipes Europa afora. Era a oportunidade de ouro para o AEK fazer um dinheiro, pois havia contraído uma dívida de mais de 100 milhões de euros e estava correndo o risco de ser punido com a perda do status de clube profissional. Os rumores apontavam para várias direções: Atlético de Madrid (Espanha), Tottenham (Inglaterra), Bolton (Inglaterra), Levante (Espanha) e Caen (França). No entanto, Zagorakis optou por assinar um contrato de dois anos com o Bologna, da Itália.

A Serie A 2004-05 teve seu início, previsto para agosto, adiado para setembro devido a problemas envolvendo direitos de transmissão. Com isso, o Bologna, que vinha de um 12º lugar no campeonato, optou por poupar Theo da pré-temporada, considerando que o meio-campista estava demasiadamente cansado por ter sido submetido a uma maratona de jogos no ano anterior, Euro inclusa.

Zagorakis chegou aos felsinei ao lado de nomes experientes, como Federico Giunti e Fabio Petruzzi. Os rossoblù tiveram uma janela movimentada e trouxeram mais reforços – Giacomo Cipriani e Daniele Daino, estes dois abaixo dos 25 anos de idade. O treinador do time era Carlo Mazzone, que elogiou a chegada do meio-campista grego. “À primeira vista, Theo me impressionou com o entusiasmo e as fortes motivações que o acompanham. Você pode ver que ele está feliz por estar conosco e por ter escolhido o Bologna. Além disso, ele se apresentou em boas condições”. Técnicos adversários, como Serse Cosmi, do Genoa, também admiravam o reforço. “Sabe fazer tudo”, disse o comandante dos grifoni.

Apesar das expectativas pela contratação do craque da Euro, o Bologna começou a Serie A com duas derrotas. A primeira, fora de casa, para o Cagliari (1 a 0), e a segunda, no Renato Dall’Ara, ante o Milan (2 a 0). As duas vitórias nos dois compromissos seguintes, contra Parma (2 a 1) e Roma (3 a 1) não estabilizaram a situação, e os rossoblù somaram apenas mais três vitórias – 2 a 1 na Atalanta, 2 a 0 na Reggina e 3 a 1 no Chievo – em um turno inicial irregular.

Apesar da regularidade de Zagorakis, o Bologna não fez uma boa campanha na Serie A, em 2004-05 (PA Images/Getty Images)

O bom início no returno deu esperanças de que a situação poderia melhorar, mas a performance da equipe ficou ainda abaixo do esperado. Foram cinco jogos de invencibilidade, batendo Cagliari (1 a 0), Milan (1 a 0) e Parma (3 a 1), e empatando com Roma e Palermo por 1a 1. Três partidas depois, na 27ª jornada, o 1 a 0 sobre a Udinese marcou o derradeiro triunfo dos rossoblù naquela edição da Serie A. Nas últimas 11 rodadas, foram seis empates e cinco derrotas.

Em termos defensivos, o time foi bem e teve a quarta melhor retaguarda dentre todos os participantes, com 36 gols sofridos. O grande problema foi a baixa produtividade ofensiva. Com meros 33 tentos marcados, os comandados de Mazzone tiveram o segundo pior ataque, ficando à frente somente do Chievo (32). Zagorakis deu sua contribuição, protegendo a zaga e organizando jogadas, sendo titular em 30 partidas da Serie A. No entanto, não foi suficiente.

Como consequência do desempenho negativo do ataque e da terrível sequência no final do campeonato, o Bologna teve que disputar o spareggio para tentar evitar a queda à Serie B. O adversário no jogo de desempate foi o rival Parma e os dois clubes protagonizaram um dramático Derby dell’Emilia. No primeiro duelo, no estádio Ennio Tardini, os felsinei saíram na frente graças a um gol marcado pelo albanês Igli Tare. Na partida de volta, no Dall’Ara, os crociati buscaram a recuperação e saíram vitoriosos pelo placar de 2 a 0. Os gols foram marcados por Giuseppe Cardone e Alberto Gilardino, que terminou como vice-artilheiro da competição (23), um a menos do que Cristiano Lucarelli, goleador máximo.

Sai o jogador, entra o político

Theo participou de 32 das 38 partidas na Serie A (34, no total, considerando o spareggio e mais um jogo da Coppa Italia) e, a nível individual, saiu-se bem, apesar do descenso de sua equipe. Com seu orçamento comprometido, o Bologna se viu obrigado a liberar o astro grego, que acertou sua volta ao PAOK, onde jogaria por mais duas temporadas antes de se aposentar, em 2007, após 220 aparições pelo clube. No mesmo ano, entrou em campo pela última vez trajando o uniforme da seleção. Ao todo, foram 120 presenças, deixando-o na condição de segundo atleta que mais atuou pela Grécia, atrás somente de Giorgios Karagounis, com 139.

Aposentado dos gramados, não largou o futebol e logo se tornou dirigente do PAOK, que passava por uma grave crise financeira. Pouco tempo depois, foi eleito presidente do clube e ficou por lá até 2009, após pedir demissão em decorrência de uma série de episódios violentos envolvendo torcedores do time e os do Aris, seu rival. Retornou entre 2010 e 2012, mas se demitiu novamente, por razões similares. Quem o substituiu na presidência foi Zisis Vryzas, amigo e ex-atacante, que teve uma longa passagem pelo futebol italiano, onde atuou por Perugia (2000-03), Fiorentina (2003-05) e Torino (2005-06).

Theodoros Zagorakis ingressou na carreira política por um partido conservador liderado por Kyriakos Mitotakis, atual primeiro-ministro da Grécia, e foi eleito deputado em 2014, cargo ao qual seria reeleito cinco anos mais tarde, através da bancada dos democratas cristãos.

Em 2020, após tomar conhecimento de que o Olympiacos havia pedido o rebaixamento do PAOK pelo fato de o clube ter o mesmo acionista que outro time – no caso, o Xanthi –, Zagorakis manifestou-se contrário à posição oficial de seu grupo parlamentar. O governo do país optou por introduzir uma emenda que impedia a queda dos alvinegros, mas o ex-jogador foi expulso da legenda. Em 27 de março de 2021, ele foi eleito presidente da Federação Helênica de Futebol, com a promessa de limpar e reestruturar a modalidade na Grécia, que vem passando por dificuldades desde a Copa do Mundo de 2014, última grande competição de que participou.

Theodoros Zagorakis
Nascimento: 27 de outubro de 1971, em Kavala, Grécia
Posição: meio-campista
Clubes: Kavala (1988-92), PAOK (1992-98 e 2005-07), Leicester City (1998-2000), AEK Atenas (2000-04) e Bologna (2004-05)
Títulos: Copa da Liga Inglesa (2000), Copa da Grécia (2002) e Eurocopa (2004)
Seleção grega: 120 jogos e 3 gols

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