Thiago Motta é um dos jogadores brasileiros (e italianos) mais bem-sucedidos do futebol europeu. Com dupla nacionalidade, o meia de características defensivas teve o caminho facilitado para chegar cedo à Europa e conquistou praticamente tudo o que disputou em nível de clubes, na Espanha, na Itália e na França.
Bisneto do imigrante Fortunato Fogagnolo, oriundo da cidadezinha de Polesella, no Vêneto, Motta começou a sua carreira no time mais italiano do Brasil: o Juventus, da Mooca. Thiago ficou pouco tempo no Moleque Travesso, mas se destacou nas categorias de base grenás e foi chamado para defender a seleção brasileira sub-17 no Torneio de Toulon, em 1999. Na França, seu futebol saltou aos olhos de Llorenç Serra Ferrer, diretor técnico do Barcelona, e Motta acabou trocando o time da colônia italiana pelo gigante da Catalunha.
Na base do Barcelona, Motta se aperfeiçoou e desenvolveu aquele que seria um de seus principais atributos ao longo da carreira: a qualidade no passe. Os primeiros anos, até pela fase do Barça, foram complicados, embora o brasileiro atuasse com certa regularidade sob as ordens de Radomir Antic, entre 2002 e 30023. O cenário mudou a partir da chegada de Ronaldinho e o início do projeto de Frank Rijkaard.
Em 2004-05, Thiago chegou a ter presença substancial no triângulo de meio-campo junto de Deco e Edmílson, permitindo, com seu impacto físico, que o luso-brasileiro tivesse maior gás para construir as jogadas. No entanto, rompeu os ligamentos do joelho direito no início da temporada e não voltou mais a atuar na campanha do título espanhol – ocasião em que o Barcelona quebrou um incômodo jejum de seis anos sem conquistar um troféu. Na campanha seguinte, mais uma La Liga no currículo e a taça mais desejada: a Liga dos Campeões da Uefa. Ainda que não fosse o dono da posição, Motta teve sua importância no mata-mata, em especial nos confrontos contra o Chelsea de José Mourinho.
Depois de ser reserva blaugrana entre 2006 e 2007, Thiago Motta chegou ao Atlético de Madrid com a promessa de ser titular. Afinal de contas, seria o sucessor do francês Peter Luccin, que rumou ao Zaragoza. Mas foi uma temporada complicada. Não pelo que Motta fez, mas sim pelo que não fez: as lesões foram uma tormenta para o ítalo-brasileiro, que não conseguiu ter sequência e fez apenas oito jogos pelo clube – a maior parte deles quando Raúl García estava lesionado ou após o empréstimo de Maniche à Inter, em janeiro de 2008. Quando esteve em campo, porém, o DNA culé de Thiago Motta era visível: seus toques e perspicácia eram sempre uma bênção para a dupla de ataque formada por Sergio Agüero e Diego Forlán.
O alto número de lesões fez com que o Atlético de Madrid optasse por não renovar o contrato anual com Thiago. O meio-campista permaneceu sem clube durante todo o verão europeu de 2008 e só encontrou lugar para jogar após o fechamento da janela. Em 14 de setembro daquele ano, assinou com o Genoa e, inicialmente, sua chegada foi vista com desconfiança pela torcida rossoblù, devido aos problemas físicos apresentados por Motta até então.
Thiago Motta transformou o ceticismo em idolatria: o regista ficou apenas um ano no Genoa e foi pelos grifoni que colocou sua carreira de volta nos trilhos. Após recuperar a forma nos treinamentos, o jogador estreou apenas em outubro, mas logo ganhou a titularidade e foi o símbolo da campanha da equipe: ninguém apostava nos genoveses, mas eles quase se classificaram para a Liga dos Campeões – por apenas um ponto, a equipe ficou “apenas” com uma vaga na Liga Europa. Havia quase 20 anos que o clube não disputava uma competição Uefa.
O regista nascido em São Bernardo do Campo foi um dos mais importantes jogadores da equipe da Ligúria naquela campanha, com 27 jogos realizados e seis gols marcados. Muito regular, Motta realizou grandes exibições e cresceu em momentos de afirmação da equipe, como no empate diante da campeã Inter, em Milão, e quando marcou uma doppietta contra a Juventus – time que o Genoa não derrotava havia 14 anos.
Por ter dupla nacionalidade, o genoano começou a ter seu nome cogitado para a seleção italiana quando ainda atuava pelos rossoblù, mas entraves burocráticos ainda precisavam ser resolvidos. Como Thiago atuara pelo Brasil na Copa Ouro, em 2003, a Fifa teria de analisar a disponibilidade do jogador: somente no início de 2011 é que a entidade o liberou para vestir o manto azzurro, ao considerar que a Seleção utilizara o time olímpico (portanto, não o principal) na disputa da competição na América do Norte.
Além de despertar o interesse da comissão técnica italiana, Thiago também chamou a atenção de José Mourinho, que o levou para a Inter juntamente a Diego Milito, seu colega de vestiários. A venda do ítalo-brasilleiro para os nerazzurri rendeu ao Genoa cerca de 14 milhões de euros e foi um dos principais negócios da história do clube da Ligúria.
Se chegou a Gênova envolto em uma nuvem de insegurança, Motta aportou em Milão com a promessa de ser titular no meio-campo. Recém-chegado à Inter, Thiago apresentou seu cartão de visitas logo na segunda rodada da Serie A, no clássico contra o Milan: o regista participou de uma bela linha de passe da Inter e completou a jogada com um chute de canhota, marcando o gol que inaugurou a goleada por 4 a 0 sobre a rival.
Ao lado de Esteban Cambiasso, o ítalo-brasileiro combinava leitura de jogo, saída de jogo e chegada ao ataque com muita técnica e força. Com essas características, formou a melhor dupla de volantes do futebol europeu em 2009-10, época em que viveu o auge da carreira. No final daquela temporada, Thiago Motta ainda teve atuação de gala na primeira semifinal da Liga dos Campeões contra o Barcelona, quando anulou Lionel Messi e, com um corte perfeito sobre o argentino, iniciou a jogada que resultou no gol do 3 a 1.
Na volta, foi bem recebido pela torcida blaugrana no Camp Nou, mas acabou sendo vaiado (e expulso) depois que Sergio Busquets simulou uma agressão. Motta, porém, não foi crucificado pelos interistas, que o consideram peça importante para a conquista da Tríplice Coroa.
A regularidade no time pentacampeão italiano, associada à liberação da Fifa, levou Thiago à seleção italiana. Motta rapidamente causou impacto no time de Cesare Prandelli: em seu segundo jogo com a Nazionale, em março de 2011, o meia foi decisivo. Em partida válida pelas Eliminatórias para a Euro 2012, ele marcou o único gol da vitória azzurra sobre a Eslovênia, em Liubliana.
Thiago Motta viveu o auge da era Moratti e também a sua queda. O ítalo-brasileiro, contudo, permaneceu com seu status intacto, como referência no meio-campo da Inter: em dois anos e meio e 83 partidas, marcou 12 gols e conquistou seis títulos. O paulista saiu do clube em janeiro de 2012, ainda jogando em alto nível, mesmo com os problemas físicos. Preferiu seguir Leonardo e ser titular esporádico no ambicioso projeto do Paris Saint-Germain do que ser absoluto em uma Inter com problemas financeiros e muita confusão nos bastidores.
Nos primeiros 18 meses em Paris, esta foi exatamente a função de Motta: a de reserva de luxo. Enquanto isso, ele figurava na seleção italiana como um pilar do meio-campo vice-campeão europeu em 2012. Na volta à França, Thiago encontrou pouco espaço no 4-4-2 de Carlo Ancelotti, mas após a saída do treinador começou a jogar com maior regularidade: no 4-3-3 de Laurent Blanc, o ítalo-brasileiro quase sempre tinha uma vaguinha como meio-campista central, articulando a saída de bola parisiense.
Sob efeito da onda milionária da Qatar Sports Investiments, que abastece o clube financeiramente, Motta não conseguiu nenhum novo título de expressão em nível continental. Ainda assim, fazendo uma dupla de respeito com Marco Verratti no centro do campo, acumulou 19 títulos pelo PSG. Um feito e tanto.
Mesmo enfrentando algumas lesões na fase final de sua trajetória, o meio-campista somou quase 250 partidas pelos parisienses. Aos 35 anos e sem o vigor físico de antes, o volante nascido em São Bernardo do Campo anunciou o fim da carreira horas antes da final da Copa da França, contra o pequeno Les Herbiers. Motta foi titular na decisão, vencida pelo Paris, e deixou o campo no segundo tempo para ser homenageado pela torcida.
De imediato, o ítalo-brasileiro começou a estudar para ser treinador de futebol. E nem precisa dizer que este foi mais um de seus golaços. Após iniciar na base do PSG, Motta passou pelo Genoa e somou um bom trabalho pelo Spezia, que salvou do rebaixamento à Serie B, na Itália. Depois, simplesmente classificou o Bologna à Champions League e pavimentou sua contratação pela Juventus, que foi sua adversária dentro de campo.
Thiago Motta Santon Olivares
Nascimento: 28 de agosto de 1982, em São Bernardo do Campo (SP)
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Juventus-SP (1998-99), Barcelona (1999-2007), Atlético de Madrid (2007-08), Genoa (2008-09), Inter (2009-12) e Paris Saint-Germain (2012-18)
Títulos como jogador: La Liga (2005 e 2006), Supercopa da Espanha (2005 e 2006), Liga dos Campeões (2006 e 2010), Serie A (2010), Coppa Italia (2010), Supercopa Italiana (2010), Mundial de Clubes da Fifa (2010), Ligue 1 (2013, 2014, 2015, 2016 e 2018), Supercopa da França (2013, 2014, 2015, 2016 e 2017), Copa da Liga Francesa (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018) e Copa da França (2015, 2016, 2017 e 2018)
Clubes como treinador: Genoa (2019), Spezia (2021-22), Bologna (2022-24) e Juventus (2024)
Seleção brasileira: 2 jogos
Seleção italiana: 30 jogos e 1 gol
Com a colaboração de Victor Mendes e Eduardo Madeira