Serie A

Infidelidade e incoerência?

No último dia dos namorados, um relacionamento já estremecido acabou de se desfazer: Davide Petrucci, classe ’91, considerado o principal valor das categorias de base da Roma e apontado pela mídia européia como o sucessor de Francesco Totti, confirmou as expectativas e assinou um contrato profissional com o Manchester United.

Os diabos vermelhos ofereceram 120 mil euros por temporada, o máximo que um clube inglês pode dar por um menor de idade. Os giallorossi responderam com 1.600 euros por mês, o mínimo, e decidiram não aumentar a oferta para evitar problemas com outros garotos que haviam assinado por este valor, principalmente Brosco e D’Alessandro. Além do dinheiro, a Roma também acenou para Petrucci com a possibilidade de uma pré-temporada entre os profissionais já neste verão europeu. Não foi o suficiente para o garoto, de apenas 16 anos.

Também não foi o suficiente seguir o exemplo do Milan. Há um ano, Danilo Petrucci, classe ’93, estava para ser dispensado, após quatro anos na base romanista. Mas o irmão mais novo de Davide ganhou uma nova chance de Bruno Conti, no último momento – a prova da verticalização de tal decisão foi o fato de Danilo não fazer sequer uma partida de titular na temporada, em sua categoria. E mesmo o irmão talentoso, Davide, perdeu a condição de titular, à medida que os boatos de uma transferência para o futebol inglês surgiam.

Petrucci não chegou a participar da reta final dos Allievi Nazionali, torneio nacional de jogadores sub-16, que a Inter acabou vencendo na última quinta-feira, após um considerável sprint: na primeira fase, a Roma havia feito uma campanha praticamente irretocável, com 23 vitórias e 74 gols de saldo em 24 partidas. Mas figuras influentes do clube, em especial Bruno Conti e Alberto De Rossi, optaram pelo afastamento do atacante, que marcou 14 gols em 19 jogos – e ainda assim fechou a temporada como o artilheiro dos Allievi.

Após três meses de conversas e especulações, Petrucci acabou confirmando a negociação, o que gerou revolta na Roma. O time da capital deverá ser indenizado em pouco mais de 250 mil euros pela transferência, pelo seu tempo de formação e presença nas seleções italianas de base. Quantia ínfima para mais um “novo Totti”. E atitude incoerente a de Sir Alex Ferguson, como atacou Conti: “Se lamenta por Cristiano Ronaldo e depois faz a mesma coisa com Davide. É muito grave”.

Ferguson realmente pecou pela falta de consistência em seus ideais. Para se defender das ofensivas do Real Madrid em busca de Ronaldo, o interminável técnico escocês chegou a citar o caso Mexès como um precedente para punir os madridistas, acusados de assediar o jogador. Mas Stefano Petrucci, o pai de Davide, optou por se encantar pela mística de Old Trafford: “Falei com Ferguson como se fosse um amigo. Sabe o que eles dizem de Davide? Que lembra Zidane”.

Alberto Aquilani, há sete anos, recusou uma oferta do Chelsea. Os blues ofereciam 120 mil euros líquidos por temporada, moradia, carro com motorista e passagens aéreas para que seus pais lhe visitassem em Londres. Na mesma época, Valerio Di Cesare, promessa da Lazio, optou pelo time inglês, nas mesmas condições. Aquilani, hoje, é uma das bandeiras da Roma. Di Cesare, antes apontado como o novo Nesta, rodou por Avellino, AlbinoLeffe e Catanzaro antes de se firmar no Mantova.

Nem sempre vale arriscar uma carreira por um projeto a curto prazo. Petrucci, de família romana e romanista, estava no vivaio giallorosso há seis anos e, quando mais se aproximou de estrear pelo seu time do coração, o deixou pelo maior algoz da história recente da Roma. Ainda na mira de Manchester e Arsenal estão os meias Stefano Pettinari e Giovanni Cristofari, de apenas quinze anos. É possível que ainda mais litígio venha por aí num futuro próximo.

Escrito originalmente para o Olheiros.net.

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