Dérbis

Dérbis: Juventus x Torino

Depois de três anos e nove meses de jejum, volta a ser disputado, amanhã, o Derby della Mole, nomeado em homenagem ao monumento símbolo da cidade de Turim, a Mole Antonelliana. A primeira partida entre os rivais da cidade no Juventus Stadium acontece com as equipes em situações bem distintas na tabela, diferentemente do que ocorria na primeira metade do século XX, quando os dois times configuraram o primeiro grande clássico do país e lutavam constantemente por títulos.

Com 32 pontos somados, a Juve joga para manter a liderança do campeonato e se recuperar da derrota diante do Milan, na última rodada. O Torino, por sua vez, ocupa só a 14ª colocação e luta para continuar longe da zona de rebaixamento (no momento, a distância para a zona da degola é de apenas quatro pontos). A expectativa é de estádio lotado.

Significado do atual dérbi

Sem muitas pretensões no campeonato (pelo que mostrou até aqui, não tem time para brigar em cima, mas também não parece candidato forte ao rebaixamento), os clássicos contra a Juventus podem ser os momentos mais interessantes para o Torino na competição. Com bom trabalho do técnico Gian Piero Ventura, que chega a seu segundo ano com os granata, o time reconquistou seu lugar na Serie A e já mostra forças para ficar por mais tempo.

Jogando em um 4-4-2 bastante ofensivo até, o time tem feito bons jogos (como o da última rodada, contra a Fiorentina) e, curiosamente, se destaca pela solidez defensiva. Até aqui, a equipe sofreu apenas 14 gols, número superior apenas aos de três dos quatro primeiros colocados do campeonato – Juventus, Napoli e Fiorentina. Na frente, a perda de Antenucci (artilheiro da temporada passada) não tem feito muita falta. Bianchi reencontrou o caminho dos gols e já balançou as redes quatro vezes nessa Serie A.

Para o jogo de amanhã, o time vai completo e aposta no bom momento de Cerci e Santana, que apóiam muito pelas alas, para surpreender a retaguarda juventina. O ótimo Gillet no gol e a boa dupla de zaga formada por Glik e Ogbonna prometem dar trabalho ao ataque da Velha Senhora, que ainda não se encontrou nessa temporada e deve entrar em campo com Vucinic e Giovinco.

Do lado da Juve, pesa a favor o bom trabalho de Antonio Conte, que assumiu um time moralmente devastado no início da temporada passada e o transformou na melhor equipe do país – o dérbi, inclusive, será a última partida do campeonato em que Conte cumprirá suspensão. O destaque é o meio de campo, considerado um dos melhores da Europa atualmente, com Pirlo em grande forma, Marchisio e Vidal atuando como motores do time e alas bastante ofensivos. Bonucci, Barzagli e Chiellini também se entrosaram e dão bastante segurança a Buffon.

O principal problema da equipe continua sendo lá na frente. Vucinic é nome certo entre os titulares, mas seu companheiro ainda não foi definido. Giovinco ainda não conseguiu mostrar o que se espera dele, Matri já teve seu momento, mas não aproveitou, e Quagliarella, apesar de ter os melhores números entre os atacantes, parece não ser o preferido do comandante. Dessa forma, é difícil prever um jogo com muitos gols amanhã.

Maresca provoca a torcida do Torino (Getty)

Os últimos dérbis

8ª rodada da Serie A 2008-09 (25/10/2008) – Juventus 1×0 Torino

Naquele distante 25 de outubro de 2008, Amauri ainda era o atacante e um dos principais jogadores da Juve. Foi ele quem marcou o único gol da partida e chegou ao ótimo número de sete gols em oito partidas no campeonato. A partida foi marcada por jogo muito físico e sem muita qualidade técnica.

27ª rodada da Serie A 2008-09 (7/3/2009) – Torino 0x1 Juventus

Na partida de volta daquele campeonato, o goleiro granata Sereni fez ótima partida e conseguiu evitar a vitória juventina até os 36 minutos do segundo tempo, quando Chiellini conseguiu finalmente furar o bloqueio do Toro e marcou o gol da vitória. O resultado ajudou a afundar o Torino, que acabou rebaixado naquela temporada. A aventura na Serie B durou três anos.

Estatísticas gerais

Pela Serie A, os rivais de Turim já se enfrentaram 134 vezes, com 59 vitórias da Juve, 34 do Torino e 41 empates. A Juve marcou 200 gols e os granata balançaram as redes 143 vezes. Nos números totais, o duelo fica um pouco mais equilibrado: 225 jogos, 91 vitórias juventinas e 72 do Torino, com 341 gols marcados para o lado bianconero e 309 para o granata. O maior artilheiro do dérbi é Giampiero Boniperti, com 14 gols.

A Juve não perde um clássico para o Torino há 12 partidas (oito vitórias e quatro empates). A última viória do Torino aconteceu no dia 9 de abril de 1995. Nos últimos seis jogos, o Torino sequer conseguiu marcar um gol na Velha Senhora. Ou seja, o Torino não balança as redes contra a Juve desde 2002. Em compensação, o time granata é responsável pela maior derrota da história da Juve: 8 a 0, em 1912.

Personagens históricos

Além de Boniperti, maior artilheiro do dérbi e um dos maiores ídolos da história da Juve, nomes como Felice Borel, Michel Platini, Gianluca Vialli e Omar Sivori se destacaram no clássico vestindo bianconero. Borel foi um dos maiores artilheiros da Juve na década de 30 e é sempre lembrado por ter estabelecido um recorde que durou mais de 70 anos na Itália: com apenas 18 anos de idade, na sua estreia como profissional, marcou 29 gols em 28 jogos da Serie A, média que só foi superada por Vieri. Ele é vice-artilheiro da Juve no clássico, com oito gols.

Do lado do Torino, Paolino Pulici é o nome de maior destaque, com nove gols marcados, seguido por Francesco Graziani e Eugenio Mosso, com sete. Outros nomes lembrados pelos torcedores do Torino são os do meia-atcante Valentino Mazzola, autor de cinco gols, e do atacante Ruggiero Rizzitelli, que marcou cinco gols no confronto e foi o autor de uma doppietta na última vitória do Toro, em 1995.

Há também aqueles que entraram para a história do duelo por terem jogado pelos dois lados. Guglielmo Gabetto é um deles. Atacante de muita técnica e ótima presença de área, é um dos três únicos jogadores (ao lado de Alfredo Bodoira e Eugenio Staccione) que venceram o scudetto por Juve e Torino. Gabetto totaliza 127 gols com a camisa granata, sendo o quarto maior artilheiro da história do time. No dérbi, ele assinalou nada menos que 12 gols (sete pela Juve e cinco pelo Toro). Na lista dos que vestiram as cores das duas equipes, também se destaca Silvio Piola, com três tentos pelo Torino e dois pela Juve.

Entre os brasileiros que disputaram o dérbi, José Altafini, pela Juve, e Walter Casagrande e Júnior, pelo Torino, são os mais lembrados. Os três foram ídolos de seu tempo e guardam na memória grandes momentos do clássico. Casagrande, em entrevista recente à Globo, escolheu o Derby della Mole como o mais importante de sua carreira. Em um dos jogos, em 1992, marcou os dois gols que garantiram a vitória granata em pleno Delle Alpi.

Zoff e Pulici dividem bola em um clássico dos anos 1970 (Corriere della Sera)

Dérbis marcantes

O clássico memorável mais recente ocorreu em 2001, no antigo Dell Alpi. A Juve vinha do vice-campeonato em 2000-01 e montou grande time para conquistar a Serie A de 2001-02. No primeiro tempo, a Velha Senhora abriu 3 a 0 no placar, com dois gols de Del Piero e um de Igor Tudor. “Nós fomos para o vestiário temendo uma goleada histórica”, relembrou Cristiano Lucarelli em entrevista ao Tuttosport.

No segundo tempo, porém, o próprio Lucarelli fez um gol que começou a reação do Torino. Marco Ferrante e Riccardo Maspero empataram a partida, que contou ainda com um pênalti perdido por Salas, do lado da Juve. Atualmente, pela grande queda técnica do Torino, as partidas tem sido muito previsíveis, com amplo domínio juventino.

Os torcedores do Torino guardam como boas recordações as décadas anteriores ao desastre de Superga, que matou o Grande Torino, em 1949, e 1970, porque a equipe granata foi superior – entre 1973 e 1979, a Juve não venceu um dérbi sequer e, entre 1975 e 1976, o Torino venceu quatro em sequência. Nestas épocas, sobretudo, a torcida granata se orgulhava de, em sua opinião, representar a vitória das mais as classes mais baixas, de origem operária, sobre os “burgueses” juventinos.

Por isso, a reação do Toro em 1983, na centésima partida oficial entre os times, sobre uma Juventus treinada por Giovanni Trapattoni e que tinha um timaço – Dino Zoff, Antonio Cabrini, Claudio Gentile, Gaetano Scirea, Marco Tardelli, Roberto Bettega, Zbigniew Boniek, Paolo Rossi e, nada mais nada menos que Michel Platini -, com três gols marcados em quatro minutos, consagrando a vitória grana por 3 a 2, é tão lembrada até hoje.

As goleadas de 1912 e 1952 também ficaram na história. Na primeira, o Torino aplicou a maior derrota já sofrida pela Juve na história, com três gols de Eugenio Mosso III, dois gols de Francesco Mosso I, dois de Enrico Ruffa e um de Enrico Debenardi. Quarenta anos depois, a Juve deu o troco com uma goleada de 6 a 0, com bela atuação de Boniperti, que marcou duas vezes. Johan Hansen também marcou dois gols e Karl Aage Hansen e Pasquale Vivolo completaram o placar. Outros placares elásticos também não saem da memória dos torcedores mais antigos, como Torino 8-6 Juve (1913), Juve 2-7 Torino (1914) e Juve 4-3 Torino (1950).

Fora das quatro linhas, o dérbi reserva algumas histórias tristes. Em 1973, a Juve vencia a partida e Causio se aproximou do banco de reservas do Torino para comemorar o resultado e tripudiar dos adversários. O técnico granata, então, deu-lhe um soco na cara e a confusão começou. Giagnoni virou ídolo do Toro por causa daquela porrada.

Outra partida marcada por confusões foi o dérbi de volta da temporada 2001-02. Trezeguet abrira o placar para a Juve, mas Ferrante e Benoît Cauet viraram para o Toro. Até que, aos 44 do segundo tempo, Maresca marcou um lindo gol de fora da área e saiu comemorando, em direção à torcida do Torino, como se fosse um touro – em referência ao símbolo do rival e à comemoração do capitão Ferrante. O jogador foi perseguido pelos adversários no vestiário e o ônibus da Juventus teve de ser escoltado na saída do Delle Alpi.

*Colaborou Nelson Oliveira.

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