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Edwin van der Sar: na Juve, o ponto mais baixo da carreira

Hoje é dia de convidado especial no blog. Para falar sobre a passagem de Edwin van der Sar pela Itália, convidamos não só um dos maiores fãs do goleiraço, mas o maior especialista em futebol holandês do Brasil. Prestigiem o texto do Felipe dos Santos Souza, colunista da Trivela e responsável pelo excelente blog Espreme a Laranja, dedicado à Eredivisie e à Oranje. Boa leitura!

Hoje, considerar Edwin van der Sar um dos melhores goleiros de sua geração é lugar comum. E é uma ideia mais do que justificável: o holandês nascido em Voorhout impunha presença física respeitável (1,97m, 85kg), além de sempre transmitir calma e segurança sob as traves, saber jogar bem com os pés e exercer liderança natural sobre os times por que passou. Todavia, se a visão sobre a carreira do atual diretor geral do Ajax é mais do que positiva após seu término, não foi sempre assim. E foi justamente na malograda passagem pela Juventus que Van der Sar perdeu terreno em relação a outros destaques do gol nos últimos 25 anos – como Gianluigi Buffon, seu sucessor na Juve. Todavia, era difícil pensar que VDS pudesse fracassar na Velha Senhora quando a possibilidade surgiu, em 1999.

Afinal de contas, a carreira do goleiro era feita de ascensões vertiginosas. Ainda na década de 1980, ele começara em duas equipes amadoras: primeiro o Foreholte, depois o Noordwijk. Neste, o treinador era Ruud Bröring, um professor de educação física – que tinha um grupo de amigos com o qual jogava baralho mensalmente. Também fazia parte daquela confraria outro professor de educação física, chamado… Louis van Gaal. E no começo de 1989, então auxiliar técnico do Ajax, Van Gaal disse a Bröring que precisava de um goleiro promissor. O colega de carteado indicou o jovem alto que era titular do Noordwijk. Bastou para que Van Gaal apostasse, trazendo Van der Sar para o time de juniores do Ajax, durante a temporada 1989-90.

Na temporada seguinte, o novato já era reserva de Stanley Menzo no time de cima – pelo qual estreou em 23 de abril de 1991, contra o Sparta Rotterdam, pela 25ª rodada do Campeonato Holandês, substituindo o lesionado titular. Cada vez melhor entrosado, cada vez mais mostrando que sabia jogar com os pés (iniciando contra-ataques, batendo bem na bola, trocando passes com os zagueiros quando necessário), Van der Sar pedia passagem na equipe. Agora já como técnico principal do Ajax, Van Gaal sabia disso. E duas falhas de Stanley Menzo no jogo de ida contra o Auxerre, pelas quartas de final da Copa Uefa 1992-93, foram suficientes para que, na partida seguinte do torneio continental, Van der Sar entrasse no time titular do Ajax para não sair mais.

A partir de então, o crescimento do goleiro se acelerou. Mesmo sem ter jogado nenhuma partida pela seleção holandesa até então, Van der Sar foi convocado por Dick Advocaat para a Copa de 1994, na qual foi o terceiro goleiro da Laranja. E pelo Ajax, como mais um dos garotos escolhidos a dedo, entrosados e desenvolvidos sob o comando de Van Gaal, o arqueiro tornou-se o primeiro nome de uma escalação que fez história, conquistando três Campeonatos Holandeses (1993-94, 1994-95 e 1995-96 – em 1994-95, de forma invicta, sem perder em nenhuma das 34 rodadas), duas Supercopas da Holanda (1994 e 1995), uma Supercopa Europeia (1995) e, principalmente, a Liga dos Campeões da Europa, em 1994/-5, e o Mundial Interclubes, em 1995. Depois, os Amsterdammers ainda conseguiram mais alguns feitos ao longo da década de 1990. Alcançaram a segunda final de Champions seguida, em 1995-96; ganharam mais um Campeonato Holandês (1997-98), e mais duas Copas da Holanda (1997-98 e 1998-99).

Individualmente, Van der Sar também evoluía. Em 1995, enfim estreou pela seleção da Holanda, para também não deixar mais de ser o titular, durante os 13 anos em que atuou por ela. Por quatro anos seguidos, foi eleito o melhor goleiro da Holanda, entre 1994 e 1997. Em 1998, ganhou o prêmio de melhor jogador do país – em geral, mesmo. E pela Oranje, já tinha uma Euro (1996) e uma Copa do Mundo (1998) no currículo, como titular. Era claro: Van der Sar já ganhara tudo o que podia no futebol holandês.

A hora de passar por novos desafios chegou em 1999, após um mau ano do Ajax (6º colocado na liga holandesa, em 1998-99). Conforme contou em sua biografia, escrita pelo jornalista holandês Jaap Visser e lançada em 2011, Van der Sar comentou com seu agente, Rob Jansen: “Eu já tive o bastante na Holanda. Frank e Ronald [de Boer] já se foram [para o Barcelona], Danny Blind vai parar de jogar (e parou mesmo, no meio de 1999), Litmanen não renovará seu contrato [foi para o Liverpool]. Não quero mais ficar. Vou para uma competição com mais estrelas. Quero ir para Espanha, Inglaterra ou Itália”. E começaram as propostas.

Van der Sar tinha tudo para dominar a baliza da Juventus, mas fracassou em Turim (LaPresse)

Duas delas, oficialmente, da Itália. A primeira, da Lazio, segundo Van der Sar: “Foi o primeiro time a chegar. Eles ficariam mais um ano com Luca Marchegiani, e ficariam comigo depois. Eu assinaria um pré-contrato, receberia o dinheiro, e ainda seria emprestado ao Ajax por mais uma temporada. Mas recusei de imediato: se eu assinasse, quereria ir imediatamente, já estava terminado o meu tempo no Ajax”.

Depois, mesmo com outro interesse concreto do Liverpool, chegou a Juventus. E um triunvirato negociou com Van der Sar e o agente: Luciano Moggi (diretor-geral da Juve), Roberto Bettega (diretor técnico) e Carlo Ancelotti, técnico bianconero. O goleiro relatou, em suas memórias: “Bettega disse que eles queriam jogar diferente, de um modo mais ofensivo, com as jogadas construídas desde a defesa. Eu disse: ‘Seria ótimo, porque me sinto bem se eu puder jogar com os pés. Quero ter a bola recuada para mim, rolar a pelota, é o meu tipo de jogo’. ‘Ótimo’, eles responderam, ‘é o que queremos também’. Quiseram fazer negócio imediatamente. A Juventus queria um contrato por cinco anos; eu, por quatro. Acertamos assim, mas com um salário um pouco mais baixo”. E assim, em junho de 1999, Van der Sar acertou sua ida para a equipe alvinegra do Piemonte e se tornou o primeiro goleiro estrangeiro do tradicional clube.

A chegada a Turim foi cheia de otimismo, como o ex-goleiro recordou: “A Juventus tivera uma temporada ruim, também [7ª colocada na Serie A em 1998-99], mas havia muitos grandes jogadores. Alessandro Del Piero, Zinédine Zidane, Ciro Ferrara, Paolo Montero, todos jogadores contra quem eu já havia atuado. Acima de tudo, tinham contratado Edgar Davids. Era um clube com dinheiro, um clube de ponta na Europa, em condição de continuar assim. Não se diz não a essas coisas. Claro que eu sabia que ser goleiro na Itália é algo diferente de ser goleiro na Holanda. Mas a Juventus era um time ofensivo, e queria ser ainda mais ofensiva. O técnico e os dirigentes haviam dito isso. E eu acreditei”.

Crença que começou a ser ameaçada tão logo Van der Sar estreou na equipe. E um episódio foi fundamental para que ele visse que a adaptação à Itália seria mais difícil do que esperava: “No meu primeiro jogo, pela Copa Intertoto, contra um clube romeno [Ceahlaul Piatra Neamt], eu recebi uma bola recuada da ponta. Já tinha visto que Ferrara estava livre no meio; permitia a chegada por trás de um adversário, mas estava livre. Pensei: ‘Vamos jogar diferente, mais ofensivamente, e o goleiro participa disso atrás’, e aí mandei a bola de primeira para Ferrara. Mas ele se assustou, mandou rapidamente a bola pela lateral e fez sinais, como quem me dissesse ‘o que está fazendo, idiota?’. Ancelotti saiu imediatamente do banco e gritou: ‘Van der Sar, manda essa bola para frente!’. Eu só pensei: ‘Caramba, não posso mais fazer isso por enquanto. Não estão acostumados, ainda’”.

As dificuldades de adaptação ao estilo italiano de jogo continuaram. Van der Sar lembrou dos trabalhos com Wiliam Vecchi, treinador de goleiros da Juve à época: “É um cara muito gentil, ainda tenho contato com ele. (…) O problema é que não era flexível. Eu tinha de treinar à maneira italiana, porque era a melhor, segundo ele. A Itália tinha mais goleiros internacionalmente conhecidos do que a Holanda, isso era inquestionável. Mas eu podia ter chegado a ele e dito que eu não era um goleiro ‘italiano’, e que não me parecia boa ideia tentar fazer isso de mim”. O jeito era se mirar no goleiro reserva: “Michelangelo Rampulla era usado para mostrar o que era pedido de mim. Vecchi sempre dizia, apontando para ele: ‘Michelangelo é seu espelho’. A gente fazia muitos exercícios no chão. Pegar bolas na esquerda, na direita, sem parar. (…) Vecchi não era mau treinador, longe disso. Mas ele se baseava em sua visão, e não ligava para minha base. E minha autoconfiança começou a cair”.

Com a habilidade no jogo com os pés pouco exigida, Van der Sar só participava do jogo na hora das defesas. Era pouco notado em campo – a ponto da Gazzetta dello Sport sequer dar notas a ele, em algumas partidas da Serie A, durante a temporada 1999-2000. Para piorar, a Juventus decepcionou naquele ano: com a queda para o Celta de Vigo nas oitavas de final da Copa Uefa e, principalmente, com a perda do título italiano na última rodada da liga, caindo para o Perugia num jogo sob chuva torrencial e vendo a Lazio superar a desvantagem de um ponto ao vencer a Reggina. Somente a vitória anônima na Copa Intertoto de 1999 sobrara para a Juve. Nem mesmo o fato de ter sido o goleiro menos vazado do certame tirou a incômoda impressão de que Van der Sar ficara devendo, para a expectativa que causara em sua chegada.

O próprio goleiro vivenciava isso da pior maneira possível: tendo de ouvir o questionamento da torcida. Já adaptado ao país e falando a língua (morava em Cavoretto, bairro afastado de Turim), Van der Sar lembrou: “Já tinham me dito que na Itália tudo é futebol, futebol, futebol. Eu sabia, mas ainda assim me surpreendi. Em cada loja, em cada restaurante você era abordado para falar do assunto”. E prometia para si: “Quando aquela temporada terminou, eu só queria uma coisa: ir para casa. (…) Queria sair de Turim, sair da Itália, ir para a Holanda, para a minha família, para a Euro. Estava muito motivado para aquele torneio, em casa (Bélgica e Holanda foram sedes conjuntas da Euro). Pensava: ‘Beleza, jogo pela seleção holandesa, seremos campeões europeus, e aí eu mostrarei algo àqueles italianos’”.

O grande goleiro holandês teve muitos motivos para esquecer seu biênio em solo italiano (Allsport)

O destino tratou de ser ainda mais irônico com o guarda-metas de Voorhout. Na semifinal da citada Euro 2000, disputada em plena Amsterdam Arena, a Holanda teve como adversária justamente a Itália. E Van der Sar viu a Oranje decepcionar um estádio todo laranja: com dois pênaltis perdidos no tempo normal, o time anfitrião fracassou ao tentar superar uma Azzurra que jogava com dez desde os 33 minutos do primeiro tempo – Gianluca Zambrotta, companheiro de Van der Sar na Juventus, fora expulso. O 0 a 0 ficou no placar por 120 minutos. E na decisão por pênaltis, quem brilhou não foi Van der Sar (que até pegou uma cobrança, de Paolo Maldini). O destaque supremo foi o outro goleiro do jogo: Francesco Toldo, que defendeu duas cobranças laranjas (Frank de Boer e Paul Bosvelt), viu Jaap Stam chutar nas nuvens de Amsterdã, e foi o símbolo de uma classificação heróica do Belpaese à final do torneio continental.

Tal decepção só aumentou em Van der Sar a sensação de que algo tinha de mudar em 2000-01: “Quando a ressaca da derrota na Euro diminuiu, eu só queria uma coisa: revanche. Revanche de tudo. Eu precisava e iria arrebentar na Juve. Eu queria afastar as dúvidas: do clube, da torcida, da imprensa. Pensava comigo mesmo: ‘Não desista, o primeiro ano foi de adaptação, agora seguramente as coisas vão melhorar”. Não melhoraram. Muito ao contrário.

Se em 1999-2000 Van der Sar fora apenas discreto, cometeu falhas desabonadoras em seu segundo ano no Piemonte. Começando em novembro de 2000. No dia 8, pela primeira fase de grupos da Liga dos Campeões, a Juve perdeu para o Panathinaikos (3 a 1), e o holandês foi o vilão: não só falhou no primeiro gol dos Trevos, ao não fechar bem o ângulo, mas também cometeu o pênalti que levou ao segundo gol do time helênico – e ainda foi expulso por isso. Mais três dias, e no empate por 1 a 1 contra a Lazio, pela 6ª rodada da Serie A, Van der Sar falhou de novo: deixou passar bola fácil no gol laziale, marcado por Marcelo Salas.

De goleiro cobiçado e pronto para se tornar um dos melhores do mundo quando chegou, Van der Sar passava a ser definitivamente ridicularizado. Apelidos como “Van der Gol” e “O homem das mãos de manteiga” tornaram-se comuns entre torcedores. Stefano Tacconi, de passado respeitável na Juve e no gol, não perdoava: “Van der Sar é melhor com os pés do que com as mãos, o estilo dele não combina com a Itália”. Surgiam até boatos de que Van der Sar era míope, e não via bolas vindas nos chutes de longe. Os resultados do time não ajudavam: a equipe foi eliminada da Liga dos Campeões já na fase de grupos.

O golpe de misericórdia na passagem de VDS foi dado na 29ª rodada do Italiano daquela temporada, contra a líder Roma: uma vitória aproximaria a Juve do time da capital, reabrindo a disputa pelo título. Jogando no Delle Alpi, os bianconeri faziam 2 a 0. Mas aos 33 minutos do segundo tempo, Hidetoshi Nakata acertou um chute no ângulo direito de Van der Sar. Finalmente, no último minuto do tempo regulamentar, Vincent Candela deu a bola a Nakata. O japonês bateu de longe, e Van der Sar foi infeliz: deu o rebote nos pés de Vincenzo Montella, que não perdoou e empatou. O 2 a 2 fora de casa praticamente colocou os giallorossi na rota do título que terminariam por conquistar. E o goleiro holandês caía definitivamente em desgraça.

“Com os erros, a queda na autoconfiança se acentuou ainda mais. Na biografia de Van der Sar, a esposa Annemarie (que já o acompanhava em Turim) descreveu: “Edwin começou a duvidar de si mesmo. Primeiro, ele pensou ‘não preciso falar disso, as coisas se resolverão sozinhas’. (…) Quando não se resolveram, ele achou que podia resolver sozinho. Mas não deu certo, e foi piorando. Ficou tão grave que ele nem queria ir mais para o treino. Perdeu peso, e adoeceu muitas vezes”. O agente Rob Jansen também comentou sobre a crise: “Uma noite, ele me ligou do nada. Foi estranho, porque ele não ligava assim de repente. ‘Rob, você precisa me ajudar. Estou com um enorme problema’. Ele chegou rápido em casa. Eu disse: ‘E aí, o que é?’. Ele: ‘Eu não sei mais como devo agarrar uma bola’. A pequena crise depressiva do holandês só se ajeitou com palavras de Annemarie: “Um dia, de manhã, quando ele não queria sair da cama, eu sabia que tinha mais coisa por trás disso. Um dia, entrei no quarto, abri as cortinas e disse: ‘Olha só: estamos aqui na Itália pela sua carreira. Faço o melhor que posso com nossos dois filhos, me esforço, e você nem quer saber. Você vai sair da sua cama, vai tomar banho e vai trabalhar. Tem coisa mais dura no mundo do que você deixar uma bola passar, como goleiro’. Foi um ponto de virada, como se ele tivesse acordado”.

Ainda assim, depois das infelicidades na temporada 2000-01, o goleiro tinha esperanças de poder se recuperar. Na biografia, revelou: “Eu cheguei a Luciano Moggi e perguntei ‘e aí, chefe, quais são os planos para a próxima temporada?’ Ele disse: ‘Não se preocupe, rapaz, não acontecerá nada. Haverá algumas mudanças, queremos fortalecer o grupo, e você fica’”. Mas veio a venda de Zidane para o Real Madrid, o dinheiro começou a sobrar para contratações, e uma das principais foi a vinda de Gianluigi Buffon, a peso de ouro (52,8 milhões de euros), para o gol. Era a senha indireta para que Van der Sar arranjasse outro clube. O próprio sabia: “Não teria disputa de posição, porque já estava claro quem seria o titular”. Ficou a raiva apenas pela mudança repentina de planos. À época, em 2001, o holandês queixou-se: “Me senti traído”.

Depois de fracassar em Turim, VDS fez sucesso na Inglaterra (Allsport)

Na biografia, aprofundou: “Você não decide gastar um dinheiro desses de uma hora para outra. Eu disse que Moggi deveria ter me dado uma definição, para eu poder definir cedo um outro clube para jogar”. O tempo passou, veio o Calciopoli – envolvendo Moggi –, e o ex-jogador  não perdeu a chance de espezinhar o ex-diretor da Juve: “Depois de tudo, ficou claro como Moggi não era confiável. Ele fez todo tipo de desonestidade, subornou juízes, fraudou, fez coisas tão graves que foi preso. Eu devia ter notado, o cara estava sempre com dois telefones nas mãos”.

Por mais que tenha gostado do tempo passado na Itália, em termos pessoais (“No futebol, foi uma tristeza, mas a vida foi ótima. (…) Viajávamos regularmente por Roma, por Florença, pela Sardenha, o sul, arquitetura linda, natureza linda, comida deliciosa”), Van der Sar demorou para retomar a regularidade que não faltou a alguns de seus pares – como o próprio Buffon, aposta hoje convertida em história viva. O holandês foi para o Fulham, em julho de 2001, pensando em jogar a Copa de 2002 para, a partir dela, voltar a um grande clube. Não deu certo, de novo: a Holanda ficou fora do Mundial, e coube a VDS ocupar seu posto nos Cottagers.

Por mais que a passagem pelo Fulham tenha sido elogiável, a verdade é que Van der Sar só começou a ser reconhecido e lembrado novamente quando aceitou a proposta do Manchester United, em julho de 2005 (quando Alex Ferguson corrigiu o que julgou ser “um dos grandes erros de sua carreira”). Em Old Trafford, o arqueiro holandês recuperou a confiança. E já veterano, voltou à doce rotina dos títulos, como sonhava na Juve: cinco títulos ingleses, duas Copas da Liga Inglesa, um Mundial de Clubes e, acima de tudo, a Liga dos Campeões, em 2007-08. Na conquista da Europa, o holandês foi a cara do lance decisivo da final, ao defender a cobrança de Nicolas Anelka, do Chelsea, na decisão por pênaltis, definindo-a em 6 a 5 para os Red Devils, após 1 a 1 em 120 minutos.

Depois, Edwin ainda foi escolhido o melhor goleiro da Europa, em 2009. E bateu o recorde de invencibilidade de um goleiro em campeonatos dos países do Reino Unido: 1311 minutos sem sofrer gols, na temporada 2008-09. Sem contar as duas finais de Liga dos Campeões que jogou (2008-09 e 2010-11), as participações nas Euros de 2004 e 2008, a atuação na Copa de 2006, o recorde de jogos pela seleção da Holanda…

Enfim, Van der Sar parou em 2011, aos 40 anos, deixando saudades. E duas histórias que envolvem italianos exibem com mais precisão como ele conseguiu reerguer a carreira, após a passagem pela Juventus. A primeira: na Euro 2008, durante o aquecimento das seleções de Holanda e Itália, antes da Oranje sobrepujar a Azzurra por 3 a 0, VDS foi abraçado justamente por Buffon, àquela altura já convertido em um dos ases históricos das três traves no Belpaese. E Gigi disse a Sar: “Edwin, meraviglioso, sei un grande” (“Edwin, maravilhoso, você é um grande”), em referência à recente conquista da Liga dos Campeões.

A segunda: em fevereiro de 2009, dias antes de ser fulminado por uma hemorragia cerebral, Candido Cannavò escreveu aquela que seria sua última coluna na Gazzetta dello Sport antes de morrer. E o tema do texto derradeiro de um dos decanos do jornalismo italiano na editoria de esportes foi justamente o recorde de invencibilidade do holandês na Inglaterra. A coluna foi intitulada “Nessuno ride più su Van der Sar” (“Ninguém ri mais de Van der Sar”). Um reconhecimento tardio de que, se a Juve não foi o sonho que parecia ser para o goleiro holandês, ele também não foi o trapalhão que pareceu ser quando atuou pela Velha Senhora.

Edwin van der Sar
Nascimento: 29 de outubro de 1970, em Voorhout, Holanda
Posição: goleiro
Clubes: Ajax (1990-99), Juventus (1999-2001), Fulham (2001-05) e Manchester United (2005-11)
Títulos conquistados: Mundial Interclubes (1995), Mundial de Clubes da Fifa (2008), Liga dos Campeões (1995 e 2008), Copa Uefa (1992), Supercopa Europeia (1995), Campeonato Holandês (1994, 1995, 1996 e 1998), Copa da Holanda (1993, 1998 e 1999), Supercopa da Holanda (1993, 1994 e 1995), Campeonato Inglês (2007, 2008, 2009 e 2011), Copa da Liga Inglesa (2006 e 2009) e Supercopa da Inglaterra (2007, 2008 e 2010)
Seleção holandesa: 130 jogos

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