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Calcio tipo exportação

Semana após semana, a Serie A tem perdido para o exterior alguns nomes interessantes. Não só de estrangeiros que militavam na velha bota, como Muntari ou Zoro, mas também de jogadores nacionais. O começo, nessa temporada, veio com a confirmação da saída de Toni para o Bayern, antes mesmo da abertura da janela de verão. O problema é que não são só os veteranos que têm deixado o campeonato – grandes promessas também estão saindo daquele que até pouco tempo era o destino dos sonhos dos grandes jogadores.

O êxodo não é de hoje. Claro que sempre houve casos de jogadores italianos fora do país, mas sempre casos esparsos, como Zola no Chelsea, Vieri no Atlético de Madrid, Gattuso no Rangers ou Roma no Monaco. O problema é que após o calciopoli o balanço começou a ser bastante desfavorável: mais italianos começaram a deixar suas equipes. O fato está presente, e tudo o que temos de buscar são os fatores que levaram a isso.

O calciopoli ocasionou uma incontestável queda do nível e da visibilidade do torneio, mas não é só isso. As possibilidades salariais dos grandes (e nem tão grandes) clubes da Espanha e da Inglaterra tem aumentado exponencialmente, ao contrário dos bigs italianos. Os dois torneios “concorrentes” ainda possuem estádios praticamente lotados, craques oriundos de todos os cantos do planeta e um marketing que atinge até os países menos favorecidos da Ásia. A queda do nível da Serie A, somada a uma grande perda de visibilidade, com a queda da Juventus e as sucessivas punições a clubes tradicionais, também se tornou pedra no sapato do mercado italiano. A Espanha, como se precisasse, ainda encanta com seu estilo de vida. É importante lembrar, aliás, da alta carga tributária italiana, que consome uma razoável fatia do rendimento dos calciatori.

Além do mais, clubes do leste europeu, que têm dinheiro proveniente de negócios tão limpos quanto estranhas privatizações ou crime organizado, hoje podem sonhar mais alto que pelo menos 80% dos clubes da primeira divisão italiana. Perder nomes velhos de guerra que poderiam lutar pela titularidade de qualquer equipe italiana, como Abbiati e Lucarelli, nem é o grande problema. O que é estranho é a perda de três jovens talentos.

Rolando Bianchi, jovem atacante ambidestro, liderou a incrível campanha que salvou do rebaixamento a Reggina, na última temporada. Valorizado, sempre disse que sua prioridade era permanecer no calcio. Mas nenhum clube italiano dispôs-se a gastar vários milhões de euros numa promessa a ser lapidada. O Manchester City entrou na jogada e levou o atacante bergamasco, que receberá um salário de €1,8 milhões por ano. Para efeitos comparativos, o mesmo que Daniele De Rossi recebe na Roma. Graziano Pellè, jóia da nazionale sub-21, também acertou sua saída, mas não para algum centro maior: o AZ Alkmaar, terceira força do futebol holandês, pagou €6 milhões ao Lecce para tirar do país mais outra promessa. E o pior: nenhum clube italiano ao menos cogitou sua contratação.

O caso mais incrível é o de Giuseppe Rossi. Seppe jogava pelas categorias de base do Parma e pela nazionale sub-17 até ser contratado pelo Manchester United por apenas €300 mil. Em janeiro, voltou ao clube crociate e liderou sua salvação, livrando o Parma do rebaixamento na última rodada. Apesar do físico franzino, a velocidade e a inteligência mostradas em campo fez lembrar o início da carreira de Del Piero. O Parma queria contratá-lo em definitivo, os irmãos Della Valle, da Fiorentina, também pareceram perto de anunciá-lo. Napoli, Milan, Juve, Inter e Roma também disseram estar de olho em Joe Red. Mas Ferguson era irredutível: Rossi seria aproveitado em Old Trafford. E acabou vendido ao Villarreal, por €10 milhões. Se sua carreira na Inglaterra não parecia ter um bom futuro, era obrigação moral dos clubes italianos repatriá-lo – ainda mais por este preço. Ele brilhará na Espanha e perderemos a chance de vê-lo em campo numa temporada extraordinária.

O caso ainda está longe de ser crítico como na França ou na Holanda, mas já é um início preocupante. Confira os italianos que estão nos clubes de primeira divisão das outras quatro grandes ligas européias:

Alemanha
Luca Toni (atacante, Bayern).

Espanha
Antonio Cassano (atacante, Real Madrid), Bruno Cirillo (zagueiro, Levante), Christian Abbiati (goleiro, Atlético de Madrid), Damiano Tommasi (meia, Levante), Emiliano Moretti (lateral, Valencia), Enzo Maresca (meia, Sevilla), Fabio Cannavaro (zagueiro, Real Madrid), Gianluca Zambrotta (lateral, Barcelona), Giuseppe Rossi (atacante, Villarreal), Morgan De Sanctis (goleiro, Sevilla), Stefano Sorrentino (goleiro, Recreativo).

França
Fabio Grosso (lateral, Lyon), Flavio Roma (goleiro, Monaco).

Grã-Bretanha
Bernardo Corradi (atacante, Manchester City), Carlo Cudicini (goleiro, Chelsea), Massimo Donati (meia, Celtic), Rolando Bianchi (atacante, Manchester City).

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10 comentários

  • e olha, dá pra montar um time no mínimo interessante com esses jogadores aí… pra começar Abbiati (De Sanctis, Roma); Zambrotta(Moretti), Cannavaro, Cirillo e Grosso(Coco); Tommasi, Maresca, Donati e Rossi; Bianchi e Cassano(Corradi)

  • Não só os italianos tem saído da Bota. Hoje em dia, está cada vez mais comum espanhóis, alemães e até ingleses deixarem seus países. A globalização chegou para todos, não tem jeito.

    Estou disponibilizando o link de vocês no meu blog também.

    Um abraço a todos!

  • Isso ainda é efeito do escândalo do CalcioCaos e de algumas equipes que recentemente estavam ou ainda estão em situação crítica como Juventus, Roma, Lazio, Fiorentina, Torino, Parma, entre outras equipes importantes do Calcio…mas aos poucos o futebol italiano (se não descobrirem mais nenhuma sujeira por de baixo do tapete) deve se reerguer, as melhoras já estão começando nessa temporada.

  • Toni na Alemanha ou Bianchi na Alemanha: o que é mais alternativo?

    Enfim, estou aqui mais para dizer que o Quattro Tratti ganha um novo comentarista a partir de hoje… =)

    O blog é excelente, gostei muito dos textos.

    E 07/08 vem aí, CALCIO >>> EPL!

    Abraços!

  • Braitner,
    Parabéns pelo post – excelente! Sabe, a cada transferência de um italiano para o exterior fico mais saudosista da época que o Bari contava com o capitão do English Team Platt e com um jovem Boban (ainda que com a ajuda do Milan), o Cagliari com o fantástico Francescoli e o Verona com o ‘Maradona’ Stojkovic, sem falar de Hagi no Brescia, Futre na Reggiana, ….
    Abraços,

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