Copa do Mundo

Azzurragate

Fato é que não é qualquer seleção que leva três de Gilardino, numa Copa do Mundo (Getty Images)

Em 15 minutos, Gilardino marcou três gols para salvar a Itália de um vexame frente ao Chipre, em Parma. O suficiente para Lippi “dungar” e disparar contra o público que vaiou durante o jogo. Ora, se não se pode vaiar uma seleção campeã mundial que chega aos 30 minutos do segundo tempo levando 2 a 0 do Chipre… Mesmo que em campo estivessem os reservas (do time considerado titular, só começaram jogando Cannavaro e, vá lá, Gilardino), é preocupante que quem deveria buscar uma vaga no grupo para a Copa não tenha conseguido mostrar serviço.

Porque o “grupo”, principal conceito no trabalho de Lippi, parece cada vez mais fechado. Em seus jogos como comandante italiano pós-Euro, foram chamados 48 jogadores para 19 partidas – dez das Eliminatórias, seis amistosos e três pela vergonhosa eliminação na Copa das Confederações. Na sua estreia, em agosto de 2008, Barzagli e Bonera faziam a zaga ainda no mostruoso 4-3-3 que Lippi herdara de Donadoni, com atacantes tortos pelas pontas. Contra a Irlanda nesse sábado, último jogo com titulares, a seleção pelo menos já mostra algum padrão. Ainda que isso não seja um elogio, longe disso: a única boa solução prática encontrada no ano foi Pirlo como trequartista.

No papel, os “números” do 4-2-3-1 do time de Lippi são os mesmos do Brasil de Dunga. O que mostra bem a diferença na forma em que os dois últimos campeões mundiais enfrentarão a próxima Copa. A dupla de volantes da Itália tem mais qualidade, mas só. As laterais brasileiras, com Maicon/Elano ou Daniel Alves pela direita, e André Santos/Robinho ou Nilmar pela esquerda, estão muito à frente das italianas com Zambrotta/Camoranesi e Grosso/Di Natale ou Iaquinta. Para não falar no ataque. Dá pra comparar a boa fase de Gilardino nos últimos dias com a boa fase de Luís Fabiano nos últimos meses?

No confronto com a imprensa, por outro lado, Lippi e Dunga vão por caminhos opostos. O brasileiro tem pegado mais leve nas últimas coletivas, enquanto o italiano perdeu de vez a paciência e, inseguro, resistente e irônico, não cansa de dar patadas nos jornalistas que insistem em pedir o óbvio: Cassano. Não que Lippi deva dar ao barês a camisa dez e a faixa de capitão de seu time. Mas é incrível o fato do jogador ainda não ter conseguido sua chance de dar a volta por cima vestido de azzurro, assim como já fez em blucerchiato.

Lippi defende que mudou a seleção. Mudou, de fato. Mas nem deu pra perceber. O 4-3-3 virou um 4-2-3-1 que adianta Pirlo e segura mais De Rossi, além de explorar menos a técnica de Camoranesi – o que é bom. Ainda assim, muito pouco para uma seleção completamente desmontada depois da queda prematura na Copa das Confederações. O grupo também passou a conviver com alguns novos nomes: Marchisio, Santon, Marchetti, D’Agostino, Bocchetti, Criscito. Mas só o primeiro deve chegar com reais chances de titularidade à Copa.

No caso de Cassano, a maior prova de que não dá simplesmente para descartar um talento numa Copa do Mundo foi dada pelo próprio Lippi. Em 2006, um Totti em frangalhos (que deve voltar ao grupo na próxima convocação) fez gol e deu quatro assistências, participando diretamente de cinco dos 12 gols da Itália no torneio. Como Lippi vai com seus próprios campeões, a Itália terá de esperar que a boa fase recente de Totti continue nos próximos meses. Porque talento e juventude não é a prioridade nos pensamentos do treinador, como alertou Arrigo Sacchi.

Quem vai, quem tá indo, quem ficou…
Dos 48 convocados por Lippi nesses 14 meses, nem todo mundo ainda planeja viajar para a África do Sul. Até porque 13 jogadores já estão praticamente garantidos na lista final de 23 para a Copa e ainda tem gente não-convocada que pode surgir de surpresa. De quebra, das dez vagas restantes, só oito são para jogadores de linha. O blog preparou uma lista dos “copáveis” italianos, em escala de 1 a 5.

5 – Só lesão ou algum outro desastre tira o pessoal daqui da Copa
Goleiro: Buffon (Juventus)
Defensores: Cannavaro (Juventus), Chiellini (Juventus), Grosso (Juventus), Legrottaglie (Juventus), Zambrotta (Milan)
Meias: Camoranesi (Juventus), De Rossi (Roma), Gattuso (Milan), Marchisio (Juventus), Pirlo (Milan)
Atacantes: Gilardino (Fiorentina), Iaquinta (Juventus)

4 – Largam na frente na disputa pelas vagas restantes, se a fase estiver boa
Goleiros: Marchetti (Cagliari), De Sanctis (Napoli)
Defensores: Gamberini (Fiorentina), Santon (Inter)
Meias: Palombo (Sampdoria), Pepe (Udinese)
Atacantes: Di Natale (Udinese), Rossi (Villarreal-ESP)

3 – Estão bem recentemente e correm por fora: podem aparecer de surpresa
Defensores: Criscito (Genoa)
Meias: D’Agostino (Udinese)
Atacantes: Quagliarella (Napoli), Pazzini (Sampdoria)

2 – Se arrebentarem até o fim da temporada, quem sabe. Mas é complicado…
Goleiro: Amelia (Genoa)
Defensor: Bocchetti (Genoa)
Meias: Aquilani (Liverpool-ING), Marchionni (Fiorentina), Montolivo (Fiorentina)

1 – Já assinaram o pacote em alta definição para acompanhar a Copa em casa
Goleiros: Curci (Siena)
Defensores: Barzagli (Wolfsburg-ALE), Bonera (Milan), Cassani (Palermo), Cassetti (Roma), Dossena (Liverpool-ING), Esposito (Genoa), Motta (Roma)
Meias: Biagianti (Catania), Brighi (Roma), Foggia (Lazio), Galloppa (Parma), Maggio (Napoli) Perrotta (Roma)
Atacantes: Floccari (Genoa), Mascara (Catania), Pellissier (Chievo) Toni (Bayern de Munique-ALE)

Há também quem ainda não foi convocado. Mas sempre tem gente pedindo e não duvide se um (ou dois…) deles aparecer na lista final:
Defensores: Moretti (Genoa), Nesta (Milan)
Meia: Mannini (Sampdoria)
Atacantes: Amauri (Juventus), Cassano (Sampdoria), Del Piero (Juventus), Inzaghi (Milan), Totti (Roma)

E, para quem não entendeu o título, é só clicar aqui.

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