José João Altafini é, muito provavelmente, o brasileiro de maior sucesso em gramados da velha bota na história. Filho dos italianos Gioacchino Altafini e dona Maria Marchesoni, Altafini nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo, e, com o futebol, voltou à terra dos pais para se consagrar. Não sem antes se tornar ídolo também no Brasil.
Iniciou sua carreira jogando pelo Atlético Piracicabano, maior clube da cidade, mas antes mesmo de completar 17 anos já tinha contrato assinado com o Palmeiras. O garoto chegava a um clube que não conquistava nenhum título desde a Taça Rio de 1951. Uma única partida vestindo alviverde foi o suficiente para dar esperança aos palmeirenses de que aquele jejum estava perto de acabar. Na sua estreia no Campeonato Paulista de 1957, no Palestra, Altafini marcou os cinco gols da vitória por 5 a 2 contra o Noroeste. Sete dias depois fazia sua estreia pela seleção brasileira.
Agora, o atacante já deixara de ser José ou Altafini. Era Mazzola. Depois de mostrar sua intimidade com a bola e o apurado faro de gol, um dirigente saudosista do antigo Palestra Itália viu em Altafini a imagem de Valentino Mazzola, craque italiano da década de 1940, e assim o apelidou. No Brasil, poucos sabem quem é Altafini, mas se perguntar por Mazzola, ouvirá boas histórias. Como a daquele Santos 7-6 Palmeiras, em 1958, que matou cinco torcedores do coração tamanha a emoção do jogo. Mazzola marcou dois.
Na Copa do Mundo de 1958, não havia dúvidas de que tinha que ser titular da seleção. E assim o fez. Pelo menos no início. A estreia foi boa, com dois gols no 3 a 0 contra a Áustria, mas o que Mazzola não esperava era que surgisse um tal de Pelé. Ao longo da competição, perdeu a vaga para o moleque do Santos e viu, do banco, o show daquela seleção que trouxe o primeiro título mundial para o Brasil. Foi o primeiro contato de Mazzola com o futebol europeu. O suficiente para convencer alguns clubes italianos a tentar sua contratação.
De volta ao Brasil, chegou a acertar sua transferência para a Roma, mas uma oferta extraordinária levou-o para o Milan. Mazzola deixou aos cofres palmeirenses cerca de 25 milhões de cruzeiros, valores jamais vistos no Brasil da época. Foram 114 partidas e 85 gols pelo clube da capital paulista, números que o tornaram ídolo por aqui. Mas a partir daí, sua história era na Itália.
Lá, deixou de ser Mazzola e voltou a ser Altafini. Em sua primeira temporada pelo Milan, marcou 28 gols em 32 jogos e só não foi artilheiro da competição porque o interista Angelillo fez 33, estabelecendo um recorde que dura até hoje. Porém, os 28 gols botaram Altafini na história do clube milanês logo em seu primeiro ano por lá: foi o jogador que mais vezes marcou pelo Milan em um Campeonato com 18 equipes, além de, é claro, ter conquistado seu primeiro scudetto.
O grande desempenho abriu as portas da Nazionale para ele. Estreou na azzurra em 1961, nas eliminatórias para a Copa de 1962. Hoje em dia, conta se arrepender da escolha: “Um dos grandes arrependimentos da minha vida foi justamente ter trocado de camisa na Copa do Chile. Joguei pela Itália e vi meus ex-colegas de seleção levarem para a casa a segunda Copa”. A campanha italiana naquela Copa foi desastrosa, sendo eliminada ainda na primeira fase.
Naquele mesmo ano, porém, Altafini já tinha se sagrado mais uma vez campeão italiano e dessa vez conquistara a artilharia do torneio, com 22 gols. Depois da Copa, mais uma temporada para o ítalo-brasileiro não esquecer: o Milan venceu sua primeira Liga dos Campeões, com Altafini alcançando a impressionante marca de 14 gols em nove partidas, sagrando-se artilheiro da liga.
Na final de Wembley, contra o Benfica, marcou os dois gols da vitória rossonera, para fechar com chave de ouro. Os dois títulos nacionais mais a Liga dos Campeões levaram o Mazzola brasileiro ao hall da fama do Milan. Altafini encerrou sua passagem pelo clube em 1965, computando 246 jogos e 161 tentos.
Em 1965 desembarcou em Nápoles, para compor, ao lado do argentino Omar Sívori, o ataque do Napoli. A boa dupla levou o azzurro napolitano a algumas boas colocações seguidas no campeonato nacional, incluindo o vice-campeonato de 1967-68, mas o único título conquistado foi o da Copa dos Alpes, em 1966. Altafini vestiu a camisa azul 180 vezes antes de se transferir para a Juventus, em 1972.
Com 34 anos, Altafini já não vivia mais o auge de sua forma física. Ainda assim, foi peça importante na conquista dos scudetti de 1973 e 1975. Se a explosão do atacante não era mais a mesma, a grande técnica e inteligência ainda eram. Altafini soube se adaptar e foi um dos primeiros a se destacar como atleta part-time, daqueles que entram no decorrer da partida para mudar a história do jogo.
Naquela Juve, teve a oportunidade de jogar ao lado de grandes nomes, como Zoff, Gentile, Scirea, Causio, Capello e Bettega. Encerrou sua passagem pelo futebol italiano em 1976, igualando a marca de Meazza para ocupar a terceira colocação do ranking de artilheiros da história da Serie A: 216 gols. Por muito tempo, teve apenas Piola (274) e Nordahl (225) na sua frente – mais tarde, Totti (250) o ultrapassou.
Altafini encerrou sua carreira na Suíça, onde atuou por dois times, sem alcançar grandes feitos. Hoje em dia, vive em Turim e é um dos mais famosos comentaristas esportivos da Itália, tanto que emprestou sua voz para o jogo Pro Evolution Soccer 2009, na versão italiana. Bom para o público italiano, que pode ouvir e se encantar com histórias de um jogador que fez história em dois países de tradição ímpar no futebol mundial.
José João Altafini
Nascimento: 24 de julho de 1938, em Piracicaba (SP)
Posição: atacante
Clubes: XV de Piracicaba (1954-56), Palmeiras (1956-58), Milan (1958-65), Napoli (1965-72), Juventus (1972-76), Chiasso (1976-79) e Mendrisio (1979-80)
Títulos: Copa do Mundo (1958), Serie A (1959, 1962, 1973, e 1975), Copa dos Campeões (1963) e Copa dos Alpes (1966)
Seleção brasileira: 8 jogos e 4 gols
Seleção italiana: 6 jogos e 5 gols