Pirlo e Balotelli são as grandes esperanças da Itália no Brasil (Fifa) |
Em parceria com Arthur Barcelos
O que será da Itália no Brasil? Ao contrários do histórico azzurro, a seleção italiana, comandada por Cesare Prandelli, não se sobressai pelos aspectos defensivos, mas do meio para frente. Ofensivamente, é um time que sabe o que fazer com a bola e que costuma marcar gols. Porém, a vida italiana não será fácil nesta Copa do Mundo: o Grupo D é composto por três campeões mundiais – além da Itália, Uruguai e Inglaterra –, mais a Costa Rica. O teste começa cedo. Vamos à análise.
Os objetivos
Diferentemente de outros Mundiais, a Itália vem para o Brasil pensando no presente, mas sobretudo no futuro. Apesar da média de idade de 27,3 anos, o grupo de Prandelli é focado especialmente para Euro 2016 e Copa 2018, quando vários dos jogadores mais jovens atualmente estarão em seus auges.
O pensamento é relativamente tímido em relação à 2014, mas não “pequeno”: o objetivo é fazer um campeonato consistente e superar as limitações físicas. O grupo é complicado, mas passando da primeira fase, os azzurri esperam chegar, no mínimo, nas quartas de final.
O discurso de Prandelli é fazer boa fase de grupos, onde não terá vida
fácil contra Inglaterra, Uruguai e Costa Rica, e então ter outra dura
tarefa nas oitavas: passar por Colômbia, Japão, Costa Rica ou Grécia.
Nas quartas, o objetivo principal, um entre Brasil, Croácia, México,
Camarões, Espanha, Holanda, Chile ou Austrália – grandes chances de ser
Brasil ou Espanha, justamente os únicos que derrotaram a Itália em jogos
oficiais na era Prandelli.
Chegar às semifinais é uma possibilidade concreta. Título? Nunca duvide da Itália.
Os craques
Entre os destaques, a Itália tem dois veteraníssimos, Buffon e Pirlo, que podem estar em sua última competição internacional pela Squadra Azzurra. Além deles, há De Rossi e Barzagli, que também participaram da campanha do tetracampeonato, em 2006. Há, ainda, os menos veteranos, como Chiellini (e, se não houvesse quebrado a perna, Montolivo), já
figuras importantes no selecionado e “vice-líderes” dos veteraníssimos.
O grupo também possui jogadores já maduros e na altura do auge, prontos
para assumirem cargos maiores na seleção. Casos de Sirigu, Bonucci, Candreva, Marchisio e Cerci, além de Ranocchia e Rossi, que não estão no grupo de 23 jogadores, mas deverão ser os
líderes da seleção juntamente aos outros citados em 2018.
Em todos os setores há jovens que já são protagonistas ou têm alguma relevância – Perin no gol, De Sciglio e Darmian na defesa, Verratti no meio-campo, Balotelli, Immobile e Insigne no ataque. Embora Balotelli já seja uma das principais referências no grupo, a expectativa é de que ele cresça ainda mais e amadureça após esta, que será sua primeira Copa do Mundo. Balotelli chega em baixa para a Copa do Mundo, após temporada irregular no Milan, onde decidiu jogos, mas foi muito apagado em outras partidas.
Com o momento pouco inspirado de Balotelli, Pirlo se torna a maior esperança da Itália nesta Copa do Mundo, pelo toque de classe no meio-campo e pelo grande aproveitamento nas bolas paradas e lançamentos. A má fase de Balotelli abre caminho para Immobile, atacante em melhor fase no grupo da Squadra Azzurra. O artilheiro da última Serie A, com 22 gols, tem um grande repertório e faz gols de todos os jeitos. Contra o Fluminense, marcou três, todos de uma maneira diferente. Está pedindo passagem no time titular.
A Itália também tem outros jogadores em ótima fase do meio para frente. São os casos de Verratti, Cerci, Cassano e Candreva, que tiveram temporadas destacadas em seus clubes. Marchisio e Insigne tiveram ano irregular, mas fecharam a temporada em alta e tem rendido bem pela seleção. Parolo, mais discreto em boa fase, chega ao Mundial substituindo Montolivo e pode ser uma surpresa no grupo.
Se Buffon e Chiellini são sinônimo de segurança, o mesmo não pode ser dito do restante da defesa azzurra. Quatro dos defensores chamados por Prandelli tem problemas físicos – Barzagli e Paletta em especial – e Bonucci, apesar da boa fase, comete apagões às vezes. Nas laterais, De Sciglio caiu de produção e é uma incógnita, enquanto Abate é um jogador apenas regular. Darmian, que assim como De Sciglio, joga nas duas laterais, é o jogador que está em melhor fase, mas a inexperiência em jogos internacionais pode atrapalhar.
Se superstição ajudar, a Itália costuma fazer bom papel em Copas do Mundo quando tem jogadores de times médios em ótima fase. Cerci, Immobile, Darmian, Paletta e Parolo podem ser o que a turma de jogadores do Cagliari, em 1970. O mesmo se repetiu em 1982, 1990 e 1994 com elencos com muitos jogadores de Torino, Fiorentina, Sampdoria e Parma.
Retrospecto recente
A indefinição tática reflete também nas expectativas em relação à resultados. Se o retrospecto recente é desanimador (dez partidas, duas vitórias, duas derrotas e seis empates), o desempenho em jogos oficiais é inverso: são apenas duas derrotas em 31 partidas, contra a Espanha na final da Euro 2012 e diante do Brasil na Copa das Confederações em 2013. E, por mais clichê que seja, falamos de Itália, historicamente conhecida por superar prognósticos e dificuldades.
Em relação aos últimos amistosos, contra Irlanda (0 a 0) e Luxemburgo (1 a 1), além do jogo-treino contra o Fluminense (5 a 3), mais do que a questão física ou técnica, e independentemente do resultado, Prandelli fez observações individuais. Os jogos serviram para Darmian e Verratti mostrarem serviço e que podem assumir os lugares de Maggio e Montolivo. Bom também para Parolo e Cassano, surpresas na convocação, além de Marchisio recuperar confiança depois de temporada ruim e irregular. Immobile e Insigne, por sua vez, tiveram ótimo proveito na partida contra o Fluminense, e marcaram três e dois gols, respectivamente, além de terem se movimentado muito.
De ruim, o atestado da má forma de Barzagli (que sequer entrou em campo nos dois primeiros jogos e, diante do Fluminense, sofreu) e Paletta, e o problema posicional de Bonucci na defesa a quatro. O sistema defensivo em si é bom, consistente, porém erros individuais podem comprometer.
Itália de Prandelli promete variações táticas (AP) |
Aspectos táticos
A equipe é camaleônica. Prandelli tem muitas possibilidades táticas e
técnicas, que selecionará especificamente de acordo com o adversário e
as
condições físicas de cada jogador. Ele faz questão de afirmar que todos
os 23 são
“titulares” e citar exemplos de jogadores como Schilacci (90) e Grosso
(2006), que não eram nem de longe os destaques do time, mas foram
importantíssimos para a seleção no decorrer das competições.
O
time já atuou nos esquemas 4-3-1-2, 4-3-2-1, 3-5-2, e mais recentemente
no 4-1-3-2 e 4-1-4-1. Tudo isso gera várias dúvidas sobre como jogará a
Nazionale, e, embora a equipe venha treinando no 4-1-4-1 desde que
chegou ao país, Prandelli faz mistério sobre com que módulo a Itália
jogará contra a Inglaterra, em Manaus, no dia 14.
A forma física dos jogadores e o desempenho nos últimos amistosos preocuparam Prandelli. O técnico busca alternativas e quer um time mais controlador da posse de bola do que normalmente é desde a sua chegada. Foi justamente o que o técnico buscou no 4-1-3-2 e no 4-1-4-1, esquemas que podem ser utilizados contra Uruguai e Inglaterra.
No caso do 4-1-4-1 (variação pro 3-4-3), os pontos fortes seriam a saída de jogo a três com De Rossi, às vezes até fazendo a sobra na fase defensiva, o jogo entrelinhas de Pirlo e Verratti, com Marchisio ou Candreva eventualmente explorando o terceiro quarto do campo, justamente as deficiências (históricas) da Inglaterra, e as ultrapassagens dos laterais. Com Balotelli, a equipe teria maior capacidade técnica e inventiva e presença de área, com Immobile, maior movimentação e precisão.
No 4-1-3-2 (variação pro 3-5-2), a Itália teria novamente a fluidez tática de De Rossi, meio ‘mediano’, meio ‘líbero’, novamente as ultrapassagens dos laterais, o jogo entrelinhas do “falso 10”, que pode ser interpretado por Pirlo ou Verrattti. A Squadra Azzurra teria, ainda, a presença de dois meias com mobilidade e força – ou apenas um, Marchisio, e a presença do coringa Verratti. No ataque, a qualidade de Cassano no último quarto, podendo criar jogadas mais próximas ao gol para que Balotelli possa ter mais chances de finalizar em boas condições.