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Giancarlo Bercellino, campeão europeu pela Itália, jamais foi expulso como profissional

Escolher a trajetória profissional costuma ser uma tarefa difícil para quase todo mundo. Para aqueles que têm o desejo de se dedicar ao futebol e contam com uma família de esportistas, porém, fica mais fácil. Giancarlo Bercellino virou jogador após receber a influência de Teresio, seu pai, que foi atacante e treinador, e construiu uma bela carreira: o zagueiro atuou quase uma década pela Juventus e também foi campeão europeu pela Itália, em 1968.

Bercellino nasceu em Gattinara, que fica na região do Piemonte, em 1941. Enquanto a Itália se recuperava da devastação causada pela Segunda Guerra Mundial, o jovem Giancarlo almejava seguir os passos do pai, que fora atacante do Novara nas séries A e B. O futebol estava no sangue da família, assim como a sanha de marcar gols: Silvino, seu irmão mais novo, também foi centroavante. Berce deu os seus primeiros passos justamente naquela posição, quando era treinado pelo genitor nas categorias de base do pequeno Borgosesia.

Ainda atacante, Giancarlo foi notado por olheiros da Juventus responsáveis por escrutinar as bases dos clubes menores do Piemonte em busca de destaques, e recebeu um presente do pai: Teresio negociou a transferência do filho para a gigante de Turim. No dia em que viajou para a capital da região, Berce foi homenageado pelos moradores da pequena Gattinara. Vestindo bianconero, porém, não seria responsável por marcar gols, mas por evitá-los: foi recuado, por sua tenacidade e pela força nos duelos individuais, até se tornar zagueiro.

Após maturar na base, Bercellino foi emprestado para o Alessandria, recém-rebaixado à Serie B, onde estrearia profissionalmente em 1960-61. O zagueiro se tornou titular dos grigi mesmo com apenas 20 anos e entrou em campo em 38 das 40 partidas disputadas pelos mandrogni naquela temporada, marcando dois gols. Os alessandrinos terminaram o campeonato na sétima posição e Giancarlo retornou a Turim.

Bercellino chegou cedo à Velha Senhora e se tornou peça importante da equipe nos anos 1960 (Arquivo/Juventus FC)

Em 1961, a Juventus tinha conquistado o 12º scudetto, mas o grande jogador do time, Giampiero Boniperti, tinha se aposentado: se desfazia o Trio Mágico, que o italiano formava com o galês John Charles e o argentino Omar Sívori. Naquele período de transição da Velha Senhora, Bercellino teve a sua estreia atuando como titular na primeira rodada da Serie A, contra o Mantova, num empate por 1 a 1.

Giancarlo encontrou espaço numa forte defesa, que ainda tinha nomes como Benito Sarti, Gianfranco Leoncini e Ernesto Castano, mas a temporada terminou sendo uma das duas piores da história juventina. O desempenho foi pontuado por vexames contra o Milan (5 a 1 e 4 a 2, com shows de José Altafini) e a equipe concluiu a Serie A na 12ª posição, tendo a segunda pior retaguarda do campeonato, com 56 gols sofridos – à frente somente da Udinese, lanterna.

Berce, que esteve em campo nas duas goleadas sofridas para o rival, acabou tendo de descer um degrau: para melhorar o seu rendimento, passou 1962-63 inteiro treinando com a equipe reserva da Juventus. A imaturidade foi ficando para trás depois de representar o time sub-21 da Itália vitorioso nos Jogos do Mediterrâneo, em 1963 – competição em que seu irmão Silvino, conhecido como Bercedue, marcou um dos gols na final contra a Turquia.

Os irmãos Bercellino ganharam poucas oportunidades no time da Juventus em 1963-64, mas Giancarlo foi mais utilizado: atuou em 12 partidas, contra apenas quatro de Silvino. Enquanto o mais novo foi rodar nas divisões inferiores, obtendo sucesso por Potenza, Palermo e Biellese, Berceuno permaneceu para fazer história em Turim.

Ao longo de quase uma década, Bercellino se firmou como um dos pilares da defesa bianconera (Arquivo/Juventus)

Tudo mudou em 1964, quando a Juventus contratou o técnico Heriberto Herrera. Sob o comando do paraguaio, que valorizava times operários e de força física, Bercellino viu o seu entrosamento com Castano alcançar um nível superior. Logo no primeiro ano de trabalho com o novo treinador, o zagueiro cresceu de rendimento e ganhou um novo apelido: Berceroccia ou “Bercerocha”, em tradução literal, devido à sua solidez. Assim, a Velha Senhora concluiu a temporada com o título da Coppa Italia, o vice da Copa das Feiras e o quarto lugar na Serie A. Em maio de 1965, Giancarlo também estreou pela Nazionale, numa vitória por 4 a 1 sobre o País de Gales, em Florença.

Depois de um desempenho menos glorioso em 1965-66, a Juventus operária voltou com tudo em 1966-67. A Inter de Helenio Herrera era a favorita ao scudetto, mas o seu homônimo paraguaio manteve o time bianconero vivo até a reta final da Serie A, sobretudo por conta de uma defesa muito equilibrada – a segunda menos vazada do campeonato. Além de se destacar na retaguarda, com marcação individual atenta, potência física e velocidade, Berceroccia também contribuía com gols de falta e de pênalti, devido a chutes fortes e precisos. Tendo Giancarlo ao centro dessa combinação a Juve venceu a Lazio por 2 a 1 na última rodada, enquanto a Inter perdeu para o Mantova. Por apenas um ponto de diferença, o título foi para Turim.

Após a conquista com o clube, Bercellino passou a ser figura frequente na seleção italiana, treinada na época por Ferruccio Valcareggi. E, assim, recebeu a convocação para representar a Squadra Azzurra na Eurocopa de 1968, que seria disputada na própria Itália.

Na época, a fase final da competição só tinha quatro participantes, que já se enfrentavam nas semifinais. Em 1968, as chaves do torneio tinham Itália e União Soviética de um lado, e Iugoslávia e Inglaterra do outro. Bercellino entrou em campo no primeiro duelo, terminado em 0 a 0 e decidido, favoravelmente aos azzurri, apenas no cara ou coroa. Por lesão, ficou de fora da final, mas viu a Nazionale empatar por 1 a 1 com os iugoslavos na primeira partida e precisar de uma vitória por 2 a 0 no jogo extra para se sagrar campeã continental pela primeira vez em sua história.

Bercellino celebra a conquista europeia da Itália ao lado de Mazzola, Valcareggi e Facchetti (LaPresse)

As lesões seriam uma constante no decorrer da carreira de Berce – e também fariam com que sua presença na Euro encerrasse o seu ciclo na seleção. Em 1968-69, passou a atuar como líbero e não entregou tantas atuações em alto nível, como as da temporada anterior. Com isso, depois de 201 jogos e 14 gols pela Juventus, se transferiu ao Brescia.

Bercellino disputou 25 partidas pelo time da Lombardia, mas não conseguiu evitar o seu retorno para a Serie B, depois de apenas um ano na elite. O zagueiro ainda receberia uma oferta da Lazio, de modo a continuar atuando na primeira divisão, mas a sua pedida salarial não foi atendida pelo presidente Umberto Lenzini.

Depois do impasse na capital, Berceuno também não quis retornar ao Brescia e preferiu se aposentar, com apenas 29 anos. Em toda a sua carreira, constituída de 370 jogos como profissional, jamais foi expulso – fato raro para um defensor que chegava forte quando necessário. Fora dos campos, Giancarlo voltou para o interior do Piemonte de imediato e passou a contribuir com os empreendimentos da família em Roasio, cidade vizinha a Gattinara.

Além de colaborar com os negócios de seu clã, Bercellino também treinou o Borgosesia, seguindo os passos do pai, e a Cossatese. No entanto, essas foram as suas únicas experiências no futebol depois da aposentadoria. Discreto, Giancarlo costuma dar poucas entrevistas e geralmente as concede durante os períodos de Euro, já que é um dos integrantes do elenco campeão em 1968 que ainda estão vivos.

Giancarlo Bercellino
Nascimento: 9 de outubro de 1941, em Gattinara, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Alessandria (1960-61), Juventus (1961-69) e Brescia (1969-70)
Títulos como jogador: Copa dos Alpes (1963), Jogos do Mediterrâneo (1963), Coppa Italia (1965), Serie A (1967) e Eurocopa (1968)
Clubes como treinador: Borgosesia (1978-80) e Cossatese (1980-82)
Seleção italiana: 6 jogos

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