Nascido no interior do Rio Grande do Sul, na década de 1960, Carlos Caetano Bledorn Verri começou a carreira de jogador cedo, atuando pelos times juniores do Internacional. Por causa da baixa estatura e porte físico não muito avantajado até os 15 anos, passou a ser chamado de Dunga (um dos anões da fábula da Branca de Neve) pelos seus companheiros. O garoto cresceu, tornou-se símbolo de força e garra, mas o apelido permaneceu.
Chegou ao time do Inter no ano de 1980, atuando mais à frente, como homem armador e com boa visão de jogo. Porém, foi como volante que se profissionalizou, em 1983, e se tornou um dos principais meio-campistas daquela década – apesar de, inicialmente, quase ter sido dispensado pelo técnico Dino Sani, que fora ídolo do Milan. No sul, Dunga conquistou dois Campeonatos Gaúchos antes de partir para a maior cidade do país, onde jogou por Corinthians e Santos. Lá, não conquistou títulos, mas se firmou como grande volante e confirmou presença na Seleção Brasileira, que teve esse período marcado como “Era Dunga”.
Suas boas atuações por Corinthians, Santos e Seleção chamaram a atenção da Fiorentina, que já em 1987 comprou seu passe. Com o número de estrangeiros já no limite, a viola emprestou Dunga primeiro para o Vasco e depois para o Pisa, onde, em apenas uma temporada, tornou-se ídolo. Entre os anos de 1983 e 1990, o time da cidade da torre inclinada se revezou entre primeira e segunda divisão. A chegada de Dunga deu uma esperança aos torcedores, que lotaram o aeroporto da cidade na sua chegada, mas tudo que o capitão conseguiu foi livrar o time presidido por Romeo Anconetani do rebaixamento e mostrar que merecia vestir uma camisa de mais peso.
No ano seguinte, então, o Cucciolo (nome do anão Dunga, em italiano) transferiu-se para Florença. Aquele time de 1988-89 era jovem e tinha peças bem interessantes: na defesa, o goleiro Landucci tinha na sua frente Battistini, Carobbi, Hysén e Celeste Pin; Dunga, Mattei, Cucchi e Di Chiara formavam o meio de campo; no ataque, a dupla que ficou conhecida como B2, Baggio e Borgonovo. A equipe fez grandes partidas em casa, como a memorável vitória sobre a Inter, líder invicta do campeonato até então, mas foi muito inconstante fora. Mesmo assim, conseguiu a classificação para a Copa da Uefa.
Com uma boa temporada da equipe viola e as brigas de Dunga com o técnico Eriksson, reivindicando mais liberdade criadora, parecia certa sua saída para a Juventus, que abordava o brasileiro e Baggio. No entanto, a troca de comando no time fez com que Dunga permanecesse. Bruno Giorgi comandou a equipe na temporada de 1989-90, levando o time à 13ª colocação da Serie A e ao vice-campeonato da Copa da Uefa. Dunga era o grande nome do time, juntamente com Baggio.
Foi a única temporada do treinador à frente da equipe. Com o fim da Copa do Mundo e o fiasco da seleção brasileira, Lazaroni mudou-se para a Itália para comandar o time toscano. Dunga estava queimado no Brasil, pois havia se tornado símbolo daquela seleção retranqueira da Copa de 1990, mas a mudança na presidência da sociedade, que fora comprada pelo cineasta Mario Cecchi Gori parecia um bom cenário para o brasileiro se recuperar. O novo presidente exigiu que Dunga fosse o capitão do time e Lazaroni assim o fez, porém começava ali o fim da passagem de Dunga por Florença.
Naquela temporada de 1990-91, Dunga ainda teve bons momentos, chegando até a usar a camisa 10 viola em algumas partidas, mas a equipe não conseguiu mais do que uma 12ª colocação no campeonato. No ano seguinte, a mesma coisa. E Vittorio Cecchi Gori, que ocupava a presidência por problemas de saúde do pai, Mario, comprou briga com Dunga e assinou contrato com mais um estrangeiro, estourando o limite e deixando claro que não queria mais Dunga no time. Dunga saiu brigado de Florença e terminou aquela temporada jogando pelo rebaixado Pescara. Foi sua última passagem por clubes italianos.
Depois disso, Dunga jogou no Stuttgart, onde recuperou o bom futebol e seu lugar na seleção, que dessa vez cumpriu seu trabalho na Copa: trouxe a taça para casa. Capitão do tetra, Dunga voltou a ser ídolo no Brasil. Em 1995, trocou o futebol alemão pelo japonês, onde conquistou dois campeonatos nacionais pelo Júblio Iwata e novamente virou ídolo. Em 1998, foi o capitão da seleção vice-campeã do mundo na França e no ano seguinte voltou para o Internacional, onde encerrou a carreira, em 2000.
Em 2006, Dunga estreou como treinador. E não em qualquer lugar, mas já na seleção brasileira, depois da decepção na Copa do Mundo, sob muitas suspeitas e taxado de inexperiente. Essas questões o ex-volante até superou rapidamente, mas não outras tantas, que permearam suas duas passagens pela Canarinho principal e pela olímpica – ambas muito similares entre si.
Dunga chegou à Seleção com a responsabilidade de ser o general que moralizaria ambientes destroçados. Em 2006, pela queda para a França nas quartas de final da Copa, numa preparação regada a pouco comprometimento; em 2014, após o 7 a 1 em casa, para a Alemanha, nas semifinais do Mundial. O capitão do tetra colocou o estilo militaresco em prática em ambas. Nelas, também se caracterizou por uma péssima relação com a imprensa, algo comum à sua carreira como atleta, e por apresentar um futebol feio, reativo e extremamente pragmático.
Na primeira passagem, alguns resultados positivos e conquistas, como a da Copa América de 2007 e a da Copa das Confederações de 2009, juntamente ao bom rendimento individual de algumas peças, mascararam problemas que ficariam evidentes na eliminação nas quartas da Copa do Mundo de 2010, para a Holanda. Na segunda, o trabalho de Dunga nunca decolou e a eliminação na fase de grupos da Copa América Centenário, em 2016, foi a gota d’água para uma trajetória absolutamente insatisfatória. Pelo selecionado olímpico, não foi além do bronze em Pequim-2008.
Como técnico, o gaúcho também teve uma passagem pelo Internacional, no qual foi campeão estadual, e passou alguns dias sob contrato no Al-Rayyan, do Qatar, rescindindo antes mesmo de treinar os asiáticos, por falta de confiança no projeto. Sem dúvidas, uma trajetória bem mais modesta em relação àquela que construiu como atleta.
Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga
Nascimento: 31 de outubro de 1963, em Ijuí (RS)
Posição: volante
Clubes como jogador: Internacional (1983-84 e 1999-2000), Corinthians (1984-85), Santos (1986), Vasco (1987), Pisa (1987-88), Fiorentina (1988-92), Pescara (1992-93), Stuttgart (1993-95) e Júbilo Iwata (1995-98)
Títulos como jogador: Campeonato Gaúcho (1983 e 1984), Campeonato Sul-Americano Sub-20 (1983), Copa do Mundo Sub-20 (1983), Torneio Pré-Olímpico (1984), Taça Guanabara (1987), Campeonato Carioca (1987), Copa América (1989 e 1997), Copa do Mundo (1994), Copa das Confederações (1997) e J.League (1997 e 1998)
Carreira como treinador: Brasil (2006-10 e 2014-16), Brasil Olímpico (2006-08 e 20215-16), Al-Rayyan (2011) e Internacional (2012-13)
Títulos como treinador: Copa América (2007), Bronze Olímpico (2008), Copa das Confederações (2009) e Campeonato Gaúcho (2013)
Seleção brasileira: 91 partidas e 6 gols