Em 1992, a geração de ouro da Dinamarca surpreendia a Europa. O time de Peter Schmeichel e dos irmãos Michael e Brian Laudrup fez história ao vencer a Eurocopa daquele ano e recebeu uma alcunha que lhe acompanharia para sempre: “Dinamáquina” – ou Danish Dynamite, em inglês. Enquanto o continente e o mundo se encantavam por aquela seleção repleta de craques, na terceira divisão dinamarquesa brotava um talento. Um atacante que viria a ser um dos grandes nomes da linhagem sucessora: Jon Dahl Tomasson.
Quando ainda jogava pelo modesto Køge, Tomasson tinha como grande sonho jogar pela seleção e marcar muitos gols. Realizou ambos os desejos e muito mais. O ambicioso e talentoso atacante rodou a Europa e conquistou muitos títulos, sendo o maior deles a Uefa Champions League, com o Milan.
O começo, nas divisões inferiores da Dinamarca, causou muita expectativa. Afinal, o jovem atacante, que estreou com apenas 16 anos, ajudou o Køge a subir da terceirona para a elite local em apenas duas temporadas. No período, marcou nada menos que 27 gols em 33 jogos. Números que lhe garantiram os prêmios de jogador sub-19 do ano na Dinamarca e de artilheiro da segunda divisão, com 23 tentos.
Tomasson, porém, nunca jogaria uma partida sequer pela categoria de elite de seu país. Seus gols e seu fizeram com que o Heerenveen apostasse nele como uma grande promessa. Não decepcionou. O jovem atacante dinamarquês – de ascendência finlandesa e islandesa – foi o artilheiro do clube nas duas temporadas completas em que vestiu a camisa azul e branca e se tornou o destaque jovem do futebol holandês do ano de 1996, superando nomes como Boudewijn Zenden e Patrick Kluivert. Ao mesmo tempo, enfileirava gols pelas seleções de base da Dinamarca – no total, foram 27 tentos em 37 aparições.
Da Holanda, Jon Dahl foi para a Inglaterra, em 1997. Com o status de peça da seleção dinamarquesa – pela qual havia estreado em março daquele ano –, Tomasson acertou com o Newcastle para jogar ao lado de Alan Shearer, o grande ídolo do clube. No time de Kenny Dalglish, o atacante até começou bem, mas acabou levando azar.
Shearer sofreu uma lesão gravíssima e a venda de Les Ferdinand fez com que o treinador optasse por utilizar Tomasson, um segundo atacante, como centroavante. Isso prejudicou seu futebol: fez com que sua passagem pela Premier League durasse apenas 12 meses e criasse uma série de contestações sobre seu real potencial. A escassa utilização também lhe custou uma vaga no grupo da Dinamáquina na Copa do Mundo de 1998.
Tomasson, então, retornou à Holanda. Estava acertado com o Feyenoord, time pelo qual viria a conquistar o Campeonato Holandês em 1998-99. Além do título da Eredivisie, o atacante voltou a marcar seus gols. Foram 55 em 122 jogos em sua primeira passagem pela equipe de Roterdã, e uma parceria de sucesso com o holandês Pierre Van Hooijdonk.
O dinamarquês também conquistou a Copa da Uefa, um título memorável na história do “clube do povo” e que acabou catapultando sua transferência para o Milan, a custo zero, em fim de contrato. Mas, antes de chegar ao rossonero, Tomasson disputou sua primeira Copa, em 2002. Considerado uma das maiores esperanças dos nórdicos no Mundial, o camisa 9 correspondeu e marcou quatro gols – dois contra o Uruguai, um sobre Senegal e outro diante da França –, mas a Dinamarca acabou eliminada pela Inglaterra, nas oitavas de final.
Jon Dahl já estava acertado com o Milan e seu bom rendimento na Copa do Mundo animou a torcida do Diavolo. Sua chegada em Milão teve um grande impacto midiático, afinal o clube já contava com Pippo Inzaghi e Andriy Shevchenko para o ataque, além do recém-chegado Rivaldo. Ainda assim, era um atleta que Carlo Ancelotti considerava ideal para se encaixar nas características do time – até pelo fato de não apenas marcar gols, mas também coordenar o jogo.
Tomasson foi um reserva de luxo que atuou em 37 partidas na temporada. Contribuiu muito pouco na Serie A, mas foi fundamental nas copas, que o Milan acabou faturando: marcou quatro gols na Coppa Italia e três na Liga dos Campeões, competição mais importante que conquistou em sua carreira. Na competição local, o dinamarquês anotou uma doppietta sobre o Ancona, nas oitavas de final, e balançou as redes também nas quartas, diante do Chievo, e nas semis, às custas do Perugia.
Na Champions League, Tomasson deixou sua marca contra Deportivo La Coruña e Lokomotiv Moscou, em cada uma das fases de grupos que a competição tinha antes de entrar no mata-mata. Na etapa mais acirrada do torneio continental, o dinamarquês se mostrou fundamental na trajetória para o título: foi dele o gol que garantiu a classificação do Milan, contra o Ajax, nas quartas de finais. Após empate por 0 a 0 na Holanda, os Godenzonen iam ficando com a vaga graças a um 2 a 2 em San Siro, mas Tomasson entrou em campo para resolver contra o antigo rival. Foi a campo aos 83 e, oito minutos depois, já nos acréscimos do segundo tempo, aproveitou rebote de Lobont e selou a ida à semifinal.
Contudo, Jon Dahl acabou ficando fora da decisão. Uma lesão no ombro, sofrida a poucas semanas do duelo com a Juventus, o deixou fora de ação por alguns meses, mas não impediu os festejos. Ao mesmo tempo, o dinamarquês se credenciava como uma opção cada vez mais importante para Ancelotti, que apostava suas fichas nele sempre que a situação se complicava.
No ano seguinte, o atacante milanista teve sua melhor performance pelo clube italiano. Após iniciar a temporada com o título da Supercopa Uefa, Tomasson acabou ganhando mais espaço entre os titulares por causa da sequência de problemas físicos apresentado por Inzaghi. Dessa forma, o dinamarquês foi bastante utilizado na Serie A 2003-04 e anotou 12 gols, sendo vice-artilheiro rossonero na campanha que rendeu um scudetto ao clube. Entre seus tentos mais importantes, destacam-se os decisivos contra Siena, Parma, Brescia, Juventus e Inter.
Ao fim da temporada, Tomasson viajou para Portugal para defender a Dinamarca na Euro 2004. A escandinava se classificou para as quartas de final juntamente com a Suécia, deixando a Itália chupando dedo e, com três gols anotados, o atacante foi escolhido para a seleção dos 23 melhores jogadores da competição. De volta ao Milan, o camisa 15 continuou a ser utilizado com frequência, mas não teve números tão positivos – foram nove gols em 40 partidas.
Tomasson, porém, manteve o status de carrasco das equipes holandesas. Na Champions League, anotou seu único tento aos 90 minutos da partida de ida das semifinais, diante do PSV Eindhoven. O Milan se classificou por causa de um gol marcado fora de casa e voltou à decisão da maior competição europeia. O dinamarquês teve a chance de disputar alguns minutos da histórica final de Istambul contra o Liverpool e, inclusive, converteu uma das penalidades. Porém, o Milan decepcionou e o título ficou com os ingleses.
Em 2005, o ciclo do dinamarquês em Milão se encerrou. O atacante decidiu trocar o Diavolo pelo Stuttgart, já que deveria perder ainda mais espaço com a chegada de Alberto Gilardino, que havia se destacado pelo Parma. Tomasson chegou por indicação de Giovanni Trapattoni, que comandava os suábios, mas encontrou uma realidade bem diferente da vivida na Itália. O time empatava muito, vencia pouco e não deslanchava – o que gerou a demissão de Trap, em fevereiro de 2006.
O atacante rejeitou propostas do futebol inglês e deu início à sua segunda temporada na Alemanha, por acreditar no projeto dos alvirrubros, mas sofreu uma grave lesão que o deixou fora de ação por meses. O Stuttgart viria a conquistar a Bundesliga em 2007, mas Jon não estava mais no elenco, uma vez que acabou cedido ao Villarreal, em janeiro. Tomasson se tornou um raro exemplo de atleta que conseguiu atuar nas quatro maiores ligas europeias e, embora o Submarino Amarelo tenha conseguido um vice-campeonato espanhol em 2008, teve uma discreta passagem pela Espanha. Um ano e meio depois, ele acertou seu retorno ao Feyenoord.
Já na fase final da carreira – Tomasson tinha 31 anos quando voltou ao De Kuip –, o escandinavo voltou a marcar gols, mesmo atuando muito pouco. Vítima de longas sequências de lesões, Jon Dahl teve duas boas temporadas no clube holandês, com 20 tentos marcados em 37 aparições.
Ainda que estivesse longe da melhor forma, o dinamarquês fez parte do elenco da seleção nacional que disputou a Copa do Mundo de 2010, no retorno do país às grandes competições após seis anos de ausência. Tomasson foi o capitão da Dinamarca e marcou um gol contra o Japão, no jogo que marcou a eliminação do time de Morten Olsen ainda na fase de grupos. Após o Mundial, uma nova lesão abreviou sua carreira. Sem conseguir se recuperar durante uma temporada inteira, o atacante decidiu por se aposentar em junho de 2011, aos 34 anos. Nem mesmo teve um jogo de despedida dos gramados.
Tomasson nunca foi um goleador. Era um jogador que atuava em prol da equipe, mas estava sempre pronto para explorar os espaços nas costas dos defensores e deixar a sua marca. Se não conseguiu grande destaque nos clubes, atingindo maior sucesso na Eredivisie e como coadjuvante do Milan, pelo menos defendeu a Dinamarca com extrema competência. Foram 112 jogos ao longo de 13 anos, com duas Copas do Mundo no currículo. E, o principal: com 52 gols marcados, divide o posto de maior artilheiro da equipe nacional com Poul Nielsen – atleta dos tempos em que o futebol era praticado apenas por amadores na Escandinávia.
Depois de sua aposentadoria, Tomasson continuou ligado ao futebol e morando na Holanda, onde tinha muito respaldo – a ponto de ter trabalhado no Excelsior, time de menor expressão de Roterdã. Após ser assistente, por lá mesmo estreou como treinador, exercendo o cargo por um ano até assinar com o Roda. Sem muito destaque em ambos os clubes, o ex-atacante voltou a ser assistente técnico: passou pelo Vitesse, e, por três anos, foi auxiliar de Age Hareide na seleção dinamarquesa. Depois desse período de aprendizado, retomou a carreira de comandante e deslanchou: pelo Malmö, foi bicampeão da Allsvenskan, o Campeonato Sueco. O escandinavo passou pelo Blackburn e, em 2024, se tornou o primeiro não sueco a dirigir a equipe nacional da Suécia.
Jon Dahl Tomasson
Nascimento: 29 de agosto de 1976, em Copenhagen, Dinamarca
Posição: atacante
Clubes como jogador: Køge (1992-94), Heerenveen (1994-97), Newcastle (1997-98), Feyenoord (1998-2002 e 2008-11), Milan (2002-05), Stuttgart (2005-07) e Villarreal (2007-08)
Títulos conquistados: Campeonato Holandês (1999), Supercopa da Holanda (1999), Copa Uefa (2002), Coppa Italia (2003), Uefa Champions League (2003), Serie A (2004) e Supercopa Uefa (2004)
Carreira como treinador: Excelsior Rotterdam (2013-14), Roda (2014), Malmö (2020-21), Blackburn (2022-24) e Suécia (2024)
Títulos como treinador: Allsvenskan (2020 e 2021)
Seleção dinamarquesa: 112 jogos e 52 gols