Não deve ser nada fácil ser desestimulado pela diretoria do próprio time nos primeiros anos de carreira como jogador. André Dias enfrentou essas adversidades, decidiu permanecer no futebol e foi subindo de degrau em degrau até alcançar o ápice no esporte brasileiro, conquistando três vezes a competição mais importante do país. Depois, o zagueiro rumou à Lazio e participou de uma das conquistas mais memoráveis da história do clube.
André Gonçalves Dias começou sua carreira nas categorias de base do Palestra de São Bernardo, clube de sua cidade natal. Em janeiro de 1999, ele disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior na condição de titular, ganhou visibilidade e, ao fim da competição, assinou com o Paraná Clube. Dias permaneceu por 19 meses no sub-20 do tricolor e só estreou no time principal nas oitavas de final do Brasileirão de 2000, no empate por 1 a 1 contra sua futura equipe, o Goiás.
No ano seguinte, André Dias se transferiu para o Flamengo, que vivia um momento conturbado na época: o clube carioca estava com acúmulo de dívidas, lutava contra o rebaixamento e parte do elenco estava com salários atrasados. O Fla escapou da queda e Dias concluiu a temporada com 11 partidas. Rescindiu seu contrato com o rubro-negro e, após uma conversa com a diretoria da agremiação, esteve a um passo de encerrar sua carreira. “Você tem 21 anos e está pegando um dinheiro bom de rescisão de contrato. Cara, vai estudar que futebol pra você não dá, não. Você não entendeu ainda?”, disse o diretor financeiro do Urubu.
Apesar das palavras duras, o jovem zagueiro de 21 anos decidiu persistir na carreira futebolística e assinou com o Paysandu para 2003. No Papão, assumiu a titularidade assim que chegou, e teve uma passagem positiva, mas que durou somente uma temporada. De Belém se transferiu para Goiânia, para jogar no Goiás, o quarto clube em sua carreira. Foi no esmeraldino que André Dias teve regularidade e conseguiu pela primeira vez projeção a nível nacional. O zagueiro chegava para ser titular, mas era visto por boa parte da torcida como apenas um desconhecido.
André Dias se juntou a um time competitivo, que contava com Paulo Baier, Harley, Somália e outros, e tinha a missão de ajudar o Goiás a fazer uma temporada tão boa quanto a anterior, na qual o verdão havia se classificado para a Copa Sul-Americana. O zagueiro rapidamente conquistou a confiança de Celso Roth e foi titular desde a primeira rodada do Brasileirão de 2004 – das 46 rodadas, desfalcou a equipe em apenas quatro ocasiões – e contribuiu com a ótima campanha do time goiano, que terminou com o sexto posto e o terceiro melhor ataque da competição, atrás de Santos e Atlético-PR.
Sua passagem pelo alviverde foi exitosa dentro de campo. No entanto, assim como ocorreu no Flamengo, sua saída foi marcada por desentendimentos com os dirigentes. André Dias rumou para o São Paulo e reforçou uma equipe que havia acabado de se sagrar campeã do mundo, mas foi impedido de jogar por motivos extracampo: a diretoria do Goiás cassou a liminar da transferência, o que fez com que o zagueiro ficasse três meses sem entrar em campo e perdesse partidas importantes. A situação só foi resolvida depois que o São Paulo pagou um milhão de reais ao clube goiano.
A escolha de ir para o Tricolor do Morumbi foi precisa: André Dias estava no lugar certo e no momento certo. O defensor alcançou um nível ainda mais alto em sua carreira e fez parte de um dos maiores esquadrões da história do futebol brasileiro. Foi peça importante, ao lado de Alex Silva e Miranda, no trio de zaga que era o ponto forte da equipe – afinal, o São Paulo terminou com a melhor defesa do campeonato em 2006, 2007 e 2009. O time comandado por Muricy Ramalho ainda contava com Josué, Hernanes, Dagoberto e o ídolo Rogério Ceni, e conseguiu o feito inédito de ganhar o Brasileirão três vezes consecutivas.
Suas atuações de alto nível lhe renderam dois prêmios Bola de Prata, em 2008 e 2009, e ainda por cima a convocação para um jogo das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 pela seleção brasileira – sua primeira e única. André Dias foi chamado para a vaga de Lúcio, que havia se lesionado, e viajou com o grupo para enfrentar o Chile, mas não chegou a entrar em campo com a canarinho.
Depois de ficar com o vice-campeonato brasileiro em 2009, André Dias decidiu deixar o tricolor e dar início a sua trajetória no futebol da Itália ao assinar com a Lazio, no último dia da janela de transferências do inverno italiano, por €2,5 milhões. Aos 30 anos, teria sua primeira experiência no futebol europeu – fato incomum para qualquer jogador. Além disso, a contratação fugiu dos padrões dos clubes da Europa, que costumam investir em jovens talentos.
Experiente, André Dias chegou em Roma para resolver. A Lazio vinha de duas campanhas de meio de tabela, em anos em que deu prioridade às copas – vencera a Coppa Italia e a Supercopa Italiana em 2009. O brasileiro aportou na Cidade Eterna com a temporada 2009-10 em andamento e o time em situação caótica: sua estreia pelos biancocelestes, em fevereiro de 2010, terminou em derrota no confronto direto contra o Catania no Olímpico. O tropeço empurrou o clube para a zona do rebaixamento.
O revés culminou em uma troca de comando da equipe: saiu Davide Ballardini e chegou Edoardo Reja. A derrota também levou a protestos da torcida laziale em Formello, o que agravou ainda mais a situação do clube. André Dias teve alguns problemas de adaptação no início, mas depois de um tempo se tornou titular e participou da arrancada que tirou a equipe da zona de rebaixamento no final do torneio, com seis vitórias nas últimas dez partidas. O paulista foi essencial e anotou gols nos triunfos como visitante contra Bologna e Genoa, adversários diretos dos romanos.
Entre 2010 e 2012, André Dias formou a dupla de zaga titular da Lazio de Edy Reja juntamente a Giuseppe Biava. O brasileiro fez boas temporadas em 2010-11 e 2011-12, ajudando o time da capital a terminar entre os cinco melhores da Serie A e se classificar para a Liga Europa. Por causa de poucos pontos, os capitolinos não conseguiram alcançar o objetivo de abocanhar uma vaga na Liga dos Campeões.
Dias também participou da conquista da sexta Coppa Italia da história do clube, em 2013, ainda que não tenha entrado em campo na histórica final diante da Roma. O brasileiro disputou outras três partidas daquela memorável campanha, incluindo a dramática semifinal contra a Juventus no Olímpico. Àquela altura, André Dias já começava a perder espaço na equipe, por conta de frequentes lesões e da chegada de novos jogadores de defesa, como Michaël Ciani e Lorik Cana.
Sua última temporada com a Lazio foi a de 2013-14, na qual entrou em campo apenas 19 vezes. Seu contrato chegaria ao fim em junho daquele ano e a Lazio já tinha deixado claro que não queria renovar. Com Stefano Pioli chegando para comandar o time, a defesa seria renovada: Biava e André Dias deram lugar a Stefan De Vrij, que fizera ótima Copa do Mundo pela Holanda, e Santiago Gentiletti.
De saída da Lazio, André Dias já planejava uma volta ao futebol brasileiro – afinal, tinha 35 anos e alguma lenha para queimar. O Corinthians entrou em contato com o empresário do jogador para repatriá-lo mas a negociação não se concretizou. Com o tempo, André foi ficando fora de forma e continuava com problemas no joelho. O zagueiro também foi sondado por Goiás, Vitória e Coritiba, mas não conseguiu acordo com nenhum dos três. O tempo foi passando, as propostas pararam de chegar e Dias decidiu encerrar a carreira naquele ano. Hoje, o ex-zagueiro participa de um projeto social em Curitiba.
André Gonçalves Dias
Nascimento: 15 de maio de 1979, em São Bernardo do Campo, São Paulo
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Paraná Clube (1999-2000), Flamengo (2001-02), Paysandu (2002-03), Goiás (2004-06), São Paulo (2006-10) e Lazio (2010-14)
Títulos conquistados: Campeonato Brasileiro (2006, 2007 e 2008) e Coppa Italia (2013)