Serie A

5 motivos para ficar de olho na trajetória de José Mourinho pela Roma

Surpreendentemente, a Roma anunciou nesta terça-feira, 4 de maio, a contratação de José Mourinho para o comando técnico da equipe. O Special One firmou acordou com o clube até junho de 2024. Ele assumirá o elenco giallorosso a partir da próxima temporada, enquanto seu compatriota Paulo Fonseca seguirá à frente do banco romanista nos últimos jogos da atual Serie A.

A notícia de que Mourinho havia fechado com a Roma pegou todo mundo de surpresa. Afinal, o nome mais quente especulado pela imprensa italiana para treinar a Loba era o de Maurizio Sarri, ex-Napoli, Chelsea e Juventus. Além disso, Mourinho havia sido anunciado recentemente como comentarista de futebol da rádio TalkSport e colunista do extravagante jornal The Sun na Eurocopa, a ser realizada entre 11 de junho e 11 de julho deste ano.

No entanto, diante do projeto almejado pela nova diretoria romanista, Mourinho aparenta ser a tacada perfeita. “José é um fuoriclasse que conquistou troféus em cada nível e garantirá uma liderança e uma experiência extraordinária para o nosso ambicioso projeto. A contratação de José representa um grande passo em frente na construção de uma mentalidade vencedora, sólida e duradoura em nosso clube”, declararam Dan e Ryan Friedkin, respectivos presidente e vice-presidente da Roma, em comunicado oficial.

Aos 58 anos e com um currículo invejável, Mourinho terá pela frente seu nono clube. Antes, passou por Benfica, União de Leiria, Porto, Chelsea, Inter, Real Madrid, Manchester United e Tottenham. Agora, enfrentará teoricamente uma missão mais complexa na Cidade Eterna, mas a “ambição da agremiação”, em suas próprias palavras, o motivou a firmar com os giallorossi.

“Depois de ser confrontado com a diretoria e com Tiago Pinto [diretor geral da Roma], eu entendi imediatamente quão alta é a ambição deste clube”, afirmou Mourinho ao site da Roma. “Essa aspiração e esse impulso são as mesmas que sempre me motivaram e, juntos, vamos construir um percurso vencedor nos próximos anos. A incrível paixão dos torcedores da Roma me convenceu a aceitar o cargo e não vejo a hora de iniciar a próxima temporada”, completou.

Mourinho ainda não sabe o cenário que vai ter à sua disposição em Trigoria. A Roma encontra-se hoje na sétima colocação da Serie A, o que lhe dá direito à vaga na Conference League. Está a nove pontos de distância da arquirrival Lazio, primeira equipe dentro da zona de classificação à Liga Europa, e não possui mais chances de alcançar o G4. Os romanistas estão na semifinal da Liga Europa, mas perderam o rumo de casa após o 6 a 2 no jogo de ida contra o Manchester United, no Old Trafford.

De todo modo, contudo, há alguns pontos a serem observados para os próximos anos de Mourinho à frente da Roma. Por isso, elencamos cinco motivos para ficar de olho na passagem do Special One pela agremiação giallorossa.

Mourinho conhece bem o Olímpico, mas como implacável rival (imago/Action Plus)

1. “Zeru tituli” ainda em vigor

José Mourinho é aquele tipo de personalidade famosa que gera fãs devotos e inimigos mortais na mesma proporção. Na Itália, ele é amado por torcedores da Inter, clube pelo qual conquistou a Tríplice Coroa. Por outro lado, é odiado por muitos torcedores rivais. Em seus dois anos na Beneamata, o técnico travou uma forte rivalidade com a própria Roma, à época a principal adversária do time nerazzurro – a Loba foi vice da Serie A 2009-10 e perdeu uma Coppa Italia e uma Supercopa Italiana para a Inter treinada por Mourinho.

Uma das entrevistas mais icônicas do Special One durante seu período em Milão ocorreu em 3 de março de 2009, dois dias depois de um eletrizante empate em 3 a 3 entre Inter e Roma, no Giuseppe Meazza. Então técnico giallorosso, Luciano Spalletti reclamou bastante por causa de um pênalti assinalado por Nicola Rizzoli em cima de Mario Balotelli. Mourinho, obviamente, respondeu aos ataques de jogadores e do então técnico romanista.

“(…) nos últimos dois dias não se falou de uma Roma com grandes jogadores, com muitos jogadores que eu gostaria de ter comigo, e que terminará a temporada com zero títulos”, disparou José, que ainda alfinetou Milan e Juve. “Não se falou de um Milan que terminará a temporada com zero títulos e com jogadores que têm uma cultura vencedora e tudo isso que uma equipe precisa para conquistar títulos. Não se falou de uma Juve que conquistou muitos pontos, mas muitos pontos com erros de arbitragem. (…)”, acrescentou.

2. Carência de títulos

Curiosamente, José Mourinho assumirá uma Roma ainda com zeru tituli. A última taça conquistada pelo time da capital foi a Coppa Italia 2007-08, com vitória na final sobre a Inter comanda pelo antecessor do Special One, Roberto Mancini. De lá para cá, a agremiação da Cidade Eterna foi duas vezes vice da Coppa Italia (2010 e 2011) e da Supercopa Italiana (2009 e 2011), além de terminar várias edições da Serie A na segunda colocação.

A seca de taças é ainda mais amarga porque a Lazio conquistou, na última década, duas vezes a Coppa Italia e duas a Supercopa Italiana. Enquanto os celestes, sob o ótimo trabalho de Simone Inzaghi, galgaram posição de destaque no cenário nacional, a Roma bateu na trave diversas vezes e coleciona “romadas“. A remontada em cima do Barcelona, nas quartas de final da Liga dos Campeões de 2017-18, é um ponto fora da curva.

Aliás, por falar em títulos, Mourinho não sabe o que é soltar o grito de “é campeão!” desde 2017, quando o seu Manchester United superou o Ajax e faturou a Liga Europa. Pode parecer um tempo curto para outros técnicos, mas Mourinho certamente é um dos comandantes mais vitoriosos da história recente do futebol. Em seu último trabalho, o português conduziu o Tottenham à decisão da Copa da Liga Inglesa, mas acabou demitido dias antes da final – o Manchester City venceu o duelo por 1 a 0. Será que Mourinho conseguirá tirar a Roma da fila?

3. Rivalidade com a Lazio

Nenhum torcedor gosta de ver seu time de coração à sombra do arquirrival. Nos últimos anos, essa tem sido a realidade do fã da Roma. Afinal, a Lazio ganhou muito destaque nacional na década passada, passou a lutar constantemente por vaga na Liga dos Campeões, venceu títulos e também tem levado a melhor nos últimos dérbis da capital. A Roma não sabe o que é derrotar os laziali desde setembro de 2018, quando os comandados de Eusebio Di Francesco venceram o clássico por 3 a 1. Desde então, as equipes se enfrentaram quatro vezes, com duas vitórias a favor das águias e dois empates.

Mourinho possui vasta bagagem no futebol e sabe a importância dos clássicos citadinos. Para fazer o projeto da Roma de Friedkin empolgar, será necessário bater de frente com a Lazio em todos os aspectos.

Um Mourinho muito mais jovem foi a nêmesis da Roma de Spalletti e Ranieri (imago/Gribaudi/ImagePhoto)

4. Relacionamento com jogadores

A série “All or nothing: Tottenham Hotspur”, disponível no catálogo do Amazon Prime Video, mostrou um pouco sobre o dia a dia de José Mourinho dentro de um clube de futebol. Em vários momentos da série, Mourinho estimula seus jogadores para que sejam mais “malvados” dentro de campo, de modo a não baixar a cabeça para os adversários. Ele até permitiu que os jogadores disputassem um treino mais pegado no intuito de gerar confronto entre seus comandados.

Na Roma, Mourinho deverá seguir essa mesma ideia, moldando seus jogadores para se tornarem mais agressivos dentro das quatro linhas. Mas, em algumas situações, as ordens do Special One não caem bem para os jogadores. Prova disso é o meia Henrikh Mkhitaryan, um dos destaques da Roma na atual temporada – que trabalhou com Mou no Manchester United e o reencontrará em Trigoria. Em entrevista ao site Forza Roma, o armênio contou sobre os problemas que teve com o comandante.

“Se Mourinho é o treinador mais difícil da minha carreira? Sim, posso dizer que sim”, revelou Mkhitaryan. “Ele é um vencedor por natureza. Quer que você vença e que você faça tudo que ele pede. É difícil para qualquer um. Existiram divergências e conflitos, mas não tiveram um forte impacto sobre o bom trabalho e os três troféus conquistados”, afirmou.

5. Desconfiança

Não se questiona a qualidade de José Mourinho. O homem que popularizou o termo periodização tática no futebol profissional; primeiro antagonista de Pep Guardiola; revolucionou a maneira de defender e contra-atacar com êxito; vencedor em Portugal, na Inglaterra, na Itália e na Espanha. O jornal Corriere della Sera definiu a contratação do Mago de Setúbal como “de peso midiático mundial, como a de Cristiano Ronaldo”.

Entretanto, seus trabalhos à frente de Manchester United e Tottenham deixaram uma pulga atrás da orelha de muitos romanistas. Não é à toa que vários torcedores da Roma foram expressar no Twitter, logo após o anúncio da contratação do português, que preferiam Sarri a Mou.

Hoje, Mourinho enfrenta desconfiança de ala da torcida giallorossa. O histórico também não ajuda, vide as polêmicas de 11 anos atrás, quando ainda treinava a Inter. Porém, só há uma maneira de mudar esse cenário: colocando a Roma sob os holofotes. A missão, obviamente, tende a ser encardida, porque é a Roma, oras. Mas quem mais poderia recuperar esse time a não ser um treinador do porte de José Mourinho?

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