No quarto texto do nosso especial com os 10 maiores jogadores dos principais times italianos, é hora de chegar à capital do país. Roma, cidade eterna, de craques eternos. Grande parte dos maiores jogadores que passaram pela parte amarela e vermelha de Roma se consagraram por terem fortíssima identificação com o clube. Muitos deles, torcedores, dedicaram uma vida inteira dentro e fora dos gramados pela Roma. Nomes como Di Bartolomei, Tancredi, De Rossi, Giannini, Conti e Totti. E, claro, estrangeiros que adotaram a capital e se tornaram reis e altos membros do panteão romano.
Relembrar a história exige seleção e critérios e, por mais que alguns grandes nomes tenham ficado de fora, se a nossa lista tivesse 50 ou 100 nomes, eles certamente estariam aí, porque foram cogitados em votação interna entre nossos colaboradores. Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de determinado jogador na história do clube, qualidade técnica do atleta versus expectativa, identificação com a torcida e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), grau de participação nas conquistas, respaldo atingido através da equipe e prêmios individuais. Listas são sempre discutíveis, é claro, e você pode deixar a sua nos comentários!
Além do “top 10”, com detalhes sobre os jogadores, suas conquistas e motivos que os credenciam a figurar em nossa listagem, damos espaço para mais alguns grandes. Quem não atingiu o índice necessário para entrar no top 10 é mostrado no ranking a seguir.
Observações: Para saber mais sobre os jogadores, os links levam a seus perfis no site. Os títulos e prêmios individuais citados são apenas aqueles conquistados pelos jogadores em seu período no clube. Também foram computadas premiações pelas seleções nacionais, desde que ocorressem durante a passagem dos jogadores nos clubes em questão.
Top 25 Roma
11. Carlo Ancelotti; 12. Cafu; 13. Giacomo Losi; 14. Fulvio Bernardini; 15. Dino da Costa; 16. Zbigniew Boniek; 17. Damiano Tommasi; 18. Sebastiano Nela; 19. Attilio Ferraris; 20. Rudi Völler; 21. Vincenzo Montella; 22. Alcides Ghiggia; 23. Francesco Rocca; 24. Toninho Cerezo; 25. Rodolfo Volk.
10º – Agostino Di Bartolomei
Posição: meia
Período em que atuou no clube: 1972 a 1975 e 1976 a 1984
Títulos conquistados: 1 Serie A (1982-83), 3 Coppa Italia (1979-80, 1980-81 e 1983-84)
Num lugar caloroso como a capital da Itália, só mesmo o futebol poderia criar um ídolo circunspecto como Agostino Di Bartolomei. Torcedor da Roma desde o nascimento no bairro histórico de Garbatella, Ago pisou no gramado do Campo Testaccio pela primeira vez aos 14 anos. Vestia a camisa do time infantil. Só a deixaria 15 anos depois, quando, escorraçado pelo técnico Sven-Göran Eriksson, foi vendido ao Milan. Seria subtituído por Toninho Cerezo. Saiu revoltado, sem jamais perdoar os dirigentes que lhe mandaram embora.
Um Pirlo dos anos 1980, Di Bartolomei era o homem mais recuado do meio-campo. Distribuía lançamentos com precisão, acertava chutes de fora da área. Carregava o time nas costas e a faixa no braço sem precisar alterar a voz. Assim, comandou o segundo scudetto da Roma ao lado de Falcão, Ancelotti e Pruzzo. E caiu na final da Liga dos Campeões, perdida nos pênaltis para o Liverpool, dentro do Estádio Olímpico. Era 30 de maio de 1984. Exatamente uma década depois, Ago se matou com um tiro no peito. A pistola Smith & Wesson, calibre .38, estava ao lado do bilhete: “Me sinto preso num buraco”.
9º – Amedeo Amadei
Posição: atacante
Período em que atuou no clube: 1936 a 1948
Títulos conquistados: 1 Serie A (1941-42)
Prêmios individuais: integrante da seleção no Mundial-50
Enquanto a Roma dos anos 1980 rivalizava com a Juventus em busca do domínio na Itália, uma padaria em Frascati, cidadela na região metropolitana, acumulava um punhado de fotos do primeiro grande time giallorosso. A propriedade, fechada na virada do século, pertencia a Amedeo Amadei, o centroavante do primeiro scudetto da Roma, em 1942. Filho de padeiros, ele jogou toda a carreira apelidado de “Fornaretto”, por causa das origens. Retomou a atividade tão logo desistiu da carreira de técnico, a qual nunca lhe deu alegrias.
Como jogador, contudo, Amadei fez história. Até hoje é o atleta mais jovem a ter marcado gol no Campeonato Italiano, em 9 de maio de 1937, aos 15 anos e 10 meses. O feito fez com que a família do rapaz permitisse que ele seguisse a carreira no futebol. Apesar das poucas glórias na seleção italiana, Amadei ainda é lembrado como um dos grandes artilheiros da história do país: é o 13º maior artilheiro da história da Serie A. Só saiu da Roma, a contragosto, em 1948, rumo à Inter de Milão, por causa da dificuldade financeira da equipe.
8º – Franco Tancredi
Posição: goleiro
Período em que atuou no clube: 1977 a 1990
Títulos conquistados: 1 Serie A (1982-83), 4 Coppa Italia (1979-80, 1980-81, 1983-84 e 1985-86)
Prêmios individuais: integrante da seleção no Mundial-86 e na Olimpíada-84
Numa mesma família de torcedores romanistas, será fácil encontrar sentimentos diferentes em relação a Franco Tancredi, o maior goleiro da história do clube. Entre 1979 e 1988, o abruzzese jogou 258 partidas consecutivas do Campeonato Italiano com a camisa 1 da Roma, um recorde absoluto. Durante uma delas, em 1987, contra o Milan, em San Siro, foi atingido por um foguete e precisou ser ressuscitado pelos paramédicos a caminho do hospital. Depois de dois dias, já voltou a treinar.
O menino tímido que havia vindo de Rimini logo transformou-se em estrela da seleção italiana. Tornou-se ídolo, venceu títulos, viu-se aclamado pelo público a cada jogo no Estádio Olímpico. Alguns das gerações mais jovens, porém, vão preferir lembrar das acusações de traição que perseguiram Tancredi quando, em 2004, ele deixou o cargo de preparador de goleiros da Roma para trabalhar na mesma função na Juventus, seguindo Fabio Capello. Por causa disso, foi o único jogador vaiado na festa de 80 anos da fundação do clube, celebrada em 2007.
7º – Roberto Pruzzo
Posição: atacante
Período em que atuou no clube: 1978 a 1988
Títulos conquistados: 1 Serie A (1982-83), 4 Coppa Italia (1979-80, 1980-81, 1983-84 e 1985-86)
Prêmios individuais: artilheiro da Serie A em 1981, 1982 e 1986
O maior goleador da Roma pré-Francesco Totti consagrou o bigode nos caffès da Cidade Eterna. Roberto Pruzzo chegou à capital aos 23 anos, com farto bigode e a missão se consagrar em mais uma cidade. Apesar da juventude, vinha de ótimas temporadas no Genoa, e por isso a Roma gastou 3 bilhões de liras para contratá-lo. O jogador não decepcionou. Enquanto foi titular, marcou 133 vezes em oito anos e faturou três vezes o título de artilheiro do Campeonato Italiano.
Os dois gols mais importantes de Pruzzo são lembrados por qualquer torcedor que viveu o período. No último jogo da temporada 1978-79, ele arrancou o empate contra a Atalanta, no Estádio Olímpico, com um gol de cabeça. O placar em 2 x 2 livrou a Roma do rebaixamento. Quatro anos depois, foi de Pruzzo o gol do segundo título romanista no Campeonato Italiano, na penúltima rodada, contra o mesmo Genoa que o revelou para o futebol.
6º – Daniele De Rossi
Posição: meia
Período em que atua no clube: desde 2001
Títulos conquistados: 1 Copa do Mundo (2006), 2 Coppa Italia (2006-07 e 2007-08), 1 Supercoppa (2007), 1 Eurocopa Sub-21 (2004)
Prêmios individuais: integrante da seleção nos Mundiais de 2006, 2010 e 2014; eleito o melhor da posição na Eurocopa de 2012; melhor jogador italiano na Serie A em 2009; melhor jogador jovem na Serie A em 2006
Condenado “capitão futuro” desde que estreou pela Roma, o único time de sua carreira, Daniele De Rossi completou 31 anos e ainda não herdou a faixa que será sua por direito. Questão de tempo, terá de aguardar o adeus de Francesco Totti. Cheio de problemas pessoais e familiares que lhe atravancaram a carreira no início da década, o meia recuperou a boa forma e, na temporada passada, finalmente voltou a jogar como o melhor italiano da posição.
Versátil, capaz de atuar como zagueiro, volante, meia ou até como armador, De Rossi é forte, chuta bem, tem ótimo passe. Consegue destruir e construir com a mesma facilidade. Construiu um senso de liderança na Roma e na seleção. Apesar das qualidades, corre o risco de se aposentar como uma das maiores lendas do Campeonato Italiano a não conseguir conquistá-lo – culpa da má fase financeira que castigou a Roma no início de sua carreira como jogador. Nascido e crescido na Cidade Eterna, jurou mil vezes que também vai morrer ali.
5º – Giuseppe Giannini
Posição: meia
Período em que atuou no clube: 1981 a 1996
Títulos conquistados: 1 Serie A (1982-83), 2 Coppa Italia (1983-84, 1985-86 e 1990-91)
Prêmios individuais: integrante da seleção no Mundial-90; eleito o melhor da posição na Eurocopa de 1988
E, por falar em hierarquia de capitães, houve um antes de Francesco Totti. Atendia pelo nome de Giuseppe Giannini, o homem que coexistiu com Falcão, o Rei de Roma, antes de sucedê-lo. Não poderia receber outra alcunha senão a de Príncipe de Roma. Para alguns torcedores organizados do clube giallorosso, é Giannini o maior ídolo da história da equipe, acima de qualquer outro. Tudo graças a um comportamento considerado irrepreensível fora de campo — isso, certamente, unido aos mimos aos ultras.
Num tempo de vacas magras e de dificuldades financeiras, Giannini pregou no deserto. Jogava de cabeça erguida, armava e concluía. Foi obrigado a carregar o time nas costas e representou um oásis de técnica. Quase terminou a carreira na capital, e só deixou o clube aos 32 anos, quando decidiu jogar no Sturm Graz, da Áustria. Antes do divórcio, o relacionamento com o presidente Franco Sensi foi terrível por dois anos a fio, depois de um pênalti perdido no clássico com a Lazio, quando o manda-chuva tratou seu capitão como “indigno para que jogue na Roma”.
4º – Paulo Roberto Falcão
Posição: meia
Período em que atuou no clube: 1980 a 1985
Títulos conquistados: 1 Serie A (1982-83), 2 Coppa Italia (1980-81 e 1983-84)
Prêmios individuais: integrante da seleção no Mundial-82; Bola de Prata no Mundial-82; eleito para a seleção europeia em 1982 e 1983
O reinado de Paulo Roberto Falcão durou cinco anos, o mais curto entre os monarcas da Roma. Poderia ter sido maior não fosse a dificuldade que o presidente Dino Viola tinha para administrar suas principais estrelas após momentos de decepção. A demora na recuperação de uma lesão fez com que Falcão fosse praticamente dado de graça ao São Paulo, e a Roma ainda teve de indenizá-lo. Há quem diga que o rancor de Viola tenha sido motivado pela negativa do craque em bater um pênalti na final da Liga dos Campeões de 1984, da qual o time da capital sairia derrotada. O cartola morreu sem confirmar nem negar.
Ainda assim, Falcão contribuiu para mudar o status da Roma. Foi contratado para alavancar a equipe, assim o fez. Transformou um time inofensivo no principal adversário da Juventus em solo italiano, além de um rival a ser batido na Europa. Em cinco temporadas, ganhou três títulos, um punhado de vices e fez a Roma conhecida mundialmente. Fosse possível medir, alguém diria que Falcão ainda é o maior craque a ter vestido a camisa giallorossa. O pouco tempo necessário para ficar na história só comprovaria isso.
3º – Bruno Conti
Posição: atacante
Período em que atuou no clube: 1973 a 1975, 1976 a 1991
Títulos conquistados: 1 Copa do Mundo (1982), 1 Serie A (1982-83), 5 Coppa Italia (1979-80, 1980-81, 1983-84, 1985-86 e 1990-91)
Prêmios individuais: integrante da seleção nos Mundiais de 1982 e 1986; eleito para o All Star Team do Mundial-82
Se o carinho por um jogador pode ser medido pela sua partida de despedida, Bruno Conti pode dormir tranquilo. Sinônimo de Roma, o ponta-direita nasceu na região metropolitana da capital e só não jogou pelo time do coração durante dois anos em que esteve emprestado para conseguir experiência no Genoa, à época na segunda divisão. Depois de 402 jogos com a camisa giallorossa, Conti teve uma despedida com 80 mil torcedores no Olímpico, em 1991. Um dia antes disso, a final da Copa da Uefa, no mesmo estádio, teve público menor.
Longe de ser o mais brilhante da geração, Conti provou que, com trabalho e calção sujo é possível ir além. Quando subiu para os profissionais, insistiu em treinar cruzamentos. Os dribles secos, por sua vez, vinham desde a base, quando deixou o beisebol – esporte no qual até estreou no time profissional de Nettuno – para treinar futebol. Pelo carisma com os torcedores, ganhou o apelido de “prefeito de Roma” mesmo sem jamais ter recebido a faixa de capitão em definitivo. Desde a aposentadoria, continua no clube. Já foi diretor técnico, treinador e agora é coordenador das divisões jovens.
2º – Aldair
Posição: zagueiro
Período em que atuou no clube: 1990 a 2003
Títulos conquistados: 1 Copa do Mundo (1994), 1 Copa das Confederações (1997), 1 Copa América (1997), 1 Serie A (2000-01), 1 Coppa Italia (1990-91), 1 Supercoppa (2001)
Prêmios individuais: integrante da seleção nos Mundiais de 1994 e 1998, e nas Olimpíadas de 1996
Aldair sobreviveu a Zdenek Zeman, e isso já é notícia. O brasileiro de carreira mais positiva no Campeonato Italiano foi obrigado a jogar como lateral-direito durante parte da gestão do técnico tcheco. Lento e previsível, não convenceu, fez péssimas partidas, mas nunca saiu de campo vaiado. E isso mostra o quanto a torcida venerava “Pluto”, zagueiro que defendeu as cores da Roma durante 13 anos. Elegante e concentrado, mordia os calcanhares adversários e saía jogando com lançamentos de canhota.
O presidente Dino Viola viajou a Lisboa, pessoalmente, para contratar Aldair. Pagou 6 milhões de liras pelo zagueiro de 24 anos e ignorou os críticos de que o valor seria alto demais por um defensor estrangeiro, num tempo em que a Itália ainda produzia os melhores da posição. Pois o brasileiro começou titular e só perdeu a posição quando não aguentava mais o ritmo forte da Serie A. Tanto esforço foi recompensado: a camisa 6 que o Pluto carregava passou uma década aposentada. Só foi realocada na temporada passada, quando a direção da Roma entrou em contato para pedir autorização para cedê-la a Kevin Strootman.
1º – Francesco Totti
Posição: atacante
Período em que atua no clube: desde 1993
Títulos conquistados: 1 Copa do Mundo (2006), 1 Serie A (2000-01), 2 Coppa Italia (2006-07 e 2007-08), 2 Supercoppa (2001 e 2007), 1 Europeu Sub-21 (1996)
Prêmios individuais: integrante da seleção nos Mundiais de 2002 e 2006; eleito para o All Star Team do Mundial-06 e da Eurocopa de 2000; melhor jogador da Serie A em 2000 e 2003; melhor jogador italiano da Serie A em 2000, 2001, 2003, 2004 e 2007; melhor jogador jovem da Serie A em 1999; artilheiro da Serie A em 2007; Chuteira de Ouro da Europa em 2007; prêmio Golden Foot em 2010; prêmio Scirea em 2014
Há quem diga que bastará a Francesco Totti anunciar a aposentadoria para que se consagre o maior jogador da história da Roma. A bem da verdade, não é necessário esperar. A um mês de completar 38 anos, o camisa 10 se recicla a cada temporada para adiar a aposentadoria. Mesmo jogando no ataque, onde em tese seria peso morto diante de defesas fortes, consegue se reinventar. Fora de campo, é essencial para a coesão do grupo. No gramado, ainda é quem mais arranca suspiros. Com as finalizações cada vez mais raras, se destaca com dribles, passes e lançamentos.
Ainda na luta pelo posto de maior artilheiro da história do Campeonato Italiano, Totti não tem hora para acabar. Mais de uma vez disse que pretende estar em campo quando a Roma inaugurar seu novo estádio – cuja data de inauguração nem sequer existe. Enquanto isso, segue em campo com mais classe do que nos anos 1990, quando surgiu, impetuoso e explosivo. E com mais precisão do que nos anos 2000, versão goleadora e egoísta. Roma é Totti, o menino que recusou propostas milionárias durante toda a carreira para que não saísse do quintal de casa. E Totti é Roma, um clube dependente de seu astro há duas décadas e sem plano para o que fará quando o matrimônio acabar.
Uma das coisas que torna a história da Roma tão linda é a forte identificação de seus ídolos com o clube e a cidade. Além disso, muitos deles eram romanistas desde a infância. Grazie, Roma!