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Os 10 maiores britânicos do futebol italiano

Assim como em quase todos os países do mundo, foram os britânicos que levaram o futebol para a Itália. Em 1893, foi fundado o Genoa Cricket and Football Club – sim, o mesmo Genoa de hoje –, o clube mais antigo da Itália. Foram dois escoceses que fundaram a agremiação rossoblù e foi o inglês Sir Charles Alfred Payton o seu primeiro presidente. Quatro anos depois, a Juventus era fundada e utilizava uniforme fornecido pelos ingleses do Notts County. Britânicos também fundaram o Milan e outros times italianos do fim do século XIX e início do XX.

De fato, foram ingleses, escoceses e galeses que formaram o futebol na Itália em seu início, ao lado de suíços e alemães, com alguns italianos “infiltrados”. Nos tempos de amadorismo, era assim. Porém, com a profissionalização encaminhada, britânicos praticamente sumiram do futebol italiano. Desde então, poucos britânicos passaram pela Itália. Na fase moderna da Serie A, são apenas 24 ingleses, três escoceses e dois galeses. Na nossa lista de hoje, são apenas estes que consideramos para o ranking, até porque existe pouquíssima informação sobre os jogadores do Reino Unido que passaram pelo Belpaese nos primórdios do esporte.

Os britânicos jogaram na Itália, em sua maioria, nos anos 1960 e 1980. Os motivos são fáceis de apontar. Inicialmente, eles foram levados para o país pelo manager Gigi Peronace. O dirigente italiano, que criou a Copa Anglo-Italiana, envolvendo times ingleses e italianos, havia trocado a Bota pela Terra da Rainha Elizabeth II e tinha trânsito nos bastidores do futebol dos dois países. Na década de 1960, o futebol italiano começava a se glamourizar e enriquecer, o que favoreceu a ida de jogadores como John Charles, Denis Law, Jimmy Greaves e Joe Baker por altos valores, à época. Todos levados por Peronace.

Os britânicos Hitchens, Charles, Law e Baker, que atuavam na Serie A, vestem agasalho em homenagem à Itália em treinamento (Mirrorpix)

Outros britânicos chegaram no país na década de 1980 porque a Itália tinha um dos mais fortes campeonatos do mundo. Quase todos permaneceram pouco tempo e, à inglesa, muitos deles tiveram passagem morna, no geral: nem fracassaram nem foram ídolos eternos, exceto por casos específicos. Nesse período, a Itália teve nomes como Graeme Souness e Trevor Francis, que deram certo na Sampdoria. A Samp, aliás, tem três atletas no nosso ranking, o que mostra, por linhas tortas, a identificação dos genoveses com os britânicos.

Na década de 1980, o país recebeu também os ingleses Ray Wilkins (meia) e Mark Hateley (atacante), que passaram pelo Milan em momento pouco brilhante da história rossonera e tiveram atuações apenas regulares – é a dupla que está mandando um ‘joinha’ na foto que abre o texto. Assim como o escocês Joe Jordan, que vestiu as camisas de Milan e Verona sem deixar uma marca indelével na lembrança dos torcedores – Jordan foi artilheiro milanista na Serie B, apenas. Hateley teve um grande momento de destaque em sua carreira no Milan: marcou um belo gol de cabeça em um dérbi contra a Inter, que encerrou o jejum de seis anos sem vitória dos rossoneri no clássico. Hateley é o nosso 11º escolhido e por pouco não figurou no Top 10.

Passagens bastante negativas, por sua vez, tiveram o atacante galês Ian Rush, pela Juventus, e o atacante inglês Luther Blissett, que chegou ao Milan como promessa de muitos gols, mas foi uma grande decepção. A passagem anônima e fracassada de Blissett pela Serie A fez com que um grupo de hackers, artistas e ativistas virtuais anos depois, utilizasse o seu nome como inspiração para um personagem anônimo e irônico na cultura italiana – saiba mais aqui.

A foto é bonita e registra o melhor momento de Hateley no Milan (Gazzetta dello Sport)

Hoje, dois ingleses tentam a sorte no futebol italiano: Ashley Cole, na Roma, e Micah Richards, na Fiorentina. Os dois são reservas e, até agora, não dão pinta de que podem entrar nessa lista futuramente.

P.S: O meia Liam Brady, de boa passagem pelo futebol italiano, onde defendeu Juventus, Sampdoria, Inter e Ascoli, não foi considerado para a lista porque é irlandês, e irlandeses não são britânicos – diga isso a um irlandês e espere pelo pior. Dica Quattro Tratti.

Critérios
Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de determinado jogador na história dos clubes que defendeu, qualidade técnica do atleta versus expectativa, identificação com as torcidas e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), grau de participação nas conquistas, respaldo atingido através da equipe, desempenho por seleções nacionais e prêmios individuais. Listas são sempre discutíveis, é claro, e você pode deixar a sua nos comentários!

Além do “Top 10”, com detalhes sobre os jogadores, suas conquistas e motivos que os credenciam a figurar em nossa listagem, damos espaço para mais alguns jogadores de destaque. Quem não atingiu o índice necessário para entrar no Top 10 é mostrado no ranking a seguir.

Observações: Para saber mais sobre os jogadores, os links levam a seus perfis no site. Os títulos e prêmios individuais citados são apenas aqueles conquistados pelos jogadores em seu período na Itália. Também foram computadas premiações pelas seleções nacionais, desde que ocorressem durante a passagem dos jogadores no período em questão.

Top 15 Britânicos na Itália

11. Mark Hateley; 12. Joe Jordan; 13. Ray Wilkins; 14. Ian Rush; 15. Luther Blissett.

10º – Denis Law

Posição: atacante
Clube em que atuou na Itália: Torino (1961-62)
Títulos: nenhum
Prêmios individuais: Integrante do Hall da Fama do futebol inglês e do escocês e Uefa Golden Player

The King, como viria a ser conhecido, chegou ao Torino em 1961, levado pelo famoso dirigente Gigi Peronace, por um valor recorde em transferências envolvendo clubes ingleses e italianos. Após trocar o Manchester City pelo Toro, Law se impressionou pelo tratamento de luxo dado aos futebolistas na Itália, algo que não acontecia na Inglaterra e se surpreendeu pela pré-temporada em um hotel nos Alpes e pela forma de pagamento: se o time vencesse, o “bicho” era grande, e em caso de derrotas, bem menor. Em apenas um ano de Itália, Law não se adaptou ao que acontecia dentro de campo. Em época de predomínio do defensivismo e do catenaccio, era duro para um atacante jogar no Belpaese. Assim, em 27 jogos, o escocês marcou 10 gols em uma temporada mediana dos granata.

De fato, os principais momentos de Denis Law na Itália foram extracampo. Em janeiro, ele se envolveu em um acidente de carro que quase matou o atacante inglês Joe Baker – na contramão, eles perderam o controle do carro, que capotou; Law sofreu apenas escoriações. Meses depois, protagonizou a novela que acabou em sua saída. Em abril, no final da temporada, Law pediu para ser deixar o clube e quase foi negociado a contragosto com a Juventus, mas bateu o pé e forçou uma volta ao Reino Unido. Na foto que abre o texto, sentado, o atacante escocês aguardava seu futuro ser decidido. Depois de várias reuniões, foi definida a sua saída para o Manchester United treinado por Matt Busby, onde se tornou lenda, ao lado de Bobby Charlton e George Best. Contratado por um valor recorde novamente, o escocês viveu anos de glória e ganhou Bola de Ouro em 1964.

9º – Gerry Hitchens

Posição: atacante
Clubes em que atuou na Itália: Inter (1961-62), Torino (1962-65), Atalanta (1965-67) e Cagliari (1967-69)
Títulos: Serie A (1962-63)
Prêmios individuais: nenhum

Em 1961, quatro britânicos chegaram à Itália. Além de Law e Baker, já citados, os dois na foto acima também: os atacantes Gerry Hitchens e Jimmy Greaves, que aportaram em cada um dos clubes de Milão; Inter e Milan, respectivamente. Hitchens (o loiro, de frente para a câmera), chamou atenção depois de ter marcado dois gols em um amistoso contra a Squadra Azzurra, em Roma – vitória inglesa por 3 a 2. Já havia ido bem no Aston Villa, o que lhe fez ter as convocações para o English Team, o que também o fez entrar no radar nerazzurro. Na campanha do vice-campeonato, Hitchens estreou bem e fez cinco gols nos primeiras cinco partidas: dois no 6 a 0 sobre a Atalanta, um sobre a Roma e mais dois na Fiorentina. Acabou sendo o artilheiro do time e o terceiro geral, com 16 gols.

Hitchens participou também do primeiro scudetto da Grande Inter, como coadjuvante – só fez um gol e atuou até novembro, quando foi trocado pelo atacante Beniamino Di Giacomo, do Torino. Em Turim, foi um dos principais jogadores da equipe em três temporadas, sendo artilheiro granata na Serie A em duas oportunidades e o principal goleador do time (se considerarmos todos os torneios) em todos os anos em que esteve no Piemonte. A melhor temporada foi a última, quando o time ficou em terceiro lugar no Campeonato Italiano e chegou às semifinais da Recopa – no ano anterior, foi vice da Coppa Italia. Depois disso, o atacante passou dois anos na modesta Atalanta, cedendo experiência a um time de meio de tabela, e depois foi ser reserva de luxo no Cagliari, que já tinha atacantes fortíssimos como Gigi Riva e Roberto Boninsegna, além de Sergio Gori. Hitchens se aposentou do futebol profissional um ano antes de o Cagliari garantir seu único scudetto, mas até hoje, é o inglês que mais tempo atuou na Itália: oito anos no total.

8º – David Beckham

Posição: meia
Clube em que atuou na Itália: Milan (2009 e 2010)
Títulos: nenhum
Prêmios individuais: Integrante da lista Fifa 100

Um dos maiores jogadores da história do futebol inglês, e um dos melhores cobradores de faltas e lançadores que o futebol moderno viu, Beckham teve duas curtas passagens pelo futebol italiano. Já consagrado no futebol após uma vida inteira dedicada a Manchester United, Real Madrid e seleção inglesa, o classudo meia jogava na Major League Soccer, defendendo o Los Angeles Galaxy. No entanto, para ter chances na seleção inglesa, Beckham queria mais tempo de jogo e não queria ficar parado nas férias da MLS. Assim, em outubro de 2008, os norte-americanos fecharam um acordo com o Milan, que faria o inglês jogar pelo clube de Via Turati entre janeiro e março.

Beckham estreou contra a Roma e no final de janeiro marcou seus dois únicos gols com a camisa rossonera, diante de Bologna e Genoa. Foi inscrito na lista Uefa e acabou tendo empréstimo renovado até junho. Encerrou a primeira passagem por Milanello com 20 partidas e dois gols marcados voltando ao LA Galaxy – embora o Milan quisesse tê-lo em definitivo, o valor avaliado para sua compra estava acima das possibilidades do time de Silvio Berlusconi. No final de 2009, Becks chegou ao Milan com a mesma fórmula, já que buscava garantir uma vaga na Copa de 2010. O inglês, com quase 35 anos, voltou a fazer boas partidas pelos rossoneri e, pela Liga dos Campeões, jogou pela única vez contra o Manchester United em Old Trafford – entrou em campo quando os Red Devils já haviam feito 3 a 0 e matado o jogo das oitavas da competição. Na partida seguinte, acabou rompendo o tendão de Aquiles em março, o que encerrou sua passagem pelo Milan e também tirou suas chances de jogar o Mundial.

7º – Jimmy Greaves

Posição: atacante
Clube em que atuou na Itália: Milan (1961)
Títulos: Serie A (1961-62)
Prêmios individuais: Integrante do Hall da Fama do futebol inglês

Antes de se tornar um simpático velhinho gordo, careca e bigodudo (veja), o londrino Jimmy Greaves foi um dos maiores atacantes da Inglaterra. Campeão mundial em 1966, Greaves é o maior artilheiro da história do Campeonato Inglês, com 357 gols, e o terceiro maior da seleção inglesa, com 44 – é, também, o maior goleador do Tottenham, com 268 tentos realizados. Ele teve longas passagens pelo Chelsea e pelos Spurs, onde se destacou mais, só que teve um breve parêntese na Itália, onde defendeu o Milan.

Em 1961, Jimmy Greaves, deixava o Chelsea e acertava com o Milan, em uma negociação conduzida por Gigi Peronace. Depois do acerto, o atacante pensou melhor e não quis mais deixar Londres, mas a diretoria do Diavolo bateu o pé e a contratação no foi cancelada. Greaves estreou em um amistoso contra o Botafogo, em San Siro, e fez dois gols no empate por 2 a 2 com o time de Garrincha, Didi, Zagallo, Amarildo e Nílton Santos. Explosivo, extrovertido e pouco disciplinado, Greaves nunca contou com grande apreço do treinador Nereo Rocco, mas teve um início de temporada estonteante. Em 10 jogos da Serie A, marcou nove gols – um deles no único dérbi de Milão que disputou, vencido por 3 a 1. Na véspera da partida contra a Juventus, porém, o inglês se envolveu em uma ríspida discussão, foi afastado do time principal e colocado à venda. Para seu lugar, o Milan contratou o brasileiro Dino Sani, que brilhou vestindo vermelho e preto. No final da temporada, os rossoneri se sagraram campeões italianos, com a contribuição de Greaves.

6º – David Platt

Posição: meia
Clubes em que atuou na Itália: Bari (1991-92), Juventus (1992-93) e Sampdoria (1993-95)
Títulos: Copa Uefa (1992-93) e Coppa Italia (1993-94)
Prêmios individuais: nenhum

Desde que surgiu no futebol inglês, Platt sempre teve como características ser um meia de muito trabalho de grupo e com ótima chegada ao ataque. Marcador de muitos gols por Crewe Alexandra e Aston Villa, Platt chegou à seleção inglesa e disputou a Copa de 1990, na Itália. Foi um dos destaques do Mundial, marcando três gols (dois decisivos) no mata-mata, na campanha do quarto lugar inglês. No ano seguinte, o melhor jogador do Campeonato Inglês de 1990 voltou ao país para defender o Bari, por um valor alto: 5,5 milhões de libras esterlinas. Já titular da Inglaterra, da qual era reserva na Copa, foi o principal jogador dos galletti, mas mesmo tendo sido treinado por uma lenda como Zbigniew Boniek e tendo Zvonimir Boban, Robert Jarni e o brasileiro João Paulo como companheiros, não evitou o rebaixamento barês. Porém, com 11 gols, chamou atenção de times maiores.

Platt afirmou ter sido procurado por Roberto Mancini, que queria que ele fosse jogar na Sampdoria, campeã do ano anterior. No entanto, o inglês acabou acertando transferência à Juventus, vice-campeã. Na Juve, o meia não foi titular, e teve poucos minutos de futebol em um time cheio de estrelas – porém, ficou com o título da Copa Uefa. Mancini persistiu e, após o fim da temporada, conseguiu levar Platt para ser seu companheiro na Sampdoria. Em Gênova, voltou a ser titular e teve uma ótima temporada de estreia: ao lado de Mancio, de Gianluca Pagliuca, Pietro Vierchowod, Moreno Mannini, Srecko Katanec, Vladimir Jugovic, Attilio Lombardo e do artilheiro Ruud Gullit, ajudou o time a levantar a Coppa Italia. A Samp, treinada por Sven-Göran Eriksson, ainda ficou com a terceira posição na Serie A. Na temporada seguinte, a Samp foi semifinalista da Recopa. Platt, porém, voltou ao futebol inglês para ser importante no Arsenal. Em 1998, ainda voltou à Itália e teve uma passagem de apenas cinco jogos como treinador doriano.

5º – Trevor Francis

Posição: atacante
Clubes em que atuou na Itália: Sampdoria (1982-86) e Atalanta (1986-87)
Títulos: Coppa Italia (1984-95)
Prêmios individuais: Artilheiro da Coppa Italia (1984-95)

Francis chegou ao futebol italiano com bastante experiência. Com 28 anos, o atacante já tinha jogado uma Copa do Mundo (a de 1982), tinha se destacado por Birmingham, Detroit Express e Manchester City, além de ter o status de jogador mais caro do futebol inglês e de bicampeão da Copa dos Campeões com o histórico Nottingham Forest de Brian Clough. Portanto, a Sampdoria, que retornava à Serie A após seis anos de ausência, sabia bem quem estava contratando. E mostrava que tinha ambições altas: Francis chegou à Sampdoria como uma das primeiras grandes contratações do histórico presidente Paolo Mantovani, o mais vitorioso da história doriana – um scudetto, quatro Copas da Itália e uma Recopa. Foi contratado juntamente ao meia irlandês Liam Brady e ao promissor jovem atacante Roberto Mancini, que viraria mito blucerchiato.

Nas quatro temporadas vividas em Gênova, atuou sempre em sua posição preferida, a de centroavante, tanto sob o comando de Renzo Ulivieri quanto de Eugenio Bersellini. Com o passar dos anos, ganhou novos ótimos companheiros, como Ivano Bordon, Pietro Vierchowod, Moreno Mannini, Evaristo Beccalossi, Gianluca Vialli e o cracaço escocês Graeme Souness. Em seu penúltimo ano de Samp, com uma equipe bastante forte, ajudou o time a ser o quarto colocado na Serie A e a conquistar a primeira Coppa Italia em sua história. Com nove gols, Francis foi o artilheiro do time na competição e, até hoje, é o único jogador inglês a ter sido goleador de qualquer torneio disputado em solo italiano. No ano seguinte, ficou com o vice do torneio e, depois, se transferiu para a Atalanta, onde teve passagem apagada. Em 1987, voltou ao Reino Unido, onde encerrou a carreira, sete anos depois. Ao todo, marcou 18 gols em 89 partidas na Serie A.

4º – Paul Ince

Posição: volante
Clube em que atuou na Itália: Inter (1995-97)
Títulos: nenhum
Prêmios individuais: nenhum

“C’mon Paul Ince, c’mon Paul Ince!”, gritavam o torcedores da Inter nos anos 1990. Apesar de ter passado apenas dois anos em Milão, o ótimo volante inglês se tornou um dos jogadores mais querido pela torcida e um dos pilares da primeira Inter de Massimo Moratti – foi, inclusive, uma das primeiras contratações do presidente, e a mais cara delas; cerca de 13 bilhões de liras. Ince, contratado na mesma janela que Roberto Carlos e Javier Zanetti, chegou com pompa, afinal, já havia conquistado dez títulos pelo Manchester United. Era peça fundamental de um time legendário que se formava, com Ryan Giggs, Andrei Kanchelskis, Dennis Irwin, Eric Cantona, Steve Bruce, Nicky Butt, Mark Hughes, Paul Scholes e um David Beckham saindo das categorias de base.

Volante de muita raça, habilidade, qualidade em passes e finalizações, Ince era conhecido pelo espírito de liderança (chegou a capitanear a Inter em alguns jogos, feito raro na Itália para quem não tem muitos jogos por uma equipe), vibração, e também por marcar gols. Ao todo, foram 13, dez deles no seu segundo ano em Milão. Dois deles, de bicicleta, contra Padova e Cagliari, marcaram época. Na primeira das duas temporadas na Beneamata, Ince demorou a se adaptar, muito atrapalhado pelo ambiente atribulado da equipe, mas esteve presente em quase todas as partidas. Depois, tornou-se fundamental ao time treinado pelo compatriota Roy Hodgson e depois por Luciano Castellini, que ficou em terceiro lugar na Serie A e com o vice da Copa Uefa. Na partida seguinte à final europeia, a Inter fazia seu último jogo em casa e a torcida cantou o jogo inteiro pedindo para que Ince não deixasse a Itália. Na partida, um 3 a 1 contra o Napoli, ele marcou um gol contra sem querer, fez outro a favor e foi um mastim no meio-campo. Por questões familiares, acabou voltando à Inglaterra para defender o Liverpool, e até hoje é lembrado pelos nerazzurri.

3º – Paul Gascoigne

Posição: meia
Clube em que atuou na Itália: Lazio (1992-95)
Títulos: nenhum
Prêmios individuais: Integrante do Hall da Fama do futebol inglês

Meio rechonchudo e polêmico, o habilidoso Gascoigne marcou época no futebol. Dotado de chutes precisos, técnica e bastante raça, Gazza foi destaque no Newcastle e no Tottenham, jogou a Copa de 1990 disputada na Itália e, dois anos depois, voltou ao país para defender a Lazio. No Belpaese, continuou a aparecer com polêmica e irreverência dentro e fora de campo. Foi amado pelos torcedores, mas não pelo dono do clube, Sergio Cragnotti, a quem chegou se apresentando de forma pouco usual: falando sobre os seios da filha do chefe.

Ao todo, Gascoigne fez 47 partidas pela Lazio e marcou seis gols. O primeiro deles não poderia ser melhor: o inglês estreava em dérbis e os biancocelesti perdiam o clássico contra a Roma até o último minuto, com um gol de Giuseppe Giannini, pupilo giallorosso. Até que Giuseppe Signori cobrou falta e Gascoigne, com uma cabeçada, empatou a partida, e comemorou emocionado. Na semana seguinte, o inglês marcou um gol antológico contra o Pescara, driblando quatro oponentes, e deu uma amostra de seu excelente futebol. No entanto, as noitadas, o problema com o alcoolismo, a dificuldade de se manter no peso ideal (o que o fez ter atritos com Dino Zoff e Zdenek Zeman) e as muitas lesões impediram que Gazza tivesse uma sequência forte em Roma – e também em outros times, algo que impediu que ele se tornasse um dos melhores jogadores do mundo. Em 1994, em um treinamento, Gascoigne se chocou com Alessandro Nesta, quebrou a perna e ficou um ano parado, retornando apenas no final de 1994-95, quando encerrou sua experiência na Itália e foi defender o Glasgow Rangers, da Escócia.

2º – Graeme Souness

Posição: meia
Clube em que atuou na Itália: Sampdoria (1984-86)
Títulos: Coppa Italia (1984-85)
Prêmios individuais: Integrante do Hall da Fama do futebol inglês e do escocês

Um dos maiores craques britânicos da história, Souness também passou pela Itália, como jogador e treinador. Como atleta, defendeu a Sampdoria, na década de 1980, e em 1997, treinou o Torino por um breve período na Serie B, ao lado de Giancarlo Camolese. Quando ainda era jogador, Souness chegou ao país já experiente, com três Copas dos Campeões e cinco Campeonatos Ingleses vencidos como um dos principais jogadores do time do Liverpool treinado por Bob Paisley e Joe Fagan. O meia chegou à Itália com um objetivo claro: seria a referência técnica de uma ambiciosa Sampdoria – como mencionamos no tópico de Trevor Francis. Craque de bola, Souness era dono de passes açucarados e letal nos últimos três quartos do campo. Era conhecido, ainda, por ter um poder de finalização muito acima do normal: chutava forte e com precisão e marcava muitos gols da entrada da área.

Charlie Champagne, como era apelidado, havia castigado a Roma na final europeia de 1984, marcando um golaço de pênalti, e, aos 31 anos aparecia novamente para aterrorizar a equipe romana, campeã nacional dois anos antes. Nos dois anos em que atuou na equipe do estádio Marassi, marcou oito gols em 56 partidas pela Serie A, um deles contra a Roma que castigara. Ao lado de Francis, Mancini e Vialli, liderou o time na conquista da primeira Coppa Italia doriana, na qual marcou um decisivo gol na partida de ida na final contra o Milan. No ano seguinte, o meia ajudou a equipe a chegar novamente às finais da competição, mas não pode jogar as decisões contra a Roma, que aconteciam já durante a Copa do Mundo de 1986 – algo impensável hoje. Do México, onde estava defendendo a seleção da Escócia, Souness viu sua Samp vencer a partida de ida, por 2 a 1, e perder a de volta por 2 a 0, graças a um gol de Toninho Cerezo (cortado do Mundial) nos últimos minutos. Se Souness estivesse em campo, talvez a história fosse outra.

1º – John Charles

Posição: atacante
Clubes em que atuou na Itália: Juventus (1957-62) e Roma (1962-63)
Títulos: 3 Serie A (1957-58, 1959-60 e 1960-61) e 2 Coppa Italia (1958-59 e 1959-60)
Prêmios individuais: Artilheiro da Serie A (1957-58), Integrante do Hall da Fama do Futebol Inglês e do Futebol de País de Gales e Uefa Golden Player

A foto deixa claro: nenhum jogador britânico foi tão ídolo na Itália quanto John Charles. Conhecido como Gigante Gentil, Charles, nascido no País de Gales, é lembrado por nunca ter recebido cartão vermelho na carreira e também por ter sido um jogador alto, mas bastante técnico. Com quase 1,90m, era onipresente dentro da área. Apesar de quase 1,90m, o galês se mostrava extremamente ágil, talentoso e com bom primeiro toque e controle de bola. Sua principal habilidade era o jogo aéreo, mas ele sabia atuar com a bola no chão e era um complemento perfeito para os baixinhos Omar Sívori e Giampiero Boniperti. Durante quatro anos, eles formaram o Trio Mágico, um dos trios de ataque mais prolíficos e conhecidos da história do futebol italiano. Charles chegou à Itália em 1957, levado por Gigi Peronace, que trabalhava na Juventus e ajudou a desenrolar uma negociação que durava três meses. Sua contratação junto ao Leeds United foi badalada, porque aconteceu por um valor recorde até então. Na mesma temporada, Sívori foi contratado, e ambos se uniram a Boniperti, que já era uma bandeira do clube.

A Juve não conquistava um scudetto há seis temporadas e chegou até lutar contra o rebaixamento; enquanto observava Milan e Inter se aproximarem. Então, Umberto Agnelli investiu e, na primeira temporada do trio, viu a Juve voltar a conquistar o título – justamente o décimo, que deu o direito de a equipe colocar uma estrela no peito. Estreante, Charles foi o artilheiro e o melhor jogador na conquista. Em cinco anos, virou peça fundamental de uma Juventus quase hegemônica, que dominou o final dos anos 1950 e início dos 1960, quando Milan e Inter investiram e finalmente tomaram à frente – naquela década, a Velha Senhora só ficou com dois scudetti, o de 1961 e o de 1967, e uma Coppa Italia, a de 1965. Charles era tão bom de bola que ainda conduziu País de Gales à sua melhor campanha em Copas do Mundo – os galeses perderam na semifinal de 1958 para o Brasil; Charles, lesionado, não atuou. Em 1961-62, teve sua última temporada com a Juve, mas, fisicamente mal, não impediu que a equipe tivesse sua pior colocação na história. No final de carreira, John Charles teve passagem curta pela Roma, mas sua história já estava escrita em branco e preto: em 182 jogos, fez 105 gols, tornando-se o maior britânico em terras italianas. E não só pelo tamanho.

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